sábado, 6 de outubro de 2012

Johnny Rivers flowing to the heart

Fonte da imagem: http://www.alphafm.com.br/shows_detalhes.aspx?id_not=315

Para muita, mas muita gente mesmo, é o cantor mais anacrônico do mundo. Para muito mais gente, ele pode continuar assim, que continuará comprando seus discos e indo aos seus shows. Não falo de alguém que anda por aí de fraque e cartola, com polainas nos sapatos envernizados. Quem vê Johnny Rivers e não o conhece, não vê absolutamente nada de extraordinário nesse quase septuagenário, além da disposição para viver, trabalhar e pela sua lucidez.

Filho de italianos, veio ao mundo como John Henry Ramistella, em sete de Novembro de 1942. Imaginem os olhares tortos para aquele garoto de sobrenome com sonoridade fascista, em plena segunda guerra mundial. Teve que aprender duas lições importantes logo cedo, ser humilde e impôr respeito. Precoce, começou a tocar guitarra aos oito anos, o que fez todo mundo parar de olhar torto para olhar com admiração; americano adora crianças-prodígio. Ainda moleque fundou a banda The Spades e lançou sua primeira gravação aos quatorze, mal tendo entrado para a adolescência.

Alan Freed o aconselhou a mudar o nome artístico. Não que seja impossível um nome longo vender, mas os meios de comunicação têm tempo escasso e caro, não podiam perder minutos preciosos recitando todo o nome de Dom Pedro I. O importante é que deu certo, em 1958 passou a ser conhecido por Johnny Rivers e a grana começou a fluir melhor para sua conta bancária.

Em 1959, em Birmingham, conheceu Audrey Williams, esposa de Hank Williams. Foi com ela para Nashville, onde trabalhou também como compositor, ganhando US$ 0,25 por gravação de suas canções demo. Isso, na época em que vinte e cinco cents compravam algo, era uma boa remuneração. Não se podia esperar ficar rico assim, mas fome não se passava.

Rivers era amigo de praticamente todo mundo importante no mundo artístico, na época. Mas quando digo "amigo" me refiro a ter amizade, não simplesmente um contacto comercial para garantir shows. Um deles, James Burton, deu uma canção sua para Rick Nelson, que gostou e pediu para conhecê-lo. Novamente foi feliz na amizade, ficou com ele, como compositor e músico de estúdio.

Certa feita, um grupo de jazz deixou pura e simplesmente o bar que ele freqüentava, o Gazzan's. Rivers foi chamado a cantar até conseguirem outro grupo, e o bar passou a lotar com muita freqüência. Bons bares são sempre boas escolas para os músicos. Em 1964 assinou contracto com o Whisky a Go Go, recém inaugurado, três dias antes de os Beatles lançarem "I Want Hold Your Hand" e iniciarem a devastadora invasão britânica, que trouxa até James Bond na bgagem. Lou Adler confiou no taco de Rivers, Lançando o disco Jhonny Rivers Live At The Whiskey A Go Go. Sim, gravado ao vivo, na tora, sem efeitos de estúdio para ajudar. Conseguir o 12° lugar naquela época, em que até um tocador de gaita de foles inglês conseguia fazer sucesso nos Estados Unidos, foi um feito hercúleo.

Daí em diante, como uma trincheira viva da música americana, passou a gravar hits que ainda hoje vendem, como "Poor Side Of Town", "Mountain Of Love", "Midnight Special", "Seventh Son", "Mybellene", "Secret Agent Man", "Summer Rain", "Baby I Need Your Loving", "The Track Of My Tears", enfim, o repertório desse carcamano é maior do que a língua da tua vizinha. Mas o ãlbum "Realization" é considerado o divisor de águas, pelos fãs mais dedicados, espacialmente a canção "Going Back To Big Sur".

Deu-se ao luxo, nos anos setenta, de fazer trabalhos mais "sérios" e de pés no chão, mas sem perder o açúcar jamais, como "Rocking Pneumonia - Boogie Woogie Flu". A decadência que assolou absolutamente todos os grandes artistas nos anos oitenta, não o poupou, mesmo assim conseguiu manter-se requisitado para shows e bem quisto pelo público, resultado da farta semeadura que fez.

Sim, já esteve no Brasil. Foi o primeiro artista internacional a tocar no Canecão, nos anos setenta, fez um show gratuito no Ibirapuera, para mais de sesenta mil não-pagantes, em 1998, quando a praga da pubian music já tinha contaminado o país. Esteve ainda em 2008 e 2010, sempre no eixo Sul-Sudeste do país... Fazer o quê?

Com um repertório tão vasto, só o contra-indico para gene de mau gosto, porque os outros, que não tiverem a charga anti-americana disseminada por Bush, podem usar e ebusar das melodias, seja na pista de dança, seja apenas no sofá, abraçado...



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