quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XLI

    O passado a verdade e a desilusão. A vida de adulto embarca na estação 41 e nossos garotos precisam lidar com ela. Embarquem com eles, o trem já vai partir.


Vão para a última etapa da turnê. Deixaram Zigfrida em Sunshadow para assessorar Laura, ela decidiu contar a verdade para a filha (...) Vão para Washington, depois Dallas, New York, New Jersey, descem para a Cidade do México, de lá para Toronto, descansam dois dias e voltam para completar a turnê em solo americano. Uma logística meio maluca, mas a intenção é alcançar a fama, dominá-la e colocá-la na linha (...) As próximas turnês serão menos exaustivas... Esperam.

Patrícia acompanha o pai à delegacia. A policial ficou constrangida em chamá-los, mas achou melhor dissipar dúvidas antes que a imprensa descobrisse algo. O chefe de polícia os recebe evitando rodeios...

- Temos uma velha conhecida que já se meteu em muitas encrencas, por causa de cafetões e políticos. Por causa do nome e da procedência, aproveitamos a vinda do senhor e de sua filha para ver se resolvemos de vez o caso dessa moça. O senhor conhece alguém chamada Deborah Gardner?

- É minha irmã! Ela está aqui?

- Tragam a moça, para efetivar o reconhecimento.

Levam a prostituta em trajes sumários, que fora presa pela enésima vez por vadiagem. Nunca por crimes, mas sempre envolvida com a lama da política americana (...) ela vai tossindo até a sala e estremece quando vê...

- Ritchie – balbucia em voz baixa.

- Debby!

Ela tenta fugir, envergonhada, mas o imenso irmão a alcança antes que dê o segundo passo. Ela se debate por alguns segundos e depois chora copiosamente. Patrícia assiste a tudo com o coração nas mãos (...) É sua tia, mas não a conhece, não sabe que tipo de gente se tornou...

- Vai embora, Ritchie, senão eles vão te matar também! Eles vão atrás de vocês, se eu não voltar pra lá!

- Opa! Isso me interessa! – afirma o chefe de polícia.

Ela desabafa, diz que todos os homens com quem flertou e tentaram tirá-la da vida, foram mortos pela gangue do cafetão, que a quer só para si. Por isso implora ao irmão que vá embora e a esqueça...

- Minha irmã, você não tem idéia do tipo de gente que eu me tornei. O telephone, por gentileza.

- Tia, vem aqui, sente-se. Confie no seu irmão, ele vai resolver tudo.

- Qual o nome do vagabundo, comissário?

- É conhecido como Dirt Teet.

- Ok. É Richard falando. Vocês já visitaram o Dirt Teet hoje? Por quê? Aposto que ele e seus amigos têm um monte de coisas legais para contar pra gente, como o desaparecimento de Walter Ray Marshall.

Em meia hora o cafofo é tomado por federais, que não têm dificuldades para enquadrar todo mundo lá dentro (...) A delegacia fica cheia de meliantes de elite...

- Então era isto que estava te metendo medo, Debby? Esta coisinha ridícula aqui? Pare de olhar para ela, ou arranco seus olhos com as mãos – brada furioso!

- Você tinha razão, Ritchie, mas também arranjou encrenca. Olha quem nós pegamos junto.

- Nem ligo, não votei nele. Desde quando você tem medo de encrenca, mocinha?

- Bem... desde nunca. É a sua irmã?

- Sim, é. Oficial, faça seu trabalho. Temos que saber o que o senador estava fazendo naquele ambiente, e se ele tem algo a ver com os assassinatos.

- Só falo na presença do meu advogado!

- O... Novato. Vá lá fora e alardeie que o senador “moral e bons costumes” foi preso em um prostíbulo, não economize detalhes. O General Nelson vai adorar saber o que o homem em quem ele votou estava fazendo.

- Sim, Senhor!

Patrícia acolhe com carinho a tia amedrontada, mas olhando fixamente o pai (...) Alguma coisa ele terá que lhe contar hoje. E é o que faz imediatamente...

- Em primeiro lugar, papai não é bandido, eu faço parte dos mocinhos. Em segundo lugar, sim, eu tenho ligações secretas com um monte de gente poderosa (...) Terceiro e último, teremos que combinar o que vamos contar aos outros.

- Contaremos que encontramos minha tia, que uma hora depois o cafetão foi preso com todo mundo, e que você nos defendeu da menor menção de ameaça dele. Não é preciso mentir, mas eu estou assustada, daddy.

- Não importa o quanto eu te ache genial, sempre descubro que estou te subestimando.

- Se isso é tão grande quanto parece ser, então de alguma forma eu e os garotos acabamos entrando também. Ou estou enganada?

- Involuntariamente, qualquer um que se disponha a fazer algo de bom, acaba se tornando uma peça da máquina de limpar a humanidade. O que vocês fazem é um tapa na cara de gentalha como aqueles que prendemos agora, vocês incomodam muito a ganância deles; é por isso que em ditaduras, as artes são censuradas sem motivação funcional, inclusive algumas canções de vocês.

