Amar é perigoso. A estação 33 mostra que não é preciso intencionar para cruzar o caminho de alguém. Embarquem e cuidado com quem se senta ao seu lado, o trem vai partir.
Um pouco de sujeira, alguns trechos do jardim
da praça para recuperar, mas nenhum dano real (...) Sunshadow está inteira, mas seus cidadãos ficaram receosos, alguns até
aterrorizados (...) Daniel Stewart terá mais trabalho do que
imaginou, até a ferrovia voltar a funcionar, para isso conta com a ajuda
providencial de Matthew, que inclui em sua matéria algumas reclamações e
recomendações (...) Alguns cogitam fazer
cursos para receber os visitantes, outros simplesmente se trancar em casa,
quando aparecer algum forasteiro.
The Dead Train começa a montar instrumentos e
aparelhagem na praça do trem morto. Ninguém foi avisado (...) Eles decidiram dar uma ajuda à cidade, discutiram
por algumas horas e decidiram o que fazer. Compuseram uma canção simples e vão
cantá-la para seus concidadãos em primeira mão. Rebeca fará o vocal principal.
Testam tudo, olham a praça se enchendo e Patrícia anuncia...
- Fizemos uma musiquinha para vocês,
esperamos que gostem; Just knock on a door.
Enzo começa com um solo animado de violão,
estilo mais ou menos country, logo seguido dos outros instrumentos, então
Rebeca entra...
-
Only need knock on a door and you can entry in my home. Do not
mess with my polished floor there is anentrance matting. Do not play the
Wolf scaring the three pigs...
O povo se anima e começa a dançar. A canção é
alusiva ao temor que a população demonstrou (...) a letra é uma parábola que dá bem o recado. Decidem
incluir a faixa no próximo álbum.
Nancy é avisada e deixa Richard vigiando o
bolo de chocolate com nozes, vai ver o que os seis estão aprontando. Na praça,
vê o povo pedindo bis, e então ouve a obra inteira. Pede o telephone emprestado
ao Mr. Brook e liga primeiro para Josephine, depois para Matthew. A diva cai na
risada e o assessor de imprensa pede que ela dê detalhes, para colocar na
coluna antes de mandar rodar. Renata tem uma inspiração relâmpago e pede que os
amigos simplesmente acompanhem, antes que se esqueça, já que não trouxe um
bloquinho para anotações...
-
Good evening, good life. It’s time for up and prepare for the night...
Uma canção romântica, que os outros tratam de
acompanhar de improviso. O que seria apenas uma boa lição para o sunshadower,
se torna uma festa só para a cidade. Assim que terminam, tratam de anotar e
cifrar imediatamente a canção. O efeito terapêutico foi conseguido, o
sunshadower (...) vai
se preparar para os turistas vindouros. Só o que se perguntam agora é “Onde
vamos hospedar essa gente?”. No começo, algumas casas podem se transformar em
pensões, mas a preciosa privacidade da população não toleraria isso por muito
tempo (...) Nancy se lembra do antigo patrão e seu
enorme espaço vazio, (...) Propõe
que ele construa um pequeno hotel no lugar, que é bem arborizado, bem arejado e
próximo da praça, a menos de uma milha da prefeitura...
- Você acha que compensa?
- Eu tenho certeza. Já conversei com o
Daniel, ele vai providenciar placas informativas para a rodovia, inclusive
informando que aqui tem um posto de gasolina. Não fosse a gente, Jose De Lane
ficaria horas na estrada, sem saber que há um posto perto de onde a
encontramos.
- Ah, isso é verdade... Pelo menos os
caminhoneiros ocupariam alguns quartos... Vou consultar gente que trabalha no
ramo. Thanks, Nancy.
Novamente a falta de burocracias agiliza
tudo. Sete placas são colocadas nas proximidades do desvio para a cidade em
dois dias, para o alívio de caminhoneiros cansados. Enquanto não houver uma
pousada, estacionam na relativa segurança do posto e dormem na boleia mesmo.
Seis param na primeira noite, e a lojinha de conveniência logo precisa se
transformar em restaurante. O faturamento quase dobra por causa de sete
singelas placas de trânsito, que informam que a cidade existe (...) de manhã, com o cansaço debelado pela primeira
refeição, é que os caminhoneiros se dão conta...
