sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O novo papel de Betty


Betty entra no escritório, altiva e confiante, como nos velhos tempos. Foram décadas de ostracismo, por culpa de um fiscal de bunda, que pregava exactamente o oposto do que fazia e virou um fanático. Mas é passado, graças ao papel coadjuvante, na cena com o Valiant, agora está novamente em alta, com seu rosto e suas belas pernas estampando todo tipo de quinquilharia.

O agente a recebe com o sorriso aberto. Sentiu falta disso. Se pudesse, se fosse possível, teria se matado há uns trinta anos. Ele é directo, há um papel para o qual todas as novatas falharam. Não conseguiram unir as qualidades de donzela fina e delicada, com militar durona e implacável. No auge do desespero, foi nela que pensou, e pôs-se a rezar para que aceitasse o papel, para o que parece ser apenas mais um desenho da nova geração. Após a tietagem, começam a falar de negócios.

Ela fica desconfiada, não por causa do papel, mas por ser outro papel. Fez sua fama interpretando a si mesma, nos bons tempos, e foi assim que ressurgiu. Ele explica e tudo parece muito simples, o que ajudaria, se não parecesse um papel muito coadjuvante.

Ele explica que, embora seja coadjuvante, é do tipo sem o qual o papel principal simplesmente não existe. Na realidade, tem planos para a personagem que seus criadores não tinham imaginado, no começo. Macaco velho, logo percebeu o potencial de vôo solo, no mercado de licenças, algo muito parecido com o que ela faz. Aliás, algo quase idêntico, só que em vez de uma vedete, será uma agente.

Betty começa a se inclinar a favor do papel, ele percebe e explica as vantagens, o que inclui acrescentar um papel que não seja o dela mesma. Só precisará adaptar sua doçura e capacidade de comando para o contexto e a época. Mostra alguns esboços, uns desenhos semi-acabados, algo para ela tem idéia exacta do que a espera, se aceitar...

- Vamos fazer um pequeno ensaio?

- Ok, mas onde?

- Preparei um lugar, tinha certeza de que você se interessaria. É um cenário improvisado, com uns diálogos que os caras escreveram.

Leva-a para a garagem, que simula vagamente um cenário de combate. Entrega-lhe a pistola de água e ela, comediante nata, se serve para matar a sede. Ele pega um bicho de pelúcia, para simular o papel principal, enquanto ela lê rapidamente o texto. Seleciona o tom de voz, dá sinal verde e eles começam...

- Macaco! Macaco, preciso de você!

Ele faz o macaquinho de pelúcia sair de uma pilha de latinhas de cerveja e suco, que poderão beber depois, e começa a imitar uma possível voz dele. Foi-lhe explicado o público alvo, embora marmanjos também possam gostar, principalmente de sua personagem...

- Boo-boop-a-doop! Gostei! O que mais ela faz?

Lhe dá outro textinho, ela lê e encena, desta vez, a face durona da personagem...

- LARGUE ELE OU ARREBENTO OS SEUS MIOLOS!

Sobem, para tratar de detalhes. Um deles é a necessidade de reestilizar o desenho. Ele explica que várias versões moderninhas, até de mangá, já foram feitas dela, que gostou de muitas. Faz comparação de proporções e tudo mais, explicando que praticamente só ela nunca faz um papel com reestilização. Cita Minie Mouse, Diana Prince, Branca de Neve, Lois Lane, enfim, acaba convencendo-a, sob a condição de o redesenho ter sua supervisão e co-autoria.

É levada ao estúdio. Todo cheio de botões e monitores, nada lembrando os em que trabalhou, no auge de sua fama. mais tietagem, mais photographias e vão ao trabalho. Terá que esticar a silhueta e aumentar glúteos e seios, não tem jeito. O corpo será reescalonado, mas no rosto ela pode interferir à vontade. Tudo pronto e acertado, é lavada a conhecer, com mais tietagem e mais autographos, os outros artistas, todos relativamwente novatos, alguns em seus primeiros papéis importantes, inclusive o protagonista...

