Aflições no paraíso! A estação 117 mostra que mesmo as coisas boas, se fogem ao controle, podem causar transtornos. Embarquem com serenidade, o trem vai partir.
Patricia e os Richards terminam de instalar
as novíssimas baterias alcalinas no ônibus da banda (...) São baterias caríssimas de íons de lítio, pouco conhecidas
do público, mas agora ele tem o triplo da autonomia e modernos motores
integrados às rodas dianteiras. O velho Coach tem sido um laboratório
maravilhoso...
- Sim, ainda são extremamente caras, Bobby.
Mas somos bilionários, podemos arcar com este capricho, é para isso que serve o
dinheiro. Galera, vou tomar um banho e a gente dá um passeio nele.
O passeio é um desbunde, vão à Lansing,
voltam e vão à Summerfields, então voltam para Sunshadow, média de 50MPH,
sempre usando as baterias. Os seis disparam para seus blogs...
- Nosso ônibus recebeu um up grade, baterias
de última geração agora ajudam o velho motor marítimo...
- Não sei direito o que a Patty fez, mas o
nosso ônibus ficou uma delícia com essas baterias...
- Cantar pneus com motor eléctrico é demais!
A gente tem novidades no ônibus da banda...
- Sabem aqueles ônibus de brinquedo que
imitam o nosso? Agora o nosso imita eles...
- Me acostumei a comprar pilha para os
brinquedos da Karen, agora trocamos também as do ônibus, ficou chocante...
- Gastamos uma nota preta para modernizar
nosso ônibus, com baterias que nem estão no mercado ainda, mas um rico que não
fomenta o progresso geral, não serve para nada...
Patricia, Renata, Rebeca, Ronald, Enzo e
Robert escrevem quase ao mesmo tempo. O comentário sobre os ricos gera
polêmica, muitos se revoltam e Robert afirma que indenizará com prazer quem
provar que feriu a constituição (...) Dead Train não incomoda porque quer, incomoda porque é incômodo.
A população não se esquece do atentado (...) Judith só fica sabendo hoje,
novamente por um jornal que vai para a reciclagem. Se lembra muito bem da
colega de nariz empinado, de sua pose natural de poderosa, dos garotos que
esnobou na escola, sempre hesitou em bater de frente com ela, agora então é que
não levanta nem os olhos para ela. Tem medo de ser explodida por agentes
escondidos. Volta à sua rotina, despacha o carregamento e entrega o cheque para
a coordenadora. Ela nota um tom de medo no rosto da moça...
- Bem, eu só conversei com ela uma vez e
percebi uma autoridade muito forte.
- Você não faz idéia do que é ver a Patty
furiosa! Ela muda completamente, vira um general!
- Já ouvi falar de algo assim, mas do jeito
que fala parece ser exagero.
- Mas não é. Desculpem interromper a conversa,
mas precisei vir a Milwaukee e decidi ver como nossa amiga está se saindo. Olá,
Judith.
Pavor (...) Na época
da escola a diferença de estaturas era nítida, agora ela só consegue ver a
menininha mandona pressionando a nuca no dorso. O que não mudou é ela estar
absolutamente maravilhosa, uma mulher ao lado de quem nenhuma outra fica
bonita. As parceiras de banda já se acostumaram a isso. Patricia se encarrega
de debelar o clima de pavor, ela diz que está feliz com os progressos, confessa
que não esperava que fosse uma surpresa tão boa (...) Não fica muito mais (...) só o suficiente para deixar claro que está de olho, mas
está satisfeita com a mudança de atitude. Entrega a chave do ônibus novo ao
albergue e se vai. Deixa para trás alguém que parece ter visto um alien. Aliás,
muita gente agora tem certeza de que ela é.
Os fomentos que ela promove ao progresso caem
nas graças dos ufólogos, mas justo a intensidade e a constância com que o faz,
lhes dá certeza de que ela tem algum canal mental directo com a base estrelar (...) Acumularam um material muito
extenso, acreditam que já é hora de divulgar de forma mais eficiente, um deles
conhece um cientista também ufólogo, que é bastante carismático e consegue não
ser chato. Pensam em um programa semanal de televisão (...) Só que entre eles
agora há vários ghost drivers da legião comandada por Julia...
- Um programa de televisão? Isso é bom! Isso
é muito bom! Valeu, gente, vou falar com o Tobby sobre o meu primeiro programa.
Ele fica feliz. Desconfiado, mas feliz.
