Trauma e recuperação! A estação 113 traz uma lição pouco aprendida, o único lugar seguro é uma mente forte. Concentrem-se no que compensa e embarquem, o trem vai partir.
Audrey faz sua última parada em Sunshadow,
abraçada a Audrey e Melinda, elas com suas pequenas no colo. Ajudou a formar a
mentalidade das duas, as ajudou a ver os artistas sem a lente dos fãs, incutiu
em suas cabeças louras as lições que aprendeu durante a ocupação nazista.
Recebe das autoras seus exemplares devidamente autographados de “Poesias
florais” e “Samantha, a ameba” (...) De certa forma, vendo tanta gente
levando a termo o que prega, começa a ver a morte como o descanso que não se
deu. Sua fundação não é mais a única a carregar o fardo. Volta feliz para Los
Angeles.
Em Sunshadow, deixa na população em geral um
clima de luto, alguns desejando ir no lugar dela. A tristeza só é quebrada pela
estranha cena de Crazy Horse abraçado a uma mulher, com uma criança no braço (...) Sua cara não é bem a de um apaixonado, ele está
visivelmente preocupado e assim chega à chefatura...
- Filha?? Cara, conta essa história direito!
- Bem, tem a ver com o motivo de eu me juntar
ao bando... Eu saí da aldeia fugindo, se é que me entendem... Era a filha do
chefe, eu mandava dinheiro para ela em segredo, depois de me juntar a vocês.
- Então era esse o rolo... Ela é sua filha, é
isso? Cara, cê é mais louco do que eu imaginava!
- Então, Chuck, pode ajudar Golden Feather e Happy
Moon?
- Seu safado, você é um Street Warrior, pode
contar com a gente pra qualquer coisa. Vou ligar pro Ritchie, ele vai resolver
essa parada.
Richard fica pasmo. Vai com Nancy até a casa
onde o apache mora com dois amigos (...) a morte do marido em um acidente aéreo
traumatizou Golden Feather. A pequena Happy Moon quase cai de costas ao ver
aquele homem gigante entrar na sala. O casal fica estupefato, quase chocado,
mas se comove com a história de amor proibido...
- Trabalho não falta, acho que tem uma vaga
da Cuture Train que lhe serviria – diz Nancy.
O índio começa a ficar feliz, gosta daquela
fazenda (...) A vaga de arquivista serve
como uma luva e Golden Feather já começa a trabalhar, Deborah acaba de
encontrar uma caixa com um grande carrossel (...) Uma limpeza básica, lubrificação no mecanismo, os Richards remontam
e ele funciona, tocando o primeiro andamento da Valsa do Imperador. Será fácil
restaurar. Ela tem seguido a cópia do mapa que o sobrinho-neto lhe deu,
enquanto planejam um modo de escavar a marca maior sem demolir a casa.
Happy Moon é encaminhada à fundação (...) enquanto Crazy Horse conta
detalhes do romance acidental com a falecida. Daria uma comédia romântica, não
fosse o desfecho trágico...
- Eu visitava ela sempre que podia, mas em
segredo. Vi pouco o crescimento da Golden Feather, só soube do casamento quando
ela voltou da lua de mel, mas continuei ajudando, principalmente depois que nos
instalamos em Sunshadow.
- Por isso você nunca conseguiu fazer uma
poupança – diz Patricia.
- Para quê poupança? Tenho vocês, não preciso
de luxos, não me preocupo com o futuro. O que me preocupava eram os problemas
do presente, com todas as dificuldades que elas enfrentaram. Mas agora acredito
que minha filha consegue andar sozinha, mas farei uma poupança para minha neta.
Apesar de tudo, estou feliz, minha linhagem está segura em Sunshadow.
- Ela é tão doida quanto você ou se controla?
O apache ri desatadamente de Rebeca (...) mas não pode garantir que não começará a dar
coices e sair pulando pelo mundo, como ele fez. Um vento mais forte assopra as
primeiras folhas descoloridas, anunciando a proximidade do outono. Com ele vêm
as contrações e Silvia dá à luz Giovanni, seguido em poucos dias pelas trigêmeas
Alice, Belice e Celice; Elon brincou (...) Karen
levou à sério e registrou. Vovô Enzo é carregado pelos cúmplices ao redor da
casa. Enquanto Enzo e Maria visitam as bisnetas, Marina e Victoria levam Nina e
Lola para conhecerem o primeiro menino da família desde 1946.
&
Prendem o filho do pastor que tentou agredir
Patricia. A prisão é humilhante, ele foi flagrado em um motel abusando de
meninos de oito a dez anos. O argumento do advogado de que “Foi tudo uma
armação de satanás para calar um homem santo (...)” não colou. A quantidade
de inimigos que cultivou, fez a fita com a gravação da prisão valer o risco de
um processo, agora o episódio de filme pornô clandestino de baixo orçamento é
exibido em rede nacional de televisão. O pai dele infarta e bate as botas no
meio do culto em que bradava contra a liberdade sexual (...) a
imprensa tem seu presente de natal antecipado, porque isso vai se desenrolar e
render patrocínios por pelo menos mais seis meses.
