O Senhor Conspiração. A estação 257 traz uma série de tensões e intenções dúbias que Patrícia precisa enfrentar. Embarquem, o trem vai partir.
Matthew há muito tempo tem deixado Naomi à
vontade em seu trabalho, mas hoje um editor o chamou para ele ver o último
texto da caçula. Ela fala do brexit de uma forma tão leve, que não parece ter o
peso de conseqüências que terá...
- “Se você decide deixar sua casa, a rotina
da sua família toda muda; se um lojista decide fechar as portas, as rotinas de
muitas famílias mudam; se um pequeno país decide sair de um bloco, a rotina de
vários países muda; mas quando a antiga (e ainda poderosa) maior potência do
mundo decide sair, muda o mundo inteiro. Ninguém sai ileso, cada um precisará
suportar as conseqüências que lhe cabem, mas faz muita diferença se você
consegue simplesmente sair do grupo, em vez de abandoná-lo. Infelizmente há
mágoa nessa separação, e gente magoada não raciocina muito bem. O que nós
podemos fazer a respeito? Nos unir. Unidos, sentiremos menos os efeitos
econômicos em cadeia que isso vai gerar, porque uma dissidência sempre é
seguida de outras. Mas nos uniremos, ainda que motivados pelo medo do pior. Afinal,
não somos os Estados Unidos?”... Caraca!
Liga para Renata, ela lê a coluna e repete a
exclamação. Fabrícia (...) reage de modo mais enfático. Faz questão de traduzir,
compartilhar e dizer que aquilo é obra de uma criança. Só quando os outros
lêem, é que se dão conta de quem são os contactos íntimos da moça, o assédio
fica perigoso a ponto de Sandra e Giovanni irem pessoalmente buscá-la, uma
semana antes dos exames de rotina (...) sem nem dar tempo de ela fazer as malas, na frente de todo mundo na
BYOP. Ela só passa em casa para pegar o passaporte e ruma ao aeroporto, quando
se dá conta está em Sunshadow. Temiam que simpatizantes dos assassinos se
aproveitassem do assédio (...) E já que está aqui, vamos antecipar os exames.
Compras rápidas para ela ter ao menos o que
vestir, calçar e alguns cosméticos. As marroquinas a recepcionam com carinho,
enquanto a ama e senhora da casa está com os comparsas em um trabalho
complicado (...) O boicote que alguns artistas querem impor à banda, por não
terem aceitado ir a Cuba com Obama, mesmo o próprio tendo compreendido os
motivos, nem lhes toma a atenção. Agora precisam decidir se usam desde já o
resort cultural em Marrakesh para salvar vidas, mas de modo discreto (...) Patrícia liga para Abu, lhe dá
instruções pormenorizadas e avisa para manter malas sempre prontas. Isto foi
parte do problema. O próximo é o Brasil, de novo!
Antes que as empreiteiras brasileiras comecem
a ser espremidas e derramem lama pelo mundo inteiro, deixam pronto material
para se resguardarem, porque muita gente próxima está envolvida (...) O
último assunto é doméstico, mas faz parte de conseqüências globais por
permissividades de chefes de Estado ao longo de vinte anos. Aquelas crianças
que outrora tanto lhes suscitaram ternura, ao verem suas imagens pela
televisão, se tornaram seres autoritários e inimigos de quem enxergue suas
contradições, à moda das igrejas radicais, para defenderem os tiranos que
consideram salvadores da humanidade. Os trabalhos terminam no fim da tarde, com
os seis cansados. Precisaram falar com muita gente ao redor do planeta, avisar
colaboradores e presidentes de suas empresas (...) Não se iludem, sabem que estão contrariando nações inteiras.