Tirará uma semana de férias (...) por isso mesmo dá total liberdade à sua sucessora. Ela começa a planejar um
programa variado, mas com ênfase para os ufólogos a quem convida no mesmo
dia...
- A gente vai aparecer no Boa Noite Mundo!
É uma festa. Os espiões de Bird lhe transmitem
as reações e ela as repassa para Princess...
- Meu Deus... Eu não acredito! Encrenquinha,
você vai debutar no comando do programa! A gente tem que comemorar isso!
Chama os outros e improvisa uma festa. Julia
tem (...) muita
pauta engatilhada, praticamente pronta, os ufólogos é que estão em pânico, sem
saber o que falar nos quinze minutos que terão. Apelam para aquele cientista
carismático que há muito tempo espera por uma chance.
&
Rebeca fica satisfeita com o relato da amiga (...) Descem à sala e começam a fazer as tramas para o resto do
ano. As crianças estão todas no ambiente, para aprenderem desde cedo que mesmo
as profissões mais legais têm suas partes chatas, e que devem se acostumar a
elas. Uma canastrona em busca de fama fácil está processando Renata por plágio,
por causa da competente escolha de sua indumentária, seus modos femininos e sua
bela cabeleira ondulada; tudo o que todos ali conhecem desde de que Patricia a
apresentou à cidade. Prudence acha este mundo cada vez mais estranho e cruel.
Concluem a primeira parte e vão cuidar de suas crias, para espairecer.
Bem perto dali, Nancy começa a ensinar seu
ofício a Stephanie (...) começa com “Se quer ajudar, não tenha pena, tenha
respeito”. Apresenta-lhe e deixa à inteira disposição, exemplares de todos os
livros em que estudou para o magistério (...) Fica feliz por ter a quem passar seu bastão, estava já conformada em
ver a tradição da família descontinuada. Avisa de cara que doravante terá que
carregar pedras morro acima todos os dias, para estar pronta para enfrentar sua
primeira sala de aula...
- Então, escolha um livro e vamos devorá-lo.
- Pode ser o de música?
- Tanto faz, o que você preferir. É o seu
destino, é você quem o escolhe.
Começa a treinar sua sucessora com teoria e
prática aplicadas quase simultaneamente. A pequena recebe em uma hora mais
conteúdo do que está acostumada a receber em uma semana de aulas normais. Volta
para casa com a cabeça cheia, meditando (...) Encontra a mãe no meio do caminho e a acompanha à chocolateria...
- Mommy, eu estava com a vovó... Conversei
umas coisas com ela.
- Você e mamãe estão virando dois grudes. Que
assunto interminável é esse de vocês?
- É que eu decidi o que quero da vida e ela
tá me ajudando.
- Tão cedo? Tem certeza de que já sabe o que
quer da vida? Na sua idade eu só queria aprontar com a Mel.
- Mas a vovó me mostrou um caminho e ele
coube direitinho nos meus pés.
- Que poeminha lindo! Que caminho inspirador
é esse... Ah, peraí! Você começou a carregar pedras morro acima?
- É. Eu quero ser professora e ela me imbuiu
de certas responsabilidades...
- Eu não acredito! Você vai seguir os passos
da mommy!
Pega a filha nos braços e corre dançando com
ela, até chegarem à chocolateria, de onde liga para todo mundo a avisar que sua
filhota (...) começou a tomar jeito
na vida. À noite fazem uma festa, como um rito de passagem precoce para a vida
adulta, que durará alguns anos, mas a decisão firme de Stephanie a coloca em
vantagem (...) que, sabe bem sua
família, a fará ter vida de bailaria, terá que andar altiva e com graça, mesmo
sentindo dor e suportando uma carga enorme, que a acompanharão pelo resto da
vida...
- Arthur, é impressão minha ou essas crianças
estão crescendo rápido demais? Não é só a Phee, são todas elas!
- Well, honey... Estão sim!
- ... Eu quero minhas filhas... Betty!
Proo! Come to mom!
As duas aparecem com livros de língua
inglesa (...) Patricia as pega, balança e as leva para o coreto, onde as deixa relaxar e se
darem conta de que ainda são crianças. Marcia enfrenta dificuldades muito maiores
com Phoebe.
