sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dona Neusa descansa em paz


Eu? Morta? Mintchura!!!
 Dona Neusa teve uma vida difícil. Abastada, cheia de mimos, mas muito difícil.

O pai estava tão empenhado em resolver os problemas do Brasil, que não se dava conta dos problemas dentro de sua própria casa.


Com o tempo a menina rebelde começou a dar mais problemas do que o esperado, mas pesava a seu favor o coração mole e quente que sempre teve.


No início dos anos oitenta, com o pai governador, tentou a carreira como cantora. Valeu como curiosidade, como experiência, pois o sucesso relativo foi efêmero.


Insatisfeita, aceitou convite para posar nua. Todo mundo (mundo artístico) que usava saias posou nua naquela época, por que ela não poderia? Posou, mas o pai pretendia ser presidente e o partido aconselhou a tomar providências contra, para qualquer eventualidade e evitar ataques adversários. Ele proibiu a circulação da edição. A carreira de modelo de Neusa estava abortada. Ela não queria chocar, queria chamar a atenção do pai e, de lambuja, ter uma profissão honesta.


Ser filha de político influente, porém, não rendeu-lhe a impunidade que vemos todos os dias, com filho de ministro atropelando e matando, para sair impune e ser esquecido em poucos meses. Ela foi aos morros comprar drogas, a polícia a prendeu e presa ela ficou, ao menos por algum tempo.


Neusa caiu no esquecimento, seu único sucesso também.


Antes de ontem, ainda nova para tanto, Dona Neusa morreu. Aliás, desencarnou, pois gente de bom coração não morre. O fígado, atacado pela juventude desregrada, agravou os problemas pulmonares e seu corpo não resistiu.


O que mais impressiona na passagem de Dona Neusa não é nem a ingratidão do público. Afinal, se na época ela não era um gênio musical, hoje o espectador aceita placidamente a degeneração da musicalidade, diante da qual ela era óptima cantora. O que impressiona é a notícia suscitar a leviandade de trolls de internet, gente que não a conheceu e tece comentários torpes sobre sua vida e seu caráter.


Gente que a conhece, porém, e para minha agradável surpresa, relata cousas que a imprensa não mostrava. Neusa, Neusinha para quem mereceu sua amizade, era uma pessoa boa e costumava ajudar brasileiros em dificuldades no exterior, especialmente em Portugal. Que ela usava drogas não era novidade, foi o que minou sua saúde. Falar mal dela por isso e usando-a para atacar seu pai, no entanto, mostra porque o brasileiro ainda é tão mal visto na internet.


Porra-louca, sim, ela foi. Uma porra-louca de coração nobre, oh, túmulos caiados. Alguém que fez pelos patrícios o que seus detratores não fariam se pudessem. Não estou santificando Neusinha Brisola, estou mostrando a mulher humana que a imprensa se recusava a mostrar na época, e que os trolls inúteis se recusam a ver hoje.


Eu, integrante da parcela de brasileiros que é bem-vinda em fóruns mundo afora, sem falsa modéstia, presto uma homenagem a uma das mais icônicas representantes dos anos oitenta. Uma cantora(?) que divertiu muito e fez nascer piadas infames como...
- Ei, sabia que a Neusinha brisola morreu?
- É verdade??!
- Não, é mintchura! Rá, rá, rá, rá...


Infelizmente desta vez é verdade. Para quem não conheceu, apresento Neusinha Brisola!!!



Seu maior sucesso, "Mintchura":

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um dedo de prosa - 80


Sete anos de oitentismo puros!
 A respeito do revival dos anos oitenta, com ênfase no brega escancarado, eu acho pouco. Não que eu tenha sido rico e feliz naquela época, mas tínhamos acabado de sair de uma ditadura e não desconfiávamos que acabaríamos caindo em outra, a da patrulha do politicamente patético. No início era um movimento sincero, mas logo se corrompeu assim que viu o poder rapidamente ganho. Processa-se qualquer um por qualquer cousa. Foi um tempo em que ser machista ou racista era sinônimo de ser um completo idiota, hoje se tornou sinônimo de "movimentos de direita".