Paticia e Arthur vêem aquilo com nojo, mas
também com alívio. Ela se recosta no ombro do marido e suspira (...) Aquele foi o primeiro
inimigo que conseguiu. Desligam a televisão e se voltam para a suíte, quando
vêem a figura assustada e inerte de Elizabeth no alto da escada, ela perdeu o
sono e viu tudo...
- God... Elizabeth, o que está fazendo
acordada a esta hora?
- Mommy... O que ele fez com aqueles meninos,
mommy?
Patricia se apressa em subir e pegar a menina
trêmula. Arthur liga para Los Angeles sabendo que pode estar interrompendo algo
muito quente, e está, mas o caso é urgente (...) o vídeo foi ao ar antes de ser editado; rendeu demissões, mas
indignou a população e afetou algumas cabecinhas, como a de Elizabeth...
- Puta que pariu! Como está a carinha dela?
Deixem ela dormir com vocês, nesta noite, amanhã cedinho eu desço aí... Sol, o
vídeo com aquele flagrante que soltaram deu merda!
- Mais?
- Little Betty acordou no meio da noite e viu
tudo.
- Caceta! Sou agnóstico, mas... Nossa Senhora
de Lourdes, aquilo é pornô pesado! Ela é uma criança!
Na manhã seguinte ambos estão lá, vendo o
estrago que aquele pornô pesado da vida real fez à criança. Ela não sabe exactamente
o que era aquilo, mas sabe o que ouviu (...) viu sofrimento e lágrimas nos rostos deles...
- É por isso que esta cidade tem tantos
cuidados com vocês, minha filha. O mundo lá fora não respeita ninguém, por isso
eu te ensino a se defender.
Nancy dispara à Máquina de Costura assim que
Richard lhe conta. Vê (...) uma menina assustada e recolhida onde costumava ver sua neta, a
expansiva, serelepe e hiper activa Elizabeth. Patricia e Arthur contam que
aquilo é como uma faca, que aquele homem usou para ferir, mas que também pode
ser usada para preparar o almoço ou cortar fitas para embrulhar um presente.
Tudo depende de quem e como utiliza...
- Nós fizemos isso do jeito certo, o jeito
bonito pra trazer você ao mundo.
Hoje o trabalho daqueles pais é cuidar de sua
caçula. Os outros membros da banda cuidam do serviço da corporação, Bart e
Homer cuidam das locações para o próximo documentário, Patricia e Arthur se
concentram em Elizabeth. Embora se mantenha firme, com sua face Princess
comandando tudo, ela chora por dentro, não conseguiu proteger a filha dentro de
casa (...) Não que ela seja uma menina alienada, mas os
adultos acertaram que ela não deveria saber o que não precisasse, enquanto não
precisasse, essas coisas as ruas de Sunshadow ensinam com bastante propriedade
e naturalidade, sem atropelos, não daquela forma grotesca.
Uma grande sorte é a pequena ser muito
carinhosa, e a grande colheita agora é ela ter aprendido desde a mais tenra
idade em quem deve confiar; a maioria das famílias falha neste ponto. À tarde
Richard volta da empresa e a irmã corre como nunca, se agarra ao seu pescoço
como se tivesse ventosas nos braços. Quando os amigos vão visitá-la, já sabem
que não devem tocar no assunto (...) Kurt, Glenda, Stephanie e Evelyn dizem que
Prudence (...) não compreendia sua ausência. Na
verdade nem eles, mas sabem que foi por algo grave...
- O homem fez uma coisa muito feia com os
meninos, uma coisa muito feia e do jeito errado. Machucou eles.
O subconsciente faz seu trabalho, guarda aos
poucos as passagens mais sórdidas para quando for seguro virem à tona, em
alguns dias (...) só se lembra de vultos e
de uma figura diabólica recebendo o castigo. Zigfrida, Renata e Eddie combinam
o que fazer. A sueca ainda tem três ou quatro anos de trabalho pela frente (...) acredita que é tempo suficiente para não
perderem o gênio criativo de Elizabeth para o trauma. Como foi com Patricia,
vão colocar a menina para trabalhar consigo, isso vai ajudar a canalizar a
tempestade de sentimentos que ainda tem na mente. Intensificam as pesquisas
para ela ocupar sua cabecinha em algo útil, inclusive a si mesma. Patricia e os
Richards começam a lhe ensinar mecânica, para aprender também a se concentrar
no que vale à pena (...) no natal ela
ganha o Peel P50 que o irmão herdou da mãe. Como se fosse hereditário, ela pega
gosto pela graxa.