&
Zigfrida reúne sua equipe para a última fase
das pesquisas, isso inclui Renata, Eddie e Marcia (...) Começam lendo um resumo que a sueca
fez destes anos todos. As conclusões não dão muita margem para interpretações, mas
ela sabe que inventarão alguma assim mesmo. Em absolutamente nenhuma família as
crianças demonstravam qualquer sinal de castração, pelo contrário, há casos
como o de Stephanie (...) que assumem
publicamente o desejo de uma vida que não lhes dará glória, reconhecimento e
provavelmente também não lhes deixará ricos (...) Terminam a leitura e começam a planejar o próximo passo...
- Agora vamos elaborar o livro. Quero lançar
até o fim do ano, antes de a neve cair, pra isso a gente terá que se encontrar
muitas vezes, entre um show e outro da Rê...
Não pretendem lançar um best seller, será um
espesso compêndio elaborado com metodologia científica, para ser esfregado nas
caras dos intelectuais de ar condicionado (...) Para a organização ela dá notícias excelentes (...) Sunshadow, como está hoje, poderia ser toda uma sede da
inteligência independente.
Star fica muito feliz com o relatório, é uma
das melhores primaveras que a organização já teve. Autoriza o início da
operações para lançamento do livro “Open Sunshadow”, encarregará Doom de fazer
a campanha publicitária (...) Por agora quer ver como
Bird o substitui, inclusive com a entrevista ao tal ufólogo com amplo
embasamento científico. Ligam o televisor a tempo de pegarem a abertura...
- Boa noite, mundo! Eu sou Julia Foster e estou
substituindo o Tobby McGinnes, enquanto ele viaja de férias. Vejam, minha própria
caneca... O programa de hoje traz gente que não é exatacmente nova, mas começou
a dar lucro com polêmicas, como os steampunks, os wiccanos, os veganos e os
ufólogos...
Começa com o programa em seu indefectível
terninho Chanel ocre. A festiva entrevista com os steampunks rende alguns
presentes de seu estilo, com os wiccanos rende algmas bênçãos celtas para o
programa (de um ateu) e a própria Julia, com os veganos a coisa pesa, eles
começam perguntando se aquele café é orgânico e citam na roupa dela os crimes
cometidos contra os animais (...) Antes do
intervalo, solta bem ao estilo Tobby “Não adianta você ter as melhores
intenções, se ser chato e apontar o dedo é o seu método de abordagem, as
pessoas vão rejeitar a sua causa”. Após os comerciais, com seis preciosos
minutos a mais, pela abreviação da entrevista anterior, é a vez do ufólogo...
- Boa noite, estou ansiosa para saber,
afinal, como você entrou nessa de ufologia?
- Boa noite, Julia. Muito obrigado pelo
espaço. Eu comecei ainda na adolescência, quando tinha mais perguntas do que
respostas, e quando as respostas oficiais não eram mais suficientes para mim.
- Oh, a adolescência! Por que tanta gente a
desperdiça?
- Eu também sou fã do Dead Train, ouvindo as
canções da banda me fiz essa mesma pergunta, vendo amigos se conformando com a
visão estreita que os noticiários oficiais nos impõe.
- Comecei a gostar de você. Continue.
Ele não consegue convertê-la às suas idéias,
mas consegue seu respeito (...) Como
Patricia é um dos alvos das investigações do grupo, toda Sunshadow está vendo a
entrevista. Algumas das coisas que ele diz parecem maluquices, mas (...) as queixas contra os órgãos governamentais procedem, Julia
sabe que procedem. Ela coça o alto da testa com o indicador direito e o desliza
até o nariz, olhando de lado para o entrevistado. É a senha para os comparsas,
aquele homem pode ser útil (...) Star concorda (...) Doom está vendo, também concorda e está orgulhoso de sua
monstrinha, ela já está pronta para substituí-lo, quando ele morrer.
Patricia vai para a cama com uma noção mais
precisa de que tipo de malucos são eles, só precisará mantê-los monitorados e
não se preocupar. Mais ghost drivers se interessaram pelo assunto e
aproveitarão para se infiltrarem no grupo deles (...) para, como eles dizem, proteger sua rainha de neuras
desnecessárias.
&
- Chega, mocinha! Não quero ouvir um piu!
Enquanto não aprender a se comportar, não vai ter colo, nem doces, nem coisa
nenhuma!
Ele se afasta, de coração partido, mas sabe
que precisa manter a cara de durão (...) As funcinárias do orfanato agradecem pela intervenção, apesar de às
vezes se assustarem com o rigor de Elias. Ele lacrimeja, antes de voltar para
casa, mas sabe que amanhã aquela menina atrevida estará melhor consigo mesma (...) Renata trata de compartilhar a ligação
com Patricia, quando sabe disso...