Algo que a década já balzaquiana nos legou, foi a música descompromissada, feita para desestressar e mandar todo o resto para o escambáu. Foi uma época em que muita tranqueira saiu do forno, do mesmo forno que nos deu a música descompromissada, que não se levava à sério. O vinil era o mesmo, mas tranqueiras sempre pegam carona no trem do sucesso, seja qual for.

Foi o auge da finada TV Cultura, das roupas coloridas, da explosão das bandas que rompiam de vez com os formatos dos anos setenta, além de roupas com cortes muito esquisitos. Esquisitos, mas alegres. Ninguém estranhava, ao contrário da década seguinte, se tu saísse de casa com tons cítricos misturados a um rosa choque. Parece ridículo? Às vezes era, mas muita gente sabia unir com maestria essas cores difíceis. Os homens exageraram nesta época, usando o dobro de tecido para fazer um terno, era moda "defunto gordo" que jovializava o traje social, às vezes em excesso.
Os anos oitenta já figuram no conceito de vintage.

A diversidade, porém, era a tônica. O xadrez e o pie-de-poule tinham voltado à tona e ainda hoje resistem, mas nos cortes da época deixavam a mulher poderosa, com ar de princesa. A propósito, o casamento entre Charles e Diana ainda ia bem, suportando as pressões internas, e o romantismo crescia na mesma proporção em que os biquínis encolhiam. A sobriedade das estampas não ofuscava a alegria e fluidez dos modelitos, mesmo os mais colados pareciam ter movimento. Essa alegria toda, da chamada "Geração Saúde", acabou contaminando a moda, os artistas e tudo mais. As modelos, para quem não se lembra, ainda eram vistas como modelos de beleza e não como vitrine para glamourizar o uso de drogas, como aconteceu com a malfadada época do "heroína chique" e suas esquálidas menininhas.

A tônica dos artistas era de se levar o trabalho à sério, nunca o seu resultado. Disto nasceram Ultraje à Rigor, Kid Vinil, As Patotinhas, Blitz, até os Mamonas Assassinas beberam nesta fonte.
Nas artes graphicas tivemos a consagração de gênios como Laerte Coutinho, Angeli, Glauco e Adão Iturrusgarai. Artistas novatos recorriam até à xerox de altíssimo contraste para compor fanzines, conseguindo efeitos muito bons com quase nenhum recurso. Imaginem toda essa parafernália digital ao alcance deles!

Uma década, na verdade do factos, dura de três a seis anos, no miolinho. Antes disso tem muita influência da década anterior, depois começa a se transformar na próxima. Os anos oitenta purinhos vão de 1982 até 1988, mais longevos do que a média. Neste período, ainda que sob ameaça de uma guerra nuclear, tivemos a última chance do optimismo mundial. Michael Jackson alcançava o status de rei do pop, tendo Madona como rainha e Cindy Lauper como a duquesa rebelde. Estavam ascendendo. Annie Lennox, Roxette, Air Supply, U2 e uma miríade de garotos firmava pé no sucesso. Gente que ainda hoje está na activa, mas alguns já deram o que tinham que dar, sejamos sinceros.
A Xuxa vem desta época. A Angélica também. Mas programas infantís realmente infantís, como Carrossel e Bambalalão também. Aliás, Carrossel foi título de uma novela mexicana que marcou o fim do reinado absoluto da Globo, e abriu caminho para as tosqueiras que o SBT importa até hoje. Mas a maioria das novelas ainda valia a minha audiência.

Menudo, Dominó, Polegar, Tremendo e outras tranqueiras ficaram no caminho. Pensei que nunca fossem ter fim, mas Deus é maior.


