A falha da NSA. A estação 149 traz uma lição por cuja negligência o ocidente pagou caro. Embarquem e não digam tudo o que sabem, o trem vai partir.
Alice é posta para aprender com Glenda, que
não se furtará de lhe passar alguns feitiços para se proteger (...) As irmãs cuidam da academia, enquanto ela aprende a cuidar do mundo.
Reconhecer gestos suspeitos e ler expressões faciais faz parte do aprendizado (...) Volta para casa mais
calma, treinando seu aprendizado com os transeuntes. Identifica vários mal intencionados
pelo caminho, a maioria conhece, são paparazzi. Vê Albert acompanhar Melody à
Maison (...) dispara a rir. Ele está
irremediavelmente apaixonado. Encontra a mãe e sua namorada em casa, ambas
estranhando o sorriso e os passos leves. Já não está às cegas, sabe exactamente
o que está acontecendo com o mundo e não será pega de surpresa, é isso.
Vai ver as Lices mais jovens (...) espera que não tenham comido muita besteira. Leva almoço para
suas gêmeas e assume o comando da academia, como de costume. Vê a matícula de
um novato, busca pelas câmeras de segurança e lá está ele, com Richard,
tentando diminuir a distância muscular entre si e os Gardner. Sorri e volta aos
negócios, precisa mandar o relatório para os avós paternos, e mostrar mais uma
vez que não foram esquecidos pelas netas.
Enquanto isso em La Grande, Janie e Roger
renovam o guarda-roupas, para impressionar a família da moça. Acham de bom tom
levar um presente (...) As
irmãs do rapaz tentam explicar às amigas que ele está comprometido, mas elas continuam inconsoláveis. Assim como alguns figurões da política internacional,
que cairiam de quatro bastando Phoebe acenar com um dedo e apontar para o chão.
Ela está concluindo seu projecto para o doutorado, já consegue emaranhar
materiais completamente diferentes com aplicações precisas de laser, durante a
nanoimpressão em 3D (...) faz com muito
mais sofisticação para a organização. Concluido. Agora pode produzir grafeno e
nanotubos de carbono como quem prepara massa de espaguete, com custos
comparativamente desprezíveis.
Patricia aproveita um intervalo entre
negócios para falar com os demais a respeito também disso. Enumera todas as ocorrências
mais sérias decorridas de terem abraçado a carreira, desde Matthew até Albert (...) a
influência e conseqüente responsabilidade que têm faz o show business ser muito
pequeno. Os seis começam a se lembrar dos momentos mais importantes dos
primeiros anos (...) A banda cresceu
muito mais do que pretendiam, se esforçaram para a corporação não crescer
demais (...) Ronald é o
primeiro a colocar os pés para fora, com Rebeca apaixonada em um abraço. Enzo
ainda tenta entender tudo o que aconteceu na turnê brasileira, arrancando
risos. Renata se lembra da Grande Turnê, que hoje não seria factível, não com o
roteiro completo. Robert também se lembra com muito amor daquela turnê (...) Patricia apenas ouve, com um sorriso meia
boca, compenetrada...
- Você com essa cara de novo?
- Saudades, Rê. Muita gente ficou pelo
caminho! Me lembrei do Maurice... E agora o Robin também está mal...
- Eles são agentes também?
- Não, mas já ajudaram algumas vezes,
inconscientemente. A música “Israel” foi utilizada como código para deter uma
centena ou mais de ataques ao ocidente. Hoje dá pra falar, esse perigo já
passou. A seqüência de cordas foi a utilizada em ataques a células terroristas,
para evitar que elas pudessem se comunicar, mas com tempo suficiente para se
desesperarem e se exporem a público. Os soldados envolvidos ouviram a canção
todos os dias, para que não cometessem um erro sequer. Há muito, mas muito mais
coisas envolvidas na disputa entre israelenses e palestinos, do que a mídia e a
história oficial mostram. Vamos pra dentro, tem coisas que esses paparazzi mal
disfarçados não vão saber veicular sem soltarem mais besteiras e piorarem tudo.
Enquanto ela conta detalhes sórdidos demais
para contar à mídia popular, dados a seu respeito (...) vazam pelas mãos de
um jovem e revoltado funcionário da NSA. Na manhã seguinte, a internet expõe
provas da cooperação de Patricia em assuntos ultra secretos, negociações,
intimidações a grupos hostis, bem como menções do quanto ela é admirada e temida
por muita gente poderosa, mas também a lista de chefes de Estado que já caíram e
ainda caem de quatro por ela (...) Felizmente todo o foco foi para si, como sempre, preservando a
organização e entidades secretas auxiliares. Quando lê, após os treinos
matinais, ela simplesmente desaba na cadeira à mesa...
