Um mundo que desaba um pouco a cada dia. A estação 198 se mantém de pé entre os escombros, para vocês poderem embarcar. O trem vai partir.
O casal de baixa estatura está amedrontado.
Entra no Airtrain após ter trabalhado nos bastidores do show, como disfarce. Um
casal com estatura semelhante estava no avião e desceu, para despistar melhor.
Desatam a chorar quando decolam (...) Choram
ainda mais quando descobrem que sua protetora doravante é Jose De Lane, quase
desmaiam diante dela. Serão seus hóspedes até findarem o treinamento...
- Vocês devem manter doravante o mesmo sigilo
que assegurou sua sobrevivência e seu resgate. Não vieram com eles por golpe de
sorte, nós temos ligações com o governo e corrigir as besteiras que ele faz, é
parte do nosso trabalho. Zigfrida os acompanhará em seu aprendizado...
Ela explica superficialmente o que fazem, sem
revelar a organização (...) seus novos nomes, um resumo de sua nova história de vida e lhes entregam
um espesso compêndio (...) bem como
dispositivos com imagens, vídeos, sons e depoimentos falsos para aprenderem
quem são agora, para se prepararem para as cirurgias plásticas. Tudo explicado,
voltam para fora, há gente esperando pela atenção da diva estrelar. Dezenas de
afilhados cansados da labuta musical, de comerciais longos, de entrevistas
maçantes e de paparazzi sem noção. Ela quer em especial ver suas gestantes, já
reclamando a afiliação dos rebentos em gestação.
Voltam à tarde para Sunshadow (...) Patrícia encontra Arthur à sua
espera, à porta de casa. Não é o comum, mas deixa para perguntar de coisas
sérias depois, por hora quer os braços do marido e se despir de seu poderio.
Ele conta meia hora depois, com Lady Spy já aboletada no colo de sua senhora...
- O Billy...
- Ele levou a sério o que você disse na
primeira entrevista. Hoje o flagrei conversando com Sanaa, muito mais próximos
do que os dois normalmente se permitem.
- As coisas estão andando muito depressa!
Luppy! Luppy, quero informações e eu sei que você as tem; Sanaa e Billy!
- Eh... Ele já ajudou ela com sacolas de
compras duas ou três vezes... Já os vi conversarem à porta de casa... Acho que
até já riram juntos... Achei que vocês sabiam!
- Eu viajo a trabalho todas as semanas,
bandida, não posso ficar de olho em todas o tempo todo. Desembucha, o que mais?
- É tudo mais do mesmo... Ah, lembrei! De vez
em quando o Elias aparece e traz o Robby pra entreter as meninas...
Agora sim, ela se interessou de verdade. Ele
ajuda o rebento com suas actividades (...) O menino está se habituando rápido a ambientes
de trabalho. Fim da tarde, voltam para casa, a pé mesmo, passando pelas seções
dos anos 20, 30 e 40, virando à esquerda nos anos 60 e à direita nos anos 80 (...) Enya voltou de
ensaios em Toronto e quer seu petiz em seu colo. Para o roer de cotovelos dos
que disseram que estava gorda e demodê para a alta costura, é chamada com
freqüência e às vezes precisa recusar trabalhos, para dar conta dos
compromissos. A diferença é que suas peças não têm apelo popular, às vezes nem
passam na televisão...
- Meu bebê!
O menino se arreganha todo e corre para os
braços da mãe. Em casa eles têm mantido o ar bucólico e tranqüilo que Elias
tanto queria ter com Abigail. Aliás, Sandra conta a Happy Moon que será o nome
da menina que espera...
- Vocês amavam muito, não?
- Demais! Eu não posso reclamar, mas queria
que ela estivesse viva aqui, com a gente... Mas aconteceu, estava fora das
nossas possibilidades...
- Pare de se lamentar, ela está bem melhor do
que nós. Eu queria saber de seus sobrinhos.
