quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Dead Train in the rain XXI

    Enfim elas se reencontram. A estação 21 lembra aos leitores de que a vida tem vontade própria, então não se apeguem aos seus planos, pode ser necessário mudar tudo! tenham sempre um plano B nesta viagem e embarquem no Dead Train!


No cair da tarde, chegam os pais de Matthew, enquanto os oito conversavam (...)Renata olha pela janela, vê um Ford A Phaeton 1929 vermelho com capota branca e solta um “Que lindo!” que chama a atenção do pretendente...

- São meus pais! Meu pai tem esse carro desde os dezesseis (...).

- Seu pai tem um Ford de Bigode? Eu acho lindo!

- Sorry?

Ela explica que as alavancas contrapostas na coluna de direção, renderam no Brasil o apelido de Ford de Bigode. O rapaz teve várias vezes a oportunidade de ficar com o carro, mas tinha vergonha, acreditava que seria rejeitado pelas mulheres se fosse visto em um automóvel tão velho, apesar de estar em perfeitas condições de uso. Agora a única mulher que lhe interessa diz que acha lindo!

- Quer dar uma volta?

- Quero!

Os olhos dela brilham (...) Os sexagenários chegam, tocam a campainha, abrem eles mesmos a porta e procuram logo pela neta do “brazilian hero”. Matthew apresenta Renata, surpresa em seu vestidinho azul e verde...

- Mas que garota linda!

- Você é muito parecida com seu avô! Tem os olhos generosos dele!

Um misto de gratidão com fascinação sincera invade o casal. Theodore nunca teve a chance de agradecer ao soldado que o salvou da morte (...) Só depois de algumas cenas comoventes é que são apresentados aos demais, e notam a presença do filho caçula (...) durante a conversa, percebem o evidente entrosamento entre os dois, no que é advertido pela mãe...

- Matt, ela é muito jovem! Ainda não está em idade para certas coisas!

- Eu sei, mamãe, a mãe dela já me avisou a respeito.

- Você veio do Brasil com sua família, não veio?

- Com meus pais, sou filha única.

Por enquanto. A menstruação de Eduarda está atrasada e as mudanças de humor começam a ficar freqüentes. Vem 3R novo por aí.

Na manhã seguinte, Theodore e Emily acordam o filho bem cedo (...) Matthew começa a se lembrar por que decidiu voltar para New York, mas decide ser polido (...) antes de soltar um palavrão...

- Você não nos disse que Renata é uma celebridade!

Lá vai ele, explicar à mãe o que sua condição de acordado na marra, antes de o sol nascer e ainda meio grogue, lhe permite...

- VOCÊ CONHECE JOSE DE LANE???

Agora sim, ele tem o que explicar! Quando Richard sobe (...) sem querer acaba jogando mais lenha na fogueira. Entre os combatentes, Sunshadow é quase lendária, ninguém sabia com certeza se realmente existia a cidade que perdeu todos os filhos enviados à guerra, já que nem nos mapas dos livros escolares ela consta...

- Meu pai, meu tio e meu sogro estavam entre eles.

Começam a consolar o grandalhão. Ficam felizes de o filho estar se relacionando com gente tão boa, estavam preocupados com essa total falta de compromissos. Pedem para falar com os pais da moçoila (...) Conversam, advogam em favor do filho, enfim, tratam de assegurar uma boa relação com os pais dela. Tudo isso acontece em menos de quinze minutos.

O desjejum é providenciado antes que os garotos acordem. Assim que eles acordam e sobem, estão lendo o jornal. A matéria sobre a visita rendeu duas capas e um baita patrocínio. Parece que a fama está ganhando vida própria. Aliás, a viagem parece ter ganhado vida própria e mudado completamente os planos dos sete, que jamais pretenderam fazer amigos em uma terra desconhecida, muito menos ver suas vidas viradas pelo avesso antes da hora. A de Renata destrambelhou completamente.

Vão ao Central Park. O Coach segue o Ford A, que leva apenas os dois pombinhos. Ela adorando a experiência, que ajuda a se distrair um pouco do fardo que leva. Tem visto espíritos aflitos desde que chegou a New York. Gente que veio e foi engolida pela cidade, ou desfrutava de boa posição social e morreu na miséria. Com eles, aprendeu que uma metrópole não perdoa erros (...) vê um mendigo pedindo esmolas à porta da prefeitura, ele parece não saber que morreu em 1930, provavelmente de frio. Ela vê uma moeda sutil em sua mão direita (...) O encara e ele percebe que é visto por ela, pela primeira vez em mais de trinta anos, alguém nota sua presença. Se aproxima, enquanto os outros se photographam em frente ao prédio e ela lhe dá a moeda. Enfermeiros o cercam e dizem que vão levá-lo para um abrigo, onde terá uma sopa e suas feridas serão tratadas, e os três somem. Pela primeira vez gosta de ser médium.

Chegam ao parque. É a coisa mais magnífica que eles já viram. Se assumem, sabem que são caipiras, estão deslumbrado (...) Matthew avisa para não se afastarem, que é muito fácil se perder lá dentro. Dele se tem uma vista impressionante dos prédios. São levados até o lago, meio vazio nesta manhã fria de outono, mas ainda assim com alguns casais corajosos. No inverno, ele se torna um grande ringue de patinação. Logo à frente, um cidadão tenta ganhar alguns trocados com seu violino. Os seis conversam, passam a bola para Renata e vão conversar com o violinista. Ela já lhes tinha ensinado a música, então só vão acompanhar...

- Entendeu? Pronto?

- Pronto.

- Índia seus cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar! Seus lábios de rosa para mim sorrindo, e a doce meiguice desse teu olhar...

