Betty entra no escritório, altiva e confiante, como nos velhos tempos. Foram décadas de ostracismo, por culpa de um fiscal de bunda, que pregava exactamente o oposto do que fazia e virou um fanático. Mas é passado, graças ao papel coadjuvante, na cena com o Valiant, agora está novamente em alta, com seu rosto e suas belas pernas estampando todo tipo de quinquilharia.
O agente a recebe com o sorriso aberto. Sentiu falta disso. Se pudesse, se fosse possível, teria se matado há uns trinta anos. Ele é directo, há um papel para o qual todas as novatas falharam. Não conseguiram unir as qualidades de donzela fina e delicada, com militar durona e implacável. No auge do desespero, foi nela que pensou, e pôs-se a rezar para que aceitasse o papel, para o que parece ser apenas mais um desenho da nova geração. Após a tietagem, começam a falar de negócios.
Ela fica desconfiada, não por causa do papel, mas por ser outro papel. Fez sua fama interpretando a si mesma, nos bons tempos, e foi assim que ressurgiu. Ele explica e tudo parece muito simples, o que ajudaria, se não parecesse um papel muito coadjuvante.
Ele explica que, embora seja coadjuvante, é do tipo sem o qual o papel principal simplesmente não existe. Na realidade, tem planos para a personagem que seus criadores não tinham imaginado, no começo. Macaco velho, logo percebeu o potencial de vôo solo, no mercado de licenças, algo muito parecido com o que ela faz. Aliás, algo quase idêntico, só que em vez de uma vedete, será uma agente.
Betty começa a se inclinar a favor do papel, ele percebe e explica as vantagens, o que inclui acrescentar um papel que não seja o dela mesma. Só precisará adaptar sua doçura e capacidade de comando para o contexto e a época. Mostra alguns esboços, uns desenhos semi-acabados, algo para ela tem idéia exacta do que a espera, se aceitar...
- Vamos fazer um pequeno ensaio?
- Ok, mas onde?
- Preparei um lugar, tinha certeza de que você se interessaria. É um cenário improvisado, com uns diálogos que os caras escreveram.
Leva-a para a garagem, que simula vagamente um cenário de combate. Entrega-lhe a pistola de água e ela, comediante nata, se serve para matar a sede. Ele pega um bicho de pelúcia, para simular o papel principal, enquanto ela lê rapidamente o texto. Seleciona o tom de voz, dá sinal verde e eles começam...
- Macaco! Macaco, preciso de você!
Ele faz o macaquinho de pelúcia sair de uma pilha de latinhas de cerveja e suco, que poderão beber depois, e começa a imitar uma possível voz dele. Foi-lhe explicado o público alvo, embora marmanjos também possam gostar, principalmente de sua personagem...
- Boo-boop-a-doop! Gostei! O que mais ela faz?
Lhe dá outro textinho, ela lê e encena, desta vez, a face durona da personagem...
- LARGUE ELE OU ARREBENTO OS SEUS MIOLOS!
Sobem, para tratar de detalhes. Um deles é a necessidade de reestilizar o desenho. Ele explica que várias versões moderninhas, até de mangá, já foram feitas dela, que gostou de muitas. Faz comparação de proporções e tudo mais, explicando que praticamente só ela nunca faz um papel com reestilização. Cita Minie Mouse, Diana Prince, Branca de Neve, Lois Lane, enfim, acaba convencendo-a, sob a condição de o redesenho ter sua supervisão e co-autoria.
É levada ao estúdio. Todo cheio de botões e monitores, nada lembrando os em que trabalhou, no auge de sua fama. mais tietagem, mais photographias e vão ao trabalho. Terá que esticar a silhueta e aumentar glúteos e seios, não tem jeito. O corpo será reescalonado, mas no rosto ela pode interferir à vontade. Tudo pronto e acertado, é lavada a conhecer, com mais tietagem e mais autographos, os outros artistas, todos relativamwente novatos, alguns em seus primeiros papéis importantes, inclusive o protagonista...
- Oi, fofo! Vem cá, vem!
Conquista o macaco protagonista da série, com isso também o restante do elenco. Foi assim que Betty Boop se tornou a Agente Honeydew... Pelo menos na minha cabeça lesada.