Tudo isso após terem despertado, lendo a
coluna de Naomi (...) Quanto aos artistas que querem boicote, estão muito ocupados agindo no mundo
real, para se importarem com quem romanceia regimes cruéis e acredita em
utopias de jantares grátis. Renata deixa seus guias limparem o ambiente e vai
com os outros para a Máquina de Costura, recepcionar Fabrícia. Lá está ela, com
aquele barrigão enorme, prestes a dar de mamar e perder noites preciosas de
sono. Chamam Eddie para a festa logo na manhã seguinte. Enquanto Fabrícia
conhece Abigail, é observada por sua psiquiatra, que recebe mimos paralelos por
sua gestação (...) Eis que, em uma conversa mais informal com sua terapeuta, ela vê
acidentalmente uma matéria sobre um negro que, alegando saldar uma “dívida
histórica”, violentou mais de cem mulheres brancas. Ela se descontrola e
precisa ser amparada, afinal não estava bem como queria parecer. O estresse
também antecipa o parto, ali mesmo, no jardim da Máquina de Costura. Raimundo e
Francisco (...) são sunshadowers,
com todas as regalias que um cidadão americano pode ter.
Sandra e Eddie descansam da emergência (...) Vão à maternidade para exames preventivos, mas pelo que a
madrinha dos petizes aferiu, estão muito bem de saúde. A notícia corre, há
protestos contra, todos inócuos ante a legalidade do nascimento. A mãe, ainda
assustada, amamenta os rebentos sem ter olhos para mais nada. Os avós são
trazidos para conhecerem os pequenos, saindo pela primeira vez do Brasil (...) Ela agora tem três meses de licença
maternidade e dois filhos americanos, para justificar sua permanência
prolongada sem precisar de complicações burocráticas. Os nomes dos meninos soam
engraçados ao tabelião.
Para Patrícia é um céu. Há bebês na casa e os
verá por bastante tempo, apesar dos seis shows marcados para o período. Um
deles hoje, em Pittsburgh, onde fazem o ensaio oficial antes da sesta (...) Há um público ávido por um espetáculo musical e o terá.
Eles voltam felizes para o hotel, onde a rotina do ritual de meio século
ajudará a manterem o padrão de qualidade. Não houve entrevistas (...) por não quererem tocar em alguns assuntos no
momento, como Raimundo e Francisco. À noite vão os vinte e quatro à arena,
atiçando o público pelo caminho. Chegam e vêem um cartaz pedindo declarações
sobre, justamente, Fabrícia e o conveniente nascimento de seus rebentos em
território americano. Fazem sinal de que noutra oportunidade poderão falar a
respeito, agora só querem cantar.
Mais do que cantar, interagem com o público
como têm feito desde 1962, dando aos fãs a sensação de que são importantes para
eles (...) Voltam a Sunshadow
de manhã bem cedo, depois do treinamento diário e após um pequeno incidente.
Dois cartazes deixados por encapusados durante a madrugada, em frente ao hotel,
ambos contra Ronald e Rebeca; um acusando de corruptores da “raça negra”, outro
de violentadores da “raça ariana”, este em particular citando Zsa-Zsa. Ronald
não hesita em dizer que os dois responsáveis são iguais, membros de faces
opostas de um mesmo grupo. Todos por perto ouvem, e os responsáveis não gostam
de ser um comparado ao outro.
O Airtrain os leva para longe da polêmica que
se instala e chega às redes sociais (...) têm outras preocupações para tomar seu tempo. Mas só amanhã,
por hoje querem espairecer e aproveitar suas famílias. Robert de longe vê
Mikomi e Sakura entretendo Adele, ao lago de carpas. Ela (...) está progredindo. Ela vai
recepcionar o tio adoptivo...
- Tia Mikomi me ajudou a falar com gente no
Japão. Lá agora é noite!
Terá um dia diferente do que imaginou, mas
gostou da introdução (...) O motivo da visita é que a garota quis saber sobre cultura
japonesa, Enya a trouxe e levou Hope consigo, para ela se dedicar com
tranqüilidade às descobertas. Mikomi esperou ele chegar, para contar de como se
conheceram, com a ajuda desinibida de Rebeca (...) De quebra aprende
também a fazer os bolinhos de arroz. Volta para casa pensando na aparente
facilidade com que os dois se escolheram e se entenderam, volta a ter
esperanças de também encontrar seu par.
&
Strip e Spark brincam (...) enquanto Phoebe trata com Sandra e Giovanni dos
detalhes das próximas viagens a shows...
