domingo, 30 de setembro de 2018

Dead train in the rain XLV

    Greg pensava ser só mais um, mas era o único. A estação 45 mostra o que uma auto estima negativa pode te fazer perder. Erga a cabeça e embarque, o trem vai partir.


Não sabem o que estão fazendo lá, já que foram retidos na série e parecem não dar a mínima. Os garotos do Dead Train encontram o trio do “The Special Boys” pela primeira vez, desde que eles saíram tresloucados à caça de fama e dinheiro (...) Eles não têm idéia de quanto dinheiro ganham, só sabem o quanto lhes é repassado pelo empresário...

- Vejam quem está lá! Os defuntos do trem!

- Já estão fedendo, alguém os enterre logo!

- Não me parecem tão bons quanto dizem, vistos de perto!

- Ah, é porque são bonzinhos, não podem...

Se calam quando Rebeca se aproxima, de olhar sombrio, com uma maçã na mão (...) nas mãos dela já viram uma folha de papel arrancar sangue de um atrevido...

- Eu não vou xingar vocês, porque seu vocabulário restrito não reconheceria metade das palavras que eu usaria, mas darei um recado, “vaga-boys”, segurem suas línguas se não quiserem comê-las com queijo e mostarda, em um sanduíche.

Avisa e volta para os companheiros, sem ter alterado o tom de voz, mas deixando claro o recado. Desta vez Patrícia a deixou à vontade, talvez o episódio os convença a jogar limpo nas entrevistas. Agora vão para a aula (...) Rebeca com Ronald e Enzo com Silvia, de mãos dadas. Renata fica de pajem para Patrícia e Robert, os únicos solteiros na banda. O amor é lindo, mas arde nos olhos de quem está só e carente. A brasileira não está exactamente só, mas (...) Matthew fica até uma semana longe.

O início do ano é festivo, a região inteira foi beneficiada com a reinauguração da estação ferroviária. Os primeiros trens são de carga, mas logo os de passageiros começam a circular e acabam servindo de transporte público complementar. Alguns colegas foram diretamente beneficiados (...) conseguiram trabalhos temporários com mais facilidade, graças às necessidades logísticas de uma ferrovia de turismo (...) estão vivendo um misto de saudades de quando brincavam despreocupados, com a perspectiva da liberdade da vida adulta; coitados, se soubessem!

Voltam para casa na Pontiac Catalina Wagon de nove lugares, que Deborah acabou de tirar da loja. O cheiro de carro novo é um deleite (...) Leva todo mundo, com Nancy e Patrícia na frente, para casa. O carro é presente do irmão, para ela atender a clientela, enquanto não estiver viajando com a banda. O ritmo de trabalho aumentou muito, com a revitalização da cidade, e as pessoas sentiram isso no corpo tanto quanto no bolso.

Deixam os outros em suas respectivas casas, se deparando com uma rara tarde de folga. O sobrado cercado de jardins tem outros sons, além dos da oficina. As duas bebês entretém seu pai, enquanto a mãe atravessa a entrada e vai à sala, onde os três se divertem consigo mesmos (...) Vão à copa, ele preparou um almoço substancial e deixou na estufa, para quando elas voltassem. Se portam como uma família normal, como toda a banda procura se portar, deixando do portão para fora a imagem de fama, fortuna e prestígio que construíram. Em dois meses voltarão à maratona de trabalhos intensivos, que precederão a nova turnê. Por hora, só os trabalhos burocráticos e ensaios ordinários.

Ao mesmo tempo, Gregory compra um motorhome, feito de um ônibus genérico com peças de tudo quanto é marca, em 1955, tem até as lanternas da Volkswagen Bus. A idéia é morar no local de trabalho, pretende usar o veículo para as filmagens com Bartholomew (...) intriga Josephine por não terem conseguido uma pista sequer de algum parente vivo, se é que existe. Entretanto, está feliz com sua recuperação, ainda mais com a discrição que ele pensa que tem, ao perguntar sobre os garotos do Dead Train, sempre achando um jeito sutil de perguntar particularmente por Patrícia; sutil para quem não o conhece (...) Hollywood inteira se pergunta o que ele estará esperando. Ela conclui sua participação em um filme e vai ter com ele (...) com Bart acompanhando...

