terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Dead Train in the rain CXVII

    Aflições no paraíso! A estação 117 mostra que mesmo as coisas boas, se fogem ao controle, podem causar transtornos. Embarquem com serenidade, o trem vai partir.


Patricia e os Richards terminam de instalar as novíssimas baterias alcalinas no ônibus da banda (...) São baterias caríssimas de íons de lítio, pouco conhecidas do público, mas agora ele tem o triplo da autonomia e modernos motores integrados às rodas dianteiras. O velho Coach tem sido um laboratório maravilhoso...

- Sim, ainda são extremamente caras, Bobby. Mas somos bilionários, podemos arcar com este capricho, é para isso que serve o dinheiro. Galera, vou tomar um banho e a gente dá um passeio nele.

O passeio é um desbunde, vão à Lansing, voltam e vão à Summerfields, então voltam para Sunshadow, média de 50MPH, sempre usando as baterias. Os seis disparam para seus blogs...

- Nosso ônibus recebeu um up grade, baterias de última geração agora ajudam o velho motor marítimo...

- Não sei direito o que a Patty fez, mas o nosso ônibus ficou uma delícia com essas baterias...

- Cantar pneus com motor eléctrico é demais! A gente tem novidades no ônibus da banda...

- Sabem aqueles ônibus de brinquedo que imitam o nosso? Agora o nosso imita eles...

- Me acostumei a comprar pilha para os brinquedos da Karen, agora trocamos também as do ônibus, ficou chocante...

- Gastamos uma nota preta para modernizar nosso ônibus, com baterias que nem estão no mercado ainda, mas um rico que não fomenta o progresso geral, não serve para nada...

Patricia, Renata, Rebeca, Ronald, Enzo e Robert escrevem quase ao mesmo tempo. O comentário sobre os ricos gera polêmica, muitos se revoltam e Robert afirma que indenizará com prazer quem provar que feriu a constituição (...) Dead Train não incomoda porque quer, incomoda porque é incômodo.

A população não se esquece do atentado (...) Judith só fica sabendo hoje, novamente por um jornal que vai para a reciclagem. Se lembra muito bem da colega de nariz empinado, de sua pose natural de poderosa, dos garotos que esnobou na escola, sempre hesitou em bater de frente com ela, agora então é que não levanta nem os olhos para ela. Tem medo de ser explodida por agentes escondidos. Volta à sua rotina, despacha o carregamento e entrega o cheque para a coordenadora. Ela nota um tom de medo no rosto da moça...

- Bem, eu só conversei com ela uma vez e percebi uma autoridade muito forte.

- Você não faz idéia do que é ver a Patty furiosa! Ela muda completamente, vira um general!

- Já ouvi falar de algo assim, mas do jeito que fala parece ser exagero.

- Mas não é. Desculpem interromper a conversa, mas precisei vir a Milwaukee e decidi ver como nossa amiga está se saindo. Olá, Judith.

Pavor (...) Na época da escola a diferença de estaturas era nítida, agora ela só consegue ver a menininha mandona pressionando a nuca no dorso. O que não mudou é ela estar absolutamente maravilhosa, uma mulher ao lado de quem nenhuma outra fica bonita. As parceiras de banda já se acostumaram a isso. Patricia se encarrega de debelar o clima de pavor, ela diz que está feliz com os progressos, confessa que não esperava que fosse uma surpresa tão boa (...) Não fica muito mais (...) só o suficiente para deixar claro que está de olho, mas está satisfeita com a mudança de atitude. Entrega a chave do ônibus novo ao albergue e se vai. Deixa para trás alguém que parece ter visto um alien. Aliás, muita gente agora tem certeza de que ela é.

Os fomentos que ela promove ao progresso caem nas graças dos ufólogos, mas justo a intensidade e a constância com que o faz, lhes dá certeza de que ela tem algum canal mental directo com a base estrelar (...) Acumularam um material muito extenso, acreditam que já é hora de divulgar de forma mais eficiente, um deles conhece um cientista também ufólogo, que é bastante carismático e consegue não ser chato. Pensam em um programa semanal de televisão (...) Só que entre eles agora há vários ghost drivers da legião comandada por Julia...

- Um programa de televisão? Isso é bom! Isso é muito bom! Valeu, gente, vou falar com o Tobby sobre o meu primeiro programa.