- Estão dando trabalho, mas cada vez menos. Estavam
acostumados a serem empurrados na escola, ter nota zero arredondada para
cinco... Na escola nova não tem disso, eles vão aprender a ser gente!
- Virão com seus pais biológicos, na próxima
vez, eu espero.
- É difícil, Moon! São quatro crianças mal
acostumadas, elas ainda precisam aprender a se comportar. Por que o interesse
repentino?
- Saberá quando for a hora, Knockout, é parte
da minha seara. Por agora quero que eles aprendam música, você precisa
providenciar isso o quanto antes... E quero ver seu pai influenciando esses
quatro!
Ela providencia, contracta dois professores,
um maestro e um de canto (...) Quanto a Elias, terão que esperar pelo encontro.
&
Itzhak e Billy trocam figurinhas. Falam das
impressões das respectivas prováveis cunhadas, para não serem surpreendidos em
virtude da miopia da paixão. O problema, observa o jornalista, não é nem de
longe o relacionamento com muçulmanas (...) é a reação com viés para represália por parte
de outros muçulmanos, que podem considera-las apóstatas...
- O amigo observou muito bem! Vamos lembrar
que Mikomi Spring sofreu um atentado por parte do irmão, não faz muito tempo.
- Também bem observado. Mas não são só
ameaças externas e tampouco só de religiosos. O amigo deve se lembrar da cena
das bandeiras de Israel e do estado islâmico, em uma universidade.
- Ouvi falar, mas nunca vi.
- Vou procurar aqui, enquanto explico... Essa
turminha de garotos “engajados”, “politizados” me dá nos nervos. Um grupo
filmou uma pegadinha, um rapaz tremulou a bandeira dos terroristas em plena
praça universitária, recebeu apoio moral de praticamente todo mundo, mas quando
tremulou a de vocês... Meu amigo, ele quase foi atacado, aos berros, com
palavras de ordem e esse monte de frases que dizem “Meu lado é sempre bom e o
seu é sempre mau”... Aqui...
Ele desgosta logo de cara, mas fica mais
perplexo no decorrer do vídeo, até ficar boquiaberto...
- Cara! Eu estudei nessa universidade! Agora
fiquei com medo de visitar a faculdade, iriam botar fogo no meu carro gritando
“allá é grande”! Só faltaria isso!
- Eu vou confessar que já fui um pouco assim,
antes de vir pra cá. A convivência com a Patty e o respeito que o medo de
apanhar me fez ter no começo, alargaram aos poucos a visão limitada que eu não
acreditava que tinha de política internacional. Nesses dezessete anos em que
quase moro em Sunshadow, eu posso te afirmar categoricamente, que os muçulmanos
radicais são o problema mais distante de vocês dois, o maior perigo são os
nossos próprios radicais de igrejas milagrosas. Eles vão ver na união de vocês
uma afronta à sua interpretação da bíblia. Se forem se casar, fiquem em
Sunshadow.
A conversa descompromissada (...) não passa
desapercebida pela chefe da franquia. Audrey liga para a irmã e transmite
imagens da conversa compenetrada e aparentemente tensa. Ela chama as maiores
interessadas no caso, Suha e Sanaa reconhecem as expressões de decepção dos
dois. Vão as três à chocolateria, Patrícia as deixa perto deles, enquanto fala
com a irmã sobre aquelas caras de quem perdeu o último ônibus...
- Os garçons disseram que é sobre aquele
episódio das duas bandeiras em uma universidade, também sobre aquelas igrejas
picaretas, os problemas que vão enfrentar se os relacionamentos forem pra
frente... Eles devem estar mesmo interessados, porque estão sofrendo por
antecipação pelo que nem ocorreu ainda.
- É claro que vão cair de pau, quando os
namoros engrenarem e vierem a público. Eu já espero por isso. O que não esperava
é eles se encontrarem para conversar a respeito. Quanto tempo?
- Menos de uma hora, mas parece que já
falaram de muita coisa relacionada. Já foram quatro cappuccinos e uma cesta de
biscoitos de côco.