- Greg, venha cá... Por que você não se declara de uma vez?

- Perdão, Mrs. De Lane?

- Você acha que ninguém mais percebeu que está caidinho pela Patty?

Ele fica sem palavras. Olha tremulamente para a diva (...) É um profissional competente e confiável, mas como pessoa é uma marmota. Ele não consegue reivindicar absolutamente nada do que não for absolutamente necessário e absolutamente dentro do prazo, geralmente subestimando suas necessidades...

- Mon ami, nós nos conhecemos já há anos, eu conheço você como se fosse meu filho! Por que você não falou com ela?

- Ela... Ela é uma estrela, Senhora! Eu sou um...

- Não se atreva a completar a frase! Sua pouca autoestima me preocupa, Gregory! A Patty não é uma estrela inacessível, como você pensa, está sendo injusto com ela. Mas pelo menos confessou a paixão.

- Garoto, você está enganado em relação à Patty – diz Bart (...) Ser estrela é parte da profissão dela, só isso. Eu tenho culpa nisso, Jose. Tive muitas oportunidades de levar o garoto comigo, em minhas folgas (...) deveria ter insistido, quando ele dizia que estava indisposto. Mas hoje você vem comigo, vou ligar pro Dean e pro Jerry, confirmando a noitada de hoje, te incluindo nela... Jerry, aqui é Bart. Fala, feioso! Vou levar o Greg comigo, desta vez. Não, ele não aceitou, mas vou levar assim mesmo...

O problema dele não é só com o status de Patrícia, mas a noitada será um bom começo. A garota sempre se mostra muito forte e independente, isso afasta muitos potenciais pretendentes (...) Ela não desconfia, está muito ocupada com família e trabalho, nesta ordem. Interrompe um pouco sua tentativa de rotina de moça comum dos confins da América, para atender ao telephone, é o cupido louro dando seu recado...

- Que legal! Vou querer conhecer, quando voltar para Hollywood...What?... Você tem certeza?

- Só você não percebeu chérie?

- Well... Não! Ele está aí?

- Non, Bart o levou para relaxar. Ele pensa que por ser uma estrela, você não daria bola.

- Ah, meu Deus, só me faltava essa! Tem um pervertido sem noção no meu encalço, querendo que eu seja Grace Kelly, mas um cara interessante tem medo de mim???

- Então acha o Greg interessante?! Oh la la!

- Decerto que sim! Eu não preciso de um cara protetor... Já tenho meu pai pra isso... Mommy! Daddy! C’mon, please! Vou ligar a conversa ambiente, para nós todos tratarmos do assunto. Vocês dois sabiam que o Greg está caidinho por mim?

- Vai dizer que você não sabia?! A garota mais inocente na cidade mais pervertida de Michigan!

- Patty, minha filha, você é tão esperta com os outros, mas tão bobinha com seu próprio coração! Jose, onde está o rapaz?

- Saiu com o pai de aluguel. Bart o convidou para uma noitada com astros do cinema, para ele perder o medo de estrelas da música. Acha que a Patty não vai dar bola para uma pessoa “comum”.

- Mas eu sou uma pessoa comum! O estrelato faz parte do meu ofício, mas longe das câmeras eu sou uma garota normal; apenas com alguns privilégios genéticos, nada mais.

Deborah se diverte, mas fica à parte. É a única na sala que, além das gêmeas, não tem intimidade com a diva (...) Combinam que os dois vão conversar na semana que vem, antecipando em um mês uma reunião sobre a gravação dos videoclipes, de onde sairá a capa do próximo álbum. Ela avisa aos outros, para que antecipem o que têm a fazer em suas vidas civis. Se volta para a tia e descarrega...

- Do que a senhorita está rindo? Acha que vai ficar de fora? Seus serviços de massagista serão úteis para ele ficar calmo e tranqüilo, antes de conversarmos. Ele é um cara muito tímido, sabe?