Mas o importante dos anos oitenta, é que as pessoas não tinham vergonha de sua alegria, nem se exigia um motivo para se estar alegre. Um sujeito com o walkman nos ouvidos era geralmente um sujeito feliz. As músicas de então ainda valiam à pena, as antigas ainda eram baratas de se comprar e a fita cassete gravava qualquer cousa, qualquer mesmo, não existia esse negócio de incompatibilidade. Se tu colocar um gravador analógico na saída de som do computador, do iphone ou qualquer desses brinquedos que te algemam à loja da marca, o que sair de lá ele grava, depois é só redigilalizar e limpar, se quiser. De graça.
Claro, uma década tem prazo de validade, no máximo dez anos. Mas por que tudo o que ela tem de bom precisa ficar no passado. Por que?

sábado, 16 de abril de 2011

Música russa hoje


As russas cantam e encantam
 Também pensei que não conseguiria publicar hoje. Muita pesquisa e muitos fragmentos da vida pessoal atrapalhando depois, fiz um resumo sobre a música russa actual.
Pois é, ela existe. Vai muito além da balalaika eléctrica e de T.A.T.U.


Mas a Rússia ainda está muitíssimo ligada à música tradicional. Victoria Pichurova e Tanya Matveeva são cantoras folclóricas ainda jovens, que fazem muito sucesso e turnês pelo mundo, especialmente para as comunidades russas pelos quatro cantos, principalmente a de Nova Iorque. Para quem aprecia, o site Barynya (aqui) é especializado em divulgar a música tradicional russa, mas não descuida da velha guarda da música popular, que tem em Lyudmila Zykuna uma de suas pérolas. Se é que algo na União Soviética era realmente popular, a entonação de Lyudmila é muito próxima à ópera. Mas serve para mostrar que mesmo sob repressão política se consegue viver, nós sabemos disso. Um grupo que une a tradição à modernidade é O Monte Fedorino, que canta O Céu dos Eslavos no vídeo de baixa resolução abaixo:
O Monte Fedorino canta O Céu dos eslavos:

Para quem gosta de boa música moderna, o site SRAS (aqui) nos brinda com o que de relevante emerge no cenário musical da Rússia. Destaco alguns:


Dima Bilan. Não, não é Dilma Balan e não é mulher. O rapaz faz o gênero playboy e manda muito bem nas pistas de dança. Canta o bastante para eu me perguntar por que grupos mongos pré-fabricados dos Estados Unidos e Porto Rico fazem tanto sucesso por aqui, enquanto o Velho Mundo tem tantas jóias ainda desconhecidas? Dima não é só um bom cantor, é também um bom gestor de sua carreira, tem vários sites como o oficial (aqui) e o fã-clube (aqui) muito bem estruturados.


Valeria. Moça de voz doce e bom carisma, faz o gênero extravagante nas photographias de divulgação, mas se entrosa bastante com o público. Já é uma mulher feita, o que se reflete claramente nas músicas. Também tem um site (aqui) muito completo e fácil de navegar. O link que ofereço te encaminha para a versão em inglês da página, porque ler o alphabeto cirílico é só para gente capacitada.


Vera Brezhneva. A loura totosinha da pequena lista, com todo o respeito. Canta cousas das paixões, da juventude e encanta com sua voz muito madura, quem ouve pensa ter não menos de quarenta anos. O site (aqui) é só em cirílico, mas vá clicando na barra esquerda superior que é tudo inofensivo.


Serebro. Não, não fiquei analphabeto, o nome é em russo e é assim que se escreve. É um trio de garotas bastante ousadas que canta muito bem. Versáteis e variando o tom de voz com competência, elas vão do romântico à pista de dança sem suar, se atrevendo inclusive a fazer várias versões de estilos de uma mesma música. a letra permanece a mesma, mas todo o restante a transforma completamente. Têm até alguns fãs no Brasil (aqui) e América Hispânica (aqui). Como parece ser regra entre os russos, seu site (aqui) é claro e fácil de se navegar. A ousadia aparece em um clipe onde as três aparecem nuas, mas sem mostrar nada, o link para o vídeo é este aqui. No cabeçalho da página inicial há alguns quadradinhos, passe o cursor sobre eles e as opções aparecem em inglês. Os vídeos contidos no site podem ser baixados gratuitamente.


