terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Dead Train in the rain CLVII

    Cantar estressa menos; A estação 157 mostra o valor de se viver daquilo que mais se gosta, inclusive para a sanidade mental. Embarquem, o trem via partir.


Em Dallas é mais privativo, ficam na fazenda de um velho amigo, que se recusa a morrer (...) Noventa e oito anos de, como diz a esposa, “alegria e safadeza sem imites”. Evelyn conhece a propriedade melhor do que os outros (...) conhece os empregados, os animais, os carros da coleção, os aviões antigos que só um doido varrido como o velho Barry-Kelly poderia ter, o porta-aviões com doze aeronaves da segunda guerra de uma coleção de barcos que só um completo... Bem, vocês entenderam. Aos críticos, os amigos enumeram os mais de cento e cinqüenta empregos gerados só com a manutenção e limpeza de todo esse acervo. Os barcos também ficam na fazenda, parados no lago. Voltam cheios de inspiração e histórias, finalmente descobriram o conteúdo que a amiga escondia, doravante ela terá que participar das conversas da turma.

Lá mesmo se dá uma entrevista com o sexteto. Vão preservar os garotos por algum tempo, mas eles estão detrás de um espelho falso, vendo tudo de perto. Eles aprendem as técnicas de postura e entonação de voz, que a edição nem sempre mostra, para manter o devido respeito e falar tudo sem dizer absolutamente tudo. Marcia resiste à tentação de ligar para a filha (...) Se entretém com as meninas, enquanto Albert cuida de pacientes e Richard de assuntos secretos. Às vezes se lembra dela andando com um livro pela sala, mas a imagem que tem é a de Phoebe da primeira infância. Vê o relógio, a esta hora ela deve estar assistindo à entrevista das avós e seus comparsas.

Eles tentam explicar por que um carro eléctrico que beira o revolucionário, roda aos montes em Sunshadow, quando o lançamento oficial só se dará no meio do ano. Patrícia responde sem hesitar...

- Sunshadow vive no século XXI desde o início, é este o diferencial. É o que acontece com várias tecnologias que são raras ou quase inexistentes fora de lá. Nós pensamos e agimos como pessoas do século XXI.

- Mesmo com o gosto arrebatado pelo meio de século passado?

- O mundo do meio de século era muito mais moderno do que este, mesmo com a tecnologia escassa da época.

- WOW! Valeu pela declaração, ela vai dar meses de polêmicas e dezenas de interpretações pra gente conseguir patrocínio!

A entrevista segue na leveza das risadas, algumas quase convulsivas (...) Nem todas as entrevistas são tensas e desagradáveis.

A entrevista gera polêmica. Aumentou a aura de mistério de Sunshadow e atiçou a sanha conspiracionista de muita gente, em especial dos ufólogos (...) Alguns deles têm representantes empregados na equipe do show, sem saber que a organização e a guarda imperial sabem que estão lá. Eles observam o mais próximos possível o ensaio (...) tudo lhes parece ter dedo alienígena. Especialmente Phoebe, que administra seus 2,12m e 150kg sem qualquer sinal de desajeitamento, como se fosse Suzy Parker em uma sessão de photos.

Ela carrega instrumentos pesados sem ajuda, com (...) a graça de uma bailarina. É muito difícil não se apaixonar por esta mulher (...) Ela põe os vasos com plantas ornamentais na entrada para o palco, de modo que quem for entrar pode ver o público sem ser visto por ele. Ela se lembra bem das palavras da avó, sobre o meio de século, gosta do estilo dos anos 1940, mas a escassez de tecnologias a teria deixado aflita, limitaria muito sua ação. Inclusive a precariedade comparativa dos meios de transporte, os mesmos que agora evitam que uma mãe se angustie em casa...

- Mom...

- Baby!

Todos olham para a arquibancada com caras de “Não acredito nisso” (...) A cena é a esperada, Phoebe pula seis metros adiante e corre para a mãe, que (...) desce com cuidado os três degraus e mal corre três passos até ser alcançada. Quase desaparece embrulhada no corpo do rebento. Sente um alívio imenso, como se uma cólica menstrual cessasse repentinamente. Os ufólogos acompanham os colegas de serviço (...) pensando “Os aliens também amam”, o que para eles é uma boa notícia.

Na fazenda, após o ensaio, pouco antes de irem para a sagrada sesta, Marcia acolhe a filha em um sofá da sala da lareira (...) só responde “She is my baby” a qualquer pedido de explicações, com a cara mais lavada do mundo. Richard promete explicações pormenorizadas, mas só amanhã, quando acordarem, hoje precisam descansar para encarar quase duzentos e vinte mil fãs. É tanta gente esnobando os ingressos em redes sociais, que a transmissão ao vivo foi liberada, para evitar desconfortos com os que não conseguiram os seus.

