quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CXLV

    O poder e o coração. A estação 145 mostra como alguém pode resistir aos apelos do poder, na figura de quem não o quer. Leiam com atenção e embarquem, o trem vai partir.

Em um humilde apartamento de Baltimore, um grupo (...) decide pelo lançamento oficial de seu partido. Sabem que (...) precisam começar de alguma forma. Têm adeptos e simpatizantes em todos os Estados americanos, o que lhes dá larga vantagem sobre todos os outros partidos pequenos...
- Então, amigos, correligionários, compatriotas, irmãos de seara, firma-se o estatuto que transformará nossa agremiação em uma entidade com força política, The American Monarchist Party. Um dia teremos um líder nato que tenha compromisso unicamente com nosso país! Não com ideologias, com viés político, com interesses econômicos, com seitas religiosas, mas unicamente com o bem estar e progresso de nossa gloriosa e negligenciada nação. E quem melhor do que a já prestigiada e mundialmente respeitada Casa de Alander para suportar o peso da coroa? Seremos uma democracia monarquista, a descendência que nos dará nosso futuro rei ou rainha está assegurada, mesmo que leve mais de um século os Estados Unidos da América serão realmente unidos, de facto e não só no papel. Até lá, VIDA LONGA À NOSSA RAINHA PATRÍCIA I, A SÁBIA!
A reunião encerra a era de cochichos, que durou quatro décadas. Toda a vizinhança ouve o brado (...) ele tem eco nos arredores, em todos os Estados, pois houve transmissão ao vivo pela internet (...) Um deles é justamente um agente da guarda imperial, e comunica Julia a respeito...
- Vocês não estão exagerando?
- Fizemos o que você disse! Estamos na era do parto do novo mundo, não estamos? Nossa rainha é sujeito activo neste início de história, não é? Isto aqui é uma democracia, não é?
- Ok, você tem razão, não há motivo para terem esperado mais. Vou comunicá-la, mas você sabe qual será a primeira reação.
Ele sai para não ouvir a bronca (...) ela pede que a conversa seja por videophonia e mais gente participe. Todos os dezoito mais Arthur, Ana Clara, Elisa, Nancy, Richard, Eduarda, Renato, Elias, Deborah, Crazy Horse, Kenji, Laura, Daniel e suas crias estão lá. O que era apenas uma confraternização...
- Mas eles estão loucos? Que sandice é essa, Julia? Isso não foi idéia sua, foi?
É o que ela esperava (...) Após a dura reprimenda, ela se cala por um minuto (...) Ela não queria poder, nunca quis poder, o assumiu porque não havia a quem entregar a encrenca. Agora percebe que seu poder institucional se tornou também político, precisará comedir mais as palavras em público (...) Suspira profundamente, olha para a câmera com os olhos bem abertos...
- Como eu vou controlar essas pessoas e evitar que façam besteiras em meu nome?
- Basta uma ordem sua.
- E eu serei comunicada de passos importantes desse partido?
- Sim, imediatamente. Está no estatuto: Artigo 1º, parágrafo 1º inciso 4º.
- Menos mal! Menos mal... Suponho que a esta altura o partido já esteja em vias de regularizar-se.
- Sim, está, em todos os cinqüenta Estados americanos e mais um comitê em Porto Rico.
- Quantos?
- Setenta mil membros... Eu também fiquei assim, perguntei se não havia zeros demais...
Patrícia fica estarrecida, como se estivesse indefesa e diante dos que querem sua cabeça. Não só ela, as caras de espanto tomam a biblioteca...
- Oh, God!
Renata a ampara, a ajuda a sentar-se na poltrona de veludo azul. Olha para frente e vê Naomi, a avó da princesa, que nota a fixação da amiga e ordena “Solte o verbo, você sabe de algo!”...
- Sua avó disse pra você ficar tranqüila, que tudo vai acabar bem... Sim, só isso.
- Então ela está metida nisso?
- Bem... Sim, ela confirmou, esta metida até o pescoço espiritual nisso... Mas agora selou a boca, não vai soltar nem mais um píu.
- Meu Deus, não bastavam as conspirações internacionais, as guerras que vão eclodir a qualquer momento, os desastres ambientais sem precedentes que batem à porta, agora tem uma conspiração dimensional e interplanetária no meu encalço! Hey, fala sério, qualé?
- Honey, se mamãe lhe atribuiu uma responsabilidade é porque você é capaz de arcar com ela. Ela nunca exigiu de você mais do que era capaz de dar, você sabe disso.
