O passado a verdade e a desilusão. A vida de adulto embarca na estação 41 e nossos garotos precisam lidar com ela. Embarquem com eles, o trem já vai partir.
Vão para a última etapa da turnê. Deixaram
Zigfrida em Sunshadow para assessorar Laura, ela decidiu contar a verdade para
a filha (...) Vão para Washington, depois Dallas, New
York, New Jersey, descem para a Cidade do México, de lá para Toronto, descansam
dois dias e voltam para completar a turnê em solo americano. Uma logística meio
maluca, mas a intenção é alcançar a fama, dominá-la e colocá-la na linha (...) As próximas turnês serão menos exaustivas... Esperam.
Patrícia acompanha o pai à delegacia. A
policial ficou constrangida em chamá-los, mas achou melhor dissipar dúvidas
antes que a imprensa descobrisse algo. O chefe de polícia os recebe evitando
rodeios...
- Temos uma velha conhecida que já se meteu
em muitas encrencas, por causa de cafetões e políticos. Por causa do nome e da
procedência, aproveitamos a vinda do senhor e de sua filha para ver se
resolvemos de vez o caso dessa moça. O senhor conhece alguém chamada Deborah Gardner?
- É minha irmã! Ela está aqui?
- Tragam a moça, para efetivar o
reconhecimento.
Levam a prostituta em trajes sumários, que
fora presa pela enésima vez por vadiagem. Nunca por crimes, mas sempre
envolvida com a lama da política americana (...) ela vai tossindo até a sala e estremece quando vê...
- Ritchie – balbucia em voz baixa.
- Debby!
Ela tenta fugir, envergonhada, mas o imenso
irmão a alcança antes que dê o segundo passo. Ela se debate por alguns segundos
e depois chora copiosamente. Patrícia assiste a tudo com o coração nas mãos (...) É sua tia,
mas não a conhece, não sabe que tipo de gente se tornou...
- Vai embora, Ritchie, senão eles vão te
matar também! Eles vão atrás de vocês, se eu não voltar pra lá!
- Opa! Isso me interessa! – afirma o chefe de
polícia.
Ela desabafa, diz que todos os homens com
quem flertou e tentaram tirá-la da vida, foram mortos pela gangue do cafetão,
que a quer só para si. Por isso implora ao irmão que vá embora e a esqueça...
- Minha irmã, você não tem idéia do tipo de
gente que eu me tornei. O telephone, por gentileza.
- Tia, vem aqui, sente-se. Confie no seu
irmão, ele vai resolver tudo.
- Qual o nome do vagabundo, comissário?
- É conhecido como Dirt Teet.
- Ok. É Richard falando. Vocês já visitaram o
Dirt Teet hoje? Por quê? Aposto que ele e seus amigos têm um monte de coisas
legais para contar pra gente, como o desaparecimento de Walter Ray Marshall.
Em meia hora o cafofo é tomado por federais,
que não têm dificuldades para enquadrar todo mundo lá dentro (...) A delegacia fica cheia de meliantes de elite...
- Então era isto que estava te metendo medo,
Debby? Esta coisinha ridícula aqui? Pare de olhar para ela, ou arranco seus
olhos com as mãos – brada furioso!
- Você tinha razão, Ritchie, mas também
arranjou encrenca. Olha quem nós pegamos junto.
- Nem ligo, não votei nele. Desde quando você
tem medo de encrenca, mocinha?
- Bem... desde nunca. É a sua irmã?
- Sim, é. Oficial, faça seu trabalho. Temos
que saber o que o senador estava fazendo naquele ambiente, e se ele tem algo a
ver com os assassinatos.
- Só falo na presença do meu advogado!
- O... Novato. Vá lá fora e alardeie que o
senador “moral e bons costumes” foi preso em um prostíbulo, não economize
detalhes. O General Nelson vai adorar saber o que o homem em quem ele votou
estava fazendo.