- Peraí... “Sunshadow”???
- Nós estamos em Sunshadow???
Sim, eles estão em Sunshadow e decidem dar
uma esticada até a cidade, enquanto os brutos recebem serviço completo. É
realmente muito pequena, e a locomotiva é realmente muito grande. Não vêem os
garotos, eles estão no colégio, mas ficam sabendo das músicas novas. Se
abastecem com mantimentos e voltam ao posto, têm prazo para chegar a Vancouver.
No colégio, a novidade é a sinalização na
estrada. Já tinham se acostumado a adivinhar a distância até o desvio para
Sunshadow. Silvia vai de encontro aos
seis, para saber de novidades...
- Mas já?
- Já, Silvia. Na sexta-feira viajaremos para
Detroit, de lá para Saint Paul, San Francisco, Los Angeles, Phoenix e Santa Fe.
Voltamos e descansamos por uns dias, depois pegamos a estrada de novo – explica
Patrícia.
- E o colégio? Vocês vão perder muita
matéria!
- No – retifica Rebeca. Levaremos uma lista
de exercícios que deverão estar prontos, quando voltarmos. Look this.
Ela mostra um calhamaço que cada um deverá
estudar e resolver, nas horas vagas. A moçoila (...) começa a sentir pena deles...
- Oh, guy... Por que esse massacre? O que
vocês fizeram de tão grave? O semestre inteiro?
- O semestre inteiro, gatinha.
Todos olham para Enzo (...) e começam com a algazarra. Silvia fica quase da cor
do vestido, esperando que os alunos que observam a farra não tenham ouvido. Ela
se atreve a fazer uma pergunta, apesar do risco e dos sorrisos escancarados...
- Vocês têm algo marcado para Dallas?
- Yes, pretty Silvia – responde Rebeca, em
tom malicioso. O que quer de lá?
- Se não for incômodo, poderiam levar um
pacote para a minha avó?
- You’re from Texas, girl?
- Sou, mas vim para Summerfields antes dos
dois anos.
- E então, Romeu, vai levar a encomenda da
Julieta?
Rebeca, folgada, não perde a chance de
cutucar e atiçar. Soa o sinal e eles vão para a sala de aula, mas os dois não
escaparão a mais gozações por causa disso. Aliás, contam à Mamãe Urso esperando
pelas lições de moral, que vêm sem dó...
- Enzo – diz Nancy – você conhece a vida de
Silvia?
- Só dentro do colégio, Mrs. Petty Gardner,
mas acredito que ela seja uma boa moça.
- Ela é um doce, mas não se trata disso. Você
sabe dos problemas que ela enfrenta com a mãe? Sabe que o pai dela se recusou a
reconhecê-la e por isso a mãe foi expulsa de casa?
Ele fica perplexo, depois furioso (...) e faz uma cara de quem vai esquartejar alguém...
- A avó dela expulsou a filha de casa, mesmo
sob protestos do marido, hoje falecido. Só que sua colega não sabe disso, pensa
que a mãe é viúva e se mudou para esquecer a tragédia. Ela manda cartas para a
avó todos os anos, mas é a própria Laura quem responde, não a mãe dela.
- Isso não vai ficar assim – responde em tom
grave o rapaz. Não vai mesmo! The telephone, please... thank
you, Mrs.
Não entra em detalhes, mas avisa à família
que está interessado em uma garota e quer apresentá-la (...) Quando chega, o clima de indignação contamina a
casa inteira. Maria avisa ao filho que os levará amanhã ao colégio, quer
conhecer a garota. Liga para Richard e avisa que assumirá a Suburban no dia
seguinte...
- Claro, Maria. Algum motivo especial?
- Vou conhecer minha nora.
- Ohooooo!
No dia seguinte, chegam mais cedo e a
calabresa fica até as duas chegarem. Chegam a pé, pois não têm carro (...) Laura trata de cuidar muito bem da filha, que jamais
foi vista suja, amarrotada ou com uma roupa desgastada...
- Ma che bambina piú bela, Enzo!
- E non c’e, mamma? E hai un buon cuore.
Ciao, signora...
