O reconhecimento. A estação vinte dá aos nossos amigos uma amostra da vida de artista, mas é só um doce para seduzir incautos gulosos. Tenham cuidado onde pisam e embarquem, o trem vai partir.
Matthew volta do jornal com um sorriso de
orelha a orelha (...) saiu da redação com a alma lavada. Fumou um charuto do chefe, comeu do que
estava em seu frigobar, tomou de seu whisky, deu pitacos na pauta do dia
seguinte e prometeu fazer uma boa matéria, quando voltar de Hollywood. Volta de
ônibus (...) com pose de quem está de Lincoln Continental. Tem seu
sorriso emoldurado pelo rosto corado, cor que pegou nos anos em que entregava
jornais e revistas da editora que controla o grupo.
Desce e atravessa a rua, já vendo seus amigos (...) Combinou com eles de lhes apresentar
a sede da ONU; ou, como ele costuma dizer, a zona máster do baixo meretrício do
mundo. Saiu de um ônibus para entrar em outro, mas desta vez no GMC Coach com
motorização híbrida. O velho ônibus está fazendo quase o dobro de milhas por
galão, depois da conversão...
- Que caras são essas?
- Nada, Romeu (...) a
Julieta te espera. E cuidado com essas mãozinhas serelepes, hein!
Richard não perde a piada. Ele tem vinte e
sete anos, ela tem dezesseis, ainda assim todos acreditam que podem se dar bem.
E ficam mesmo com tanta intimidade quanto privacidade, já que a fileira do lado
está vazia. Patrícia sabe que devem ser deixados a sós, sempre que possível,
para se entenderem. Mas coisa séria mesmo, como disseram os pais da moça, só
depois dos dezessete anos. Não antes e não durante, só depois dos dezessete!
Vão photographando tudo o que acham
interessante pelo caminho. Param em um sinal e, enquanto clica (...) um guarda paquerando em horário de serviço,
Rebeca à janela é reconhecida por um passante. O cidadão olha para o jornal em
mãos, olha para ela, vê Ronald e Robert também de câmeras em punho e os
anuncia...
- Hey! São os garotos do Dead Train!
A notícia correu rapidamente as duas cidades.
Outros aguçam a visão e os reconhecem, mas Richard engata a primeira e arranca,
que o sinal já ficou verde. Alguém deduz que estão indo para a sede da ONU,
logo alguém fica sabendo e alguém pega um atalho para lá, com uma câmera em
punho. O lugar de onde vieram e a viagem que farão, porém, continuam sob
conhecimento restrito.
Vêem de longe o prédio em estilo arrojado,
cheio de bandeiras enfileiradas, como se todas realmente tivessem o mesmo valor
para a secretaria geral. O veículo negro-esmeraldino para (...) O nativo os leva para a recepção, onde são
reconhecidos. Pelo menos dois funcionários estiveram na apresentação de
estréia.
Autógraphos! Pela primeira vez na vida, lhes
pedem autógraphos. Ficaram famosos em New York, isso é passaporte para uma fama
nacional tão rápida quanto perigosa. Mais ou menos como descobrir da pior
forma, que o carro que se dirige é um bólido com carroceria leve, como
Josephine já disse a Patrícia (...) Matthew
registra. Alguns os olham com caras de “famosos quem?” e procuram se inteirar
da situação. Rebeca se diverte, mas não gosta de ser cercada por multidões. Atende
o público em seu vestidinho azul minimalista, frenética, olhando vividamente
para aquela gente estranha, que não sabe de onde está saindo. Ninguém quer
ouvir “Você esteve com eles e não pediu um autógrapho???” mais tarde.
Finalmente podem continuar com a visita (...) Richard é observado por alguns militares. Um deles espera
pela oportunidade para se aproximar...
- Avise ao General Nelson, só por garantia.
Dá a instrução ao colega e se aproxima. Se
for quem parece ser, todos naquele prédio correm riscos de morte dolorosa. A
dúvida se dá por ele estar acompanhado daqueles garotos e do repórter, mas a
descrição é muito parecida.
Jeremy Nelson é avisado e põe seus contactos
para trabalharem (...) Enquanto
isso, o Capitão Krumb acompanha o grupo de perto, procura saber quem são os
acompanhantes e quem seria o grandalhão. As informações até o tranqüilizam, mas
não o suficiente, as semelhanças são grandes com um agente duplo que estão
caçando há anos. Precisa de um modo de ficar à sós com ele, por alguns minutos.
Vê uma soldado (...) lhe diz algo ao ouvido e ela
se aproxima do grupo, também para pedir um autógrapho; algo que em condições
normais a sua função não permitiria. Assim que Robert lhe entrega o bloquinho,
ela finge uma queda de pressão e cai, prontamente amparada por Richard...
- Obrigado, senhor. Pode trazê-la à
enfermaria, por favor?
- Claro que sim. Onde é?
Dois pontos a favor; ele a pegou antes que
atingisse o chão e parece não saber onde fica a enfermaria. O agente duplo
conhece cada canto do prédio, e não daria grande importância ao mal súbito da
moça, não até ser interpelado. Matthew continua clicando.
A cena é imponente. Um homem de terno cinza,
enorme, com a musculatura preenchendo todo o paletó, carregando uma militar
delicada... mas (...) ninguém folga com ela e sai ileso.