- É só isso?

- Não, mas por enquanto é tudo o que eu posso te contar. Confie no seu pai, o que estamos fazendo vai terminar antes que eu fique gagá e abra a porta do carro sete vezes, para ver se a fechei.

- Eu confio em você. Nos outros, que eu nem conheço, é que eu não confio. E por falar nisso, quem é a minha tia?

- Eu não sei mais, mas vamos descobrir.

Voltam para a meretriz apavorada, que teme que o elemento fuja e se vingue da família inteira. Psicologicamente ela está demolida (...) A agente ouviu a conversa de pai e filha, ficou impressionada com a capacidade de dedução da cantora, mas isso talvez a torne perigosa até para si mesma. Falará com ele depois, agora tem alguns crimes misteriosos para ajudar a solucionar, principalmente porque um senador da república está metido no meio.

Levam Deborah para um magazine (...) Aquele vestido de prostituta de luxo vai para o lixo, junto com a vida que acaba de deixar. O belo e discreto Kaiser Manhathan vermelho leva os três ao hotel logo em seguida (...) enquanto a moçoila trata de conhecer e dar alguma vida àquela criatura apagada e medrosa. Experimenta cantar “Resignation” pelo caminho, surte efeitos melhores do que o quase monólogo que travava até então. Encontram David Grant registrando Deborah em uma suíte vizinha à sua. Ele chama Richard, enquanto Patrícia a leva para o último andar, onde também está hospedada...

- Então, você concluiu que se tratava de uma organização maior quando ela desabafou? Ela devia estar fora de si, para confessar tudo isso!

- Sim. Até então eu intencionava simplesmente levá-la de volta e protegê-la, mas as doze mortes que ela testemunhou me deram algumas pistas.

- Quais?

- A teia da hipocrisia, lembra-se? Eles precisam manter vivo, sob controle rígido, aquilo que dizem combater, para não perderem argumentação política. Foi golpe de sorte encontrar o senador no local.

- Agora faz sentido. Então você agiu bem, apesar dos riscos a que se expos. Agora... A agente que liderou a operação nos falou de Patrícia.

- Como eu gostaria de poder dizer que vocês estão comigo nesse barco! O medo dela é não saber quem trabalha comigo. Enquanto ela conseguir manter sigilo do que já sabe, estará segura. Minha preocupação agora é minha irmã...

- A confiança entre vocês dois é admirável, mas você sabe que a Patty agora, terá que ficar sob vigilância.

- Com esse tarado à solta? É um favor que nos faz... Por falar em tarado, você não quer se casar com a Deborah?

- Como?!!!

Enquanto Richard tenta arranjar um marido para a irmã, ela é apresentada pela sobrinha aos outros integrantes da banda. Aos poucos Renata a encara. Se aproxima e aponta para o nariz da mulher...

- Vocês quatro! Tratem de ir embora, agora!

Diz com a voz firme e ela tosse como nunca, até babar, escarrar e quase cair por falta de ar, para logo em seguida voltar a respirar direito, sentindo frio...

- Tia!

- Estou bem – diz trêmula.

- O que foi isso?

- Banimento. Havia quatro cafetões mortos controlando e amedrontando ela.

Robert a leva para seus aposentos, nos braços. Ela é colocada em uma cama limpa pela primeira vez em muitos anos, cercada de garotos que não terá que desvirginar, de garotas que não terá que aliciar, em um ambiente onde não entrará quem ela não quiser que entre. Ficam os seis ao seu redor, até Richard e Grant chegarem (...) Encerram e vão ver o que está acontecendo, quando Rebeca, toda entusiasmada, fala sobre o exorcismo. Não teve o corpo flutuando, objectos voando pelo corredor, vozes cavernosas nem um portal para o inferno se abrindo debaixo de seus pés, mas teve uma cena nojenta e repugnante, do jeito que manda o figurino.

Richard se agacha ao seu lado, esperando que reaja (...) Não está desacordada, mas está fraca. Grant tem que admitir, é uma mulher linda, cederia facilmente aos seus encantos, em uma festa. Ela reage aos poucos, olha para o lado e acaricia o rosto do irmão. Quer (...) abraçar um homem que não vai lhe cobrar um orgasmo por isso. Ela quase some no meio de todos aqueles músculos, quase se lembra de quando o pai a abraçava assim e se encolhe, para caber melhor no abraço.

Patrícia termina de ligar para a mãe e se volta para os amigos. Enumera as encrencas em que se meteram, ao darem início à carreira. Se pergunta se os garotos de Liverpool enfrentam algo parecido. Em dado momento se lembra de Melinda (...) também se lembra das gêmeas que ainda estão em gestação, aos poucos sua expressão se fecha e a cara de mártir se forma novamente. Então ela é carregada para a cama, tem o paletó desabotoado e é tomada por afagos.

