Fim de turnê. A estação 166 encerra um ciclo, mas deixa a vida continuar; os problema nunca terminam. Paciência! Embarquem, o trem vai partir.
A estrutura da cidade subterrânea fica pronta
bem antes do previsto. Os comerciantes descem para uma vistoria rápida, antes
do acabamento, que será uma cerâmica sintética azul pastel bem claro, com 3/4”
de espessura, que vai craquelar durante o endurecimento e depois será vitrificada
com um tom ligeiramente mais escuro (...) O estúdio da Dead Train comprou os
três andares para baixo. As residências foram poupadas e dispõe de três ou
quatro possíveis pavimentos privativos, dentro de estruturas com um metro de
espessura.
A fazenda dos Fischer será ampliada, além dos
três pavimentos inferiores (...) e alojar seções que ainda não têm onde colocar. Richard amplia
imediatamente a oficina para baixo. Nancy recusou-se a ampliar o porão (...) A matriarca, repleta de energia
e vigor, vai à fundação, dar as olhadas informais que sempre dá, em suas
folgas. Os petizes de Luppy foram especialmente recomendados a Stephanie e
Happy Moon, que treinam para educar seus próprios rebentos.
Agora, com a aprovação da culta população
sunshadower (...) os
jornais divulgam imediatamente a novidade, com imagens que os próprios
moradores cedem... Meia hora depois de Coast to Coast News, Sunshadow News e Interesse
Popular publicarem em seus sites com imagens e depoimentos exclusivos. Os sites
de conspirações malucas ficam doidinhos (...) E quem é a primeira pessoa a ser questionada a
respeito? Daniel? Não...
- Por que estão perguntando pra mim? O
prefeito é o Daniel Stewart!
- Mas é você que manda na cidade, todo mundo
sabe! Qual o propósito dessa mega estrutura em baixo de Sunshadow?
- Pensem um pouco... Um pouquinho só... A
maioria de vocês cai fora durante a estação, mas já experimentaram sair de casa
durante o inverno de Michigan?
- A Phoebe sai quase sem roupa!
- Phoebe é um caso especial e não vai mais
fazer isso. É só? Com licença, tenho muita coisa pra fazer... Vocês ouviram
isso??? Não cai uma folha nesta cidade sem que a imprensa venha me perguntar se
é castigo divino!
- Há de convir que eles têm onde se apegar.
- Sim, claro que têm, Bobby... Se apegam à
falta do que fazer, apoiando-se na falta de vontade de fazer, amparados na
falta de critérios sobre o que fazer. Vamos trabalhar...
A proximidade do show comemorativo do jubileu
de ouro polariza suas atenções, seus auxiliares estão repassando menos assuntos
corporativos e chutando traseiros com mais liberdade (...) Farão um show surpresa em New Jersey, próximo ao
antigo albergue onde foram revelados para o mundo. Depois em Manhathan e vão
para Providence, de onde voam para Detroit e voltam para casa.
A exposição prolongada da banda tem o bom
lastro das novidades diárias (...) Alguns apresentadores estão começado a ligar a
brancura extrema de Natasha à pele clara de Evelyn, mas falta-lhes coragem para
enfrentar as conseqüências (...) A
estréia dos garotos em si já renova muito a imagem da banda, alimentando as
polêmicas tradicionais e trazendo novas para o caldeirão da fofoca
profissional.
Os fãs estão correspondendo às expectativas,
os fã clubes fazem suas próprias promoções fechadas aos membros e seus parentes
próximos, a guarda imperial registra tudo o que pode deste evento que é único (...) A liga presta especial atenção
às notícias sobre a cidade de três pavimentos quase concluída em Sunshadow. Os
técnicos expõe suas opiniões sobre como teriam conseguido um feito dessa envergadura
em tão pouco tempo e sem chamar a atenção do mundo (...) mas o desconhecimento das bases secretas torna as análises
inconclusivas.