Para mais, os dois sites de divulgação que encontrei são suficientes para se formar uma massa crítica de conhecedores, e talvez até alguns fã-clubes. Qualidade musical eles oferecem tanto quanto o grande circuito comercial, se diferenciando pelo parente conhecimento mais profundo de música, porque vocês sabem que a maioria dos cantores da moda morreria de fome, não fossem os softwares para corrigir suas taquaras rachadas.

Edição. Sugestão do Talicoiser rebelde Elmo, Regina Spektor, mais vídeos aqui. A moça é mais técnica e sensível do que a média mundial das cantoras:

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Meus super-perdedores favoritos

Já que meu amigo Nanael adora os quadrinhos e em sua última postagem falou de super-heróis, hoje vou entrar um pouco na seara dele. Falei aqui que adoro os personagens perdedores. Alguns desses não apenas se contentam em ser simples perdedores comuns, contudo, e partem para uma categoria que simplesmente AMO: os super-perdedores, aqueles super-heróis trapalhões, desajeitados, que fazem tudo errado e em geral dá tudo certo.
Como não sou grande conhecedora dos quadrinhos e animês, ao contrário de meu amigo Nanael, minha lista percorrerá o óbvio e o ululante.
Começando por um que é uma maravilha: Super Pateta! Ele se tranforma num herói que usa aquele macacão de dormir, até a história de sua origem é atrapalhada e tem como grito o famoso "Trá-la-lá". Tanto desastre junto só poderia resultar no maior super-perdedor da Disney. Dela, destaco também o Morcego Vermelho, que junto com Pena Kid e Pena das Selvas é um dos três heróis tralhões vivido pelo fantástico Peninha, de longe um de meus favoritos. Como curiosidade, o Morcego foi criado aqui no Brasil e é obviamente uma sátira ao Batman, que também acabou satirizado pelo Darkwing Duck, o Terror que Voa na Noite, outro atrapalhado que ganha na bagunça que causa.
Saindo do núcleo Disney, a Hanna-Barbera tem seus heróis trapalhões: Os Impossíveis, que tinham como identidade secreta uma banda de Rock, e os Super Globetrotters, uma série em homenagem ao grupo de basquete-show quase homônimo, são os que eu mais me lembro. Da série "herói atrapalhado com ajudante que salva o herói", temos: Hong Kong Fu, a Tartaruga Touché e meu favorito de todos, El Kabong!

Da Leonardo Procuctors, pouco conhecida, temos as histórias do Vira-Lata, com suas falas rimadas, seu amor pela doce Polly e suas constantes trombadas em prédios. Como não amar?
Saindo do mundo dos desenhos, temos o fantástico Ch
apolin Coloado, com suas tiradas divertidas e seu ego quase tão grande quanto sua total inabilidade para tudo.
E aquele cuja música tema eu sei quase de cor, que me inspirou nesse post:
O Super-Herói Americano!!!

Sou só amor por eles.

Believe it or not, it´s just me!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Capitão São Paulo

Aviso de antemão que eu estou a par da tragédia do Rio de Janeiro, não sou insensível e não me esquivei de falar a respeito, mas tratei do assunto denso e sufocante em um blog próprio para isso, pode ver clicando aqui.

EM HONRA À GLÓRIA

Dentre as muitas tosqueiras que apareceram no Brasil, os super heróis estão entre as piores. O grande problema é que seus autores os levam à sério com um orçamento que não pode ser levado à sério. A maioria não aprendeu a diferença entre fazer uma expressão séria e ficar com cara de quem está apertado, sem um sanitário por perto. Já vi boas idéias naufragarem porque seus criadores insistem em agradar aborrescentes viciados em homens másculos e com cara de mau... Imitar o Wolverine, sem o carisma do Wolverine é a receita certa para o fracasso.

Gibis e mais gibis com nomes pomposos, chamativos, cheios de cores e mulheres muito mais artificiais do que o bom senso tolera nas poses. São artistas de talento, mas que esqueceram que mesmo o universo Marvel tem seus bons momentos de humor, e que seus heróis começaram de modo singelo, não foram mandando porrada logo na contracapa. E, me desculpem a sinceridade cortante, mas o roteiro costuma pecar muito. As explicações para a origem de um poder ou a motivação de se assumir a capa de herói, atravessam fácil a linha do ridículo... quando há explicações.