Ele não entende uma palavra sequer, mas gosta e memoriza. Funciona, aos poucos os freqüentadores se aproximam e o clima de romance aquece o lugar, e notas começam a encher o chapéu no chão. Ganha o equivalente a uma semana de trabalho (...) Logo alguém diz “Is the Dead Train” e o público aumenta. Que aproveitem, amanhã voam para Los Angeles. Matthew finalmente concorda em ficar com o Ford 1929.

Na manhã seguinte, mais uma manchete, agora em vários jornais: The Dead Train sing in the Central Park. Alguns paparazzi já começam a procurar o hotel em que estão hospedados. Robert chega na hora marcada, para buscar o ônibus. Aproveita para paparicar os filhos, sem eles a casa ficou assustadoramente grande e fria. O imprevisto é ter que levar Emily e Theodore (...) para conhecerem os pais da brasileira, e a filha do homem que salvou uma família inteira, salvando um americano à beira da morte.

Passam a manhã conversando, até chegar a hora de se separarem de novo. O ônibus os leva ao aeroporto e de lá volta para Michigan (...) Na sala de espera, a conversa animada ajuda a matar o tempo, enquanto outros passageiros à espera do vôo começam a reconhecê-los. Patrícia fiscaliza os outros sete, sabe que não podem mais agir à vontade em público, sem que um paparazzo se aproveite indevidamente até de uma coçada nos fundilhos. Está de pé, enorme, em um terninho azul pálido e cabelos soltos, atenta a tudo (...) alguns cidadãos começam a photographar e os paparazzi se aproveitam, se misturam aos fãs. Essa conversa de serem famosos e terem fãs, ainda não lhes desceu direito, estão muito acostumados a agir livremente sem dar satisfações a ninguém, além de seus pais. Alguns pedem para terem uma photo com a banda, e assim vai até serem chamados para o embarque.

Dos seis, só Renata já tinha viajado de avião, mas uma só vez. A decolagem é uma experiência nova para os garotos americanos, ficam encantados com a cidade cada vez menor, lá em baixo. New York foi uma experiência mais suave do que imaginavam, graças ao anfitrião que conseguiram. Tentam (...) arrancar alguma coisa de Patrícia, mas ela insiste que só saberão detalhes quando se encontrarem com a anfitriã. Tem a prudência de não mencionar nomes (...) Foi bem treinada pelos pais e pelas correspondências com Josephine (...) Ela providenciou um ônibus dos estúdios e sua equipe de filmagem, para registrar a chegada dos oito. Já viu as notícias de hoje, percebeu que estão melhores do que esperava. A apresentação no Central Park, para ajudar o violinista, a comoveu tanto quanto agradou à sua índole artística.

É claro que onde está Jose De Lane, há uma multidão! Centenas de pessoas se amontoam para conhecer os pupilos da diva. David Grant está com ela, ele também é uma lenda viva, ajudou a salvar os estúdios que estavam à beira da bancarrota, investiu tudo naquela francesinha geniosa, que (...) foi embora após uma proposta indecorosa em um concorrente (...) e acabou levando o principal. De então em diante, ela foi a mola mestra dos estúdios. Alguns repórteres especializados quebram o silêncio...

- Senhora De Lane, é verdade que está aguardando os garotos da banda Dead Train?

- Você sabe que sim, monsieur. Fique aí, vai ver como as notícias não exageraram em nada.

- Eles já têm contracto com alguma gravadora?

- Sim – responde David – conosco (...) a Inglaterra está gestando uma geração de excelentes músicos, nós acreditamos que eles tomarão muito espaço no nosso mercado. O Dead Train é nossa aposta para enfrentá-los.

Ainda não assinaram, mas assinarão. Ele disse isso para jogar um balde de água fria nas mais remotas esperanças da concorrência. O avião surge no horizonte, a torre confirma (...) e os representantes dos estúdios seguem para o saguão de desembarque. Josephine falou muito deles, especialmente de Patrícia, que só tem visto por photographias, e pelo documentário (...) Ela mesma lhe contou como cada um estaria vestido, antes de saírem ao aeroporto (...) Vão à vidraça sem imaginar a tietagem que se deu no avião, quando foram reconhecidos, e quando descobriram a ascendência nobre de Ronald. O americano, por mais que rejeite a monarquia, tem um apreço gigantesco por títulos legítimos, como os nobiliárquicos; ainda mais quando acompanhados de um nome gigantesco. Richard e Matthew ficam intrigados, ele deveria ter sido preterido pelas aeromoças, por ser negro, mas foi o maior conquistador de toda a aeronave! Principalmente depois de se apresentar como conde, após boas conversas.

Aterrissam (...) e eles são os primeiros a sair. Sai Matthew, que desce rapidamente com a câmera em punho e clica a saída dos demais. Então sai a impressionante figura de Richard, que mal coube no portal do avião. Josephine deduz rapidamente quem eles sejam. Então sai Patrícia, e alguém grita...

- A princesa Grace de Mônaco!!!

- A princesa Grace é a vocalista do Dead Train!!!

A francesa precisa se apressar para desfazer o equívoco (...) Os seis descem e os flashes trabalham alucinadamente. Eles acenam timidamente, mal acreditando na recepção. São conduzidos a um espaço cedido à diva (...) Quando se avistam, ela e Patrícia deixam a pose de lado e correm para o abraço. São amigas. Desnecessário explicar o quanto as três imprensas presentes gostam da cena; a dos estúdios, a de fora e Matthew Tamasauskas. Depois que as duas louras se abraçam (...) a garota faz as apresentações. Coisa rápida, querem evitar exposição desnecessária, vão rapidamente ao ônibus que os aguarda.

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