- Meu Deus... Por quê?
A porta da Máquina de costura fica coalhada
de jornalistas, paparazzi e aprendizes de fofoqueiros (...) A poucos
dias do Festival da Saudade, Sunshadow lota novamente. Lá vêm os Richards,
enormes, pisando duro e encarando todo mundo para abrirem caminho. Washington
entra em parafuso, teme que encontrem mais pistas e coloquem em risco os
agentes e soldados em serviço no exterior. A diva retrô aparece em um vestido
de abotoar rodado, com cerejas púrpuras estampadas sobre fundo branco, gola inglesa
e mangas curtas (...) basta um gesto de mão e todos se calam, aos poucos. Em
primeiro lugar ela afirma que é tudo verdade (...) Em segundo lugar, vai conversar com a
família a respeito, para que cada um saiba como se portar diante de perguntas
desse tipo. Em terceiro e último lugar, vai se pronunciar hoje à tarde na rádio
de sempre. Josephine a chama pela videophonia restrita (...) se mostra preocupada com a pressão absurda que
ciclicamente a vitima.
No meio desse turbilhão de polêmicas, cada um
que pareça ir para a Máquina de Costura é cercado por câmeras e microphones,
como Elias e Sandra (...) Perguntados se
eles também são agentes secretos, Elias responde “Se eu disser, terei que
matá-lo” e entra com a filha. Encontram a madrinha já cercada de mimos, mas não
menos tensa, com netas e bisnetas no colo e nos braços.
Albert recebe da mãe uma rajada de perguntas,
ela quer saber de tudo, até do que ele não sabe, já que mora perto da cantora...
- Ela é muito ocupada e não fala da própria
vida para estranhos. Tá, eu a conheci, já conversei com ela, mas daí a ter
intimidade vai uma longa distância.
- Mas não pode conseguir nem uma
informaçãozinha? Vai...
- Vocês vêm para o Festival da Saudade,
prometo que aqui eu consigo todos os contactos que você quiser.
Às vezes ele se lembra por que decidiu sair
cedo de casa, directo para a guerra. Vai ver em que pé está o tumulto em frente
à Máquina de Costura. Encontra alguns Street Warriors tentando organizar a
fuzarca...
- Hey, Beastie, vem dar uma mão aqui!
Ele não hesita. Consegue ajudar a organizar
aquela multidão (...) Patricia fala com o
presidente sobre o caso, até a hora de ir se pronunciar. É uma romaria, ela vai
cercada pelos seus, pelos concidadãos, pelos fãs e pela imprensa generalizada. Melinda,
Matthew, Mikomi, Fester e Mary Ann estão naquela toada de guerra em seus
postos. Eles também são questionados a respeito, pelos outros veículos de
comunicação. Finalmente na rádio...
- Sunshadow, é Patricia quem fala. Em
primeiro lugar, peço que jamais coloquem em rede o que for realmente importante
para vocês, o que inclui photographias mais íntimas ou familiares, vocês sabem
do que estou falando. O material a meu respeito que foi exposto, nem deveria
ter sido digitalizado. Hoje ele não causa maiores problemas, mas se fossem
eventos actuais a América inteira estaria em apuros, porque terroristas,
traficantes, mafiosos e políticos corruptos teriam em mãos os nomes e
localizações de quem foi destacado para detê-los. Em segundo lugar, ainda a meu
respeito, é tudo verdade. Eu não fiz tudo aquilo esperando reconhecimento e
publicidade, deixo isso para as actividades da banda, fiz porque era necessário
e não havia outro para fazer. Se não lhes contei é porque não considerei
necessário, e será sempre assim, vocês me conhecem. No tocante aos chefes de
Estado citados, compreendam, eles são humanos, não estão imunes a paixões e
corações partidos. Infelizmente é coisa que só o tempo pode curar. Quanto às
intenções de quem repassou essas informações, eu não farei juízo, mas assevero
que não mediu devidamente as conseqüências, a não ser que arruinar democracias
seja o objectivo dele, porque só os ditadores se aproveitarão disso. Não sou
contra denunciar ações danosas de um governo, eu já fiz isso mais de uma vez,
mas simplesmente jogar tudo no ventilador expôs detalhes que não só não
ajudarão na formação da opinião pública, como deu de bandeja argumentação para
as ditaduras se afirmarem e minarem a confiança nas democracias. Se não poder
emitir uma opinião sobre o governo sem o risco de execução sumária lhes
assusta, então vocês estão entendendo o que digo. Claro que teria ajudado
muito, se os governos (todos eles, não só o nosso) não mentissem tanto! Se o
autor teve realmente alguma boa intenção, foi um idiota provavelmente
manipulado por quem está lucrando com esse vazamento. Agora, como lidar com
essa nova realidade, porque mais vazamentos virão, tenham certeza? Vigilância.