Sem capricho na arte, usando linhas muito espessas, sem uma boa argumentação, sem um bom roteiro, sem nem mesmo carisma e humor que deveriam ser a regra em um trabalho brasileiro, as revistas encalham. Não adianta culpar o público, o editor, o governo e a concorrência estrangeira. O público é cada vez mais medíocre, sim; o editor é uma sogra que dispensa matrimônio, sim; o governo quer mais que o povo vire zumbi, sim; a concorrência estrangeira tomou todos os espaços que conseguiu, sim. Vão esperar que o público melhore, em vez de focar aquele que compra porque aprecia bons quadrinhos? Vão esperar que o editor abra o cofre, em vez de começar com fanzines ou tiras em jornais pequenos? Vão esperar que o governo ponha a mão na consciência, em vez de se tocar que ele não a tem? Vão esperar que os gibis estrangeiros abram mão de um mercado que lhes custou caro, em vez de aprender com eles?

Eu já pensei em lançar um gibi, talvez um fanzine. Mas vi que não teria (ainda não tenho) o tempo necessário para me dedicar e fazer um trabalho que eu gostaria de comprar na banca. Mal tenho tempo para escrever nos blogs, quanto mais argumentar, desenhar e roteirizar.
Eu não gosto de imitações. Embora características possam ser comuns a vários personagens, como a criança terrível, o herói atormentado, o criminoso abandonado pela família, a personalidade de cada um deve ser respeitada. Não adianta fazer de uma moça de família uma ninfeta com poses inexplicavelmente provocantes, só para vender revista. No começo até funciona, mas logo a concorrência estrangeira mostra que faz melhor, com mais conteúdo e mais barato. Eles têm pessoal especializado para cada etapa, podem se dar ao luxo. Nós, pobres fanzineiros deste Brasil desigual, temos que fazer tudo, do rabisco à venda, sozinhos.

Não bastasse isso, a maioria desiste. Simplesmente desiste. Eu não sei quando voltarei a desenhar aquela monstrinha de carinha bonita, muito menos se um dia ela estará em público, mas não desisti. Desanimado? Sim, eu estou. Eu sou funcionário público honesto, meu filho, dôo uma hora por dia ao serviço público para melhorar o atendimento ao contribuinte, como muita gente que conheço. Chego a ficar uma hora à espera do ônibus, um pau-de-arara que recebe manutenção parca e porca, pelo qual eu pago caro. Eu tenho motivos para desistir? Não na minha moral. Talvez na tua, não na minha.
Uma excessão, que vem enfrentando problemas há anos, provavelmente também o de verba, é o CAPITÃO SÃO PAULO. EM HONRA À GLÓRIA!!!
Ele não voa como o Super Homem. Ele não é brutamontes como o Hulk. Ele não corre como o Flash. Ele não atravessa muros como o Visão. Ele não anda nas paredes como o Homem Aranha. Ele não é um deus como Thor. Ele não é sexy como a Mulher Maravilha. Em compensação ele também não tem a fortuna do Batman. Que diabos então esse cara é capaz de fazer? Ele se vira.

Ao volante de seu indefectível super carro, um Puminha conversível 1977 com motor envenenado, ele vara as ruas da Cidade-Estado de São Paulo para defender a paz e a ordem. Exceto nos dias em que o rodízio o obriga a pegar um ônibus. Então o vilão ganha uma vantagem, mas é provisória.

Dono de uma persistência de dar inveja ao Coringa, vence fácil pelo cansaço os vilões como o Homem-Barata e o Capivara-Man. Compensa seu corpo franzino com os saltos atléticos e a mente activa , que divide atenções entre a vilania, o trabalho, a família e a namorada ciumenta. E quando a diarista manda o uniforme de herói para lavar? Vai combater o crime de regata e bermuda, meu.

