quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Dead Train in the rain CLII

    O jubileu tem início. A estação 152 dá partida nas comemorações do cinqüentenário da Dead Train, com todas as picuinhas cotidianas de reboque. Mostrem seus convites e embarquem, o trem vai partir.


A campanha do jubileu de ouro ganha as mídias em uma proporção nunca vista. O canal de vídeos oficial da banda exibe um pequeno documentário intitulado “Nós duramos bem mais do que um verão” (...) Até os desafetos da época da estréia saem do ostracismo e ganham, são convidados a esclarecer detalhes de polêmicas e curiosidades de meio século antes. Os garotos de hoje começam a ver que muita coisa considerada ruim no início dos anos sessenta, põe muitos artistas de sucesso no chinelo, é assim que The Cool Boy e The Special Boys finalmente viram cults (...) Amigos e parceiros de décadas comparecem em peso para prestigiar o sexteto, mas essa presença maciça denuncia as perdas caras.

Vendo os ídolos de perto, é quase unânime se lembrar do clipe “Our Last Afternoom”; não lembram em nada as figuras decrépitas e limitadas do vídeo. Enzo, Ronald e Robert estão grandes, fortes, ágeis e muito lúcidos, para o deleite das fãs. Patricia, Rebeca e Renata ainda exibem tônus, curvas, plástica e porte, para o roer de cotovelos dos desafetos (...) Os novatos são cercados como novilhos entre lobos, a boa reputação de lapidadores de jóias raras que a banda conseguiu, alimenta especulações (...) Não tentarem ser cópias dos originais conta pontos a favor.

Enquanto o serviço de som informa das actividades do dia em sete idiomas, os astros do festival se dispersam com seus pares (...) A doce garota dos trópicos tem o assédio extra de religiosos curiosos, ela rejeita o rótulo de líder espiritual, mas confirma a grande freqüência com que é solicitada para assuntos espirituais e aconselhamentos. A pergunta sobre não ter um programa temático com cultos na televisão, é respondida com risadas. Ela explica que não fazem incorporações fajutas nem efeitos sonoros, que nem sempre há incorporações ou mesmo contacto mediúnico nas sessões.

À noite, após verem suas caixas de comentários e mensagens abarrotadas (...) conversam sobre o primeiro dia oficial da campanha do jubileu de ouro. A abordagem dos religiosos gera mais risadas. Pretendiam falar da desenvoltura dos novatos, mas deixam isso para depois das piadas. Eles, de sua parte, estão conversando com os pais sobre a sensação de serem estrelas (...) Dar autógraphos foi o mais emocionante, principalmente porque Phoebe e Sandra já eram conhecidas da mídia, e o caso de Jerry ainda hoje causa indignação pelo país. Giovanni (...) está acostumado a ser assediado, mas não como a estrela do assédio. Carly foi uma grande e grata surpresa, sua voz cristalina e versátil impressionou a mídia especializada. Os seis não deixam isso passar...

- Ela cantou “Ave Maria” de Schubert como se fosse um assovio qualquer – diz Ronald. Imaginem ela cantando Hug Now com a gente!

O segundo dia tem mais gente, mais imprensa e tudo é incrementado pelas notícias do dia anterior. As palestras sobre política internacional e tecnologias limpas deram mais relevância ao evento (...) Os patrocinadores vendem réplicas de produtos e peças publicitárias e editoriais de várias épocas da banda, e vendem muito! Até coisas mais antigas que têm de Phoebe, Sandra e Giovanni. Carly, Dean e Jerry ainda estão sendo estudados. Dinkle aparece, mas desta vez com esposa, filhos e netos, em trajes civis (...) está em uma raríssima folga e é simpático à organização, tem ciência de que ainda terá que se reportar à agente Angel, como precisa se reportar a Princess, que deixa Star confortável em seus bastidores, lidando quase que apenas com os colaboradores.

E é justamente ela, a diva, a lenda, a magnânima, a diva de bilhões, a musa de gerações, sua majestade galáctica Jose De Lane que aparece. Os vários programas de televisão e canais de vídeo presentes, se viram todos para ela. Que exagero, pensa a francesa! (...) E lá vem Patricia, serelepe e saltitante, para abraçar, sacudir e mimar sua madrinha.

Enquanto eles se divertem, uma equipe gigantesca produz e revisa cartuns temáticos (...) para o jubileu de ouro. Também liberaram dezenas de biographias por escritores que só tinham talento e qualidade, agora terão também a visibilidade e o lastro do Dead Train (...) À noite, na Máquina de Costura, Josephine chama Sandra e Phoebe para a reunião com Princess e Genius...

- Está aberta e sessão. Minha vinda não se deu só pelo evento da banda, vim para nomear sua instrutora. Seu treinamento para ingressar na organização começa agora, agente Knockout, sob a supervisão de Angel, que se reportará diretamente a Princess e Genius...

O destino de Sandra está selado por seu próprio arbítrio. A reunião reservada é breve (...) Star está ciente das habilidades que a jovem desenvolveu, no decorrer do curso de medicina, tão úteis quanto perigosas (...) No último dia da convenção, Phoebe lhe mostra e ensina a reconhecer todos os agentes que circulam por lá, crentes de que estão disfarçados (...) um mundo novo se descortina diante de seus violentos olhos. Por agora Phoebe apenas pede que fique atenta, mas sem tensão.

Vai com Albert ver suas herdeiras, tagarelas e agitadas nos  braços dos avós, como Naomi nos da mãe. Ela vê Elias ser interceptado por um repórter de revista acadêmica, a questionar sobre as notícias de avanços sociais e erradicação da pobreza vindas do Brasil. Ele respira fundo e responde de modo educado a quem parece só acompanhar os acontecimentos por binóculos...

