terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CXXIX

    Um milagre em Sunshadow! A estação 129 põe mais um caso no arquivo de "não sei" dos cientistas, para a felicidade geral da banda. Sorriam e embarquem, o trem vai partir.


Josephine chega a Sunshadow assim que a turba midiática dispersa. Encontra seus pupilos na Máquina de Costura (...) falando justo do motivo de sua visita...

- Ele tá bem, Jose. Conseguiram repor os dentes dele, a fase mais aguda passou e logo ele vem pra suíte que as meninas prepararam.

- Fisicamente bem, mas...

- Vamos precisar da Frida. Ele está se sentindo um nada, por não ter conseguido evitar e a Sandra estar na UTI...

- Grant não imaginava que a situação no Brasil fosse se barbarizar tanto! Ele pode me receber?

Leva-a ao hospital. Encontram médicos sorridentes (...) pela alta que estão assinando. Iriam chamar Patrícia para vir buscar o rapaz, quando viram tudo ao redor escurecer, perder a graça e sucumbir à presença da diva de bilhões, a musa de gerações, sua majestade galáctica Jose De Lane. Patrícia dispara serelepe para o apartamento, quer (...) abraçar seu afilhado pela primeira vez. Há coisas que nunca mudam, ele também se vicia naquele abraço. Há coisas que nunca mudam, ele também quase cai de joelhos diante de Josephine. Há coisas que nunca mudam, a imprensa está lá fora e clica como se não houvesse amanhã. Mary Ann está no meio, para garantir (...) uma notícia decente. Enquanto os outros sites se perguntam quem é aquele baixinho estrupiado e remendado entre as divas supremas, os sites do Interesse Popular, Sunshadow News e Coast to Coast on line apresentam “Este é Elias, primo de Renata Rodrigues. Ele quase foi morto por uma gangue de torcedores de futebol, em um país que não se importa com o cidadão honesto até precisar de seu voto” surpreendendo o mundo. Os herdeiros de Suzuki falam imediatamente com Mikomi, para esclarecer essa história...

- Sim, é verdade! Todos, inclusive Bobby, foram socorrê-lo e à filha, vítimas dos malfeitores.

- Ele tem uma filha? Onde ela está?

- No hospital, ela sofreu ferimentos mais graves, precisará de internação prolongada.

Mais ou menos o mesmo que Fester e Matthew enfrentam em seus respectivos jornais. O show business entra em parafuso, há quase zero informação a respeito dele na internet. O rapaz conhece a Máquina de Costura (...) Ana Clara não perderia isso por nada, está com as sobrinhas para recepcionar e tentar atenuar um pouco a tristeza de um pai aflito. Ele está tímido e assustado, hesitou em aceitar a alta, não queria se afastar da filha...

- Meu querido, você fez tudo o que poderia, quando decidiu acelerar pra cima daqueles marginais. Agora é com os médicos. Você não vai querer que ela te veja assim, quando tiver alta. Só mais uma coisa, eu te conheço melhor do que imagina, sei das suas tendências a se rebaixar, evite me dar um desgosto se lembrando: você não é visita, não é hóspede e não está aqui de favor, você é minha família. O que lhe oferecermos é seu. Compreendeu?

É levado para sua suíte, não muito menor do que sua casa (...) O convencem a ir ao baptismo de Nanako, caçula de Sakura. Renata argumenta que a banda toda é uma família desde que eram crianças, mas é Nancy que assume o controle (...) Se Patrícia o vê com olhos maternos, ela o vê com olhos de avó...

- Meu querido, faz tantos anos que te acompanho, você me deixou aflita tantas vezes, não é justo que nos negue essa convivência enquanto estiver aqui...

Carinho, respeito e um pouco de chantagem emocional. Então os seis podem levá-lo para providenciar um guarda-roupas decente, sob medida e prêt-à-porter (...) É claro que incluem peças da franquia da banda, é claro que ele pode e deve escolher roupas também para Sandra, é claro que ele sai das lojas completamente diferente de quando entrou. Vão tagarelando consigo até a Máquina de Costura, ele fica confuso em saber que tanta gente o conhece e preza. Ligam do hospital, retiraram os últimos fragmentos de vidro da órbita ocular da menina.