Os poderes do Capitão São Paulo são: mente activa e afiada, ou não conseguiria perseguir e atender ao celular ao mesmo tempo; persistência invejável, ou tu pensas que é fácil andar de ônibus em São Paulo?; não se leva à sério, senão enlouquece e desaparece; animação muito simples e bem feita, para concentrar os parcos recursos no que interessa; bom humor, ainda que seja ele a vítima deste humor; o criador nunca desiste, afinal é brasileiro.

A própria concepção do personagem facilita a argumentação, o roteiro e o desenho. O Almeida, identidade secreta do Capitão São Paulo, é um sujeito comum. Ele sai no meio do trabalho para fazer um resgate, sai no meio do filme para negociar por reféns, sai no meio da noite para dar cobertura à polícia. Ele sai de seu apartamento de classe média-baixa, usando dos meios que encontra para resolver os problemas. E a vida de herói é muito mais fácil do que a de cidadão, o que todos nós estamos carecas de saber. É tudo muito simples, sem perdas de qualidade, com boa sonorização e boa argumentação. Nada de extraordinário, de poses, de grandes tramas que não caberiam no contexto. É tudo uma brincadeira e as animações deixam claro que é só brincadeira.
Mais sobre ele aqui, aqui, e no vídeo abaixo.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Morte na escola

Desculpem fugir da rotina talicoisense, mas isto aqui é por demais grave para ser ignorado.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidades/2011/04/homem-atira-em-criancas-em-escola-no-rio-e-mata-pelo-menos-9-morrem


Rio de Janeiro – Um número ainda não conhecido de crianças e adultos foi baleado por um homem que entrou armado na manhã desta quinta-feira (7) em uma sala de aula de uma escola municipal em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Rio, o atentado provocou 11 vítimas fatais (nove meninas, um menino - com idades entre 12 e 14 anos - além do atirador) e outras 17 pessoas ficaram feridas.

O autor dos crimes é Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, que não tinha antecedentes criminais. Ele carregava duas pistolas e muita munição, segundo informações da Polícia Militar. É grande a movimentação de ambulâncias, pais e curiosos em frente à Escola Municipal Tarso da Silveira, na rua General Bernardino. As crianças feridas foram levados para o Hospital Estadual Albert Scweitzer, também em Realengo. A Polícia Militar isola toda a frente da escola e somente os pais dos alunos terão acesso ao local.

Policiais militares que participavam de uma blitz na rua trocaram tiros com o homem, que morreu ainda dentro da escola. A informação da polícia é de que ele cometeu suicídio. O sargento Alves, da PM, foi o primeiro a entrar na escola. Ele chegou a atingir Wellington na perna, impedindo-o de chegar a outras salas de aula, segundo a Secretaria de Segurança do Rio.

De acordo com o governo do Rio de Janeiro é de que o homem entrou na escola fazendo-se passar por um palestrante, segundo a direção da escola. Com o barulho dos tiros, houve muita gritaria e os professores trancaram as portas das salas para proteger os alunos.

Segundo o subprefeito da zona oeste do Rio de Janeiro, Edmar Teixeira, Wellington era ex-aluno da escola e deixou uma carta em que listou os motivos para cometer o crime. Com teor religioso, ele dizia ser portador do vírus HIV.

Em entrevista à rádio Band News, uma irmã de Wellington, identificada como Roselane, afirmou que ele tinha relações com o islamismo e que pouco saía de casa nos últimos oito meses, a partir de quando foi morar sozinho.

______

Estou chocada, por várias razões. Uma delas é que sou professora.
Até agora foram contabilizadas mais de 13 mortes.
A imprensa, como sempre, com sua sutileza paquidérmica e perguntas cretinas.
E, lógico, todo mundo há de crucificar a escola.
JURO que não entendo essa de quererem encontrar influência do islamismo na tragédia. Será que, se ele fosse católico, iriam culpar a Santa Sé, ou ao Papa?
Por favor!
No mais,
em oração e luto pelos professores, pais e demais crianças.

sábado, 2 de abril de 2011

O retorno de Manda Chuva

Dir: Belo e Bacana. Esq: Gênio, Chu-Chu, Espeto e Batatinha
Meses de especulação e este escriba à espreita. Este escriba ficou doente e continuou à espreita. Este escriba ainda está meio ruinzinho, mas já pode confirmar, os estúdios Anima Estudios (aqui) e Illusion Studios (aqui) co-produzirão o longa de animação do Manda Chuva. Ver aqui, aqui e aqui.