- E que cara não fica tímido perto de você, Patty? Já se olhou no espelho, para ter noção do medo que você impõe aos homens?

- “Medo”? O que sou, a medusa?

- Você é uma mulher poderosa! Os homens tremem de medo de mulheres poderosas, e o seu caso não é só a aparência. Vem comigo, vou te mostrar.

O espelho da própria moçoila se presta ao serviço. Deborah aponta cada detalhe de quase 1,9m de altura da sobrinha. Já a viu irritada, sabe o quanto um homem se assustaria ao ser encarado por ela, daquela altura. Novamente ela faz aquela cara de adulta preocupada (...) Vai falar com os amigos, pedindo sinceridade total, e eles confirmam...

- Se não fôssemos amigos de longa data, eu recearia me aproximar de você – diz Robert.

- Você é muito gostosa e muito poderosa, Patty – arremata Rebeca. O povo te compara à Jose!

- Ridículo! Jose é uma estrela de primeira grandeza, eu sou uma cantora em início de carreira!

A já não tão baixinha entra em casa e volta à varanda com revistas de crítica musical. Há “Poderosa Patrícia” em cada parágrafo de uma matéria. Não desaba porque descobriu isso ainda cedo, dá para contornar...

- Vai dar uma chance ao Greg, poderosa?

- Vou, Rê. Vou. Acho que ele precisa de mim.

- E você vai ficar muito bem, cuidando daquele rapaz tímido. Afinal, você não precisa ser protegida, não é o tipo de mulher que os babacas procuram pra casar e trancar em casa.

- Você está certa de que quer se casar com o Matt, o meu caso é só uma possibilidade de namoro.

- É o que vamos ver, cara Patrícia Petty Gardner. Espero que essa antecipação do fim de nossa relativa folga não se dê em vão.

No que depender de Bart, não será. Ele não embebeda o rapaz, mas os dois amigos tratam de deixa-lo relaxado, e ele solta tudo diante da cúpula do cinema mundial. Nada que eles não tenham percebido, mas a confissão sempre ajuda no veredicto.

Em uma semana estão de volta ao batente (...) Uma idéia dada por Groucho Marx agrada muito, a de três pianos motorizados descendo alguma ladeira de San Francisco, cada um com dois integrantes a bordo. O quadro passa a imagem de uma banda jovem e irreverente, mas com sólida formação musical. Experimentam algumas cores provisórias, colocando folhas de papel celofane sobre o rascunho. O cuidado todo é para que o público não confunda a mensagem de “banda jovem” com “banda da moda” (...) Terminam de planejar e entregam os resultados para a equipe de arte. Agora vão para o segundo motivo da viagem. Chamam Gregory, que não sabe da antecipação dos trabalhos...

- Com licença... Me avisaram para vir...

A única pessoa no ambiente é Patrícia, de cabelos soltos, em um leve vestidinho minimalista cinturado, salmão claro, de seda, com barra logo acima dos joelhos, alças de meia polegada de largura, decote romântico e um cinto fino da mesma fazenda. Ele fica tonto (...) sem sequer perceber que está andando na sua direção...

- Nós precisamos conversar, Greg. Jose me falou sobre você.

- Falou o quê?

- Tudo. Você está enganado a meu respeito. Eu não sou uma estrela, não na vida cotidiana. Nela, eu me interessaria sim, por alguém como você.

Ele quase morre. Sua pressão sobe e desce em um balé mortal, que o priva ainda mais de perceber que está se aproximando daquela garota sedutora, sem conseguir soltar mais uma palavra sequer, sem condições de suportar vivo a hipótese de isso ser um alarme falso. Ela estende as mãos e ele obedece ao gesto, estendendo as suas. Ela as prende, dá um sorriso e ele não vê absolutamente mais nada, simplesmente obedece ao “Me abrace” e seu coração normaliza, entorpecido, com a cabeça recostada naquele ombro esquerdo tão delicado e acolhedor. Fica completamente anestesiado, enquanto ela afaga seus cabelos. Nem percebe que está abraçado, não sabe sequer se está vivo ou morto, só sabe que é muito bom! Ouve alguns anjos cantarem, enquanto ela sussurra algo aos seus ouvidos, sem compreender direito como está compreendendo aquele idioma ininteligível. Não percebe que aceita o compromisso, só perceberá que assumiu a responsabilidade de ser o namorado da líder do Dead Train, quando acordar do torpor.

