sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Bread - E o ego levou!


Houve uma época em que as relações pessoais começaram a ficar superficiais. As pessoas começavam a perceber que seus heróis também morriam, que o sistema falhava, que as grandes corporações não eram perfeitas e que a vida alheia não era da sua conta. Tudo isso poderia servir para que as pessoas caíssem em si e agissem com mais maturidade, mas a massa preferiu levar para o outro lado: heróis não valem nada, o sistema é podre, as grandes corporações são o próprio satanás e não tô nem aí pros outros.

Neste contexto a revolução sexual, iniciada na segunda metade dos anos sessenta, transformou-se em freeway for fuck, que levou as pessoas a buscarem nas sensações hormonais a digestão que não conseguiam fazer da realidade; só que a realidade batia à porta no dia seguinte, as pessoas ficavam frustradas, buscavam mais relações superficiais e depois ficavam mais frustradas, buscando então alívios que não dependessem de contacto com os desprezíveis seres humanos... Como se não o fossem também. Foi quando a humanidade começou a perder a sua humanidade.

Enquanto certos grupos pegavam carona lucrativa na moda do “sexo, drogas e drogas sonoras”, alguns artistas colocavam os pés no chão e as mãos no coração, mesmo os que não eram a mamãezinha. Eram ilhas de serenidade e diversão não suicida em uma época que só enxergava os podres do mundo. Um desses artistas era o grupo Bread.

Em 1968, David Gates e Jimmy Griffin se juntaram para cantar, depois veio Robby Royer e, acabando com os planos de ser só uma banda de estúdio, Mike Botts completou o quarteto. Assim como suas canções mais famosas, como “Aubrey”, "Guitarman" e "Diary", os períodos de actividade da banda tem a aparente serenidade de uma respiração pausada: 1969/73, 1976/78 e 1996/97.

Classificados como “soft-rock”, o sucesso bateu inesperada e intempestivamente à sua porta com “Make It Whit You”, obrigando-os ser popstars sem terem se preparado para tanto. O problema era que os talentos eram acompanhados de egos proporcionais, sem haver um quinto componente respeitado e com serenidade para conduzir tudo. Se separaram em 1973, com dois retornos, após egos e rancores terem se acalmado devidamente

Ao contrário de suas pessoas, o trabalho da banda era simples, despretensioso e fácil de ser assimilado, demonstrando o quanto o mundo ansiava por ilhas de afeto e compromisso, naqueles tempos de maremoto de valores. A separação foi lamentada, porque quando os quatro conseguiam se entender, o resultado era excelente, com algumas canções que podiam servir até para ninar uma criança com insônia, nos braços da mãe.


A banda, em verdade, era um pequeno retrato de uma parcela da sociedade mundial da época, que insistia em manter o ânimo e o optimismo, mesmo com o mundo desabando ao seu redor. Embora se esforçassem e até tenham deixado um legado admirável, como o mundo de então, o quarteto não resistiu às rusgas de seus fundadores, e líderes, Gates e Griffin. Tal qual o mundo não resistiu muito mais tempo aos golpes da decadência que enfrenta até hoje, pelas rusgas de seus líderes.

Os sucessos do quarteto têm voltado à voga neste início de século, em que as pessoas acham que heróis não valem nada, o sistema é podre, as grandes corporações são o próprio satanás e não tô nem aí pros outros, buscando prazeres fáceis e acolhendo a perversidade como algo natural. Essa espécie não aprende, Meu Deus! Mas não é em qualquer rádio que se ouvem suas canções, em Goiânia eu ouço e recomendo a Executiva FM 92,7.

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