- Oi, fofo! Vem cá, vem!


Conquista o macaco protagonista da série, com isso também o restante do elenco. Foi assim que Betty Boop se tornou a Agente Honeydew... Pelo menos na minha cabeça lesada.

sábado, 20 de outubro de 2012

Eu quero um filme dos Herculóides


Dentre as inúmeras maluquices de Hanna e Barbera, criado por Alex Toth, uma das mais fascinantes foi o desenho "Os Herculóides". Não que fosse muito diferente dos demais, mas como eles, tinha personalidade própria, e até uma surpresa, que seus próprios criadores talvez não esperassem. Foi feito em 1967 e, com muitos estragos em prol da "modernidade", relançados com novos episódios em 1981 e 1982, sem o sucesso d'outrora. Foram duas temporadas com trinta e seis episódios, no original.

O ambiente é o longínquo planeta Quasar, uma espécie de ponto estratégico, que tem como rei e guardião Zandor, marido de Tara e pai de Dorno. Interessante ver que Zandor é ruivo, mas Tara tem os cabelos brancos e o garoto lhe puxou as madeixas. Apesar da pouca roupa, e de dormirem praticamente ao ar livre, os sinais de que eles são os soberanos no planeta, estão por toda parte.

Primeiro pela tiara que Zandor usa, larga e bem estilizada, como a de um imperador. Segundo, pelo porte atlético e modo de andar dos três, muito altivo e confiante, como se soubessem que aquele planetinha é o seu reino. Terceiro e último, porque eles, mesmo o garoto Dorno, comandam os Herculóides. A arma de Zandor é um estilingue... Não riam, é um estilingue especial, que só gente que vive na dureza é capaz de esticar, para lançar suas pedras explosivas. A força necessária, que explica o longo alcance, também explica que as pedras não são tão sensíveis, necessitando de um impacto mínimo para explodirem. Aliás, os três andam armados, cuidado com eles!

São os cinco herculóides a saber:
  • Zok: Um dragão alado com uma imensa força de sustentação nas asas, porque costuma carregar a família toda, quando não um dos outros herculóides. É capaz de respirar o ar, o fogo(!!!), sobreviver no espaço livre e solta raios eléctricos pelos olhos e pela cauda. Poder se mover no espaço livre, me faz supor que ele também tem respiração por fermentação e usa os campos magnéticos dos planetas para se mover no espaço livre;
  • Igor: Talvez o mais carismático deles. É um gorila gigante de pedra, como um Ben Green dos quatro fantásticos, só que preto, gigante e bem humorado. Bater de frente com ele é besteira, ele é capaz de moer pedras com as mãos, mas também é capaz de actos de grande carinho com os seus, sejam os humanos, sejam os outros herculóides;
  • Tundro: Parece um triceratops com couraça blindada e dez patas de elefante. Lança pedras explosivas pelo chifre oco na testa, tem outros três menores no focinho, como um rinoceronte bombado. é veloz, quando pega o embalo, causando estragos por onde passa, mas as dez patas permitem uma frenagem rápida;
  • Gloop e Gleep: Os preferidos de muita gente. Parecem duas amebas gigantes, com olhos e intelecto razoavelmente desenvolvido. Lembram muito o Shmoo e o Barba Papa. São, dizem, irmãos, sendo Gloop o maior. Eles conseguem moldar seus corpos elásticos à sua vontade, ficando achatados, fazendo um furo no meio, se dividindo em duas ou mais partes e se reagruparem, enfim, eles tornam a mira mais perfeita e treinada, absolutamente inútil. São fortes, conseguem estrangular o inimigo como uma jibóia.