Vão ao show levando Deborah, para ela se familiarizar com a rotina da sobrinha (...) A mulher está menos assustada, se convenceu de que está relativamente segura (...) O assédio dos fãs é um susto para quem já testemunhou linchamentos, os seis descem ao ar livre para cumprimentar a multidão (...) Rebeca é a mais arreganhada, até troca idéias do que poderiam tocar. Lá dentro (...) só trabalho. Eles afinam e sincronizam as vozes, fazem exercícios de respiração e relaxamento, alongam os músculos e vão tirar o suor. Em seguida vão ter com a tia reencontrada...

- Pensava que fosse mole?

- Só chegar, cantar e sair contando dinheiro?

- A gente tá trabalhando aqui desde ontem cedo, quando fomos te buscar.

- Na verdade eu pensava sim, que fosse mais fácil.

- E tem mais fácil – diz Rebeca. Tá cheio de bla-bla-band que só dança e deixa o som com o play back.

- Não a gente, tia. O que o público ouve é o que rola no palco.

E por falar nisso, está quase na hora. Vão à entrada de mãos dadas (...) Deborah houve um estrondo de gritos histéricos como nunca ouvira em toda a sua vida. O show é grandioso, mas antes de tudo é honesto. As pessoas compram os ingressos sabendo o que vão ver e ouvir, o que se pode ou não fazer, e que eles começam a cantar na hora marcada. No fim até pode haver uma canja e cantarem algo mais, o carisma da banda é famoso.

Voltam ao hotel totalmente moídos, mas felizes. Não trocam essa vida por nada. Então Deborah retribui o tratamento recebido desde a manhã do dia anterior (...) ela aprendeu muito de massagem e relaxamento, que os seis agradecem fartamente assim que chegam ao hotel. Richard vê uma cordinha para tirar a irmã da situação. Ele liga para Josephine, informando a descoberta...

- Que bênção! Uma massagista na família! Faça uma surpresa a ela, no fim da turnê, pelos serviços. Mas, Ritchie, fique de olho.

- Olhos abertos e punhos fechados, pode deixar comigo. Ah, sim, estou tentando empurrar o David para cima dela.

- Como??

Ele explica, narrando a conversa e arranca risos. Enquanto isso, a irmã termina de massagear a sobrinha e põe todo mundo para dormir (...) Amanhã cedo partem para Dallas. Uma manifestação de repúdio ao Dead Train já está organizada, e será feita assim que o avião descer em solo texano. Mas os fulanos tiveram a idéia de anunciar isso em todos os meios de comunicação, e o Dead Train Fan Club of Texas também decidiu mostrar-se, mas de surpresa.

O avião pousa. Assim que Patrícia se mostra à porta da aeronave, um grupo de duzentos antipatizantes começa a gritar contra ela, exigindo que parem ali e deixem a família texana tradicional em paz. São interrompidos por três mil vozes cantando “Forgotten”, com cartazes de boas vindas, inclusive um que diz “We ill never forget what you do for Melinda”. O grupo do contra, em brutal desvantagem, se retira em silêncio. Matthew não se furta o prazer de registrar tudo (...) Gostaria que houvesse um meio de colocar vídeos nas páginas dos jornais, a visão do episódio foi apoteótica.

Aos fãs (...) Rebeca e Ronald confirmam que estão namorando firme. Dentro do veículo o bom humor é generalizado, foi uma das melhores surpresas que tiveram desde o início da turnê. Seguem para o hotel e são seguidos por algumas dezenas de carros, alguns deles da imprensa, mais uma frota de motocicletas com paparazzi tentando uma boa tomada. Eles são fartamente ajudados pela curiosidade dos garotos, que grudam nas janelas para verem a cidade. Vêem e se encantam.

Em Sunshadow, Silvia chora. Zigfrida usa de todos os seus recursos para ajudar, mas a decepção é muito grande. A garota fica como uma menininha, agarrada a uma almofada no sofá como se tivesse ganhado uma surra injusta. Sente a falta de Enzo como nunca antes (...) ele liga para ela. Ouve tudo com paciência, deixa-a se descontaminar da raiva que sente, inclusive pela mãe. Quando desliga, ele fica quieto, olhando para o vazio. Queria (...) enxugar as lágrimas dela, mas tem as próprias enxugadas por sua líder.

Liga mais três vezes, até a noite. Ela está menos revoltada, já aceita a presença da mãe, mas a relação entre as duas está bastante arranhada. Talvez tenham que fazer uma pátina, como diz Maria, para esses arranhões não se tornarem uma mácula perpétua (...) Por hora, Deborah termina seu serviço...

- O que está te preocupando, moço?

- Alguém em Sunshadow.

- Ah, a Silvia? Richard me contou. O que deu a conversa das duas?

- Não fosse a Frida, teria sido um desastre completo. Ela está magoada.

- Não podemos tirar a razão dela. Imagine você vendo seu mundo ruir e descobrir que tudo em que acreditava, era uma farsa. Eu vivi isso (...) entendo o lado dela.

O que a mulher diz faz sentido. Compreender o lado de Silvia, no entanto, não basta (...) Ela está carente, quer Enzo por perto, ele é de verdade, o conhece há anos e sabe que ele é de verdade.

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