E o show é um estrondo. Marcia relembra a turnê no Brasil (...) só tem olhos para o desempenho da filha no coral, às vezes fazendo a segunda voz. Aquele fôlego que a fazia falar sem parar por mais de um minuto, quando era uma criança pequena! Por incrível que pareça para os fãs, um dia ela o foi. Os mimos durante o intervalo não são poupados de pilherias, enchendo os bastidores com gargalhadas que contagiam até quem está de fora, próximo ao camarim.

Richard explica a visita inesperada...

- A amada estava tendo uma espécie de crise de abstinência. Ela estava se lembrando da Phee caminhando pela casa, preenchendo os ambientes, mas só conseguia se lembrar dela com não mais do que seis anos de idade...

Renata olha para a filha, avisa que terão uma conversa séria (...) Voam para Los Angeles assim que se alimentam, e têm explicações de Richard, de manhã bem cedo.  A orquestra vai para Sunshadow, com Evelyn, Marcia, Richard e as meninas, a tarefa que têm é só para a banda mesmo. Enchem Josephine de felicidade e esperam pela visita de Shag (...) Ele baseou o trabalho em relatos e photos dos seis. Ele acertou em cheio! Dos cem trabalhos que mostrou para escolherem, compraram todos. Ainda o nomeiam vendedor autorizado das réplicas com o selo Dead Train. Patrícia liga para Melinda e o artista pode ir, para entregar os originais e receber pelo serviço. Agora é com a equipe da banda.

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Nancy participa da conversa (...) Marcia está cada vez mais parecida com a matriarca, para o bem e para o mal. Renata começa avisando à filha de sua responsabilidade como psicóloga experiente e bem qualificada (...) O tom de voz, porém, é maternal, sabe que as duas têm uma ligação forte de outras eras, que foi agravada pelos episódios da infância ainda recente da neta...

- Está me entendendo?  Não é porque a Phee ainda mora na sua casa, que ela não tem sua própria vida. Ela é uma mulher, tem marido, filhas e agora uma carreira. Ela não vai conseguir trabalhar direito se souber que você está chorando em casa...

Nancy se lembra da conversa com Fester, ele disse algo parecido. A manhã é toda dedicada a isso (...) Um esforço semelhante faz Enya, para que o marido confirme a visita dos pais, ou pelo menos da mãe. Ele avisa que não vai suportar ver a filha ser desprezada outra vez (...) mas a maturidade dela o faz pender cada vez mais para o aceite. Promete pensar no caso, mas  não agora, com a cabeça cheia de urgências vindas do outro lado da linha do equador.

Sandra aparece quando ele entra no Model S e vai para Lansing. Vai falar com a madrinha depois, por esse excesso de dedicação ao trabalho, por agora fala à mãe...

- Tá foda! Eu não vou dar conversa, se vierem, ninguém precisa se preocupar comigo. Além do mais, temos uma turnê que vai até o fim do outono, eles só me veriam de relance e olhe lá.

- Deixa comigo, eu estou enfiando isso na cabeça dura dele. Agora desfranze essa testa... Minha preocupação, se vierem, é a companhia, porque eu também tenho muito trabalho até o natal e Kurt vai embora já em Maio... Mamãe sozinha com eles, até os universitários voltarem à tarde das aulas...

Sandra fala com a madrinha, que concorda com ela, Elias está exagerando no trabalho (...) mas agora quer falar do namoro quente que ela e Giovanni conduzem longe das câmeras. Ele está com Jerry e Dean, falando sobre esses namoros com suas primas. É um pouco mais atrevido do que o pai (...) Ann e George vêem seus rendimentos ficarem pequenos diante dos cachês dos filhos. O mesmo com Carly, que assume as despesas da casa e decide que se mudarão em breve para Sunshadow (...) Pensando bem, vai agora mesmo ver isso...

- Mas é claro! Pra você a gente vende! Só um instante que já te levamos...

Entram e tomam um café com pão de queijo, enquanto conversam. A jovem ouve os detalhes, eles fazem questão de contar a história da casa (...) No mesmo dia se mudam, e ela se livra da tia com procuração de Deus para ser sua única representante na Terra (...) não quer se arriscar a pisar em Sunshadow e nunca mais conseguir se purificar. Vão os cinco comparsas ajudar na mudança e jogar a amiga na piscina, para pular também em seguida, como rito de boas-vindas.