Ele fica feliz. Desconfiado, mas feliz. Tirará uma semana de férias (...) por isso mesmo dá total liberdade à sua sucessora. Ela começa a planejar um programa variado, mas com ênfase para os ufólogos a quem convida no mesmo dia...

- A gente vai aparecer no Boa Noite Mundo!

É uma festa. Os espiões de Bird lhe transmitem as reações e ela as repassa para Princess...

- Meu Deus... Eu não acredito! Encrenquinha, você vai debutar no comando do programa! A gente tem que comemorar isso!

Chama os outros e improvisa uma festa. Julia tem (...) muita pauta engatilhada, praticamente pronta, os ufólogos é que estão em pânico, sem saber o que falar nos quinze minutos que terão. Apelam para aquele cientista carismático que há muito tempo espera por uma chance.

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Rebeca fica satisfeita com o relato da amiga (...) Descem à sala e começam a fazer as tramas para o resto do ano. As crianças estão todas no ambiente, para aprenderem desde cedo que mesmo as profissões mais legais têm suas partes chatas, e que devem se acostumar a elas. Uma canastrona em busca de fama fácil está processando Renata por plágio, por causa da competente escolha de sua indumentária, seus modos femininos e sua bela cabeleira ondulada; tudo o que todos ali conhecem desde de que Patricia a apresentou à cidade. Prudence acha este mundo cada vez mais estranho e cruel. Concluem a primeira parte e vão cuidar de suas crias, para espairecer.

Bem perto dali, Nancy começa a ensinar seu ofício a Stephanie (...) começa com “Se quer ajudar, não tenha pena, tenha respeito”. Apresenta-lhe e deixa à inteira disposição, exemplares de todos os livros em que estudou para o magistério (...) Fica feliz por ter a quem passar seu bastão, estava já conformada em ver a tradição da família descontinuada. Avisa de cara que doravante terá que carregar pedras morro acima todos os dias, para estar pronta para enfrentar sua primeira sala de aula...

- Então, escolha um livro e vamos devorá-lo.

- Pode ser o de música?

- Tanto faz, o que você preferir. É o seu destino, é você quem o escolhe.

Começa a treinar sua sucessora com teoria e prática aplicadas quase simultaneamente. A pequena recebe em uma hora mais conteúdo do que está acostumada a receber em uma semana de aulas normais. Volta para casa com a cabeça cheia, meditando (...) Encontra a mãe no meio do caminho e a acompanha à chocolateria...

- Mommy, eu estava com a vovó... Conversei umas coisas com ela.

- Você e mamãe estão virando dois grudes. Que assunto interminável é esse de vocês?

- É que eu decidi o que quero da vida e ela tá me ajudando.

- Tão cedo? Tem certeza de que já sabe o que quer da vida? Na sua idade eu só queria aprontar com a Mel.

- Mas a vovó me mostrou um caminho e ele coube direitinho nos meus pés.

- Que poeminha lindo! Que caminho inspirador é esse... Ah, peraí! Você começou a carregar pedras morro acima?

- É. Eu quero ser professora e ela me imbuiu de certas responsabilidades...

- Eu não acredito! Você vai seguir os passos da mommy!

Pega a filha nos braços e corre dançando com ela, até chegarem à chocolateria, de onde liga para todo mundo a avisar que sua filhota (...) começou a tomar jeito na vida. À noite fazem uma festa, como um rito de passagem precoce para a vida adulta, que durará alguns anos, mas a decisão firme de Stephanie a coloca em vantagem (...) que, sabe bem sua família, a fará ter vida de bailaria, terá que andar altiva e com graça, mesmo sentindo dor e suportando uma carga enorme, que a acompanharão pelo resto da vida...

- Arthur, é impressão minha ou essas crianças estão crescendo rápido demais? Não é só a Phee, são todas elas!

- Well, honey... Estão sim!

- ... Eu quero minhas filhas... Betty! Proo! Come to mom!

As duas aparecem com livros de língua inglesa (...) Patricia as pega, balança e as leva para o coreto, onde as deixa relaxar e se darem conta de que ainda são crianças. Marcia enfrenta dificuldades muito maiores com Phoebe.