Ela se vira para eles, olha para as moças,
sabe que não dá para simplesmente sair sem ser vista (...) Faz um sinal para as duas e elas os abordam. Se inteiram da
conversa, se olham e cuidam de acalmar os dois, pedem dois cappuccinos e mudam
os rumos da conversa. Patrícia vê que pode deixar os quatro por sua conta e vai
para casa (...) Conversa com Arthur à noite, à sós, na suíte. Ele está muito envolvido com uma
produção, mas pelo menos agora trabalha com o filho e sua equipe, volta quase
todos os dias para casa.
Contam da conversa de ontem à mesa do
desjejum, onde as meninas trazem à tona a dúvida de todas sobre Ana Clara e
Elisa. Amina fica de cabelos em pé com as filhas, mas a brasileira põe panos
quentes e conta a história (...) As
marroquinas compreendem, embora saibam o que lhes aconteceria em muitos países
de sua origem, se morassem lá. A falta traiçoeira da filha e conseqüentemente
dos netos, ainda dói um pouco...
- Mas você fez a escolha certa – consola
Aisha. Você se reconciliou com seu pai antes de a noite dele cair, é a única
que vai sair limpa na hora do julgamento. Cabe à sua filha agora se reconciliar
com você, não o contrário.
- Você venceu, conseguiu me consolar. Mas
ainda me arrependo de ter mimado minha filha, mesmo que por omissão, foi minha
culpa ela ter escolhido uma mãe de conveniência.
Sanaa olha com orgulho para o rebento (...) Ana Clara põe a adolescente no
colo, afagando e fazendo cócegas como se ainda fosse uma criança. A estatura é
semelhante à sua, quando tinha aquela idade. Pede a menina emprestada à tarde (...) Precisaram se
reinventar, para concorrer com a internet móvel, e a crescente falta de
critério de qualidade do público (...) a BYOP prima por sempre oferecer o que é muito caro, muito grande e
pouco prático para se ter em casa, mas por isso mesmo ser justo o que oferece o
melhor e mais confiável resultado. Há até uma impressora a laser que grava em
metais e pedras o que o computador simular. O que der certo nas lojas de
Sunshdow e Detroit, é adoptado por todas as outras da franquia familiar.
Aisha corre para a Máquina de Costura, chama
todas as irmãs e as leva para ver. Elas ficam encantadas, da caçula à mais
velha, como se todas tivessem a mesma idade. Elisa pega uma amostra de
demonstração, photographa as oito e grava a imagem no pedaço de mármore (...) não demora a contarem da novidade para
os que ficaram em Marrakesh. Eles ficam chocados com a história de lesbianismo (...) mas se comovem com o modo
como aconteceu a reconciliação. A imagem das oito na pedra esverdeada
impressiona (...) As namoradas se
abraçam para observar o entusiasmo daquelas moças, acreditam que ao menos duas
novas lojas podem vir a sair daquela festa. Lá mesmo elas fazem os trabalhos do
colégio e da faculdade, de lá mesmo enviam a parte virtual para seus
professores e lá mesmo imprimem o que lhes cabe.
Chega a hora de as mais velhas irem para seus
compromissos (...) agora querem virar nerds. As duas fazem a festa pelo
serviço bem feito, cooptaram mais oito para sua laia de malucos cibernéticos.
Ellizabeth e Prudence agradecem a tia, isso vai facilitar muito o aprendizado
de sua discípula...
- E como tá indo?
- Ela é doidinha mesmo! Parece que é nossa
irmã de sangue! Os textos dela estão dando saltos grandes de qualidade.
- Mais do que isso, ela consegue fazer a Nath
esquecer um pouco dos problemas pela falta de cor. A gente tem que manter essas moças na cidade,
a começar pelos dois romances em fase de cultivo.
Ouve-se uma rajada de risos compulsivos que
interrompe a conversa, é uma usuária que leu uma resenha do segundo livro da
novela das irmãs, com um trecho autorizado à reprodução. Ela precisa ser
socorrida, mas (...) quer seus exemplares autographados.
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