quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Princesa e o Plebeu


Este texto é um pedido da leitora Iza Pinheiro.

  Um dos maiores clássicos do cinema mundial, rodado em 1953, que fundamentou em definitivo a carreira de Audrey Hepburn. O tripé do filme tem Audrey como a Princesa Ann, Gregory Peck como o repórter Joe Bradley e Eddie Albert como seu leal escudeiro photográphico Irving Radovich.

  Uma das lições do filme é o que Stephanie Elizabeth Marie disse certa vez, que princesas de contos de fadas não existem. Pelo contrário, apesar de todo o luxo e conveniência, é uma posição opressora, que exige uma grande dose de abnegação e resignação. Princesas de verdade nem sempre conseguem ser pessoas, muitas vezes acabam engolidas pelos deveres e se tornam uma extensão do Estado. É esta situação asfixiante que dá o pontapé na trama. Aliás, o título original "Roman Holiday" é porque ela realmente faz dessa aventura um feriado de sua realeza.

  Acompanhando seu pai o rei em uma visita oficial à Itália, a princesa Ann surta e consegue fugir às escondidas do palácio. O facto é que ela esteve em Roma pela última vez quando criança, poucos a reconheceriam, e um desses poucos é o sem-vergonha do Bradley. Ele a reconhece mesmo após ela ter cortado sua longa cabeleira real pelas mãos de um cabeleireiro comum; Sim, aquela cena em que o prícipe Akim (Eddie Murph) corta seu rabicho real foi (mal) inspirada aqui.

  O facto de ser culta e bem educada, como convém às princesas de verdade, não assegura que conheça a vida, e ela cai direitinho na lábia do jornalista. Os dois tiram a barriga da miséria, no decorrer do filme, acumulam material para serem lançados à elite da imprensa mundial, mas Lady Murph nunca dorme em serviço e algo foge ao controle deles. Ann, ao contrário das celebridades vazias e das socialites fúteis com que já lidaram, é uma moça ingênua, de bom coração, autenticamente educada e interessada pelas pessoas.

  Não precisa muito para se apaixonar por uma mulher assim. Para a desgraça de Bradley, ele se apaixona por sua vítima. Eles namoram durante a aventura, que tem direito até à princesa pilotando pela primeira vez uma Vespa, tresloucadamente pelas ruas estreitas e movimentadas da antiga capital do mundo. Ver aquela carinha sapeca de Audrey animando a realesca personagem mostra algumas coisas que depois ficam claras, primeiro que o imenso sucesso da fidalga (Audrey era filha de uma baronesa) era inevitável, segundo que o Oscar era mesmo inevitável, terceiro que Elizabeth Taylor e Cary Grant fizeram um favor em recusar os papéis, que se encaixaram como luvas para Audrey e Gregory, quinto e último, mas não menos importante para quem conhece a diva, Ann era Audrey interpretando a si mesma.

  Na cena final, a estreante Audrey Hepburn, nervosa, só conseguiu chorar como mandava o roteiro porque o director William Wyler ficou bravo com ela e a fez chorar de verdade. O público não ficou sabendo, claro, ou o risco de morte prematura seria real, porque ela arregimentou fãs ardorosos desde muito cedo. O desempenho de Audrey foi tão bom, que Peck tinha certeza absoluta de que ela levaria o Oscar, então exigiu que o nome dela encabeçasse o elenco nos cartazes do filme.

  Agora vocês devem estar se perguntando como o filme termina? Bem, asseguro que o final é lindo, realmente lindo, mas não tem absolutamente nada de óbvio. chega a ser surpreendente, até há um início de suspense. É um filme para rir, chorar e meditar, às vezes tudo ao mesmo tempo. Foi rodado um remake muito bom em 1987 e um ruim mais tarde, mas meus amigos, ninguém ainda hoje fez a Princesa Ann como Audrey Hepburn.

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