&

Norma dorme pensando no marido (...) Aquela cama ficou muito grande, não tem mais o ronco dele para embalar seu sono. Não percebe que dorme e só acorda com o chamado aflito de Enya, abraçada à mãe, aliviada por o pior não ter acontecido. É hora de se levantar e recomeçar a vida. Vida que Elias monitora de perto, em mais uma visita à filha sedada (...) Eduarda e Renato se empenham em acolhê-lo, são carinhosos, respeitam sua necessidade momentânea de silêncio. No fundo, eles sabem, o rapaz queria estar no lugar dela, trocaria sem hesitar se fosse possível. Ficou a cargo dos dois dar ao Brasil notícias dele, mas dão também da menina, que ainda hoje não desceu aos pais dele, menos ainda aos parentes do pai.

Ficaram tempo suficiente para ele se assegurar de que a filha está estável, o acolhem e rumam para voltar, encontram Norma ainda no hospital...

- Oi. É ele o Elias?

Os acompanha. Decidiu não se isolar em seu luto e foi ver se pode ajudar o brasileiro. É uma surpresa grata (...) ela percebe similaridades dele para com o falecido. Os tios falam dele o que o próprio não diz, que já chegou a tirar da boca para a filha comer bem e se recuperar rápido de uma virose...

- Que pai maravilhoso! Essa menina não te escolheu, Deus pegou a cabecinha dela, virou e disse “Ele é o seu pai, esqueça-se dos outros”...

No hospital o monitoramento detecta sinais de maior actividade cerebral, por experiência a equipe deduz que o subconsciente está trabalhando, ela finalmente voltou a sonhar. Informam Patrícia a respeito e ela repassa ao afilhado assim que ele chega (...) Sakura e Kenji voltam de um show cheios de presentes dos fãs da moça, que então passa a se inteirar em detalhes sobre o drama de Elias. Os pais lhe contam com cuidado, eles sentem a dor dele e querem muito que Sandra volte a dar-lhe problemas, justificando o apelido “Sandra Pancada” que ganhou dos desafetos. Enquanto ela não acorda, ele é apresentado a um mundo completamente novo de ciência e tecnologias, no momento aprende a operar e dar manutenção nos diversos tipos de impressoras 3D que Patrícia tem no porão, supervisionado pelo velho Gardner...

- Não tem problema o filamento secar dentro da injetora?

- Não, ele é termoplástico. Derreterá de novo assim que você ligar e ela esquentar.

Zigfrida também ajuda, faz o que pode para compensar as severas interrupções do tratamento psicológico (...) Renata leva em consideração o histórico de pressão e repressão absurdas a que ele foi submetido até a adolescência. Ela o acompanhou...

- Rê, não fale nada pra Patty, mas ele não ter se matado foi um milagre, porque a tendência...

- Eu sei, ele ainda tem tendências suicidas. O medicamento para elas está agora na UTI, de cabeça raspada, só agora começando a reagir e com várias cirurgias ainda por fazer.

- Obrigada por me avisarem sem querer... Desculpem, ouvi por acaso. Dizer que me preocuparam é o óbvio, mas vocês me deram uma solução em que eu não tinha pensado. Pai, você terminou com ele?

- Não! Ainda falta desossar, rechear e levar ao forno!

As psicólogas desatam a rir, o próprio Elias dispara pela primeira vez (...) Patrícia desce ao porão (...) faz um pedido, quer ser madrinha da Sandra também, mas desta vez quer cerimônia e um buffet. Sobe avisando Renata de que ela vai celebrar a afiliação.

&

Uma conversa com Nancy e Stephanie rende surpresas agradáveis. Elias revela o modo como educa a filha, uma de suas regras é deixar a genialidade para quem sabe apreciá-la, para as provas medíocres da escola deve dar respostas condizentes...

- Ela aprendeu rápido. Foi uma tranqüilidade, uma preocupação a menos, porque o pavio curto dela já me rende outras suficientes. “Não” é uma das palavras que ela ouve sem eu precisar dizer, basta ela ler meu rosto.

- Então ela não vai ter dificuldades com a gente. Steph, você assume assim que ela acordar.

