quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLXVI

    Fim de turnê. A estação 166 encerra um ciclo, mas deixa a vida continuar; os problema nunca terminam. Paciência! Embarquem, o trem vai partir.


A estrutura da cidade subterrânea fica pronta bem antes do previsto. Os comerciantes descem para uma vistoria rápida, antes do acabamento, que será uma cerâmica sintética azul pastel bem claro, com 3/4” de espessura, que vai craquelar durante o endurecimento e depois será vitrificada com um tom ligeiramente mais escuro (...) O estúdio da Dead Train comprou os três andares para baixo. As residências foram poupadas e dispõe de três ou quatro possíveis pavimentos privativos, dentro de estruturas com um metro de espessura.

A fazenda dos Fischer será ampliada, além dos três pavimentos inferiores  (...) e alojar seções que ainda não têm onde colocar. Richard amplia imediatamente a oficina para baixo. Nancy recusou-se a ampliar o porão (...) A matriarca, repleta de energia e vigor, vai à fundação, dar as olhadas informais que sempre dá, em suas folgas. Os petizes de Luppy foram especialmente recomendados a Stephanie e Happy Moon, que treinam para educar seus próprios rebentos.

Agora, com a aprovação da culta população sunshadower (...) os jornais divulgam imediatamente a novidade, com imagens que os próprios moradores cedem... Meia hora depois de Coast to Coast News, Sunshadow News e Interesse Popular publicarem em seus sites com imagens e depoimentos exclusivos. Os sites de conspirações malucas ficam doidinhos (...) E quem é a primeira pessoa a ser questionada a respeito? Daniel? Não...

- Por que estão perguntando pra mim? O prefeito é o Daniel Stewart!

- Mas é você que manda na cidade, todo mundo sabe! Qual o propósito dessa mega estrutura em baixo de Sunshadow?

- Pensem um pouco... Um pouquinho só... A maioria de vocês cai fora durante a estação, mas já experimentaram sair de casa durante o inverno de Michigan?

- A Phoebe sai quase sem roupa!

- Phoebe é um caso especial e não vai mais fazer isso. É só? Com licença, tenho muita coisa pra fazer... Vocês ouviram isso??? Não cai uma folha nesta cidade sem que a imprensa venha me perguntar se é castigo divino!

- Há de convir que eles têm onde se apegar.

- Sim, claro que têm, Bobby... Se apegam à falta do que fazer, apoiando-se na falta de vontade de fazer, amparados na falta de critérios sobre o que fazer. Vamos trabalhar...

A proximidade do show comemorativo do jubileu de ouro polariza suas atenções, seus auxiliares estão repassando menos assuntos corporativos e chutando traseiros com mais liberdade (...) Farão um show surpresa em New Jersey, próximo ao antigo albergue onde foram revelados para o mundo. Depois em Manhathan e vão para Providence, de onde voam para Detroit e voltam para casa.

A exposição prolongada da banda tem o bom lastro das novidades diárias (...) Alguns apresentadores estão começado a ligar a brancura extrema de Natasha à pele clara de Evelyn, mas falta-lhes coragem para enfrentar as conseqüências  (...) A estréia dos garotos em si já renova muito a imagem da banda, alimentando as polêmicas tradicionais e trazendo novas para o caldeirão da fofoca profissional.

Os fãs estão correspondendo às expectativas, os fã clubes fazem suas próprias promoções fechadas aos membros e seus parentes próximos, a guarda imperial registra tudo o que pode deste evento que é único (...) A liga presta especial atenção às notícias sobre a cidade de três pavimentos quase concluída em Sunshadow. Os técnicos expõe suas opiniões sobre como teriam conseguido um feito dessa envergadura em tão pouco tempo e sem chamar a atenção do mundo (...) mas o desconhecimento das bases secretas torna as análises inconclusivas.

Fizeram todas as análises com o equipamento que Ursula ganhou, e hoje permite que três vigilantes fiquem ao mesmo tempo na central (...) Em New Jersey City, mancomunados com a prefeitura, operários executam uma logística apertadíssima, com um grau de precisão altíssimo, para que no fim da tarde os vinte e quatro integrantes possam fazer um show relâmpago e voltar para New York. Vai acontecer alguma coisa ali, a imprensa tenta em vão tirar algo dos trabalhadores (...) O ônibus chega e a histeria se instala, as cortinas do palco se abrem e lá estão os instrumentos. É tudo muito informal, como foi com a primeira apresentação...

- Boa noite, senhoras e senhores. Nós somos The Dead Train, e aqui perto, a menos de uma quadra, perto da Brooklin Bridge, há quase meio século, nós fizemos nossa primeira apresentação para o mundo, no albergue que hoje ocupa aquele prédio ali. Graças a vocês, que nos prestigiaram todos estes anos, eles e mais um monte de gente boa que se ocupa em ajudar próximo, têm garantias de tocar seu trabalho no dia seguinte. Este é um show gratuito, mas se quiserem pagar o ingresso na forma de donativos, ficaremos imensamente gratos. Vamos cantar, gente!

“Forgotten” inicia o show, e o público vai ao delírio. Gente de cidades próximas, do Estado de New Jersey, e gente de New York que não conseguiu ingresso, lotam o espaço. Alguns velhos senhores que testemunharam aquela primeira apresentação, dois deles albergados na época, comparecem (...) o Coast to Coast News transmite ao vivo para seu canal de vídeo. Mais do que um retorno às origens, é o modo que eles têm para agradecer seu público fiél e dedicado...

- Porque tudo o que nós somos hoje, amados fãs, nós devemos a vocês. Tudo o que a imprensa alardeia que nós fazemos, as ações pela paz mundial, enfim, tudo mesmo, foram vocês que permitiram acontecer. Agradecemos de coração. Muito obrigada e Deus lhes pague. Até a próxima.