- Sim, Senhor!
Patrícia acolhe com carinho a tia
amedrontada, mas olhando fixamente o pai (...) Alguma
coisa ele terá que lhe contar hoje. E é o que faz imediatamente...
- Em primeiro lugar, papai não é bandido, eu
faço parte dos mocinhos. Em segundo lugar, sim, eu tenho ligações secretas com
um monte de gente poderosa (...) Terceiro e último, teremos que combinar o que vamos contar aos
outros.
- Contaremos que encontramos minha tia, que
uma hora depois o cafetão foi preso com todo mundo, e que você nos defendeu da
menor menção de ameaça dele. Não é preciso mentir, mas eu estou assustada, daddy.
- Não importa o quanto eu te ache genial,
sempre descubro que estou te subestimando.
- Se isso é tão grande quanto parece ser,
então de alguma forma eu e os garotos acabamos entrando também. Ou estou
enganada?
- Involuntariamente, qualquer um que se
disponha a fazer algo de bom, acaba se tornando uma peça da máquina de limpar a
humanidade. O que vocês fazem é um tapa na cara de gentalha como aqueles que
prendemos agora, vocês incomodam muito a ganância deles; é por isso que em
ditaduras, as artes são censuradas sem motivação funcional, inclusive algumas
canções de vocês.
- É só isso?
- Não, mas por enquanto é tudo o que eu posso
te contar. Confie no seu pai, o que estamos fazendo vai terminar antes que eu
fique gagá e abra a porta do carro sete vezes, para ver se a fechei.
- Eu confio em você. Nos outros, que eu nem
conheço, é que eu não confio. E por falar nisso, quem é a minha tia?
- Eu não sei mais, mas vamos descobrir.
Voltam para a meretriz apavorada, que teme
que o elemento fuja e se vingue da família inteira. Psicologicamente ela está
demolida (...) A agente ouviu a conversa de pai e
filha, ficou impressionada com a capacidade de dedução da cantora, mas isso
talvez a torne perigosa até para si mesma. Falará com ele depois, agora tem
alguns crimes misteriosos para ajudar a solucionar, principalmente porque um
senador da república está metido no meio.
Levam Deborah para um magazine (...) Aquele vestido de prostituta de luxo vai para o lixo, junto com a
vida que acaba de deixar. O belo e discreto Kaiser Manhathan vermelho leva os
três ao hotel logo em seguida (...) enquanto a moçoila
trata de conhecer e dar alguma vida àquela criatura apagada e medrosa.
Experimenta cantar “Resignation” pelo caminho, surte efeitos melhores do que o
quase monólogo que travava até então. Encontram David Grant registrando Deborah
em uma suíte vizinha à sua. Ele chama Richard, enquanto Patrícia a leva para o
último andar, onde também está hospedada...
- Então, você concluiu que se tratava de uma
organização maior quando ela desabafou? Ela devia estar fora de si, para
confessar tudo isso!
- Sim. Até então eu intencionava simplesmente
levá-la de volta e protegê-la, mas as doze mortes que ela testemunhou me deram
algumas pistas.
- Quais?
- A teia da hipocrisia, lembra-se? Eles
precisam manter vivo, sob controle rígido, aquilo que dizem combater, para não
perderem argumentação política. Foi golpe de sorte encontrar o senador no local.
- Agora faz sentido. Então você agiu bem,
apesar dos riscos a que se expos. Agora... A agente que liderou a operação nos
falou de Patrícia.
- Como eu gostaria de poder dizer que vocês
estão comigo nesse barco! O medo dela é não saber quem trabalha comigo.
Enquanto ela conseguir manter sigilo do que já sabe, estará segura. Minha
preocupação agora é minha irmã...
- A confiança entre vocês dois é admirável,
mas você sabe que a Patty agora, terá que ficar sob vigilância.
- Com esse tarado à solta? É um favor que nos
faz... Por falar em tarado, você não quer se casar com a Deborah?