A série original durou apenas um ano, com trinta episódios, de 1961 a 1962, inspirada em outra série de tevê, a "The Phuil Silver Show". Nesta, um sargento do exército americano se ocupava em bolar meios de enriquecer, incluindo os soldados na trama. Durou de 1955 a 1959. A Hanna-Barbera (here) já tinha o bom hábito de se inspirar em personagens reais ou de outras séries para criar personagens, então usou o sargento sem-vergonha para criar o Manda Chuva, ou Top Cat, ou Don Gato dependendo do idioma.

Se a primeira série durou pouco, foi reprisada à exaustão lá e aqui, onde durou até a primeira metade dos anos oitenta. Manda Chuva era pobre, mas era chique e dublado por Lima Duarte. Líder de uma gangue de outros cinco gatos (Chu-Chu, Bacana, Espeto, Gênio e Batatinha) e vigiado de perto pelo guarda Belo. Este, coitado, sempre tentando enquadrar o malandro, mas sempre caindo na sua lábia e acabando se deixar levar pela amizade não assumida. As tramas se passam em Nova Iorque (here and here) com seu gigantismo repleto de possibilidades, suas intrincadas redes de becos (especilmente Manhattan) e a apresentação escancarada de pobreza e riqueza extremas. Um prato cheio para professores e intelectuais que deixarem a arrogância acadêmica onde ela merece, em uma das latas de lixo do beco.

Na trupe, resumidamente:
  • Choo Choo virou Chu-Chu e era o segundo da ierarquia, excelente profissional, servidor fiél da gangue e péssimo com as gatinhas, sempre precisava de ajuda com elas;
  • Bacana era o conquistador mor e sua voz empostada reforçava o caráter, muito bem relacionado na ilha de Manhattan, especialmente com as garotas;
  • Espeto se parecia com Bacana, de forma bem mais sóbria, mas como seu nome original significa "fantasma", era mais pau para toda obra do que um relações públicas, ganhou um belo sotaque nordestino na dublagem brasileira;
  • Gênio conseguia fazer qualquer um parecer um gênio, era mais tonto do que o Quico do Chaves, de vez em quando tinha idéias brilhantes, mas não se dava conta até Manda Chuva dizer "brilhante, Gênio, brilhante!";
  • Batatinha era o mais próximo do chefe, com quem tinha os laços mais estreitos, também era o mais tolerado pelo guarda Belo e acabava tendo uma liberdade que o tornava muito útil ao grupo, sendo o mais carismático dos seis gatos.
Em alguns fóruns de internet está havendo um grande preconceito contra o filme, que ainda sequer tem um trailer oficial, porque tem participação do mesmo estúdio que produziu o seriado Chaves, alegando que de lá só sai porcaria. Bem, o que sai da maioria das discussões de internet, nem de porcaria merece ser chamado.

O personagem Manda Chuva tem personalidade bastante parecida com a do Zé Carioca, que só é mais brasileiro do que o gato porque nasceu e mora no Rio. O carisma, os rompantes de egoísmo e altruísmo e as artimanhas para ganhar um dia de cada vez são os mesmos em ambos.
Manda-Chuva, a título de curiosidade, é um termo usado até metade dos anos setenta para designar o chefe máximo de um lugar. Quem "manda chuva" é Deus, então o termo dá uma idéia do poder de quem o detém sobre seus comandados.

A previsão inicial é o longa em 3D ser lançado em Agosto, no México. Para o Brasil ainda não há nem especulações a respeito, mas provavelmente no fim do ano estréia por aqui. Até lá, veja mais aqui e aqui.