- Cara, ele é mais parecido com você do que
comigo, que sou parente próxima!
- Woooow! Elias, é Patricia!
Ele treme um pouco. Já tinha se acostumado à
prima (...) mas ele nunca esperava uma
conversa com a líder da banda, da cidade e sabe-se lá do quê mais. Os três se
falam por não mais do que dez minutos (...) mas Patricia sai com algumas boas impressões do afilhado, e
algumas preocupações também. Vai à casa da comadre falar do tom de voz dele,
olha para trás e vê dois pares de perninhas a segui-la...
- Eu não vou fazer uma visita recreativa, o
tema será bem chato.
Elas querem ir assim mesmo. São colocadas no
banco de balanço da varanda, enquanto as adultas tratam do tom de voz do rapaz,
que era de uma melancolia de dar dó. Não lhes parecia ser só pelo episódio (...) não havia embargo...
- A depressão dele é muito parecida com a
sua, a cara de mártir que ele faz é quase tão assustadora quanto a sua. Veja
estas photos, que minha mãe tirou sem ele perceber.
- Ele tá sofrendo, Rê.
- Tá. Tem coisa que não dá pra consertar, tem
coisa que dá, vamos focar esta.
Lá fora as duas fingem conversar sobre a
revista de moda (...) Sabem que
o primo distante está com problemas, só não discerniram o quê. Patricia as
chama...
- Venham aqui, xeretas... Antes que comecem a
fantasiar o que não devem, vou contar o que aconteceu. Eu conversei com seu
primo, ele está numa fase muito difícil...
- ENTÃO ELE EXISTE!
Finalmente algo para arrancar risos (...) Prudence aliviou, mas elas (...) não têm maturidade para digerir algumas coisas, limitação que
Phoebe já não tem...
- Quando vovó tá deprimida, eu chego, sento
no colo dela, abraço ela e fico quieta, aí ela melhora.
- Certo, é assim que se faz... Mas você já
discernir tão bem algo tão delicado, me assusta. Com esta cara de adolescente e
a mesma voz desde os nove anos, não sei se você vai me levar à sério.
Conversa com seu toquinho de gente no colo (...) Richard chega da frutaria e vê a cena cada vez mais
comum...
- Amada, preocupada de novo com isso?
- Não tem como não, amado. Esta menina está
mais madura do que a Betty... Eu não quero que ela vá embora cedo demais!
- Mas eu não vou! Pra onde eu iria? Eu moro
aqui!
- Você está pior do que mamãe, está sofrendo
muito antes da hora. Ouça a baixinha, ela sabe que é uma criança, ainda vai nos
dar trabalho por muitos anos. Desta vez vou chamar a sua mãe...
Vão pois as duas avós com as duas bisbilhoteiras.
Elas às vezes também se sentem meio crianças perto da sobrinha (...) É preciso Renata fazer algumas cócegas na menina,
para a aflita ver que ela ainda é e se comporta como uma criança (...) a mediunidade da filha está atrapalhando bastante, porque ela vê o
quanto aquele bebê é evoluído. Fosse só a precocidade, saberia lidar, mas a
autoridade moral de Phoebe intimida Marcia. Patricia a pega no colo e canta a
música que fez para Richard, quando ele começou a ficar muito mais alto do que
os outros garotos de sua idade...
-
Don’t grow up too fast, my baby. Don’t walk on before I can give other hug...
Ele se lembra. A mãe insistia em lhe abraçar
e colocar sua cabeça no ombro (...) Agora,
mesmo com as irmãs nos braços, vai acolher a cabeça da mãe, como há muitos anos
tem sido. Phoebe ainda tem o tamanho de uma criança na primeira infância, mas
depois dos seis ou sete anos... Melhor não sofrer antes da hora, basta a
esposa.
No dia seguinte, uma quinta-feira com a
frente da casa cheia de folhas secas e uma borboleta morta, Renata vai com os
outros para mais uma viagem lúgubre (...) Elizabeth Montgomery é sepultada sob o
olhar de mártir de Patricia, que se lembra do último conselho, quase uma ordem
de Audrey Hepburn. Leva todos os dezessete para um check-up, mesmo Madeleine
protestando, por já ter sido furada e invadida em exames médicos há pouco
tempo.
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