A manhã seguinte é de farra. Vão todos à casa da novata e a escoltam ao ensaio diário. Hoje alguns usuários do metrô sentem a falta da passageira mais ilustre, ela pôde acordar com mais calma e prestar atenção ao amanhecer (...) Poder fazer as coisas com calma e (...) era um sonho desde que adolesceu, vendo os pais correrem para seus empregos e só voltando no fim do dia, estafados. Hoje eles também vão a pé, tranqüilos a admirar a paisagem, pensando em como retribuir à filha.

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Chegam os primeiros protótipos do material impresso. Os seis analisam com cuidado, são cento e oitenta imagens (...) A guerra fria está em todas, assim como paparazzi e carros de época caricaturados. A capa do álbum é o que consome mais trabalho, é a praça do trem morto com os seis ainda adolescentes e um cenário cheio de objectos escondidos (...) Coisas e situações que fizeram parte da história da banda...

- É impressão minha ou ele te caricaturou como agente secreta, nesta aqui?

Enzo mostra uma alusiva à Grande Turnê, com Patrícia entregando uma carta a um espião dentro de uma caixa de correios(...) A biblioteca se torna uma gargalhada só. Vai o dia todo, mas conseguem analisar um por um, com minúcias e o controle de qualidade que lhes deu a fama. Melinda dá o sinal verde e começam a rodar tudo (...) Deixam os outros entrarem na biblioteca, para verem suas reações. As crianças amam, querem brinquedos naqueles moldes.

Enquanto a família vê o trabalho, os seis levam Elias para o coreto do jardim. Ele fica entre a prima e a madrinha, que vai directo aos assuntos. Primeiro o mais simples, querem que pare com essa dedicação excessiva ao trabalho (...) Ele praticamente tomou conta da BYOP e da Sandra Cocada, que por tabela o faz tomar decisões também na Brook’s Hot Chocolate (...) Patrícia fala do desenvolvimento de Robby, o quanto Richard se afeiçoou ao menino e o que está perdendo em não aproveitar mais o que o velho Gardner está fazendo por ele...

- Mas eu sabia o que seu pai era capaz de fazer por ele, por isso posso me dedicar com tranqüilidade ao trabalho.

- As coisas não são bem assim, meu querido. Não é o que meu pai e seu filho estão ganhando, é o que você está perdendo. Você chega em casa, ouve o menino com todo carinho, mas não participou do que ele conta.

Não é difícil (...) A segunda parte é que é o osso! Olhares de desconfiança são distribuídos a cada argumentação (...)  ele adverte que o filho é tudo o que eles não o deixaram ser, com a mesma idade. Ronald argumenta que a relação com um neto pode ser muito diferente da com os filhos. Ainda assegura que a cidade inteira ficará de olho, e que será uma boa chance de verem o que realmente enfrentou na juventude.

Pensa, pensa, pensa... Ele concorda. Avisa que não vai pagiar ninguém, mas concorda em fazer os preparativos (...) Mesmo com condições, para os seis é uma vitória. Para Enya é uma festa. Ele cuida para que essa visita não coincida com nenhuma festividade (...) Renata se adianta e comunica Goiânia, que aguardem a confirmação de uma data e preparem os dois para a viagem. Agora os seis podem desabam nos sofás e respirar...

- Eu quero voltar pra turnê! Vamos voltar pra turnê, é muito mais simples, estressa menos!

- Não dá, Rê! A gente tem muita coisa pra fazer aqui... Mas podermos fazer um show de improviso, vai nos fazer bem. Só nós seis, o que me dizem?

Vão à praça do trem morto, com instrumentos electrônicos (...) Seguidos de uma horda de paparazzi, cuja movimentação denuncia o porvir, eles ajeitam a aparelhagem ao redor da 4-4-4-4 (...) enquanto a massa de turistas e imprensa se aglomera ao redor...

- Eles vão cantar?

- Mas aqui, no meio da praça?

- Parece que sim, mas... Sem ingressos, sem...

O burburinho é interrompido pelas notas de piano de Renata, e logo abafados completamente pelas de guitarra de Enzo. Começam com Bla-bla-band. Terminam a canção já desestressados. Continuam com Forgotten em um tom mais sóbrio, depois encerram com Back to Sunshadow (...) Arthur chega no fim da tarde e encontra os seis ainda rindo, avisa que a apresentação surpresa já rodou o mundo e foi compartilhada milhões de vezes. Liga a televisão e lá está a notícia, com a chamada “É muito bom viver em Sunshadow”...

- Mas não é pra qualquer um, Greg – diz Rebeca.

- Paparazzi safados não são aceitos, Greg – continua Robert.

Apelido relembrado, recomeça a farra. Assim ficam até a noite.

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