quinta-feira, 5 de maio de 2011

Robozinho de novela



Não, eu não voltei a ver novelas e elas ainda não recuperaram minha confiança. Continuam um monte de porcarias, boas idéias pessimamente executadas por gente que tem medo do que os outros vão pensar, especialmetne a patrulha do politicamente patético... Fora a canastrice generazilada.

Hoje, vendo jornal pela rede, vi uma manchete a respeito do ganho de audiência da novela das sete, com a retirada de um robozinho. Averiguando, descobri que se trata de um modelo japonês altamente sofisticado, que existe de verdade, é fabricado em série e é caríssimo no Brasil, para um robô de estimação. Apesar da alta qualidade e tecnologia, vi também que a "actuação" do pequeno era uma contra-propaganda que a concorrência agradece de mãos juntas. Foi péssima.

Mas houve uma novela em que era diferente. Em Transas e Caretas havia um robô que roubava as cenas. O protagonismo era (ou deveria ser) de Reginaldo Faria e José Wilker, dois irmãos tremendamente diferentes. O primeiro era tradicional, morava em uma mansão sóbria e levava uma vida muito contida; o segundo era um farrista prafrentex, morava em uma casa futurista e não perdoava uma noite. Era dele o Robô Alcides.

Alcides era uma espécie de mordomo cibernético, que cuidava do dono placidamente como um servo ao seu amo. Ele não contracenava com crianças, mas com adultos tarimbados e com brilho próprio, como Lidia Brondi, e conseguia se destacar. As falas eram inteligentes e cabiam muito bem no contexto da cena.

Segredo? Nenhum. Enquanto o robozinho descartado é um robô de verdade, que poderia ter recebido uma programação decente, Alcides era pouco mais do que uma lata de lixo com um anão dentro. Não chegava a ser tosco, mas era evidente que se tratava de um actor fantasiado de robô. Mesmo assim ele era crucial para a novela.

A certa altura da trama, Alcides deu curto. Não foi só o personagem de Wilker quem sentiu, todo o elenco ficou consternado e preocupado. Mais do que isso, e é o que faz toda a diferença, o público da novela (eu incluso) ficava torcendo para que Alcides fosse consertado. Foi chamado um técnico da fábrica, que fez tudo o que poderia ser feito, até implorar aos deuses do ofício e do fogo com rituais religiosos, mas a lata de lixo, digo, Alcides permanecia imóvel.

Certa noite, Alcides desapareceu. Os personagens e o telespectador ficaram com o coração na mão. Todo mundo amava Alcides. Este ponto da novela marcou uma reviravolta, quando os irmãos começaram a se reaproximar, Jordão para consolar Tiago, e as personalidades foram sendo suavizadas. Este começou a se tornar mais responsável e introspecto, o outro percebeu que não precisava viver em um mosteiro para ser um homem respeitável.

Um dia Alcides volta, mas volta diferente. Reconhece facilmente todo mundo, mas é outro robô. Passou a ter personalidade e vontade próprias, às vezes negando o que seu dono lhe pedia. Tinha sido restaurado e reprogramado por alienígenas. Foi então que ficou periclitante o que já era assaz interessante.

Mas o que aconteceu para todo esse cabedal ser sumariamente esquecido? A televisão piodou muito, só isso. O público passou a dar mais audiência para atrações pubianas, os bons autores já não atraiam como antes e tudo despencou. Agravou a onda politicamente patética que hoje faz terem medo de tocar em polêmicas productivas de modo productivo, como os conflitos de modernidade e tradição que Transas e Caretas explorou com maestria. Os autores estão com medo de mostrar o que todo mundo conhece de modo que todo mundo possa ver. Todo mundo precisa ser protegido de tudo para que não haja trauma nenhum, ao contrário do que acontece na vida real. As pessoas já desaprenderam a diferenciar a ironia fina da ofensa explícita, o humor da afronta, até o vocabulário está mais restrito e deficiente. Neste cenário fica fácil para qualquer malandro com pretensões políticas encher a cabeça do povo com caraminhola. Assim, a boa idéia do robozinho na novela das sete foi reduzida a um infantilismo medíocre e ultrajante a qualquer inteligência. Quem poderia mudar isso é a própria televisão, mas não dá audiência. Teria sido melhor ressuscitar a fantasia e colocar uma criança lá dentro.

Abaixo os dois vídeos que consegui encontrar com a participação de Alcides., provando que um robô na trama é uma excelente idéia, se a novela for feita com respeito e sem medo. Se encontrarem mais, dividam conosco.

Contracenando com Lidia Brondi, ainda na primeira fase.

Já na segunda fase, com entrevista a José Wilker.



3 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Embora tenham bagunçado o vídeos tão cuidadosamente anexados, a matéria está impecável.
Você acredita que eu sei a abertura de cor da novela???
Ah, e a que foi alterada não foi a das 6, cordel Encantado (uma graça de novela, é forçoso dizer), mas a das 7, Morde e Assopra.
Nanis, acho que em breve posso voltar à ativa!!!
Estou planejando um texto sobre super-vilões atrapalhados, recomendas alguns?

Nanael Soubaim disse...

Não necessariamente um vilão, mas recomendo o Nonô Correia e a Bruna de Pão-pão Beijo-beijo.

Adriane Schroeder disse...

Eu AMAVA Nonô Correia!!!!!!!!!!!!!!!!!