sábado, 8 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXIII

    Trauma e recuperação! A estação 113 traz uma lição pouco aprendida, o único lugar seguro é uma mente forte. Concentrem-se no que compensa e embarquem, o trem vai partir.


Audrey faz sua última parada em Sunshadow, abraçada a Audrey e Melinda, elas com suas pequenas no colo. Ajudou a formar a mentalidade das duas, as ajudou a ver os artistas sem a lente dos fãs, incutiu em suas cabeças louras as lições que aprendeu durante a ocupação nazista. Recebe das autoras seus exemplares devidamente autographados de “Poesias florais” e “Samantha, a ameba” (...) De certa forma, vendo tanta gente levando a termo o que prega, começa a ver a morte como o descanso que não se deu. Sua fundação não é mais a única a carregar o fardo. Volta feliz para Los Angeles.

Em Sunshadow, deixa na população em geral um clima de luto, alguns desejando ir no lugar dela. A tristeza só é quebrada pela estranha cena de Crazy Horse abraçado a uma mulher, com uma criança no braço (...) Sua cara não é bem a de um apaixonado, ele está visivelmente preocupado e assim chega à chefatura...

- Filha?? Cara, conta essa história direito!

- Bem, tem a ver com o motivo de eu me juntar ao bando... Eu saí da aldeia fugindo, se é que me entendem... Era a filha do chefe, eu mandava dinheiro para ela em segredo, depois de me juntar a vocês.

- Então era esse o rolo... Ela é sua filha, é isso? Cara, cê é mais louco do que eu imaginava!

- Então, Chuck, pode ajudar Golden Feather e Happy Moon?

- Seu safado, você é um Street Warrior, pode contar com a gente pra qualquer coisa. Vou ligar pro Ritchie, ele vai resolver essa parada.

Richard fica pasmo. Vai com Nancy até a casa onde o apache mora com dois amigos (...) a morte do marido em um acidente aéreo traumatizou Golden Feather. A pequena Happy Moon quase cai de costas ao ver aquele homem gigante entrar na sala. O casal fica estupefato, quase chocado, mas se comove com a história de amor proibido...

- Trabalho não falta, acho que tem uma vaga da Cuture Train que lhe serviria – diz Nancy.

O índio começa a ficar feliz, gosta daquela fazenda (...) A vaga de arquivista serve como uma luva e Golden Feather já começa a trabalhar, Deborah acaba de encontrar uma caixa com um grande carrossel (...) Uma limpeza básica, lubrificação no mecanismo, os Richards remontam e ele funciona, tocando o primeiro andamento da Valsa do Imperador. Será fácil restaurar. Ela tem seguido a cópia do mapa que o sobrinho-neto lhe deu, enquanto planejam um modo de escavar a marca maior sem demolir a casa.

Happy Moon é encaminhada à fundação (...) enquanto Crazy Horse conta detalhes do romance acidental com a falecida. Daria uma comédia romântica, não fosse o desfecho trágico...

- Eu visitava ela sempre que podia, mas em segredo. Vi pouco o crescimento da Golden Feather, só soube do casamento quando ela voltou da lua de mel, mas continuei ajudando, principalmente depois que nos instalamos em Sunshadow.

- Por isso você nunca conseguiu fazer uma poupança – diz Patricia.

- Para quê poupança? Tenho vocês, não preciso de luxos, não me preocupo com o futuro. O que me preocupava eram os problemas do presente, com todas as dificuldades que elas enfrentaram. Mas agora acredito que minha filha consegue andar sozinha, mas farei uma poupança para minha neta. Apesar de tudo, estou feliz, minha linhagem está segura em Sunshadow.

- Ela é tão doida quanto você ou se controla?

O apache ri desatadamente de Rebeca (...) mas não pode garantir que não começará a dar coices e sair pulando pelo mundo, como ele fez. Um vento mais forte assopra as primeiras folhas descoloridas, anunciando a proximidade do outono. Com ele vêm as contrações e Silvia dá à luz Giovanni, seguido em poucos dias pelas trigêmeas Alice, Belice e Celice; Elon brincou (...) Karen levou à sério e registrou. Vovô Enzo é carregado pelos cúmplices ao redor da casa. Enquanto Enzo e Maria visitam as bisnetas, Marina e Victoria levam Nina e Lola para conhecerem o primeiro menino da família desde 1946.

&

Prendem o filho do pastor que tentou agredir Patricia. A prisão é humilhante, ele foi flagrado em um motel abusando de meninos de oito a dez anos. O argumento do advogado de que “Foi tudo uma armação de satanás para calar um homem santo (...)” não colou. A quantidade de inimigos que cultivou, fez a fita com a gravação da prisão valer o risco de um processo, agora o episódio de filme pornô clandestino de baixo orçamento é exibido em rede nacional de televisão. O pai dele infarta e bate as botas no meio do culto em que bradava contra a liberdade sexual (...) a imprensa tem seu presente de natal antecipado, porque isso vai se desenrolar e render patrocínios por pelo menos mais seis meses.