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Zigfrida reúne sua equipe para a última fase das pesquisas, isso inclui Renata, Eddie e Marcia (...) Começam lendo um resumo que a sueca fez destes anos todos. As conclusões não dão muita margem para interpretações, mas ela sabe que inventarão alguma assim mesmo. Em absolutamente nenhuma família as crianças demonstravam qualquer sinal de castração, pelo contrário, há casos como o de Stephanie (...) que assumem publicamente o desejo de uma vida que não lhes dará glória, reconhecimento e provavelmente também não lhes deixará ricos (...) Terminam a leitura e começam a planejar o próximo passo...

- Agora vamos elaborar o livro. Quero lançar até o fim do ano, antes de a neve cair, pra isso a gente terá que se encontrar muitas vezes, entre um show e outro da Rê...

Não pretendem lançar um best seller, será um espesso compêndio elaborado com metodologia científica, para ser esfregado nas caras dos intelectuais de ar condicionado (...) Para a organização ela dá notícias excelentes (...) Sunshadow, como está hoje, poderia ser toda uma sede da inteligência independente.

Star fica muito feliz com o relatório, é uma das melhores primaveras que a organização já teve. Autoriza o início da operações para lançamento do livro “Open Sunshadow”, encarregará Doom de fazer a campanha publicitária (...) Por agora quer ver como Bird o substitui, inclusive com a entrevista ao tal ufólogo com amplo embasamento científico. Ligam o televisor a tempo de pegarem a abertura...

- Boa noite, mundo! Eu sou Julia Foster e estou substituindo o Tobby McGinnes, enquanto ele viaja de férias. Vejam, minha própria caneca... O programa de hoje traz gente que não é exatacmente nova, mas começou a dar lucro com polêmicas, como os steampunks, os wiccanos, os veganos e os ufólogos...

Começa com o programa em seu indefectível terninho Chanel ocre. A festiva entrevista com os steampunks rende alguns presentes de seu estilo, com os wiccanos rende algmas bênçãos celtas para o programa (de um ateu) e a própria Julia, com os veganos a coisa pesa, eles começam perguntando se aquele café é orgânico e citam na roupa dela os crimes cometidos contra os animais (...) Antes do intervalo, solta bem ao estilo Tobby “Não adianta você ter as melhores intenções, se ser chato e apontar o dedo é o seu método de abordagem, as pessoas vão rejeitar a sua causa”. Após os comerciais, com seis preciosos minutos a mais, pela abreviação da entrevista anterior, é a vez do ufólogo...

- Boa noite, estou ansiosa para saber, afinal, como você entrou nessa de ufologia?

- Boa noite, Julia. Muito obrigado pelo espaço. Eu comecei ainda na adolescência, quando tinha mais perguntas do que respostas, e quando as respostas oficiais não eram mais suficientes para mim.

- Oh, a adolescência! Por que tanta gente a desperdiça?

- Eu também sou fã do Dead Train, ouvindo as canções da banda me fiz essa mesma pergunta, vendo amigos se conformando com a visão estreita que os noticiários oficiais nos impõe.

- Comecei a gostar de você. Continue.

Ele não consegue convertê-la às suas idéias, mas consegue seu respeito (...) Como Patricia é um dos alvos das investigações do grupo, toda Sunshadow está vendo a entrevista. Algumas das coisas que ele diz parecem maluquices, mas (...) as queixas contra os órgãos governamentais procedem, Julia sabe que procedem. Ela coça o alto da testa com o indicador direito e o desliza até o nariz, olhando de lado para o entrevistado. É a senha para os comparsas, aquele homem pode ser útil (...) Star concorda (...) Doom está vendo, também concorda e está orgulhoso de sua monstrinha, ela já está pronta para substituí-lo, quando ele morrer.

Patricia vai para a cama com uma noção mais precisa de que tipo de malucos são eles, só precisará mantê-los monitorados e não se preocupar. Mais ghost drivers se interessaram pelo assunto e aproveitarão para se infiltrarem no grupo deles (...) para, como eles dizem, proteger sua rainha de neuras desnecessárias.

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- Chega, mocinha! Não quero ouvir um piu! Enquanto não aprender a se comportar, não vai ter colo, nem doces, nem coisa nenhuma!

Ele se afasta, de coração partido, mas sabe que precisa manter a cara de durão (...) As funcinárias do orfanato agradecem pela intervenção, apesar de às vezes se assustarem com o rigor de Elias. Ele lacrimeja, antes de voltar para casa, mas sabe que amanhã aquela menina atrevida estará melhor consigo mesma (...) Renata trata de compartilhar a ligação com Patricia, quando sabe disso...

