sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Água, cigarros e um Valium

Uma noite de sábado, um qualquer.

As luzes apagadas. Só a televisão trazia alguma claridade ao ambiente.

Na pequena mesa ao lado da poltrona, um copo com água, um cinzeiro, um maço de cigarros e uma cartela de comprimidos, com um único restante.

Na poltrona, ele. Com os olhos vermelhos, devido às noites sem dormir. As costas doíam. Os olhos também. A cabeça também. O ar lhe faltava, em alguns momentos.

Não, não estava morrendo. Os médicos não encontraram nada. Todos os exames estavam normais. Eram apenas a ansiedade, o nervosismo, a falta de perspectiva. Esses eram os problemas. E isso que lhe tirava o sono, e agora começava a lhe afetar a saúde.

Pegou um cigarro, e acendeu. Olhava para a TV, mas sem ligar para o que passava. Não aguentava mais ver notícias dizendo que a Bolsa de Valores da casa do chapéu tinha caído, o que ia provocar recessão no mundo todo.

Afinal, embora as bolsas no mundo inteiro estivessem em baixa, todos os seres humanos continuam acordando todos os dias, saindo pra trabalhar, e comprando alguma coisa. O dinheiro continua rolando no mercado, o que equivale a dizer que nada mudou, quase. 90% da população mundial não investe em ações.

"O mundo vai continuar a girar", ele pensou. "As pessoas vão continuar a viver".

E sua vida continuava na mesma, também. Sem novidades, sem nada de bom acontecendo. De ruim, às vezes, acontecia. Mas nada de especial. No fim, as coisas continuavam iguais.

Tomou um gole de água, e devolveu o copo à mesa. O cigarro estava amargo. Mais do que o normal.

Mas isso não importa. O que importa é o pequeno comprimido restante na cartela. Ele é que vai trazer a paz. A paz prometida. A paz pro coração e pra mente.

Aquele pequeno pedaço de areia branca. Vai fazer os olhos se fecharem, e por uma noite, vai fazer a realidade sumir.

Sonhos podem vir, podem acontecer. Mas de qualquer forma, vão ser melhores que a realidade.

Ele tira o comprimido da cartela, e o leva à boca. Toma mais água pra descer, e retorna o copo à mesa, outra vez.

Desliga a TV. Agora é apenas ele e a escuridão.

E que venham os sonhos...


E que venham os sonhos... Quaisquer sejam eles...

3 comentários:

Nanael Soubaim disse...

E no apartamento ao lado, alguém ouve "Cresent Noon".

Luna disse...

É só uma noite de sexta, como outra qualquer. Mas estou ouvindo Chinese Democracy e isso muda tudo.

Eu esperei TANTO por este momento... Shoro osëanos.

Frank disse...

Debs, espero que tenha superado as espectativas, se é que isso é possível.

Fio, amo Valium, nunca tomei, mas amo!