A matriarca está decidida (...) não deixar que interrompa por mais tempo sua formação, porque conteúdo já viu que ela só recebe em casa, lendo e conversando com o pai. Ainda querem entender, e para isso falarão com mais gente, como em condições tão desfavoráveis (...) ele conseguiu esse sucesso; só discrição não explica tudo.

Naomi chega antes de um mês se completar. Ela olha aquela Gardner nascida fora da família, acaricia o rosto do perispirito e não tem palavras para expressar a alegria que sente, pelo efeito agregador que ela já começou a exercer na cidade. Patrícia (...) Vê o médico monitorando, ele convida, ela se traja e entra na sala, então a menina fica agitada...

- Pai.. Pai... Pai!

- Meu Deus, ela está acordando!

- Sandra! Sandra, fique quieta. O Elias está bem, ele está trabalhando e assim que puder, vem visitar você.

- Quem tá aí? Eu tô cega!

- Não, é só um curativo que os médicos colocaram para proteger seus olhos, você passou por várias cirurgias... Como é bom ver você acordada, meu Deus...

- E o meu pai? Ele machucou? Se machucaram ele, eu vou dar porrada naqueles vagabundos!

Trata de acalmar a ferinha. As funções melhoram de repente (...) Os especialistas fazem os exames e ela está inacreditavelmente bem...

- Porra, vocês não cansam de atacar o meu ateísmo? Isto aqui é milagre!

- Ei, não adianta falar inglês pra me enganar, meu pai me ensinou um monte de idiomas, tô entendendo tudo! Qualé a de vocês?

- A nossa, encrenquinha, é te levar do hospital assim que te derem alta, e parece que vai ser logo. Seu pai está cuidando da sua viagem pra Sunshadow.

- Woohooo!

Os cabelos já ganham volume, mas estão bem curtos. Três horas e os médicos atônitos lhe dão alta, desde que descanse por hoje, só por precaução, e mantenha o curativo nos olhos até amanhã de manhã (...) Arthur chega com o Corvair (...) Pelo caminho, com a velocidade baixa, ela nota que praticamente todos ao redor falam inglês com sotaque bem carregado. Começa a desconfiar que não está em Goiânia. Gostaria de pular, tirar o curativo e ver o que está acontecendo, mas ainda precisará de fisioterapia (...) Apurando a audição, ela nota familiaridades na voz de Patrícia, que se apresenta sem se revelar e lhe fala em tom muito carinhoso.

Passam pela casa de solteira, Nancy vê aquela carona ao lado da filha, que confirma e ela vai à rede social da cidade, avisar todo mundo. Richard fica feliz, mas atordoado. A turma do trem morto e sua prole inteira chegam antes deles. Elias (...) fica sem repertório para se expressar. Se aproxima do Chevy azul quase não acreditando...

- Minha filha...

- Pai?

Mesmo com as estaturas já próximas, ele a carrega (...) como se fosse uma porcelana rara, enchendo-a de afagos até uma poltrona...

- Meu pai... Meu paizinho... Fiquei preocupada... Obrigada, moça! Obrigada por cuidar dele pra mim. Te agradeço direito amanhã de manhã... Onde é que a gente tá mesmo?

- Ela é da família, meu amor. Estamos na casa de parentes até podermos voltar pra nossa. Agora descanse... Está com fome? Ela pode comer?

Providencia um mingau de amido de milho e frutas vermelhas picadas, para ela digerir melhor. Rebeca exibe um sorriso enorme, ela poderia ser sua filha, de tão parecida consigo...

- Quer proteger mesmo o seu pai, Sandra?

- Nunca mais vou deixar vagabundo tocar a mão nele! Vou quebrar todo mundo na porrada!

- Sou professora de artes marciais, vou treinar você.

- Opa! Isso muito me interessa!

- Pronto, você não sabe o estrago que fez!

- Re, re, re, re, re, re... Que estrago coisa nenhuma! Estrago ela vai fazer, se for novamente necessário. A propósito, a Patrícia, a moça que te trouxe, é madrinha do seu pai.

- Você nunca me contou isso.

- Coma mais e fale menos... Tem um monte de coisas que você precisa saber a meu respeito, mas vamos deixar para amanhã cedo, quando você acordar.

- Uau! A gente faz parte de alguma máfia?

- Mais ou menos. Por isso fui buscar vocês de avião, quando soube. Lady Spy, vem... Conheça a Sandra...