Paticia e Arthur vêem aquilo com nojo, mas também com alívio. Ela se recosta no ombro do marido e suspira (...) Aquele foi o primeiro inimigo que conseguiu. Desligam a televisão e se voltam para a suíte, quando vêem a figura assustada e inerte de Elizabeth no alto da escada, ela perdeu o sono e viu tudo...

- God... Elizabeth, o que está fazendo acordada a esta hora?

- Mommy... O que ele fez com aqueles meninos, mommy?

Patricia se apressa em subir e pegar a menina trêmula. Arthur liga para Los Angeles sabendo que pode estar interrompendo algo muito quente, e está, mas o caso é urgente (...) o vídeo foi ao ar antes de ser editado; rendeu demissões, mas indignou a população e afetou algumas cabecinhas, como a de Elizabeth...

- Puta que pariu! Como está a carinha dela? Deixem ela dormir com vocês, nesta noite, amanhã cedinho eu desço aí... Sol, o vídeo com aquele flagrante que soltaram deu merda!

- Mais?

- Little Betty acordou no meio da noite e viu tudo.

- Caceta! Sou agnóstico, mas... Nossa Senhora de Lourdes, aquilo é pornô pesado! Ela é uma criança!

Na manhã seguinte ambos estão lá, vendo o estrago que aquele pornô pesado da vida real fez à criança. Ela não sabe exactamente o que era aquilo, mas sabe o que ouviu (...) viu sofrimento e lágrimas nos rostos deles...

- É por isso que esta cidade tem tantos cuidados com vocês, minha filha. O mundo lá fora não respeita ninguém, por isso eu te ensino a se defender.

Nancy dispara à Máquina de Costura assim que Richard lhe conta. Vê (...) uma menina assustada e recolhida onde costumava ver sua neta, a expansiva, serelepe e hiper activa Elizabeth. Patricia e Arthur contam que aquilo é como uma faca, que aquele homem usou para ferir, mas que também pode ser usada para preparar o almoço ou cortar fitas para embrulhar um presente. Tudo depende de quem e como utiliza...

- Nós fizemos isso do jeito certo, o jeito bonito pra trazer você ao mundo.

Hoje o trabalho daqueles pais é cuidar de sua caçula. Os outros membros da banda cuidam do serviço da corporação, Bart e Homer cuidam das locações para o próximo documentário, Patricia e Arthur se concentram em Elizabeth. Embora se mantenha firme, com sua face Princess comandando tudo, ela chora por dentro, não conseguiu proteger a filha dentro de casa (...) Não que ela seja uma menina alienada, mas os adultos acertaram que ela não deveria saber o que não precisasse, enquanto não precisasse, essas coisas as ruas de Sunshadow ensinam com bastante propriedade e naturalidade, sem atropelos, não daquela forma grotesca.

Uma grande sorte é a pequena ser muito carinhosa, e a grande colheita agora é ela ter aprendido desde a mais tenra idade em quem deve confiar; a maioria das famílias falha neste ponto. À tarde Richard volta da empresa e a irmã corre como nunca, se agarra ao seu pescoço como se tivesse ventosas nos braços. Quando os amigos vão visitá-la, já sabem que não devem tocar no assunto (...) Kurt, Glenda, Stephanie e Evelyn dizem que Prudence (...) não compreendia sua ausência. Na verdade nem eles, mas sabem que foi por algo grave...

- O homem fez uma coisa muito feia com os meninos, uma coisa muito feia e do jeito errado. Machucou eles.

O subconsciente faz seu trabalho, guarda aos poucos as passagens mais sórdidas para quando for seguro virem à tona, em alguns dias (...) só se lembra de vultos e de uma figura diabólica recebendo o castigo. Zigfrida, Renata e Eddie combinam o que fazer. A sueca ainda tem três ou quatro anos de trabalho pela frente (...) acredita que é tempo suficiente para não perderem o gênio criativo de Elizabeth para o trauma. Como foi com Patricia, vão colocar a menina para trabalhar consigo, isso vai ajudar a canalizar a tempestade de sentimentos que ainda tem na mente. Intensificam as pesquisas para ela ocupar sua cabecinha em algo útil, inclusive a si mesma. Patricia e os Richards começam a lhe ensinar mecânica, para aprender também a se concentrar no que vale à pena (...) no natal ela ganha o Peel P50 que o irmão herdou da mãe. Como se fosse hereditário, ela pega gosto pela graxa.

