terça-feira, 7 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCXXXIX

    Progressos em meio ao desmoronamento. A estação 239 faz mais um desenho para o que não tiver ficado claro. Todos à bordo, o trem vai partir.


Mais um compromisso musical, para atenuar a brutalidade cotidiana. Estão no estúdio com Neil Diamond, gravando um álbum conjunto e relembrando dos primeiros encontros (...) Há uma equipe de filmagem no ambiente, tudo o que acontecer lá é importante para o acervo da banda. Ele ainda não tinha muito contacto com a nova formação, na verdade só conhecia pessoalmente Phoebe e Giovanni (...) Reservam o resto do dia, após as gravações, para ele se actualizar com a prole do Dead Train.

O susto é o previsível. Ele conheceu alguns garotos, na última vez, agora tem uma multidão à sua frente (...) A visita se estende até a manhã seguinte, quando o cantor acorda assustado com o barulho do pátio (...) À mesa o assunto é a peleja matutina, especialmente o uso de armas...

- Espadas nos ensinam muita coisa boa, mas principalmente senso de responsabilidade e noção de conseqüências. Você não pode fazer o que quiser com uma lâmina de trinta polegadas nas mãos, um erro e pode ferir gravemente alguém, talvez até amputar o próprio pé.

Ele compreende, sabe que ela é poderosa demais para se dar o luxo de cometer erros. Vai para casa devidamente alimentado, massageado e revigorado. Os seis voltam para a Máquina de Costura, há assuntos chatos para resolver. Um deles é a crise persistente no Brasil, fruto de uma gestão tão incompetente que se o país fosse uma empresa, teria falido há muito tempo e já estaria desmembrado e vendido para pagar as dívidas...

- O maior problema é se tratar de um país estratégico, enorme e com facilidade de acesso a muitos outros mercados – diz Silvia. Não dá para simplesmente fechar as portas e mandar o governo tomar naquele lugar.

Meditam um pouco. O Real está desvalorizado, mas não o bastante para que transforme o país em um pólo exportador (...) Seus amigos quase não acreditam quando falam das dificuldades que o Brasil impõe para abrir, gerir e até para encerrar uma empresa. E pensar que aqui aqualquer garagem pode se tornar rapidamente o sustento da casa! Decidem manter as operações no Brasil, mas farão uma série de modificações, o que incluirá utilizar portos e aeroportos de países vizinhos.

A nova formação chega à mesma conclusão, mas aqui há o agravamento de a franquia Sandra Cocada já estar disseminada no território brasileiro, ela depende muito de commodities e sofre bastante com a instabilidade cambial. Terão que fazer o que não queriam, mas não tem outro jeito, comprarão distribuidores de alimentos para eliminar a figura do intermediário (...) será uma série de burocracias idiotas e tributos torpes cobrados várias vezes e em cascata a menos (...) até o negócio ser concluído devem agir como se não fossem representantes de uma grande corporação. Tudo acertado, se voltam para a administração ordinária das empresas.

Os fundadores passam mensagens para a nova formação, é hora de juntarem os trabalhos (...) A conversa é séria, mas não sisuda. O que está acontecendo na América do Sul é não mais do que um reflexo da transformação pela qual o mundo inteiro passa (...) Mesmo o que eles conhecem por governo e democracia está para se transformar. Falam coisas que não querem colocar na vulnerabilidade da distância (...) Acertam as parcerias para Ásia e América do Sul e vão para o happy hour, desestressar e tirar o emburramento que alguns assuntos trouxeram.

Não longe dali, Elias conclui a compra de um lote de brinquedos inspirados nos anos 1970, quando recebe de um conhecido a mensagem sobre uma casa com tudo dentro, quer saber onde deverão remonta-la (...) Antes que a confraternização termine, lá está ele na Máquina de Costura, olhando fixamente para aquela mulher de blusa preta com decote canoa e saia esvoaçante vermelha. Ela o encara com carinho, estende a mão e ele vai. Não é incomum eles trocarem abraços, ela distribui seu analgésico sem prescrição médica, mas aquele abraço é de gratidão (...) Se lembra de quando contaram a Enzo os perigos dos quais foi protegido...

- Meu Deus, como isso é bom – diz em voz baixa.

Aperta o abraço e dissipa todas as agruras dos dois últimos meses. Arthur o agradece na manhã seguinte, pela noite de amor que teve em razão do ânimo da esposa.

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- Você viu que ela está magoada?

- Scarlett, você viu o que ela queria que eu curtisse? Viu, né? Você ainda se lembra um pouco da nossa história? Então se lembra que aquele infanticida amaldiçoado fuzilou uma mulher sob acusação de “actos contra a revolução” só porque ela conseguiu nosso primeiro álbum e se atreveu a cantar “Forgotten” dentro de casa. Uma celebridade burra que pensa que Che Guevara lutou pelos direitos do trabalhador não merece nem minha atenção, quando mais meus likes.

- Só que ela não sabe disso.