Esqueceu de falar em inglês, mas logo se
retifica e cumprimenta a mulher atônida, de traços finos e longas madeixas
louras. Conversam descompromissadamente até Maria dar um ultimato ao filho...
- Enzo, esta é uma ragazza fina. Respeite-a,
se quer namorá-la!
- Cosi sará, mamma. Senhora Carter, me
permite namorar sua filha Silvia?
Lágrimas. Ela fica sem palavras, como a
filha. Uma das maldições que a mãe lhe mandou se quebra, disse que “Nenhum
homem decente vai querer essa bastarda”, pois eis que um ídolo da música a
quer. Ela abre um sorriso do tamanho do Texas e consente, e a garota pula para
abraçar o namorado. Nancy chama os sete para dentro e deixa a amiga cuidar da
texana. Maria lhe oferece carona até o trabalho, quer conversar com ela sobre o
que soube...
- Onde???
- Trabalho em um posto de gasolina, poucas
milhas antes de Lansing.
- A distância é enorme! Dá quase uma hora de
viagem!
A conversa se dá de forma austera (...) Laura acaba desabafando tudo
o que tinha preso na garganta, nestes quatorze anos em que cuida sozinha da
filha. No colégio, Enzo faz questão de confirmar e dar fé, está namorando
Silvia e exige respeito para com ela. Os olhos dela até somem no sorriso. Nos
intervalos ela assiste de dentro às conversas da banda (...) em Sunshadow, a neta de mafiosos trata de tópicos
correlatos. Conversa com o dono do posto, busca Laura e a apresenta ao seu novo
patrão. Serão quarenta minutos a menos de viagem, todas as manhãs. Agora vai falar
com Richard sobre o assunto...
- E por que você acha que alguns combatentes
se revoltaram e viraram motoqueiros? Tudo o que eles combateram lá, encontraram
aqui.
- Estou pensando em, mais tarde é claro,
conseguir que as duas morem na cidade, o que acha?
- É bom dar um tempo (...) mas a idéia é boa! Afinal, não foi justo gente proscrita que
formou a população original de Sunshadow? Uma mãe solteira será bem vinda!
Ele mostra na esquina uma casa que desde a
guerra está vazia (...) os
parentes do último habitante só fazem questão de que seja bem cuidada (...) E a garota tem um abraço tão gostoso, tão macio, que logo a
banda toda a adopta.
Enzo liga para a tutora, quer pedir que
levante o máximo que puder de dados sobre a família de Laura, explicando em
detalhes virginianos o problema...
- Oh, Enzo! Que lindo! Mon ami, eu vou
pessoalmente cuidar disso para você. Agora desfranze esse cenho, que pelo
telephone eu o estou vendo enrugado. Vá namorar, vá, que no sábado você
começará a ter saudades dela.
Ele o faz. Tira a tarde para visitar a
namorada, a encontra de short e camisa amarrada, limpando a casa. Nada
glamouroso, mas encantadora...
- Trouxe-lhe bombons.
Ela ajeita a cabeleira despenteada e o põe
para dentro, antes que a vizinhança se dê conta de quem é e comece uma romaria
à porta de sua casa. Fica sem jeito, até ele arregaçar as mangas e colocar as
cadeiras em cima da mesa...
- Eu não acredito, Enzo!
- Namorar no meio da bagunça não dá! Vamos
limpar esta casa!
A força bruta masculina mostra seu valor,
quando bem aplicada. O trabalho de uma tarde inteira é feito em menos de uma
hora, sem dor nas costas. Ele é uma das raras aparições masculinas em sua casa (...) Ela vai tomar uma ducha, se arrumar
direito e tirar a impressão de gata borralheira que pensa ter deixado. Ele
aproveita para estudar a casa. Para os padrões americanos é pequena, mas não
parece faltar o necessário. Dá uma olhada no quintal e vê (...) as três paredes do muro como enfeite.
O bom desenvolvimento mostra que não passa fome, menos mal, mas a fruteira da
mesa está vazia. As entressafras devem ser freqüentes naquela casa. Ele ouve o
chuveiro e pensa no que ela tanto capricha, então se lembra do pai lhe
perguntando o mesmo sobre sua mãe (...) ele
se vira para o corredor, a vê saindo rapidamente enrolada em toalhas (...) ainda esperará um bom pedaço. Dá uma olhada nas
revistas que elas lêem. Vê a si com os outros e Josephine, na capa de uma
delas, mas a maioria é de revistas em quadrinhos do Archie e sua turma.