Chegam à enfermaria e o próprio Richard começa a cuidar da moça. Ele é um
gênio, estuda de tudo, sabe de tudo a fundo, inclusive medicina; logo percebe
que ela não tinha passado mal cousa nenhuma...
- Por que a senhora fingiu o mal estar? Seu
caso é de desidratação leve, não teria lhe causado o desmaio.
Krumb entra em cena, deixando ridiculamente
exposta uma arma descarregada. Se ele for quem parece ser, se aproveitará. Mas
não se aproveita. Patrícia chega com os outros e debela de vez as suspeitas...
- Pai, tudo bem?
- Graças a Deus!
- Por que, Capitão? Acredito que nos deve uma
explicação.
Ele explica de forma reduzida, para não expor
segredos de Estado, mas sabe que está falando com o honesto pai de família
americano Richard Gardner...
- Esse cara é russo?
- Sim, ele é.
- Minha sogra era viúva de um russo, que
fugiu aproveitando as falhas nas fronteiras, quando Stálin concentrou esforços
para enfrentar os nazistas. Se é um russo e se parece comigo, então eu sei quem
é.
- Mr. Gardner, com isso o senhor acaba de se
tornar perigoso. Não para a América, mas para os espiões inimigos. O senhor
pode nos conceder uma conversa reservada e manter segredo?
Consente. Jeremy liga, avisando que o agente
foi visto em Amsterdã, e está sendo seguido de perto por pelo menos sete países
que querem sua cabeça (...) Agora vão ao
escritório, onde Richard receberá instruções para sua segurança (...) os militares começam a perceber o calibre que têm ao seu lado...
- Uma bomba atômica ainda é cara. É questão
de tempo para outros descobrirem como enriquecer urânio, como obter plutônio...
E não precisa explodir, espalhar material altamente radioativo causaria
estragos maiores e mais perversos do que uma explosão. Pensem comigo...
Decidem investigar um pouco a respeito dele (...) órfão de guerra, casado com uma órfã de
guerra, endereço, profissão, o incidente do incêndio e nada mais. Richard é
quase uma caixa preta, mas é valioso. A conversa dura meia hora e as partes
trocam números e endereços para contacto. Por hora, ele volta aos seus
tutelados.
A Estátua da Liberdade. Uma réplica gigante
da mãe de Frédéric Auguste Barthoudi, escultor do monumento. Um dos maiores
focos de teorias da conspiração no mundo inteiro. Todos (...) sobem até a coroa. Se photographam mutuamente e são photographados pelo
jornalista. Aqui, pelo menos, o passeio transcorre sem incidentes. Quando
descem, são surpreendidos por várias câmeras serelepes, disparando de todos os
ângulos. Rebeca logo cutuca Matthew e o nomeia assessor de imprensa da banda (...) Voltando ao prédio, a baixinha reclama...
- PORRA! Eles nem sabiam quem a gente era!
Parecia que estavam é com medo de parecer que não sabiam o que realmente não
sabem, na frente dos amigos!
- Mas havia dois repórteres de verdade entre
eles.
- Sim, assessor de imprensa, acredito. Me
incomoda é tanta gente querer autógraphos e photographias, sem jamais ter
ouvido um acorde nosso sequer!
- É por falta disso? Eu posso resolver.
Manda Richard (...) rumar para a
redação, onde eles vão encontrar formadores de opinião que poderão dizer que
ouviram os seis cantarem, e em um veículo de circulação nacional. Ele realmente
gosta daqueles sete, está sinceramente apaixonado por Renata, mas isso não lhe
tira a visão prática, sabe que (...) terá toda a
mordomia que quiser, se não vacilar. Avistam a sede do jornal. Não é o maior, mas
tem circulação nacional, credibilidade e uma boa carta de anunciantes e
assinantes. Ele desce primeiro, mandando avisar ao chefe que The Dead Train
quer conhecer o Coast to Coast News. Richard desce sucedido da filha, Ronald,
Enzo, Rebeca, Renata e Robert. Ainda têm fresquinha na memória a região em que vivem (...) tudo aquilo lhes parece grandioso e requintado.
É grandioso e requintado, mas não é o mais.
O cicerone apresenta colegas e departamentos (...) No fim do corredor, o chefe aparece
à porta do escritório. É um homem que viveu anos duros, passou fome com a
grande depressão e teve que vender garrafas velhas para sobreviver. Se lembra
até hoje de ver sua família indo para um lado, os móveis para outro e a casa
sendo penhorada. Viu suicídios bem à sua frente, gente que torrou tudo o que
tinha na farra especulativa dos anos vinte, contabilizando dívidas como se
fossem dividendos, não suportando ver tudo virar pó.
As apresentações são festivas, pela primeira
vez o jornal tem um furo artístico antes dos outros (...) Os colunistas de arte e entretenimento iniciam uma conversa informal,
que dará frutos formais, com câmeras pipocando por todos os lados. Entre
um assunto e outro, dão uma palhinha...
-
Back to Sunshadow now, were your home stand by you. Back to your home again,
were your people stand by you. Look yourself in mirror now, look your childhood
again, is your true self...
E (...) vêem que não houve exagero
nos relatos. São realmente talentosos, têm domínio de técnica e cantam do
coração (...) Além de terem estilo próprio no repertório, algo
raro de se encontrar.
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