- Basicamente, o que foi feito se resumiu a redefinir a classe média por decreto. Quem conta moedas para a passagem de ônibus, pelos critérios novos do governo, é classe média.

O repórter considera um absurdo o que ele disse, então o brasileiro pede que ele diga o que viu in loco no Brasil que ele não tenha visto. Ele adverte para não confiar em estatísticas e propagandas (...) Renata se aproxima, a conversa começou a ficar tensa. O jovem repórter se recusa a acreditar que as notícias boas sejam apenas pirotecnia para distrair a mídia e a população (...) Mais tarde, com a madrinha, ele confessa já estar farto de gente diplomada em teorias da teoria teórica da teorização, já apareceu gente contestando suas lembranças e tentando convencê-lo de que sua vida no Brasil era boa e o atentado foi na verdade um acidente durante uma comemoração de samba pela vitória de seu time preferido, mesmo ele repetindo que odeia futebol...

- Eles nem me ouvem! Parecem ter botões de desligar os tímpanos, quando decidem tagarelar e brincar de jogo do contente!

- Mais um desafeto para a sua coleção, meu querido. Às vezes não tem jeito, você tem que emitir uma opinião ou declarar-se contrário à crença geral. Olha pra madrinha, não esquenta a cabeça com isso, faz parte da vida de quem pensa por conta própria, o silêncio seria até pior.

- O que mais me incomoda é o mundo desmoronando diante de todos, e eles ainda confiarem em heróis antissistema para defendê-los dos escombros que caem. Deveriam colocar um aviso de “Não alimente os heróis” em todos os livros de história. Aliás, haverá algum historiador que faça “HISTÓRIA” de verdade, em vez de “historinha do ditador bonzinho versus democracia malvada”?

- É a droga deles, meu querido. Nenhum deles sobreviveria à crise de abstinência sem acompanhamento profissional e doses generosas de ansiolíticos.

Julia bate na porta da blblioteca e se anuncia (...) quer negociar uma entrevista com Elias. Sabe que será difícil, mas não está com pressa. Ele recusa sumariamente, mas sem rispidez, como previu. Acontece que também é uma das leitoras betas do livro de Stephanie, terá motivos para ele aceitar uma entrevista, ainda que gravada em Sunshadow.

&

O aniversário de Patricia já é quase um feriado municipal (...) Ela é categórica, se querem realmente presenteá-la, que ajudem a cuidar das crianças, enfermos, idosos e gente realmente pobre que a banda assiste (...) Há anos a festa íntima é sucedida por uma pública, quando milhares de comprovantes de depósitos nas contas das instituições são apresentados à aniversariante. A alegria é maculada por uma manchete jocosa no dia seguinte, “The little ghost in the party!”. O pequeno fantasma a quem referem-se é Natasha. Prudence precisa ser contida pela mãe...

- Eu vou enfiar uma coisa raquítica e desnutrida no rabo deles!

- Você não vai fazer nada! Qualquer atitude agora vai encher Sunshadow com paparazzi estranhos e vai expor Natasha ainda mais. Faça como Karen, você sabe quem são, então faça como ela e trate-os com o devido desprezo. Deixe o resto comigo.

Patricia sai meio aliviada, sabe (...) que é uma panela de pressão prestes a explodir. O artigo de três parágrafos acusa Prudence de maltratar a filha com excesso de rigores, privando-a até de alimentação. A mídia parceira da banda está trabalhando. O histórico das mulheres cativas é desenterrado, refrescando a memória da população e mostrando por que Natasha é tão pálida e magra (...) A intenção era atingir Sunshadow e dar início a uma série de matérias com acusações conspiracionistas e ideológicas, a menina deu o gancho perfeito para o início da difamação.

O efeito do contra-ataque é o desejado, põe os acusadores na berlinda e acalma a mãe cuidadosa (...) Ainda há reportagens em curso, sobre como estão aquelas crianças levadas para Michigan, que serão levadas a cabo na primavera. Enquanto um grupo tenta provar que Sunshadow é um reduto de extrema direita, e outro que é uma ameaça comunista, a cidade se prepara para o Sunshadow Racer Motor Show. Phoebe tem suas próprias surpresas para o evento.

Vai com a mãe e as meninas para a casa da bisavó materna, aparentemente só uma visita de cortesia (...) Na velha oficina de Richard, os dois Cadillacs repousam prontos para conhecerem sua casa, após anos de restauro meticuloso (...) Enquanto a matriarca faz Marcia e as pequenas rirem, com histórias da grande turnê (...) Phoebe vai ao galpão. Em menos de trinta segundos ouve-se lá dentro uma buzina dos anos 1920. Não é incomum, a cidade tem centenas de carros da década, incomum é a buzina insistir em tocar diante da casa. Marcia quase chora...

- Seu carro, mom.

O Cadillac Imperial está como novo, reluzindo a luz ainda amarelada que as nuvens refletem nesta manhã fria (...) Ela se aproxima daquela moça de saia curta e blusa fina, que ignora o frio já vigente, pega a chave do clássico e chora abraçada ao rebento. Tudo registrado e eternizado pelos paparazzi que praticamente moram em Sunshadow. Claro que ecoxaropes criticam a manutenção e funcionamento de um automóvel tão antigo, claro que eles se valem de redes sociais para protestar contra isso e a cidade com maior concentração de carros antigos no mundo, claro que eles estão jogando pedras na lua (...) por agora a moça quer ver o rosto da mãe aceso e radiante, ao volante daquele carro. Ela fez o ano valer à pena.

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