Silvia termina de se secar e fica nua diante
do espelho. Pressiona um pouco o abdômen (...) Nunca tinha se preocupado com isso, mas agora tem quem
se interesse por sua estética. Ainda nem sabe se ele gosta de garotas cheinhas
e peitudas, ainda mais ele vivendo cercado de artistas esculturais, produzidas
e com mais laquê do que fios de cabelo na cabeça. E os cabelos, por falar
nisso? Deve alisá-los? Vai ao pequeno armário e (...) Pega uma blusa preta de alças bem finas e uma saia vermelha
mais curta, não muito, pouco acima dos joelhos. Põe uma camisa branca em cima e
só amarra em baixo. E a maquiagem? (...) Com
aquela roupa, ir de cara limpa é uma contradição. Um batom cereja e um pó de
arroz bastam. Busto evidenciado e pernas grossas valorizadas, ajeita os cachos
e vai ter com ele...
- WOW!
Aquela exclamação lhe soa como uma declaração
inteira. Abre o sorrisão e vai lépida para seu amado, se boletar em seus braços
e respirar seu perfume (...) Ela é muito
eléctrica para ser melosa, então consegue ser naturalmente divertida. Enzo
imagina que tipo de gente rejeitaria uma garota assim. Josephine já tem
indícios de quem seja essa gente. Estuda um modo de contar a Enzo, mas antes
quer falar com Laura (...) Liga
para Grant, que atende do telephone do Meredes-Benz...
- Sim, eu posso lhe arranjar isso... Sim, eu
sei de quem se trata e aconselho a manter distância dessa mulher. Ela é filha e
irmã de membros mortos da ku klux klan, e ainda hoje sonha com as histórias da
avó, sobre quando podiam comprar negros no mercado.
- Você parece saber muito a respeito deles.
Pode vir aqui, para conversarmos?
- Com prazer (...) estou a poucas quadras da sua casa. Até mais... Me desculpem, era
Josephine, ela pediu informações justamente sobre o nosso assunto.
- Ela não está envolvida com essa gente,
está?
- Não, mas Enzo se envolveu com a neta
bastarda da Cascavel Branca.
Os dois homens ficam apreensivos (...) temendo pela integridade do garoto. Liga rapidamente para
Washington e pede que avisem Richard imediatamente. O mecânico ouve com cuidado,
se enfurecendo a cada palavra e dá um só recado...
- É um ultimato o que eu vou dar agora; se
vocês não pegarem essa gente antes de darem as caras por aqui, perderão seus
meses de investigação, porque eles vão tentar machucar Enzo e eu vou matá-los.
Entenderam?
Eles entenderam (...) David vai ver Josephine e Richard vai dar uma olhada
no rapazote. Liga para Enzo e avisa que vai ele mesmo buscá-lo nesta tarde. Só
por precaução, leva a pistola. Vai tranqüilo no pequenino Henney Kilowatt, que
estava com as placas das baterias coladas e precisou substituir (...) entrar
não foi fácil, para o porte dele, mas conseguiu sem bater a cabeça no portal.
Está pegando gosto pelos eléctricos, por isso mesmo lamenta ainda mais que a
Studebaker ou a Kaiser não tenha sido a marca escolhida por Henney para a
empreitada.
Ele chega, sai com alguma dificuldade daquela
latinha de sardinha e toca a campainha. Aguarda (...) Enzo atende e a cara fica ainda mais sem-vergonha...
- Oh, interrompi os pombinhos?
Riem encabulados. Richard nota o capricho da
menina, em sua produção. Fica com eles até a mãe dela voltar do novo emprego.
Gostou dela, mas agora teme por ela também, ser filha de um mexicano poderá
render muitos dissabores, se a avó a encontrar pela frente. E a essa altura (...) meio mundo já deve saber do namoro deles. Só o que
pode fazer é ficar alerta e avisar os demais a cada evento suspeito.
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