&
Giovanni, Alice, Belice, Celice, Aubrey e
Phoebe. Os garotos ajudam a cuidar da novíssima geração. Elizabeth, Evelyn,
Glenda, Stephanie, Kurt e Prudence ajudam a trocar fraldas, colocar
para dormir, voltar a dar banho, colocar outra fralda e de novo para dormir,
então se sentam para descansar e novamente alguém acorda...
- Sua sobrinha, Betty. Vai lá.
- Sua prima, Glee.
- Eu já troquei ela, é a sua vez.
Felizmente desta vez está limpinha, ela só
precisa andar descalça pelo berçário e sacudir a pequenina até ela dormir de
novo. Prudence já compreende um pouco do que lhe aconteceu, sabe (...) que já foi considerada
uma coisa. Phoebe dorme novamente e Elizabeth se planta diante dos berços, com
mãos na cintura, esperando alguém dar piti novamente, então volta às outras e
desaba no sofá. Os adultos dão por encerrada a tarefa e eles podem ter um tempo
livre. Saem à chocolateria, para repor as energias gastas na labuta.
Ana Clara está lá, entregando um computador
devidamente livre de vírus. A sorte é que Audrey não confia piamente em
sistemas de informática, só o seu perfil de usuário tem acesso a alterações de
documentos, e ela sempre o faz desplugada da internet. As gêmeas não têm
dúvidas, se algo começa a sair do controle, puxam o fio da tomada sem dó (...) as meninas
resgatadas se adaptaram bem até agora. Prudence se viciou em chocolate e
precisa ser contida pelas amigas, por isso sempre lhe dão o mais forte, para se
satisfazer mais rápido. Stephanie corre para a mãe assim que ela desocupa...
- E quem disse que você não deu esse trabalho
todo, mocinha?
- Eu sujei fraldas, depois de trocar?
- Mil milhões de bilhões de trilhões de
vezes! Nem por isso te jogamos fora.
- Mommy! Então eu era uma cagadora
profissional?
- Como toda criança naquela idade! Eu também
fui, pergunte à Patty. Ela trocou as minhas e até me amamentou.
- Então minha mãe realmente amamentou você?!
Estou chocada!
Ela vai ter com a mãe...
- Amamentei as duas, as socorri no meio da
noite para a sua avó poder dormir em paz, troquei as fraldas, levei no colo
para passear... Eu já era adolescente e grande, quando elas nasceram. Mamãe era
muito garota, quando se casou, ela não tinha dezesseis quando eu nasci.
- Woohooo! A vida da família está sendo
devassada! Conta mais!
Voltar a ver aquela carinha de super curiosa
é um alívio para a mulher. Conta-lhe pela primeira vez sobre Melinda Gonzáles (...) e tudo o que aconteceu depois de ela morrer. Elizabeth fica comovida,
pergunta se mais canções têm esse teor histórico, além de “Little Butterfly” e
“Resignation”...
- Todas, minha filha. Mesmo as que parecem
feitas apenas para dançar, têm alguma história ou função prática, é o que
diferencia nossa obra do que a maioria faz. Sou engenheira mecânica, sempre
tive uma visão utilitária de praticamente tudo. Não faço algo só porque parece
ser legal ou porque todo mundo faz, até um quadro pendurado na parede precisa
de conteúdo para se tornar admirado; Um Miró, por exemplo, mexe com o
subconsciente que é uma maravilha.
Ela vai à biblioteca e pega um livro de arte (...) Vê com a mãe algumas imagens de quadros de
Miró, algumas de página inteira. Vê também Dali, Picasso e Norman Rockwell,
alimentando as idéias que fervilham em sua cabecinha acelerada. Ela já pega uma
folha de papel pardo (...) Está colocando a mente para trabalhar, embora para ela seja
apenas uma brincadeira, mas está trabalhando. Arthur chega de Indiana e é
recebido com um “Dad Greg” da pequena, já viu que Patricia contou coisas do
passado e ele terá que fornecer sua cota também. A menina fica atiçada e corre
para a casa dos avós, para ter mais detalhes constrangedores de seus pais.
Nancy e Richard contam entre uma gargalhada e outra. Volta correndo para casa,
com mais dúvidas...
- Mommy, afinal quem é esse Elias, além de
meu primo, é claro? Aliás, eu falo português, mas nunca estive no Brasil!
Arthur a põe no colo, conta feliz tudo o que
ela quer saber. É muito bom para seu coração sensível ver a filha daquele
jeito (...) não há um só
sunshadower em idade escolar que não fale fluentemente menos de três idiomas. Eles
já nascem ouvindo vários, crescem lendo textos em vários, a Dead Train mesma se
encarrega disso com os sete idiomas em que já gravou. Em média (...) um adulto nativo é fluente e
alphabetizado em seis idiomas. As revistarias da cidade contribuem, têm
publicações até de regimes fechados, que as do resto do país não sabem como
elas conseguem; só se abastecem nestas colegas de ramo. Faz parte dos segredos
de Sunshadow que aquele apresentador não conhece (...) Só a cúpula da organização conhece e
administra todos eles.
0 comentários:
Postar um comentário