Quasar costuma ser invadido, não bastasse ter seus próprios perigos. O que dá a entender, é que a família se reporta a uma federação ou o que valha, porque está sempre muito ocupada para ir até a casa do agressor e dar um ultimato para que os deixe em paz. Se limitar a se defender e repelir os ataques.

Apesar de viverem em um mundo quase desprovido de tecnologia, tanto que Zandor se locomove por uma dede de cipós esticados, como se fosse uma flecha viva, os três se sentem à vontade na condução e operação de espaçonaves, quando são solicitados a ajudar alguém de fora. Vez ou outra, recebem visitas de outros heróis, como Space Ghost, o que reforça minha tese de que são parte de uma federação. Ou seja, eles têm acesso à formação cultural e científica.



Um facto interessante, eles não se chamam de "pai", "mãe", "filhão", só pelos nomes de cada um. Sinal de que realmetne são os únicos humanos do planeta. São os reis do planeta, mas não andam de salto alto, literalmente. Como todo clássico, tem ganho algumas releituras modernas, em ilustrações, muitas delas com alto grau de erotização da rainha Tara. Aliás...

A surpresa aqui fica por conta de Tara. Em princípio, ela deveria ser apenas a linda, estonteante e dedicada esposa de Zandor. Só que muitas vezes ele não esta vapor perto, ou estava viajando, e ela precisava tomar decisões rápidas. Tara acabou ganhando muita importância na trama e levou Dorno no vácuo. Resultado, o que era par ser apenas um ponto de identificação para as meninas da época, acabou se tornando quase tão importante na série quanto o protagonista. Às vezes ela era a protagonista.

Por conta desta reviravolta pacífica, é que o desenho acabou ganhando sua personalidade própria, e não apenas sendo mais um desenho de heróis da Hanna Barbera. E é por isso que ele merecia um filme em película, mas, pelo amor de Deus, respeitando as características básicas! Sabem o que é melhor nesse planeta? NÃO TEM SOM AUTOMOTIVO TE OBRIGANDO A OUVIR PORCARIA NO ÚLTIMO VOLUME! Só isso torna Quasar um pequeno paraíso.

sábado, 13 de outubro de 2012

Eu recomendo: Blackmore's Nihgt

Photografia de divulgação

É difícil fazer músicas de época sem ficar caricato, ou mesmo ridículo. Já mostrei aqui alguns grupos e músicos que fazem com competência esse papel. Não basta pegar o ritmo e fazer qualquer cousa em cima, é preciso um mínimo de pesquisas e conhecimento de causa. Músicas folk que caiam no gosto actual, é mosca branca, especialmente a renascentista.

Recomendo agora, um conjunto que faz com extrema competência, a transcrição da música renascentista para a idade contemporânea, se servindo sem medo de elementos que não existiam no século XVI. Falo do Blackmore's Night, desde 1997 capitaneado pelo veterano Ritchie Blackmore. Para quem não conhece, ele Fez parte dos conjuntos Deep Purple e Rainbow.

Ritchie é encantado pela música renascentista desde meninote, tendo lançado um DVD de folk rock renascentista em 2005, pode-se dizer que foi um empreendimento familiar. A vocalista é Candice Night, que conheceu ainda no Deep Purple, onde ela era backing vocal. A voz dela se mostrou própria para suas intenções desde o começo. Como diz o velho deitado, quem sabe faz ao vivo, e eles fazem!

A composição actual do grupo conta com Bard Davis of Larchmont (ou David Baranowink) no teclado, Earl Grey of Chamay (ou Mike Clemente) no baixo, bandolim e guitarra rítmica, Lady Kelly of Wintter (ou Kelly Morris) na trompa francesa e vocal, e uma que usa seu próprio nome, a Scarlet Fiddler no violino. Também, com nome de nobre medieval, ela não precisa de apelidos.

Como todo roqueiro que se preze, Ritchie preza seus laços afetivos, e recentemente amargou o luto pelo seu antigo professor de guitarra, Big Jim Sullivan.

Assim como o som, as roupas têm toques medievalescos, com a festividade da renascença. Como na época, são prodigiosos na improvisação, na interação com o público e na simpatia. É um som que vale o dinheiro do álbum, e uma apresentação que vale o dinheiro do ingresso.

 

Blog brasileiro sobre eles, clicar aqui.
Website ofocial do Blackmore's Night, clicar aqui.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Banana Split, politicamente loucos

Fonte da imagem: http://www.mentalfloss.com/blogs/archives/44983

Crianças, nada além, nada aquém de crianças. É o que representavam os quatro caras com fantasias de pelúcia, do cultuado programa Banana Split, que foi ao ar no fim dos anos sessenta, durando de 1968 a 1970, o auge da psicodelia e da contra cultura. Era também o auge da guerra fria, com o bairrismo à flor da pele e o conceito de "Nós" e ""Eles" muito bem definido.

Banana Split era o resumo dos Estados Unidos nos anos finais do optimismo. Vamos a ele; a trupe musical era composta por quatro bichos, o elefante azul-cinzento Snork, o leão Drooper, o gorila vermelho com cara de chinês Bingo, e o cão beagle Fleegle, que era o líder da fuzarca. A única coisa que os identificada como grupo, era que todos usavam capacetes de bombeiros. Era impressionante o número de garotos que queriam ser bombeiros! O elefante parecia meio monstruoso, na primeira temporada, então foi "suavizado" depois.

O show consistia no seguinte: Os quatro se reuniam na sede de seu clube, algo comum nos Estados Unidos da época, quando uma turma escolhia o quintal de um deles para ser o "quartel general", geralmente um clube do Bolinha, mas às vezes da Luluzinha. Como nas cabaninhas de verdade, a imaginação rolava solta na sede dos quatro. Alternando com desenhos animados, eles tinham quadros nem sempre fixos, como programas de entrevistas, conversas com amigos imaginários que todos eles conseguiam ver, discussões sobre brigas com os garotos da rua de baixo, apresentação de invenções malucas, shows musicais, et céreta, et cétera, et cétera.


Foi mais uma alucinação de William Hanna e Joseph Barbera, que conseguiam transformar qualquer besteira em uma mina de ouro. Falam-se em 125 episódios, mas há controvérsias. O maior trunfo mercadológico do programa, é que ele vendia, e muito bem, desenhos animados que dificilmente teriam sucesso sozinhos, como Os Cavaleiros da Arábia e Os três Mosqueteiros. Ambos desenhos toscos e improváveis, mas que não deixavam de ser divertidos. O programa sempre começava com Fleegle batendo o martelo em uma tribuna e iniciando a sessão... Ah, garotos querendo imitar seus pais, ou o que pensavam que seus pais faziam.

Parece ser uma bagunça? E era uma bagunça, o que vocês acham? Que quatro garotos representados por um leão hippie de rabo hiper longo, um macaco vermelho com cara da chinês, um elefante de colete com aspecto de melindrosa e um cachorro  metido a inventor, seria um primor de organização? Bicho, era o auge da psicodelia! O mundo ocidental começava a olhar para fora do próprio umbigo e para as suas contradições! Tinha que ser louco mesmo! E ainda havia uma cabeça de alce na parede, que sempre dava opiniões que não eram pedias, e sempre que pediam ele esculhambava!

A exemplo dos garotos da época, e até os de hoje, inclusive brasileiros, eles apontavam o dedo para as diferenças, mostrando o quanto os outros eram esquisitos, caçavam briga e depois fugiam para a sede do clube, fazendo a cacetada sobrar para os outros, não admitam gente de fora lá dentro, tanto menos quanto mais de fora. Os inimigos declarados eram os Uvas Azedas, que eram representados por uma menininha de micro saia, chamada Charlie, que levava os recados. Por ser uma menina, eles não se atreviam a bater nela. Não se assustem, uma criança de micro sia na época, não causava mais escândalo do que uma adolescente de mini saia hoje, lembro bem. A Hipocrisia não diminuiu, pelo contrário.


É o tipo do programa que hoje seria banido ou, no mínimo, alvos de protestos fervorosos dos politicamente patéticos. Não menos polêmico do que são hoje Os Simpsons. Para começar, eles não respeitavam as diferenças, enquanto isso não lhes pesasse na consciência e não os fizesse se sentir péssimos. O ritmo do programa era muito rápido, do tipo pára-choque de caminhão; se entendeu a piada, você riu, se não entendeu, esquece, o caminhão já foi embora. As cores eram explosivas, típico da psicodelia. Cara, a gente viajava sem tomar nada, aí! Dava uns baratos legais, bicho, tudo na base dos delírios dos carinhas, valeu! Macaco vermelho, elefante de melindrosa, uhuuuuu! Também queeroooo. Também porque o programa representava escancaradamente a mentalidade bairrista do americano médio, uma neura anti-americana que só conheceu par com a recente imbecilidade do Bush.

O que as pessoas mentalmente sãs podem perceber, é que tudo era uma brincadeira de criança, mostrando como as crianças se enxergam, e são enxergadas pelos pais, durante as brincadeiras. O mérito do programa é justo o que hoje causaria reações extremistas, porque as crianças são rápidas, imprevisíveis, coloridas, desconfiadas dos esrtranhos e até mesmo egoístas. O que facilitaria a adaptação para hoje, sem destruir a essência original, seria incluir a figura das mães dos quatro, ainda que só com as vozes dando bronca, corrigindo e chamando para tomar banho. Sim, só isso. Se alguém aí pensa que uma mãe ou um pai não consegue controlar seus monstrinhos, é porque não tem vocação nenhuma para criar um filho; infelizmente os profissionais sem vocação têm se tornado a regra. Estou sendo sincero, à moda banana split. Não quero ofender, mas infelizmente alguém vai se sentir ofendido, se eu não for hipócrita.

Hipocrisia, aliás, era algo que o programa deixava claro que os cidadãos médios tinham de sobra. Era uma auto crítica divertida, feita para ser educativa, não para ser levada à sério. Por muito tempo funcionou, até a crise do petróleo fazer um monte de marmanjos gritar "Ai, meu Deus, a gente vai morrer!!!" feito mariquinhas, dando início à era de pessimismo e carência afetiva não assumida, que dura até hoje. Pensando bem, O programa foi reprisado até início dos anos oitenta, primeiro pela Tupi e depois pela Bandeirantes, mas o nosso mundinho demente está precisando de mais uns 250 episódios ainda mais loucos, turbinados pela tecnologia moderna, pelas redes sociais, pela rejeição à deturpação do politicamente patético


 
Sim, havia outro Banana Split, um quarteto feminino brasileiro, que vendeu muita revista de mulher pelada, mas é outra conversa...

sábado, 6 de outubro de 2012

Johnny Rivers flowing to the heart

Fonte da imagem: http://www.alphafm.com.br/shows_detalhes.aspx?id_not=315

Para muita, mas muita gente mesmo, é o cantor mais anacrônico do mundo. Para muito mais gente, ele pode continuar assim, que continuará comprando seus discos e indo aos seus shows. Não falo de alguém que anda por aí de fraque e cartola, com polainas nos sapatos envernizados. Quem vê Johnny Rivers e não o conhece, não vê absolutamente nada de extraordinário nesse quase septuagenário, além da disposição para viver, trabalhar e pela sua lucidez.

Filho de italianos, veio ao mundo como John Henry Ramistella, em sete de Novembro de 1942. Imaginem os olhares tortos para aquele garoto de sobrenome com sonoridade fascista, em plena segunda guerra mundial. Teve que aprender duas lições importantes logo cedo, ser humilde e impôr respeito. Precoce, começou a tocar guitarra aos oito anos, o que fez todo mundo parar de olhar torto para olhar com admiração; americano adora crianças-prodígio. Ainda moleque fundou a banda The Spades e lançou sua primeira gravação aos quatorze, mal tendo entrado para a adolescência.