- Pelo macio... Cara, tô fraca, não consigo coordenar direito... Putaquepariu! Um mês??? Ai, Jesus, vou ser reprovada por falta!

- Aquela escola patética não vai fazer-lhe diferença alguma. Sua educação agora é nossa responsabilidade. Só descanse por hoje, amanhã cedo a madrinha te dá uma surpresa muito boa.

- O álbum duplo “The Dark Shine” do Dead Train?

- Completo, com brochura, pôsteres e autographado.

- Pai, tem certeza de que a gante não morreu e não tá no Nosso Lar? Esse álbum nem chegou no Brasil ainda!

- O Brasil, minha filha, é um imenso motor sem transmissão. Potente, ruge forte, mas não sai do lugar... O que foi?

- Elias, tu sei um genio!

- Inglês, espanhol, até francês ouvi aqui! Agora também italiano? Gente, fala sério, que lugar é esse?

- É a casa da sua madrinha, que fica em frente à casa da sua prima, que sou eu. Agora quieta o rabo aí, encrenquinha, descansa que amanhã a gente faz uma festa em sua homenagem... Com o kit completo “The Dark Shine”. Acredite, a gente consegue.

- Deixa com a gente, tia Rê! Vamos levar ela pra suíte que Betty e eu cuidamos dela.

Robert carrega a menina com cuidado (...) Pelo cheiro ela vai conhecendo o ambiente, já percebeu que é muito arborizado, talvez tenha até piscina (...) As primas ficam consigo, tratando de conhecer e saber como lidar com seu pavio curto. Hoje Elias dorme feliz.

A manhã seguinte é de suspense. O médico (...) constacta o milagre de que o colega falou. Ela olha ao redor, acerta o foco, vê um ambiente refinado e imenso, olha para o lado e vê o pai. Sorri, segura seu rosto, encosta nele e chora, contagiando-o. Patrícia bate na porta com delicadeza, em seu vestido azul escuro cinturado, barra no meio das panturrilhas...

- Amores da madrinha, vim cumprir minha promessa.

Aquele par de olhos azuis nunca ficou tão arregalado. Sandra (...) fica completamente aphônica...

- Wellcome to Sunshadow, honey. Vem pra madrinha!

Não discute, pula nela (...) então também se vicia naquele abraço, recebendo e ouvindo carinhos de quem tinha escassas esperanças de um dia conhecer. Forte, a carrega nos braços para surtar de uma vez, diante da sala cheia. E surta, por alguns instantes perde a noção de realidade e delira, nada que um afago da madrinha não resolva...

- Pai! A gente... Eles... Isso aqui...

- Nós somos da família, Sandra. Renata, Arthur e Ana Clara são nossos primos, Eduarda e Renato são nossos tios, por conseqüência Patrícia é nossa prima, também nossa madrinha, o resto você deduz. Vamos contar a história completa assim que liquidarmos com o buffet, depois do seu batismo.

Levam-na ao jardim, com a brisa já anunciando o frio, Renata e Marcia (...) sacralizam a afiliação. Nancy (...) Conversa com a menina para traçar a estratégia de sua formação. As coisas começam a fazer sentido naquela cabecinha operada, mas tudo tem proporções tão descomunais, que fica perdida. O pai lhe conta da primeira vez que ouviu falar de Patrícia e Renata, dos contactos intermediados, do primeiro diálogo, as ajudas que receberam e os motivos de nunca ter lhe contado tudo isso...

- Mas agora eu sei...

- Porque já não adianta tentar esconder, o planeta inteiro nos conhece! Não posso colocar os pés para fora sem um paparazzo eternizar meus passos, você terá que aprender a lidar com isso.

- Foda-se... Tô feliz... Cheguei ao nirvana e ninguém vai tirar isso de mim... A dureza não importa mais, o secretário boçal da escola não importa mais, eu tiro tudo isso de letra agora...

- Você não vai voltar para aquele antro de dementação – corrige Nancy. Suas professoras agora somos nós. Depois da festa, e que você descansar, terá sua primeira aula àquele piano.

Percebeu que a vida pós coma não tem nada a ver com a de antes. Lhe são feitas as mesmas advertências que Elias recebeu, inclusive de se comportar como gente da casa.

0 comentários: