segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Banana Split, politicamente loucos

Fonte da imagem: http://www.mentalfloss.com/blogs/archives/44983

Crianças, nada além, nada aquém de crianças. É o que representavam os quatro caras com fantasias de pelúcia, do cultuado programa Banana Split, que foi ao ar no fim dos anos sessenta, durando de 1968 a 1970, o auge da psicodelia e da contra cultura. Era também o auge da guerra fria, com o bairrismo à flor da pele e o conceito de "Nós" e ""Eles" muito bem definido.

Banana Split era o resumo dos Estados Unidos nos anos finais do optimismo. Vamos a ele; a trupe musical era composta por quatro bichos, o elefante azul-cinzento Snork, o leão Drooper, o gorila vermelho com cara de chinês Bingo, e o cão beagle Fleegle, que era o líder da fuzarca. A única coisa que os identificada como grupo, era que todos usavam capacetes de bombeiros. Era impressionante o número de garotos que queriam ser bombeiros! O elefante parecia meio monstruoso, na primeira temporada, então foi "suavizado" depois.

O show consistia no seguinte: Os quatro se reuniam na sede de seu clube, algo comum nos Estados Unidos da época, quando uma turma escolhia o quintal de um deles para ser o "quartel general", geralmente um clube do Bolinha, mas às vezes da Luluzinha. Como nas cabaninhas de verdade, a imaginação rolava solta na sede dos quatro. Alternando com desenhos animados, eles tinham quadros nem sempre fixos, como programas de entrevistas, conversas com amigos imaginários que todos eles conseguiam ver, discussões sobre brigas com os garotos da rua de baixo, apresentação de invenções malucas, shows musicais, et céreta, et cétera, et cétera.


Foi mais uma alucinação de William Hanna e Joseph Barbera, que conseguiam transformar qualquer besteira em uma mina de ouro. Falam-se em 125 episódios, mas há controvérsias. O maior trunfo mercadológico do programa, é que ele vendia, e muito bem, desenhos animados que dificilmente teriam sucesso sozinhos, como Os Cavaleiros da Arábia e Os três Mosqueteiros. Ambos desenhos toscos e improváveis, mas que não deixavam de ser divertidos. O programa sempre começava com Fleegle batendo o martelo em uma tribuna e iniciando a sessão... Ah, garotos querendo imitar seus pais, ou o que pensavam que seus pais faziam.

Parece ser uma bagunça? E era uma bagunça, o que vocês acham? Que quatro garotos representados por um leão hippie de rabo hiper longo, um macaco vermelho com cara da chinês, um elefante de colete com aspecto de melindrosa e um cachorro  metido a inventor, seria um primor de organização? Bicho, era o auge da psicodelia! O mundo ocidental começava a olhar para fora do próprio umbigo e para as suas contradições! Tinha que ser louco mesmo! E ainda havia uma cabeça de alce na parede, que sempre dava opiniões que não eram pedias, e sempre que pediam ele esculhambava!

A exemplo dos garotos da época, e até os de hoje, inclusive brasileiros, eles apontavam o dedo para as diferenças, mostrando o quanto os outros eram esquisitos, caçavam briga e depois fugiam para a sede do clube, fazendo a cacetada sobrar para os outros, não admitam gente de fora lá dentro, tanto menos quanto mais de fora. Os inimigos declarados eram os Uvas Azedas, que eram representados por uma menininha de micro saia, chamada Charlie, que levava os recados. Por ser uma menina, eles não se atreviam a bater nela. Não se assustem, uma criança de micro sia na época, não causava mais escândalo do que uma adolescente de mini saia hoje, lembro bem. A Hipocrisia não diminuiu, pelo contrário.


É o tipo do programa que hoje seria banido ou, no mínimo, alvos de protestos fervorosos dos politicamente patéticos. Não menos polêmico do que são hoje Os Simpsons. Para começar, eles não respeitavam as diferenças, enquanto isso não lhes pesasse na consciência e não os fizesse se sentir péssimos. O ritmo do programa era muito rápido, do tipo pára-choque de caminhão; se entendeu a piada, você riu, se não entendeu, esquece, o caminhão já foi embora. As cores eram explosivas, típico da psicodelia. Cara, a gente viajava sem tomar nada, aí! Dava uns baratos legais, bicho, tudo na base dos delírios dos carinhas, valeu! Macaco vermelho, elefante de melindrosa, uhuuuuu! Também queeroooo. Também porque o programa representava escancaradamente a mentalidade bairrista do americano médio, uma neura anti-americana que só conheceu par com a recente imbecilidade do Bush.

O que as pessoas mentalmente sãs podem perceber, é que tudo era uma brincadeira de criança, mostrando como as crianças se enxergam, e são enxergadas pelos pais, durante as brincadeiras. O mérito do programa é justo o que hoje causaria reações extremistas, porque as crianças são rápidas, imprevisíveis, coloridas, desconfiadas dos esrtranhos e até mesmo egoístas. O que facilitaria a adaptação para hoje, sem destruir a essência original, seria incluir a figura das mães dos quatro, ainda que só com as vozes dando bronca, corrigindo e chamando para tomar banho. Sim, só isso. Se alguém aí pensa que uma mãe ou um pai não consegue controlar seus monstrinhos, é porque não tem vocação nenhuma para criar um filho; infelizmente os profissionais sem vocação têm se tornado a regra. Estou sendo sincero, à moda banana split. Não quero ofender, mas infelizmente alguém vai se sentir ofendido, se eu não for hipócrita.

Hipocrisia, aliás, era algo que o programa deixava claro que os cidadãos médios tinham de sobra. Era uma auto crítica divertida, feita para ser educativa, não para ser levada à sério. Por muito tempo funcionou, até a crise do petróleo fazer um monte de marmanjos gritar "Ai, meu Deus, a gente vai morrer!!!" feito mariquinhas, dando início à era de pessimismo e carência afetiva não assumida, que dura até hoje. Pensando bem, O programa foi reprisado até início dos anos oitenta, primeiro pela Tupi e depois pela Bandeirantes, mas o nosso mundinho demente está precisando de mais uns 250 episódios ainda mais loucos, turbinados pela tecnologia moderna, pelas redes sociais, pela rejeição à deturpação do politicamente patético


 
Sim, havia outro Banana Split, um quarteto feminino brasileiro, que vendeu muita revista de mulher pelada, mas é outra conversa...

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