Alan Freed o aconselhou a mudar o nome artístico. Não que seja impossível um nome longo vender, mas os meios de comunicação têm tempo escasso e caro, não podiam perder minutos preciosos recitando todo o nome de Dom Pedro I. O importante é que deu certo, em 1958 passou a ser conhecido por Johnny Rivers e a grana começou a fluir melhor para sua conta bancária.

Em 1959, em Birmingham, conheceu Audrey Williams, esposa de Hank Williams. Foi com ela para Nashville, onde trabalhou também como compositor, ganhando US$ 0,25 por gravação de suas canções demo. Isso, na época em que vinte e cinco cents compravam algo, era uma boa remuneração. Não se podia esperar ficar rico assim, mas fome não se passava.

Rivers era amigo de praticamente todo mundo importante no mundo artístico, na época. Mas quando digo "amigo" me refiro a ter amizade, não simplesmente um contacto comercial para garantir shows. Um deles, James Burton, deu uma canção sua para Rick Nelson, que gostou e pediu para conhecê-lo. Novamente foi feliz na amizade, ficou com ele, como compositor e músico de estúdio.

Certa feita, um grupo de jazz deixou pura e simplesmente o bar que ele freqüentava, o Gazzan's. Rivers foi chamado a cantar até conseguirem outro grupo, e o bar passou a lotar com muita freqüência. Bons bares são sempre boas escolas para os músicos. Em 1964 assinou contracto com o Whisky a Go Go, recém inaugurado, três dias antes de os Beatles lançarem "I Want Hold Your Hand" e iniciarem a devastadora invasão britânica, que trouxa até James Bond na bgagem. Lou Adler confiou no taco de Rivers, Lançando o disco Jhonny Rivers Live At The Whiskey A Go Go. Sim, gravado ao vivo, na tora, sem efeitos de estúdio para ajudar. Conseguir o 12° lugar naquela época, em que até um tocador de gaita de foles inglês conseguia fazer sucesso nos Estados Unidos, foi um feito hercúleo.

Daí em diante, como uma trincheira viva da música americana, passou a gravar hits que ainda hoje vendem, como "Poor Side Of Town", "Mountain Of Love", "Midnight Special", "Seventh Son", "Mybellene", "Secret Agent Man", "Summer Rain", "Baby I Need Your Loving", "The Track Of My Tears", enfim, o repertório desse carcamano é maior do que a língua da tua vizinha. Mas o ãlbum "Realization" é considerado o divisor de águas, pelos fãs mais dedicados, espacialmente a canção "Going Back To Big Sur".

Deu-se ao luxo, nos anos setenta, de fazer trabalhos mais "sérios" e de pés no chão, mas sem perder o açúcar jamais, como "Rocking Pneumonia - Boogie Woogie Flu". A decadência que assolou absolutamente todos os grandes artistas nos anos oitenta, não o poupou, mesmo assim conseguiu manter-se requisitado para shows e bem quisto pelo público, resultado da farta semeadura que fez.

Sim, já esteve no Brasil. Foi o primeiro artista internacional a tocar no Canecão, nos anos setenta, fez um show gratuito no Ibirapuera, para mais de sesenta mil não-pagantes, em 1998, quando a praga da pubian music já tinha contaminado o país. Esteve ainda em 2008 e 2010, sempre no eixo Sul-Sudeste do país... Fazer o quê?

Com um repertório tão vasto, só o contra-indico para gene de mau gosto, porque os outros, que não tiverem a charga anti-americana disseminada por Bush, podem usar e ebusar das melodias, seja na pista de dança, seja apenas no sofá, abraçado...



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