Ela ainda não sabe como fará para contornar a distância e a escassez de prazos, serão momentos bastante esporádicos de namoro, às vezes curtos. Por isso mesmo trata de apertar o abraço e aproveitar cada segundo destes primeiros momentos (...) Olha para ele, que ainda não acredita no que está acontecendo, alisa o rosto e começa a ver graça naquilo. Chama-o e o encara, inclina a cabeça e aproxima o rosto ao dele, conseguindo o primeiro beijo. Afinal é seu namorado (...) vai tirar dele o que lhe for de direito. Agora ele parece ter percebido a encrenca em que se meteu.

O beijo não foi (...) só para dizer que ele já em dona. Ela vê os olhos marotos do pai pelas persianas, dá um sorriso enorme de satisfação e faz sinal de positivo, podem entrar. Apresenta seu namorado ao pai...

- Ouça, Greg, eu gosto de você, mas precisa ter consciência de que ela é minha filha, então eu terei que ser chato, às vezes. Segundo, teremos um problema de logística; você é um cara ocupado, ela mais ainda. Vocês terão que agendar seus encontros com muita antecedência.

- Eu estou ciente disso, mas não constitui empecilho. Afinal, o Matt não tem problemas com a Renata.

- Só diferenciando que eles moram na mesma cidade, querido. Mas para que serve o telephone?

- Ei, podemos entrar também, ou vocês ainda vão cozinhar mais um pouco?

Rebeca se anuncia já entrando. Entram os seis, Matthew com uma penca de conselhos ao rapaz, tanto sobre a encrenca em que se meteu, quanto sobre ficar longe da amada (...) avisa que vai pagar os pecados quando estiver longe, cheio de trabalho e sem dia para revê-la. Enzo está longe de seu par, mas volta logo para seus braços. Agora Robert é o único solitário na banda.

Ela aproveita que os outros cercam o rapaz, para ligar para a mãe...

- Mommy, I have a boyfriend!

- Então vocês se acertaram? Que lindo, minha jóia! Eu quero ver esse rapaz.

- Verá, assim que nossas agendas coincidirem. Mamãe, ele é tão fofo! Tão tímido!

- Acredito, ele ficou todo encolhido, quando eu estive aí! E o seu pai?

- Com os outros, dando as boas vindas e as regras. Agora vou conhecer o trailer onde ele mora, a Jose disse que é uma gracinha!

Conversam sem delongas, Nancy logo manda a filha ir namorar e ela não se faz de rogada, já sabendo das regras. Patrícia até acha o motorhome uma gracinha, mas quando olha a despensa e o guarda-roupa...

- Greg, o que é isso? Meu querido, você está muito mal cuidado!

Ela primeiro arruma as roupas dele (...) providencia alimentos que dispensam refrigeração, para quando não tiver a cantina dos estúdios ou um restaurante ao alcance. Ela tem certeza de que a alimentação contribuiu para seu último problema de saúde. Sem experiência com namoro, apenas o enche de carinho e cuidados.

O que poderia estragar o clima romântico, está acontecendo a milhas dali. Um pastor a toma como encarnação do anticristo. Ele prega ferozmente (...) afirmando que o sucesso estrondoso e repentino foi obra do demônio, lembrando ainda que o pai dela é ateu “Um inimigo do povo santo a serviço de satanás”. Ele busca letras aleatoriamente em várias músicas, até formar “We love devil”, para provar que se trata de um sinal do fim dos tempos.

Enquanto isso, ela namora candidamente o rapaz órfão que Josephine e Bartholomew pegaram na sarjeta (...) Richard olha é para Robert, que se afasta para não atrapalhar o clima de romance dos outros...