- Ela é formada em história, tem obrigação de saber. Quem prega liberdade de expressão e usa uma camiseta nojenta como aquela, se tem um pingo de vergonha na cara, não está com as faculdades mentais em ordem. Aliás, você sabia que aquele ditadorzinho vagabundo queria mandar me matar?

- Putz!!!

- Para ele eu estou influenciando a juventude cubana com ideais “reacionários”. Diga isso àquela ameba. E o nosso chá está confirmado, veja se não me dá bolo de novo... Ah, só mais uma coisa: Alguém que fica magoado pela falta de um like, francamente, não conseguiu entrar para a vida adulta!

Patrícia fecha a caixa de diálogo, olha para os companheiros de sina e solta um suspiro forte. Voltam ao trabalho livre para garantir que outras pessoas também possam escolher o que vão ler, assistir, ouvir, dizer e no que vão trabalhar. A começar pelos três próximos shows (...) O trabalho ameno é interrompido por uma ligação para Ronald, um rapaz negro foi morto por um policial quando já estava dominado, e desta vez os ânimos estão mais inflamados do que a argumentação pode controlar. O nobre agradece, desliga e desaba...

- Vocês ouviram... A gente não pode acreditar que uma situação ruim não vai piorar, porque ela pode piorar muito!

Patrícia fica calada, taciturna, com aquela cara formada em tempo recorde. Ela decreta encerrados os trabalhos de hoje e manda todo mundo ir ver seus netos (...) Há o problema de alguns netos serem comuns, então trazem todos para uma farra na Máquina de Costura (...) Naomi tem idade para ser neta e entra na mesma dança.

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Barbara sofre um acidente no exercício de seu voluntariado. Está bem agora, mas perdeu muito sangue quando foi atingida pela hélice de uma lancha. Josephine faz questão de que descanse em sua residência (...) A moça só reclama de ter perdido os dois chips que tinha implantados (...) para as mais diversas funções. A diva e o herói se olham, ela se aproxima da convalescente...

- Você gostaria de ter uma centena dos chips utilizados nos gadgets train? Mas agora sem pagar um centavo pelos implantes, recebendo monitoramento contínuo de nossos médicos e cientistas.

- Wow... Eu preciso consultar a Ursula, mas eu quero sim!

Ela consente (...) os médicos implantam na mesma tarde os chips quânticos com tecnologia topológica, inclusive nas córneas. Ligar carro, pagar contas e acionar o celular são assombros do passado. X-Fish agora ouve infra e ultrassons, vê infravermelho e ultravioleta, detecta e identifica substâncias no ar e na água, pode entrar e controlar qualquer aparelho digital, tem diagnóstico contínuo de sua saúde, entre outras coisas (...) À criadora dessa tecnologia é passado o primeiro relatório de implantes, que nem estavam nos planos dela.

Isso lhe dá idéia (...) Uma fã da banda está se usando como cobaia para testar a vida com implantes de chips comuns. Phoebe faz uma proposta, ela não só não pagará nada, como será paga (...) e ainda ganhará assistência médica pelo resto da vida...

- Digamos... Dez mil dólares por mês, para começar. O que me diz?

- Porra, cara! Eu digo que sim! Sim! O que eu tenho que fazer?

- Tenho sua localização. Vou mandar um amigo te buscar, o nome dele é Walter Pitmman, irá em um Charger R/T 1972 preto, usando pólo verde escuro e calças brancas.

Tudo acertado, vai à Máquina de Costura. Os seis estão cuidando das crianças, inclusive as filhas da moça, enquanto falam das possibilidades inesperadas que esses implantes trarão. O problema é que essas pesquisas não poderão vir à tona...

- Ah, poderão sim.

Todo mundo se volta para aquela moça que toma grande parte da extensão da porta (...) Ela explica o que fez e Patrícia vai à biblioteca, informar Josephine da iniciativa da neta (...) Para todos os efeitos, CIA, NASA e Pentágono ficarão de olho na civil, deixando a heroína em paz e não fazendo perguntas demais. Ela volta aos demais e puxa a neta para o círculo. Sandra é comunicada e designada para acompanhar essa experiência. Também é colocada na dança.

Carly aproveita a rara paz para se admirar ao espelho (...) Enquando Barry ensaia seus dotes vocais no berço, ela escolhe um vestido azul escuro bem cinturado, de curtas mangas bufantes e gola de lacinho. Ajeita os cabelos, põe o batom e vai com o rebento à casa dos pais. Escolhe o Chrysler Royal Wood 1946 vermelho para o passeio de capota baixa (...) coloca o rebento em uma cadeirinha reforçada, feita especialmente para carros antigos.

Passa em frente à Máquina de Costura e não resiste àquela bagunça de crianças correndo e perambulando por todos os lados (...) depois vai visitar os pais. Mas a bagunça dura até a noite e ninguém se dá conta, até Sandra chegar com um relatório médico...

- Cara, vocês estão realmente na deprê! Já são oito da noite!
Eles se olham, puxam a gestante para a bagunça e ficam lá por mais meia hora. Amanhã tratam de catar os caquinhos do mundo e os colam como puderem

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