Fizeram todas as análises com o equipamento
que Ursula ganhou, e hoje permite que três vigilantes fiquem ao mesmo tempo na
central (...) Em New Jersey City, mancomunados com a
prefeitura, operários executam uma logística apertadíssima, com um grau de
precisão altíssimo, para que no fim da tarde os vinte e quatro integrantes
possam fazer um show relâmpago e voltar para New York. Vai acontecer alguma
coisa ali, a imprensa tenta em vão tirar algo dos trabalhadores (...) O ônibus chega e a histeria se
instala, as cortinas do palco se abrem e lá estão os instrumentos. É tudo muito
informal, como foi com a primeira apresentação...
- Boa noite, senhoras e senhores. Nós somos
The Dead Train, e aqui perto, a menos de uma quadra, perto da Brooklin Bridge,
há quase meio século, nós fizemos nossa primeira apresentação para o mundo, no
albergue que hoje ocupa aquele prédio ali. Graças a vocês, que nos prestigiaram
todos estes anos, eles e mais um monte de gente boa que se ocupa em ajudar
próximo, têm garantias de tocar seu trabalho no dia seguinte. Este é um show
gratuito, mas se quiserem pagar o ingresso na forma de donativos, ficaremos
imensamente gratos. Vamos cantar, gente!
“Forgotten” inicia o show, e o público vai ao
delírio. Gente de cidades próximas, do Estado de New Jersey, e gente de New
York que não conseguiu ingresso, lotam o espaço. Alguns velhos senhores que
testemunharam aquela primeira apresentação, dois deles albergados na época,
comparecem (...) o Coast to
Coast News transmite ao vivo para seu canal de vídeo. Mais do que um retorno às
origens, é o modo que eles têm para agradecer seu público fiél e dedicado...
- Porque tudo o que nós somos hoje, amados
fãs, nós devemos a vocês. Tudo o que a imprensa alardeia que nós fazemos, as
ações pela paz mundial, enfim, tudo mesmo, foram vocês que permitiram
acontecer. Agradecemos de coração. Muito obrigada e Deus lhes pague. Até a
próxima.
Se despedem com “Back to Sunshadow” e voltam
ao hotel, de almas lavadas e cientes do dever cumprido. Não demoram muito a
pegar no sono, após um banho e uma boa refeição.
&
A volta para casa tem um sabor muito doce. A
popularidade não só cresce, como puxa a dos ex desafetos, que hoje não soltam
uma palavra sequer contra os seis. A turnê em si está encerrada, o próximo
compromisso oficial da banda é o show do jubileu de ouro (...) Os novatos voltam com as burras cheias, os três
retardatários levam para casa mais do que seus pais ganhariam até a
aposentadoria. Jerry e Dean cantarolam “Já podemos nos casar” pela casa, Carly
olha para o horizonte sem saber o que fazer com tanto dinheiro (...) Além dos cachês desta turnê, há os
das peças publicitárias e a participação nas empresas que estão administrando.
Liga para Patrícia, que contabiliza bem mais
do que ganhos financeiros do ano...
- Não fosse o seu tom de voz, eu riria. Está
desesperada porque de repente descobriu que está rica, é isso?
- Tô perdida, madrinha. Eu sempre fui dura,
contava moedas pro fim de semana...
- Que conversa doida é essa, irmã?
- É o que ela vai nos contar. Venha pra minha
casa, estamos os seis aqui. Ela está com medo do dinheiro que ganhou... Que
louco!
- Eu acho que sei o que é – diz Renata.
Confirma suas suspeitas quando a garota conta
da sensação de vazio (...) Sentiu-se
mínima (...) percebeu as paredes se afastarem.
É medo do poder. Não sabe o que fazer e tem medo de ser engolida por ele...
- Nem carro vocês tinham, até te arranjarmos
aquele emprego no cinema. Foi muito rápido, eu sei, mas não é um bicho de sete
cabeças. Chame os outros, vamos contar da nossa neura, quando aquela montanha
de dinheiro começou a encher nossas casas.