- Entre as aulinhas da vovó e isto existe uma diferença gigantesca!
- Entre um diorama de alta fidelidade e um edifício de grande altitude, a única diferença é o dimensionamento, a engenharia é a mesma.
Todo mundo se vira para Elias (...) Patrícia sabe que ele está certo. Alega que (...) o edifício demanda centenas, talvez milhares de trabalhadores por meses ou anos. “Quantos seguidores minha madrinha pensa que tem?” é a resposta. Ela olha para baixo, medita e liga para Josephine(...) Ela também acha isso um imenso exagero, mas assegura que a condução adequada da situação será muito valiosa aos planos gerais...
- Não se preocupe demais, eles estão todos sob controle, o seu controle. Leia o estatuto que Julia mandou por e-mail, eu o estou lendo e francamente, é mais bem escrito e coeso do que qualquer um de nossos códigos constitucionais.
Ela o faz. Precisa reconhecer, um advogado precisaria praticamente inventar uma brecha naquilo. Um pouco longe dali, Glenda recebe Pirata (...) Emily e Theodore chegam para buscá-la e a bruxa dá esta parte por encerrada (...) para ir à casa de Renata, que já sentiu um pequeno vácuo no coração (...) Pega seu defumador, suas sinetas e entoa um mantra complexo para reequilibrar a egrégora que a morte maculou. Agora vai à Máquina de Costura, onde os ânimos estão mais leves...
- Tia, espere uma semana. Eu vou arranjar um filhote pra vocês.
- A Pirata?
- Ela já está bem e a casa já foi trabalhada. Avise o tio Matt.
É triste (...) mesmo para a médium. O corpo de Pirata (...) é sepultado com a dignidade de que a fiel cadela desfrutou naquela casa. Uma semana depois, um dia antes do festival de otakus, Glenda aparece com um filhotinho todo preto com a boca branca (...) A boca lhe rende o nome Palhaço e a casa volta a se encher de alegria (...) Uma visita de Rebeca e Ronald mostra o quanto aquele filhote é pequeno, comparando-o ao enorme Lobsang. Uma bocada e já era! O pequenino fareja o mastin tibetano, que o fez com ele em apenas uma fungada, ser um filhotinho pesou a favor do novato.
&
- Juan, gostaria de falar com você.
É raro verem Phoebe tão séria (...) Diante de 6’43/4” e mais de cem quilos de maestria em artes marciais, ele (...) se senta diante da moçoila, no jardim da Máquina de Costura. Ela o adverte que está enrolando demais, que ambos têm, principalmente Glenda, maturidade e independência financeira de sobra para se casarem...
- O romance de vocês está no ponto. Não vá esperar apodrecer para colher!
Ela volta com uma indisfarçável cara de Patrícia Menininha Mandona que deixa a avó muito feliz. Ele (...) Finalmente pede e Glenda aceita se casar. Tobby e Anita entram na farra e ajudam os outros a carregá-los pela casa e depois jogá-los na piscina (...) Convidam Carly antes que ela pense que ficará só observando com os paparazzi o casamento.
Marcia chama a filha para um canto, senta-se no seu colo, já se conformou, e começa a perguntar sobre o episódio. Ela é sucinta com “Começaram a falar comigo”. Não é inesperado, mas preocupa a mãe (...) Naomi sussurra que Nancy tinha a mesma preocupação com Patrícia (...) Mas ela se preocupa, porque as netas tendem a seguir o mesmo caminho e logo não caberão mais no seu colo (...) As duas estão brincando com Spark, imenso em 4’ e 67 libras. O gato tornou-se um gigante, só menor do que Lady Spy, mas mais pesado. A gata repousa no alto da escadaria, assistindo a movimentação da rua (...) Ela desce majestosa e vai ao jardim da frente, senta-se erecta e estampa as próximas edições de vários jornais, tablóides, revistas de fofoca e programas de celebridades. Não bastam os 4’5”, ela vigia tudo como se tudo aquilo fosse seu reino, inocente ao trabalho da câmera em sua rica coleira.
À noite as coisas se acalmam. Rebeca e Ronald vão visitar o jovem e preocupado casal, ela os chama para uma conversa reservada, enquanto ele investiga até onde as rugas se justificam (...) A vê escrevendo em um diário, mantém uma distância elegante, espera que termine e feche o caderno. As meninas a orbitam atentas. Phoebe o vê, sorri e ele se aproxima. O que as duas vêem é a mãe treinar escrita com uma caligraphia absolutamente maravilhosa (...) A Pelican Traditional M150 dança como uma bailarina nas mãos da ambidestra, que as troca sem interromper a escrita. Há um armário só para instrumentos de escrita (...) Assim que termina é aplaudida...