&

Giovanni, Alice, Belice, Celice, Aubrey e Phoebe. Os garotos ajudam a cuidar da novíssima geração. Elizabeth, Evelyn, Glenda, Stephanie, Kurt e Prudence ajudam a trocar fraldas, colocar para dormir, voltar a dar banho, colocar outra fralda e de novo para dormir, então se sentam para descansar e novamente alguém acorda...

- Sua sobrinha, Betty. Vai lá.

- Sua prima, Glee.

- Eu já troquei ela, é a sua vez.

Felizmente desta vez está limpinha, ela só precisa andar descalça pelo berçário e sacudir a pequenina até ela dormir de novo. Prudence já compreende um pouco do que lhe aconteceu, sabe (...) que já foi considerada uma coisa. Phoebe dorme novamente e Elizabeth se planta diante dos berços, com mãos na cintura, esperando alguém dar piti novamente, então volta às outras e desaba no sofá. Os adultos dão por encerrada a tarefa e eles podem ter um tempo livre. Saem à chocolateria, para repor as energias gastas na labuta.

Ana Clara está lá, entregando um computador devidamente livre de vírus. A sorte é que Audrey não confia piamente em sistemas de informática, só o seu perfil de usuário tem acesso a alterações de documentos, e ela sempre o faz desplugada da internet. As gêmeas não têm dúvidas, se algo começa a sair do controle, puxam o fio da tomada sem dó (...) as meninas resgatadas se adaptaram bem até agora. Prudence se viciou em chocolate e precisa ser contida pelas amigas, por isso sempre lhe dão o mais forte, para se satisfazer mais rápido. Stephanie corre para a mãe assim que ela desocupa...

- E quem disse que você não deu esse trabalho todo, mocinha?

- Eu sujei fraldas, depois de trocar?

- Mil milhões de bilhões de trilhões de vezes! Nem por isso te jogamos fora.

- Mommy! Então eu era uma cagadora profissional?

- Como toda criança naquela idade! Eu também fui, pergunte à Patty. Ela trocou as minhas e até me amamentou.

- Então minha mãe realmente amamentou você?! Estou chocada!

Ela vai ter com a mãe...

- Amamentei as duas, as socorri no meio da noite para a sua avó poder dormir em paz, troquei as fraldas, levei no colo para passear... Eu já era adolescente e grande, quando elas nasceram. Mamãe era muito garota, quando se casou, ela não tinha dezesseis quando eu nasci.

- Woohooo! A vida da família está sendo devassada! Conta mais!

Voltar a ver aquela carinha de super curiosa é um alívio para a mulher. Conta-lhe pela primeira vez sobre Melinda Gonzáles (...) e tudo o que aconteceu depois de ela morrer. Elizabeth fica comovida, pergunta se mais canções têm esse teor histórico, além de “Little Butterfly” e “Resignation”...

- Todas, minha filha. Mesmo as que parecem feitas apenas para dançar, têm alguma história ou função prática, é o que diferencia nossa obra do que a maioria faz. Sou engenheira mecânica, sempre tive uma visão utilitária de praticamente tudo. Não faço algo só porque parece ser legal ou porque todo mundo faz, até um quadro pendurado na parede precisa de conteúdo para se tornar admirado; Um Miró, por exemplo, mexe com o subconsciente que é uma maravilha.

Ela vai à biblioteca e pega um livro de arte (...) Vê com a mãe algumas imagens de quadros de Miró, algumas de página inteira. Vê também Dali, Picasso e Norman Rockwell, alimentando as idéias que fervilham em sua cabecinha acelerada. Ela já pega uma folha de papel pardo (...) Está colocando a mente para trabalhar, embora para ela seja apenas uma brincadeira, mas está trabalhando. Arthur chega de Indiana e é recebido com um “Dad Greg” da pequena, já viu que Patricia contou coisas do passado e ele terá que fornecer sua cota também. A menina fica atiçada e corre para a casa dos avós, para ter mais detalhes constrangedores de seus pais. Nancy e Richard contam entre uma gargalhada e outra. Volta correndo para casa, com mais dúvidas...

- Mommy, afinal quem é esse Elias, além de meu primo, é claro? Aliás, eu falo português, mas nunca estive no Brasil!

Arthur a põe no colo, conta feliz tudo o que ela quer saber. É muito bom para seu coração sensível ver a filha daquele jeito (...) não há um só sunshadower em idade escolar que não fale fluentemente menos de três idiomas. Eles já nascem ouvindo vários, crescem lendo textos em vários, a Dead Train mesma se encarrega disso com os sete idiomas em que já gravou. Em média (...) um adulto nativo é fluente e alphabetizado em seis idiomas. As revistarias da cidade contribuem, têm publicações até de regimes fechados, que as do resto do país não sabem como elas conseguem; só se abastecem nestas colegas de ramo. Faz parte dos segredos de Sunshadow que aquele apresentador não conhece (...) Só a cúpula da organização conhece e administra todos eles.

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