- Como?!!!
Enquanto Richard tenta arranjar um marido
para a irmã, ela é apresentada pela sobrinha aos outros integrantes da banda.
Aos poucos Renata a encara. Se aproxima e aponta para o nariz da mulher...
- Vocês quatro! Tratem de ir embora, agora!
Diz com a voz firme e ela tosse como nunca,
até babar, escarrar e quase cair por falta de ar, para logo em seguida voltar a
respirar direito, sentindo frio...
- Tia!
- Estou bem – diz trêmula.
- O que foi isso?
- Banimento. Havia quatro cafetões mortos controlando
e amedrontando ela.
Robert a leva para seus aposentos, nos braços.
Ela é colocada em uma cama limpa pela primeira vez em muitos anos, cercada de
garotos que não terá que desvirginar, de garotas que não terá que aliciar, em
um ambiente onde não entrará quem ela não quiser que entre. Ficam os seis ao
seu redor, até Richard e Grant chegarem (...) Encerram e vão ver o que
está acontecendo, quando Rebeca, toda entusiasmada, fala sobre o exorcismo. Não
teve o corpo flutuando, objectos voando pelo corredor, vozes cavernosas nem um
portal para o inferno se abrindo debaixo de seus pés, mas teve uma cena nojenta
e repugnante, do jeito que manda o figurino.
Richard se agacha ao seu lado, esperando que
reaja (...) Não está desacordada,
mas está fraca. Grant tem que admitir, é uma mulher linda, cederia facilmente
aos seus encantos, em uma festa. Ela reage aos poucos, olha para o lado e
acaricia o rosto do irmão. Quer (...) abraçar um homem que não vai
lhe cobrar um orgasmo por isso. Ela quase some no meio de todos aqueles músculos,
quase se lembra de quando o pai a abraçava assim e se encolhe, para caber
melhor no abraço.
Patrícia termina de ligar para a mãe e se
volta para os amigos. Enumera as encrencas em que se meteram, ao darem início à
carreira. Se pergunta se os garotos de Liverpool enfrentam algo parecido. Em
dado momento se lembra de Melinda (...) também
se lembra das gêmeas que ainda estão em gestação, aos poucos sua expressão se
fecha e a cara de mártir se forma novamente. Então ela é carregada para a cama,
tem o paletó desabotoado e é tomada por afagos.
Vão ao show levando Deborah, para ela se
familiarizar com a rotina da sobrinha (...) A mulher está menos assustada, se convenceu de que está relativamente
segura (...) O assédio dos fãs é um susto para quem já testemunhou linchamentos, os seis
descem ao ar livre para cumprimentar a multidão (...) Rebeca é a mais arreganhada, até troca idéias do que poderiam tocar. Lá dentro (...) só trabalho. Eles afinam e sincronizam as
vozes, fazem exercícios de respiração e relaxamento, alongam os músculos e vão
tirar o suor. Em seguida vão ter com a tia reencontrada...
- Pensava que fosse mole?
- Só chegar, cantar e sair contando dinheiro?
- A gente tá trabalhando aqui desde ontem cedo,
quando fomos te buscar.
- Na verdade eu pensava sim, que fosse mais
fácil.
- E tem mais fácil – diz Rebeca. Tá cheio de
bla-bla-band que só dança e deixa o som com o play back.
- Não a gente, tia. O que o público ouve é o
que rola no palco.
E por falar nisso, está quase na hora. Vão à
entrada de mãos dadas (...) Deborah houve um
estrondo de gritos histéricos como nunca ouvira em toda a sua vida. O show é
grandioso, mas antes de tudo é honesto. As pessoas compram os ingressos sabendo
o que vão ver e ouvir, o que se pode ou não fazer, e que eles começam a cantar
na hora marcada. No fim até pode haver uma canja e cantarem algo mais, o
carisma da banda é famoso.