- Inacreditável! Cara, você parece que mal tocou nesta caneta, tão leve que foi!
- Ra, ra, ra, ra, ra, ra. Eu costumo escrever nas peças que fabrico, pra organizar, que nem tenho feito nos Caddys.
Enquanto as pequenas se aventuram em papel e lápis, os dois conversam sobre amenidades e o doutorado precoce que ela está concluindo (...) O diplomata usa de sua experiência para ouvir o que precisa sem ela dizer directamente. O que vê é uma garota muito equilibrada, com feridas ainda não cicatrizadas, mas caminhando por sua conta. Rebeca termina com os pais da comparsa e vão os três ver a quantas anda a conversa. Ouvem risos (...) aquele sorriso em forma de coração ainda é a maior alegria da casa. Os nobres não deixam de notar, as gêmeas escrevem com desenvoltura. Na manhã seguinte (...) passam suas excelentes impressões às avós...
- Vocês estão superestimando o problema e subestimando a resistência dela. Deixem ela encontrar seu caminho, quando precisar ela pede ajuda. Ela não pede, quando vocês salvam o mundo?
- Não, pelo contrário. Ela nunca precisou de nossa ajuda, nos assuntos da organização, nós é que sempre recorremos a ela... Mascote?
- O lindinho saiu a você sem tirar nem por. Ele sim vai precisar de ajuda, ele e a Marcia. Ontem nós e eles descobrimos que as meninas sabem ler e escrever muito bem...
É uma surpresa. Reportarão a Stephanie e Nancy (...) Rebeca detalha a precisão com que as duas seguravam e faziam os lápis dançarem, como a mãe faz.
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- Você canta demais! Vou procurar o seu disco agora mesmo!
Deixa o recado no My Space e vai à loja de música. Compra o disco, volta para casa e vê a resposta da cantora. Lembra-se de Orson quando ouve “Someone Like You” (...) Na cidade velha, hospedado em uma cela vazia, um Beast pensa justamente nela (...) lhe deram as medidas, o peso e a força bruta do pai dela. Beatrix alertou para não se levar pelo impulso, que é muito fácil se apaixonar por aquela garota encantadora e ela é tão ocupada quanto cheia de responsabilidades, e não são só pelas duas filhas pequenas.
Ele (...) acorda antes do habitual. Acompanha um Street Warrior na ronda (...) vê Phoebe sair com o pai para o treinamento. A vastidão muscular do herói de guerra fica explícita sob a camiseta. Mais gente entra na Máquina de Costura (...) Ouvem bem o treinamento, enquanto vasculham e monitoram as proximidades. Vêem pai e filha voltarem suados, a cena lembra alunos saindo da escolinha (...) devidamente informado, ele vai à chefe de todos...
- Senhora Petty, eu gostaria de falar sobre sua neta Phoebe.
A diva observa o homem de longas madeixas castanhas, chama Arthur e pede que entre (...) Eles não o animam (...) fazendo vários alertas inclusive “Várias lendas a respeito dela, e de todos nós, são verdadeiras”...
- Ela já superou o lance da viuvez?
- Já, há bastante tempo. Neste período muita gente se declarou, mas como sabe ela continua só.
- Ela era uma criança quando conheceu Orson, e a relação que tiveram foi tão acidental que ela não se lembra de nada.
Agora ela o assustou (...) Nunca lidou com mulheres inexperientes e confessa, diante das duas caras fechadas, que sexo é sempre a primeira coisa que lhe vem em um relacionamento. Se quer realmente aquela garota, terá que repensar muita coisa em sua vida, inclusive a própria. Sai à chefatura, visto de longe por Elizabeth e Prudence, indo levar as meninas para os avós babarem...
- Vocês falaram dos mil perigos mortais que o cavaleiro de rodas terá que enfrentar, se quiser a mão da donzela gigante?
- Dos tesouros que amealhou durante a vida e terá que abrir mão para entrar na floresta encantada do gênio topológico?
- Hey, isso dá um romance!
- Vamos terminar nossa trilogia sádica e começamos com ele.
- Ele me pareceu muito desapontado, quando soube que Phee é praticamente virgem!