Infelizmente vocês terão que ser mais desconfiados, principalmente de quem
aparecer dizendo que vocês têm razão e tudo isso tem que acabar. Gente que
aparecer em seu caminho oferecendo conforto e alternativas que, no fim das
contas, levam a algum tipo de ressentimento, deve ser sumariamente afastada; É assim
que terroristas e fanáticos fisgam novos adeptos. E por falar em fanáticos, eu
preciso dar o braço a torcer ao meu pai, as religiões estão fomentando o
terrorismo não só lá fora, aqui dentro há milícias amparadas por brechas na lei,
que visam apenas defender seus dogmas de todos os que considerarem, ao seu
próprio critério, ameaças à “palavra de deus”, a qualquer custo. Não são poucas
e têm representatividade no congresso. O nosso velho pacto de proteção mútua
ainda é actual, necessário e agora uma questão de sobrevivência. Nós não somos exactamente o que eles querem em
seus quintais, então não toleram que possamos continuar existindo. Sunshadow,
não se conforme com informações prontas, especialmente do tipo “é porque assim
está escrito” ou “é porque eu decidi que seja”. Pesquise, investigue, não
confie em suas próprias opiniões para tirar uma conclusão, porque nossas
opiniões estão mais subordinadas aos nossos anseios do que seria salutar.
Lamento que a América tenha se acomodado na indolência e no senso comum, e
nisso incluo universitários que se consideram esclarecidos, mas só enxergam o
que sua linha ideológica permite. Nós ainda vamos pagar caro por essa
comodidade intelectual, por isso urge que vocês se mantenham e se aprimorem
como um foco de resistência a essa mentalidade popular, que no fundo é a
responsável por toda essa encrenca. Por agora, compreendam, é tudo o que tenho
a dizer a respeito. Obrigada.
&
“O pronunciamento de sua majestade” estampa
os noticiários, desta vez incluindo o Interesse Popular, Sunshadow News e Coast
to Coast News. Sunshadow ainda fervilha de gente, enquanto o show business
mundial e os canais de internet organizam fóruns (...) Ela ter afirmado categoricamente que há milícias em território
americano amparadas em brechas legais, por si só já daria semanas de polêmica.
Cada sunshadower torna-se instantaneamente uma celebridade (...) Mais da metade dos sunshadowers com mais
de quarenta anos tem ao menos um doutorado, isso bastaria para alimentar mais
teorias conspiratórias. Também uma geração nova de agentes secretos passa a
freqüentar a cidade (...) Cada um é entregue de
bandeja aos cidadãos, pela ainda desconhecida rede social local. Patricia tenta
levar sua vida o mais próximo possível da normalidade (...) Toca a campainha um homem de meia idade, usando suspensórios, é
atendido por Arthur. É o senhor que restaurou a jukebox de 1947 (...) Ele pede ajuda para encontrar um lugar para
guardar três carros que trouxe do Brasil e pretende vender no festival...
- Será que a fazenda dos Fischer teria um
cantinho para um Uirapuru, um SP2 e um Concorde?
- Eu acho que se a Patty souber, eles não vão
à venda no festival...
- E não vão mesmo! Onde estão?
Ele os leva ao Chevrolet COE 1956 com os três
carros no reboque. Um Uirapuru 1964 azul, um SP2 1973 amarelo e um Concorde 1976
tão branco que dói nos olhos. Patricia faz algumas perguntas, testa o
acabamento, liga os motores, testa as marchas...
- Arthur, traga meu talão de cheques. Vamos
descer os carros... e o COE também fica. Mommy, tenho uma surpresa pra você...
Ela vai, com Robert Richard pela mão, reconhece
de pronto aquela frente tristonha com aquele bigode ladeando o “VW” inscrito.
Se empolga (...) estica a mão para receber a
chave. A posição de dirigir é familiar, embora quase deitada, mas aquele painel
é único. O ronco do motor de 102½” a
anestesia. É a reação que Patricia esperava para neutralizar a tensão das
últimas quarenta e oito horas. Nancy vai menina, com Robby de carona, dirigindo
seu SP2 para casa. Claro que a imprensa noticia “A agente Patricia Petty dá um
esportivo exótico para a mãe. Será que tem algum armamento secreto instalado?”.
Ela volta para o trabalho bem mais leve, para a alegria dos comparsas de meio
século de carreira.
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