Se despedem com “Back to Sunshadow” e voltam ao hotel, de almas lavadas e cientes do dever cumprido. Não demoram muito a pegar no sono, após um banho e uma boa refeição.

&

A volta para casa tem um sabor muito doce. A popularidade não só cresce, como puxa a dos ex desafetos, que hoje não soltam uma palavra sequer contra os seis. A turnê em si está encerrada, o próximo compromisso oficial da banda é o show do jubileu de ouro (...) Os novatos voltam com as burras cheias, os três retardatários levam para casa mais do que seus pais ganhariam até a aposentadoria. Jerry e Dean cantarolam “Já podemos nos casar” pela casa, Carly olha para o horizonte sem saber o que fazer com tanto dinheiro (...) Além dos cachês desta turnê, há os das peças publicitárias e a participação nas empresas que estão administrando.

Liga para Patrícia, que contabiliza bem mais do que ganhos financeiros do ano...

- Não fosse o seu tom de voz, eu riria. Está desesperada porque de repente descobriu que está rica, é isso?

- Tô perdida, madrinha. Eu sempre fui dura, contava moedas pro fim de semana...

- Que conversa doida é essa, irmã?

- É o que ela vai nos contar. Venha pra minha casa, estamos os seis aqui. Ela está com medo do dinheiro que ganhou... Que louco!

- Eu acho que sei o que é – diz Renata.

Confirma suas suspeitas quando a garota conta da sensação de vazio (...) Sentiu-se mínima (...) percebeu as paredes se afastarem. É medo do poder. Não sabe o que fazer e tem medo de ser engolida por ele...

- Nem carro vocês tinham, até te arranjarmos aquele emprego no cinema. Foi muito rápido, eu sei, mas não é um bicho de sete cabeças. Chame os outros, vamos contar da nossa neura, quando aquela montanha de dinheiro começou a encher nossas casas.

Contam (...) da repentina responsabilidade pelo poder súbito que conseguiram com o estrelato. Falam do medo dos pais, mas também da alegria que Rebeca e Robert deram aos seus, de Melinda e toda a história que mudou os rumos da banda. Vão até a Grande Turnê, quando consolidaram a fama e mudaram para sempre o destino de Sunshadow (...) nunca mais a “Vai Quem Quer”.

É inspirador mesmo para a prole da banda, que dirá os três! Os originais olham para Carly, que bate palmas e esfrega as mãos, procurando alguma coisa, pega seu tablet e começa a ver o que está acontecendo naquelas empresas fundidas (...) Os seis lêem o relatório, conversam a respeito e decidem o que fazer, mandam a ordem e dão um prazo razoável para verem os resultados.

À noite, com Arthur, Ana Clara e Elisa, Patrícia fala do curto drama, enquanto acaricia Lady Spy no colo. O vestido verde pastel, de saia ampla e ombros livres, dá o tom deste clima ainda ameno, Ana Clara pergunta sobre alguma surpresa para o festival de fãs (...) Ela medita um pouco, pensa nas coisas da banda e nos interesses da organização, abre um sorriso e liga para seus comparsas (...) Ela liga para Los Angeles. Mars Storm pede que X-Fish fique atenta, precisa atender uma das poucas ligações que não pode recusar. Toma cuidado para não acordar o exaurido Firewall e confirma presença...

- Você pode trazer um amigo, se quiser, ou uma amiga...

- Bem, eu não sei... Eu vou ver... Certo, terei todo prazer... Até mais...

- Algum problema?

- Nenhum problema, só solução. Você quer conhecer Sunshdow?

Adoraria, mas não pode. Ligam para Dead Hope, que quer saber na hora de qualquer novidade importante...

- Eu irei com você. Convencerei o hotel de que fará bem aos negócios e irei com você.

No dia seguinte ele confirma e a organização inteira escancara o sorriso (...) Patrícia fala com Ronald e ele confidencia algumas coisas a Mandy, Ursula é apaixonada por balé e chegou a iniciar carreira, antes do massacre de sua família...

- Não existe ex-bailarina. Pode deixar comigo.

Há tempo, eles podem planejar a recepção com muita calma. Até lá, a toada mansa e dura do cotidiano é paulatinamente retomada (...) Os dias trazem boas pequenas surpresas, os petizes de Luppy aprendem a ler e escrever anos antes do que esperava, e já ensaiam outros idiomas. Richard confirma assim sua tese da construção do gênio, festejada por Zigfrida.

Utilizando a Caixinha de Música como base (...) os garotos concluem o planejamento e decidem o que fazer com aquelas empresas. Vão continuar com as fusões até que se tornem seis ou sete empresas de grande porte, depois reembolsarão a Dead Train Corporation e ficarão com elas (...) Terminada a reunião, cada um vai procurar seu par. Sandra sai agarrada ao seu, Carly sai sozinha, vai para casa, olha para os lados e enfia a cabeça no travesseiro.

Volta para fora (...) Vê Elias voltar da Máquina de Costura, meditativo e taciturno, mas não o bastante para não perceber aquele olhar lânguido e aquela expressão entristecida. Se aproxima perguntando em voz baixa e tom carinhoso, o motivo daquela carinha de quem ganhou e não levou...

- Dor de cotovelo. Tá todo mundo namorando agora, menos eu.

- Isso é tão importante pra você?

- Muito... Já tenho idade pra fazer as coisas, sabe? As coisas... Que eu nunca fiz...

- É este mesmo o ponto? Certo... Me acompanha?

A leva a Patrícia, que a enche de afagos e a leva para o coreto. Ele volta para casa, já menos taciturno, mas ainda meditativo.

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