- Aonde você vai?

- Por aí. Ver um pouco dos estúdios.

- Não minta pra mim, Bobby, eu já um homem calejado.

- Tá na cara?

- Em neon. Vem comigo, vamos tratar do seu assunto, enquanto os outros tratam de si. Me fala dessa menina idiota, se não for doer demais.

Dói, mas ele fala. Richard presta atenção à combinação de palavras com tons de voz e cadência do que vier depois, para repassar a Zigfrida (...) Hoje a menina idiota está com a cara no chão, arrependida tanto de ter acreditado em fofocas (...) nem falo no partido que deixou escapar e a mãe lhe cobra desde que a banda estourou. A menina já cogita sair de casa assim que tiver idade, para nunca mais ser cobrada por isso.

Já que abriram mão de quase dois meses de serviço leve, vão de uma vez ver contactos e fechar parcerias que estão em andamento. Aproveitam para fazer isso com mais calma (...) Uma das parcerias é com uma empresa de logística e transportes, que quer usar a imagem em suas campanhas. Nada mais lógico. Matthew vai atrás, registrando tudo, enquanto Richard observa e passa relatórios para Josephine, que se desmancha de orgulhos (...) já está na hora de o Dead Train voltar à mídia, Matthew começa a mandar material para a redação.

Richard e os garotos voam para Sunshadow, Matthew para New York. A nova parceria pode até render algum benefício para a cidade, como uma linha de trem ou até um aeródromo. A bordo do avião, vai uma Patrícia um pouco diferente, com respiração mais leve, as íris em flor e um sorriso suave. Os outros passageiros notam isso, sua tristeza crônica há muito era alardeada pelos tabloides. Chegaram a aventar que ela estaria insatisfeita e pretendia sair da banda, só mais um dos incêndios que Matthew precisou apagar.

Patrícia conta à mãe e à tia sobre o namoro. É difícil associar aquela adolescente empolgada e dengosa à mulher precoce e taciturna que comanda os negócios milionários de uma marca valiosa. Mas é ela mesma, toda pimpona e serelepe a dar saltitos (...) enquanto narra os pormenores com as oito photographias tiradas da ocasião em mãos. O que as duas vêem é uma garota imensamente feliz abraçada a um rapaz que parece não acreditar no que está acontecendo (...) Não fizeram questão de divulgar a notícia, mas não demoram a descobrir e fazer polêmica fútil.

Gregory, de sua parte, está no céu. Josephine e Bartholomew observam com muito gosto o rapaz que vêem organizando o equipamento de filmagem, não é aquele todo recolhido e de olhar vago. Está mais ágil e às vezes até ensaia um sorriso.

E a imprensa “especializada” não tarda. A pior chamada é “Com tantos astros aos seus pés, Patty Petty levou um satélite sem graça para casa”, mas os textos de algumas são bem mais perversos, até o acusando de oportunista, outros comparando-o a Mel Ferrer(...) de início ele dá razão à manchete, mas logo leva uma chacoalhada de Audrey Hepburn, que informa rapidamente Josephine do caso...

- Chame-o, amiga, quero falar com ele... Greg, eu quero falar com você, pessoalmente. Não fosse por Audrey, você teria sabotado seu namoro e magoado Patty. Venha à minha casa agora.

Desliga e liga para a pupila. Patrícia fica furiosa, avisa que quer dar uma palavrinha com ele assim que terminarem a conversa (...) Antes de mais nada a diva dá uma bronca. O faz ver o que vai jogar fora se der ouvidos aos maledicentes, mostra-lhe o que realmente estaria estragando se deixasse sua autoestima pífia tomar suas decisões. A chacoalhada é mais forte do que a primeira, mas agora vem a bonança. Passa a falar com ternura sobre os motivos de tê-lo acolhido, da confiança que lhe foi oferecida e, principalmente, da garota maravilhosa que ele tem à suas mãos...