Ela está no momento desenvolvendo seu projecto de doutorado (...) uma versão tosca da prototipadora que está aperfeiçoando para a organização. Imprime algumas nanoestruturas de teste, de vários materiais, coloca tudo em um microscópio electrônico e se põe a estudar os resultados. Salva tudo no tablet e vai ver os outros (...) Aproveita (...) para checar os assuntos virtuais da banda e da corporação, sentada em meio às flores silvestres do jardim, em sua blusa de gola ampla e saia média, tudo no mais neutro bege que encontrou. Trabalha rápido, quer dar todas as atenções aos três, que começam a chegar. De longe um paparazzo manda para a revista a “underware fashion” com que a garota tenta sem sucesso ser discreta (...) logo os patrocinadores oferecem descontos fajutos em conjuntos semelhantes.
Um certo motoqueiro também vê e fica caidinho. Pensa em ir falar com os pais dela, mas eles vão ter consigo...
- Albert Witchwort, queremos falar com você.
A voz grave, cavernosa e potente do Capitão Gardner ecoa pela chefatura (...) O rapaz pensou que nunca mais teria medo, depois de ter voltado da guerra, mas agora está com medo. Marcia (...) mais parece uma criança ao lado do marido...
- Nossas mães nos contaram a seu respeito. Você deve compreender – diz a mãe – que ainda é um desconhecido para nós, o sunshadower é naturalmente desconfiado de estranhos.
- Eu não fui destratado aqui.
- Não confunda as coisas – diz o pai. Nós somos humanos, ser desconfiado não me impede de ser civilizado. Você deve aprender certas lições, para ter alguma chance com minha filha.
A filha está no ensaio. Estão evoluindo rápido, mas Happy Moon não vai antecipar muito sua estréia (...) Carly está consciente de quase tudo, só saberá da nova formação da banda quando estiver pronta. Preocupa a apache (...) os dois restantes ainda não terem aparecido. Devem estar por aí, gastando seu tempo em alguma distração, em um posto de beira de estrada, mudando os planos (...) e rumando para Sunshadow (...) Lá vai a Toyota Tundra vermelha seguir as placas até encontrar a única entrada para a cidade. Lá está ela, e lá longe está a mítica Sunshadow.
De cara passam pela Suburban com Karen ao volante e Claudett de carona, as Lices estão atrás. Chegam à rua Pink Coal, exclusiva para pedestres, que dá acesso à praça do trem morto (...) Tem fila, mas os fãs não se furtam de pisar onde os seis amigos fizeram sua primeira apresentação pública. Lá está a primeira Brook’s Hot Chocolate (...) E encontram ninguém menos do que a líder, a diva, a lenda, a magnânima, a maravilhosa, sua alteza real a princesa Patrícia, a conversar com irmã e sobrinha...
- Estamos conversadas? Sábado você leva seu rapaz para um almoço em família e resolvem tudo. Depois a gente se fala mais, sobre as gêmeas. Agora vou à fundação, ver como estão os quatro.
O casal com os dois garotos fica paralisado, até um deles levantar o dedo e chamar a atenção dela. Mudaram-se há menos de dois meses para Detroit (...) Os convida a conhecerem a fundação (...) os adultos estão um pouco fora de forma, ao contrário dos garotos, que levaram a sério as broncas dadas em fãs, nas últimas turnês. Olham ao redor, é uma cidade vintage com focos de invasão contemporânea.
A Naomi Petty Green Children Foundation (...) Enquanto gente com pompa e diploma reclama do mundo, ela o educa. É um universo totalmente novo para os quatro, uma estrutura e uma philosophia fora de série. Acompanham Patrícia até o conservatório...
- Eu não tenho muito mais a fazer por eles, mas não lhes diga isso. Vão poder estrear uns dois ou três meses antes do que eu previa. Daí minha preocupação, porque os outros vão aparecer muito tarde.
- Vamos trabalhar com o que temos, Moon. Vocês quatro, vão pra minha casa, comam alguma coisa e descansem. Eu gostaria muito de ter seis para o jubileu de ouro...
- Seus amigos?
- Recém-chegados a Michigan. Ann, George e os gêmeos Jerry e Dean.
A tentativa de se desmistificar para os fãs tem um sucesso e um fracasso, eles viram que é humana, mas uma humana que fez sozinha mais do que muitos Estados pelo mundo (...) a maestrina tem um lampejo, gostou muito das vozes e da entonação dos garotos. A mãe diz que eles cantam junto com o MP3, desde crianças, e ela fica esperançosa. Chama-os para cantarem algo, corrige, afina, eles voltam a cantar e Vulcana faz sinal de “investigue-os” para Princess.

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