Contam (...) da repentina responsabilidade pelo poder súbito que conseguiram com o
estrelato. Falam do medo dos pais, mas também da alegria que Rebeca e Robert
deram aos seus, de Melinda e toda a história que mudou os rumos da banda. Vão
até a Grande Turnê, quando consolidaram a fama e mudaram para sempre o destino
de Sunshadow (...) nunca mais a “Vai Quem Quer”.
É inspirador mesmo para a prole da banda, que
dirá os três! Os originais olham para Carly, que bate palmas e esfrega as mãos,
procurando alguma coisa, pega seu tablet e começa a ver o que está acontecendo
naquelas empresas fundidas (...) Os seis lêem o relatório, conversam a respeito e decidem o que
fazer, mandam a ordem e dão um prazo razoável para verem os resultados.
À noite, com Arthur, Ana Clara e Elisa,
Patrícia fala do curto drama, enquanto acaricia Lady Spy no colo. O vestido
verde pastel, de saia ampla e ombros livres, dá o tom deste clima ainda ameno,
Ana Clara pergunta sobre alguma surpresa para o festival de fãs (...) Ela medita um pouco, pensa nas coisas da banda
e nos interesses da organização, abre um sorriso e liga para seus comparsas (...) Ela liga para Los Angeles. Mars Storm
pede que X-Fish fique atenta, precisa atender uma das poucas ligações que não
pode recusar. Toma cuidado para não acordar o exaurido Firewall e confirma
presença...
- Você pode trazer um amigo, se quiser, ou
uma amiga...
- Bem, eu não sei... Eu vou ver... Certo, terei
todo prazer... Até mais...
- Algum problema?
- Nenhum problema, só solução. Você quer
conhecer Sunshdow?
Adoraria, mas não pode. Ligam para Dead Hope,
que quer saber na hora de qualquer novidade importante...
- Eu irei com você. Convencerei o hotel de
que fará bem aos negócios e irei com você.
No dia seguinte ele confirma e a organização
inteira escancara o sorriso (...) Patrícia fala com Ronald e ele confidencia algumas coisas a
Mandy, Ursula é apaixonada por balé e chegou a iniciar carreira, antes do
massacre de sua família...
- Não existe ex-bailarina. Pode deixar
comigo.
Há tempo, eles podem planejar a recepção com
muita calma. Até lá, a toada mansa e dura do cotidiano é paulatinamente
retomada (...) Os
dias trazem boas pequenas surpresas, os petizes de Luppy aprendem a ler e
escrever anos antes do que esperava, e já ensaiam outros idiomas. Richard
confirma assim sua tese da construção do gênio, festejada por Zigfrida.
Utilizando a Caixinha de Música como base (...) os garotos
concluem o planejamento e decidem o que fazer com aquelas empresas. Vão
continuar com as fusões até que se tornem seis ou sete empresas de grande
porte, depois reembolsarão a Dead Train Corporation e ficarão com elas (...) Terminada a reunião, cada um vai procurar seu par. Sandra sai agarrada ao seu,
Carly sai sozinha, vai para casa, olha para os lados e enfia a cabeça no
travesseiro.
Volta para fora (...) Vê Elias voltar da Máquina de Costura, meditativo e
taciturno, mas não o bastante para não perceber aquele olhar lânguido e aquela
expressão entristecida. Se aproxima perguntando em voz baixa e tom carinhoso, o
motivo daquela carinha de quem ganhou e não levou...
- Dor de cotovelo. Tá todo mundo namorando
agora, menos eu.
- Isso é tão importante pra você?
- Muito... Já tenho idade pra fazer as
coisas, sabe? As coisas... Que eu nunca fiz...
- É este mesmo o ponto? Certo... Me
acompanha?
A leva a Patrícia, que a enche de afagos e a
leva para o coreto. Ele volta para casa, já menos taciturno, mas ainda
meditativo.
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