- Não se engane petit garçon, você não escolheu Patrícia; ela te escolheu, foi ela quem se abriu e lhe deu as mãos. Ela é uma moça séria, um dia vocês podem vir a se casar, mas isso depende mais de você do que pode imaginar. Ela não dá a mínima para os apelos dos outros rapazes. Tem idéia do quanto isso é valioso? Agora você percebe o tesouro que recebeu dela?

Ele (...) apenas balança a cabeça para dizer que compreendeu...

- Você não deveria ter interrompido seu tratamento psicológico. Retome-o, será de fundamental importância para o seu relacionamento. Agora eu vou ligar para ela. Patrícia ficou furiosa quando soube da manchete e pediu para falar com você, depois das duas broncas que recebeu... Chérie, já terminei com ele... Non, ele está calmo, apesar de um pouco envergonhado. Tivemos a ajuda de um querubim, antes de me ser repassado... Oui, foi ela... Agora fale com ela...

- Patty?

- Greg? Não leia mais essas publicações, querido, não há nem figurinhas para découpage que lhes pague o que custam. Eu escolhi você, Greg, não estou nem aí para os outros, nem para as fofocas, nem para coisa nenhuma. Já chega o Bobby sofrer por causa disso, não me faça sofrer também.

- Não! Nunca! Eu não vou mais deixar essa gente me influenciar.

- Obrigada, Greg. A gente se encontra na semana que vem, quando começar a turnê.

- Estarei aqui, te esperando.

- Só mais uma coisa, Greg; I love you.

- I love you too...

Ele começa a rir abobalhadamente em meio a prantos (...) arrancando o sorriso máster de Josepine. Conta-lhe o teor da conversa, o tom de voz e o desfecho...

- Oh la la! Essa eu vou espalhar por toda Hollywoody!

Abraça o rapaz, enquanto liga para o anjo e manda espalhar a fofoca (...) até chegar à imprensa, que passa a dar como certo o matrimônio de Patrícia Pettit Gardner com Gregory Winston. Claro que o assediador fica furioso, pois considera Patrícia como sua propriedade. Ele observa bem a fisionomia de Gregory para identificá-lo à primeira vista. Vai a campo se certificar de que ele não tem a mesma proteção que cerca Patrícia.

Encontra um fornecedor de armas clandestinas e faz um orçamento, depois sai para trabalhar, para conseguir o dinheiro necessário à compra da arma, da munição adequada e de um carro veloz (...) O lugar onde pretende viver com a garota já está pronto, isolado do resto do mundo (...) Não quer correr o risco de perdê-la como perdeu sua “amada Grace Kelly para um maldito estrangeiro”. Não se dá conta de que está sendo observado desde que tentou entrar clandestinamente em Mônaco, e que a vigilância se intensificou desde que começou a assediar Patrícia. Josephine não quis contar, mas a princesa ficou apreensiva quando soube que o maníaco tinha um novo alvo, especialmente por causa da semelhança do alvo consigo.

A moçoila por sua vez está feliz e radiante, com os amigos, planejando os detalhes internos para a turnê que se avizinha. Põe a planilha na mesa de lanches, a poucos passos da piscina (...) Incluiu três visitas a entidades filantrópicas, incluindo uma das raras que cuidam de autistas com competência. Silvia, Lucille, Marina e Victoria estão lá, vendo o quanto eles consomem de glicose e phosphato em seu trabalho. O que as câmeras mostram não chega a dez por cento do serviço.

Também há um componente inusitado. A Life Magazine firmou acordo com o Coast to Coast e com os estúdios para cobrir a turnê, com photos de Matthew. Desta vez uma equipe de reportagem inteira vai acompanhar a banda para o que já chamam de “The Grand Tour”, estão cientes de que perderão mais privacidade ainda.

Findado o planejamento (...) pulam na piscina, porque nem só de pão vive o homem. Enzo e Ronald avisam às irmãs que desta vez podem falar do que viram hoje da turnê, dos clipes, do novo álbum e tudo mais. Mas pedem que não toquem no assunto com eles, porque agora querem descansar os neurônios.

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