Voltam ao hotel totalmente moídos, mas
felizes. Não trocam essa vida por nada. Então Deborah retribui o tratamento
recebido desde a manhã do dia anterior (...) ela aprendeu muito de massagem e relaxamento, que os seis agradecem
fartamente assim que chegam ao hotel. Richard vê uma cordinha para tirar a irmã
da situação. Ele liga para Josephine, informando a descoberta...
- Que bênção! Uma massagista na família! Faça
uma surpresa a ela, no fim da turnê, pelos serviços. Mas, Ritchie, fique de
olho.
- Olhos abertos e punhos fechados, pode
deixar comigo. Ah, sim, estou tentando empurrar o David para cima dela.
- Como??
Ele explica, narrando a conversa e arranca
risos. Enquanto isso, a irmã termina de massagear a sobrinha e põe todo mundo
para dormir (...) Amanhã cedo partem para
Dallas. Uma manifestação de repúdio ao Dead Train já está organizada, e será
feita assim que o avião descer em solo texano. Mas os fulanos tiveram a idéia
de anunciar isso em todos os meios de comunicação, e o Dead Train Fan Club of
Texas também decidiu mostrar-se, mas de surpresa.
O avião pousa. Assim que Patrícia se mostra à
porta da aeronave, um grupo de duzentos antipatizantes começa a gritar contra
ela, exigindo que parem ali e deixem a família texana tradicional em paz. São
interrompidos por três mil vozes cantando “Forgotten”, com cartazes de boas
vindas, inclusive um que diz “We ill never forget what you do for Melinda”. O
grupo do contra, em brutal desvantagem, se retira em silêncio. Matthew não se
furta o prazer de registrar tudo (...) Gostaria que houvesse um meio de colocar vídeos
nas páginas dos jornais, a visão do episódio foi apoteótica.
Aos fãs (...) Rebeca e
Ronald confirmam que estão namorando firme. Dentro do veículo o bom humor é
generalizado, foi uma das melhores surpresas que tiveram desde o início da
turnê. Seguem para o hotel e são seguidos por algumas dezenas de carros, alguns
deles da imprensa, mais uma frota de motocicletas com paparazzi tentando uma
boa tomada. Eles são fartamente ajudados pela curiosidade dos garotos, que
grudam nas janelas para verem a cidade. Vêem e se encantam.
Em Sunshadow, Silvia chora. Zigfrida usa de
todos os seus recursos para ajudar, mas a decepção é muito grande. A garota
fica como uma menininha, agarrada a uma almofada no sofá como se tivesse
ganhado uma surra injusta. Sente a falta de Enzo como nunca antes (...) ele liga para ela. Ouve tudo com paciência, deixa-a se
descontaminar da raiva que sente, inclusive pela mãe. Quando desliga, ele fica
quieto, olhando para o vazio. Queria (...) enxugar as lágrimas
dela, mas tem as próprias enxugadas por sua líder.
Liga mais três vezes, até a noite. Ela está
menos revoltada, já aceita a presença da mãe, mas a relação entre as duas está
bastante arranhada. Talvez tenham que fazer uma pátina, como diz Maria, para
esses arranhões não se tornarem uma mácula perpétua (...) Por hora, Deborah termina seu serviço...
- O que está te preocupando, moço?
- Alguém em Sunshadow.
- Ah, a Silvia? Richard me contou. O que deu
a conversa das duas?
- Não fosse a Frida, teria sido um desastre
completo. Ela está magoada.
- Não podemos tirar a razão dela. Imagine
você vendo seu mundo ruir e descobrir que tudo em que acreditava, era uma
farsa. Eu vivi isso (...) entendo o lado dela.
O que a mulher diz faz sentido. Compreender o
lado de Silvia, no entanto, não basta (...) Ela
está carente, quer Enzo por perto, ele é de verdade, o conhece há anos e sabe
que ele é de verdade.
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