- Cara, ele é mais parecido com você do que comigo, que sou parente próxima!

- Woooow! Elias, é Patricia!

Ele treme um pouco. Já tinha se acostumado à prima (...) mas ele nunca esperava uma conversa com a líder da banda, da cidade e sabe-se lá do quê mais. Os três se falam por não mais do que dez minutos (...) mas Patricia sai com algumas boas impressões do afilhado, e algumas preocupações também. Vai à casa da comadre falar do tom de voz dele, olha para trás e vê dois pares de perninhas a segui-la...

- Eu não vou fazer uma visita recreativa, o tema será bem chato.

Elas querem ir assim mesmo. São colocadas no banco de balanço da varanda, enquanto as adultas tratam do tom de voz do rapaz, que era de uma melancolia de dar dó. Não lhes parecia ser só pelo episódio (...) não havia embargo...

- A depressão dele é muito parecida com a sua, a cara de mártir que ele faz é quase tão assustadora quanto a sua. Veja estas photos, que minha mãe tirou sem ele perceber.

- Ele tá sofrendo, Rê.

- Tá. Tem coisa que não dá pra consertar, tem coisa que dá, vamos focar esta.

Lá fora as duas fingem conversar sobre a revista de moda (...) Sabem que o primo distante está com problemas, só não discerniram o quê. Patricia as chama...

- Venham aqui, xeretas... Antes que comecem a fantasiar o que não devem, vou contar o que aconteceu. Eu conversei com seu primo, ele está numa fase muito difícil...

- ENTÃO ELE EXISTE!

Finalmente algo para arrancar risos (...) Prudence aliviou, mas elas (...) não têm maturidade para digerir algumas coisas, limitação que Phoebe já não tem...

- Quando vovó tá deprimida, eu chego, sento no colo dela, abraço ela e fico quieta, aí ela melhora.

- Certo, é assim que se faz... Mas você já discernir tão bem algo tão delicado, me assusta. Com esta cara de adolescente e a mesma voz desde os nove anos, não sei se você vai me levar à sério.

Conversa com seu toquinho de gente no colo (...) Richard chega da frutaria e vê a cena cada vez mais comum...

- Amada, preocupada de novo com isso?

- Não tem como não, amado. Esta menina está mais madura do que a Betty... Eu não quero que ela vá embora cedo demais!

- Mas eu não vou! Pra onde eu iria? Eu moro aqui!

- Você está pior do que mamãe, está sofrendo muito antes da hora. Ouça a baixinha, ela sabe que é uma criança, ainda vai nos dar trabalho por muitos anos. Desta vez vou chamar a sua mãe...

Vão pois as duas avós com as duas bisbilhoteiras. Elas às vezes também se sentem meio crianças perto da sobrinha (...) É preciso Renata fazer algumas cócegas na menina, para a aflita ver que ela ainda é e se comporta como uma criança (...) a mediunidade da filha está atrapalhando bastante, porque ela vê o quanto aquele bebê é evoluído. Fosse só a precocidade, saberia lidar, mas a autoridade moral de Phoebe intimida Marcia. Patricia a pega no colo e canta a música que fez para Richard, quando ele começou a ficar muito mais alto do que os outros garotos de sua idade...

- Don’t grow up too fast, my baby. Don’t walk on before I can give other hug...

Ele se lembra. A mãe insistia em lhe abraçar e colocar sua cabeça no ombro (...) Agora, mesmo com as irmãs nos braços, vai acolher a cabeça da mãe, como há muitos anos tem sido. Phoebe ainda tem o tamanho de uma criança na primeira infância, mas depois dos seis ou sete anos... Melhor não sofrer antes da hora, basta a esposa.

No dia seguinte, uma quinta-feira com a frente da casa cheia de folhas secas e uma borboleta morta, Renata vai com os outros para mais uma viagem lúgubre (...) Elizabeth Montgomery é sepultada sob o olhar de mártir de Patricia, que se lembra do último conselho, quase uma ordem de Audrey Hepburn. Leva todos os dezessete para um check-up, mesmo Madeleine protestando, por já ter sido furada e invadida em exames médicos há pouco tempo.

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