- O senhor, consorte de nossa valorosa
agente, terá que dar suporte mesmo sem saber o que está acontecendo. Se ela
disser “acene para lá”, acene, entendeu?
- E se “lá” tiver uma parede?
- Todo mundo sabe que você é sem noção o suficiente
para isso. Vamos pedir que Patrick te acompanhe, para não te levarem em uma
camisa de força.
Conversam enquanto Rose, Serena, Aretha e
Inga cercam Abigail (...) A chance de se
passar por louco vem. Na saída de uma coletiva, Sandra cutuca o marido e ele
acena para Patrick, que já instruído acena de volta, os dois se aproximam para
improvisar uma conversa e ela pode sair com mais discrição, enquanto a mídia
especializada espera pelas palhaçadas que eles sempre soltam.
Ela sai com a comparsa pelas ruas de Boston,
em uma Silverado com os vidros escurecidos. Encontram seus contactos em uma
oficina de customização (...) uma fachada do
Pentágono para este fim. Tenente Sonya Berger se apresenta e as leva ao
escritório (...) São o mais rápidas que podem, entregam o cristal de
memória, a oficial confere as informações e vão as três buscar o protótipo...
- O que estão fazendo na picape do Benton –
questiona Sandra?
- Ficaria estranho ela sair do jeito que
chegou. Só vão trocar as rodas e passar um verniz flocado... e acrescentar alguns cvalos.
Fazem algumas coisas mais, para não perderem
a prática, mas é coisa leve. Phebe entrega o protótipo funcional e já testado
da ogiva anti-balística. Ela é colocada em um blindado travestido de Lincoln
MKX e levado à base. As duas voltam ao hotel com quase a mesma discrição (...) a
missão foi cumprida e elas podem agora se dedicar à parte mais saudável de suas
vidas. Patícia e Rebeca as recebem com carinho, mesmo tendo sido uma missão
simples, estava cercada pelos riscos de sempre. Estão acelerando as cooperações
com o governo (...) o próximo presidente (...) vai desconhecer a organização enquanto não se mostrar digno, ou enquanto
não for necessário.
Vão todos ao estádio, vistoriar e testar a
acústica, para relaxar. Quando terminam com os testes e voltam ao hotel, lá
está o velho Gardner, acompanhado de Josephine e um alto assessor da Casa
Branca. Patrícia convida todos a subirem (...) Chegam ao andar, o rapaz diz o que os
outros podem ouvir...
- A Rússia quer um show. O Senhor Presidente
não vai se pronunciar, mas ele acha que isso pode ajudar a reaproximação em um
futuro próximo... É isso.
Eles olham todos ao mesmo tempo, com caras de
“Explique isso, mocinho”, deixando o homem tímido (...) Patrícia suspira, olha para os parceiros e passa a focar
o pai e a madrinha. Richard se antecipa...
- Obama e Putin não querem que a população
pague ainda mais caro pelos impasses diplomáticos, a apresentação de vocês em
Moscou e, talvez, em São Petesburgo, facilitaria o entendimento, quando essa
rixa terminar. Não que eu acredite neles, mas nós acreditamos em atenuar o
sofrimento de uma população que há séculos sofre nas mãos de seus líderes.
Um suspiro longo, um “Meu Deus, por que eu” e
ela decreta “Vocês três e vocês dois venham comigo, vamos falar directamente
com Kremlin” (...) deixando até o representante do
presidente de fora, diante daquelas caras bravas a exigir uma explicação mais
convincente. Lá dentro (...) ela ouve do
próprio presidente que seu voto em 1964, teria sido pela entrada da banda na
União Soviética (...) Ele coloca toda a sua legendária habilidade e seu vasto
cabedal geopolítico para convencê-la de que a estadia será tão agradável, que
se esquecerá do incidente com os agentes em 1964...
- Eu sei que aquele atentado aéreo não partiu
de você, Vladmir. Burrice é um defeito que passa longe de você, o ponto é
outro; Eu sei que vai usar a passagem da banda pela Rússia em seu favor,
perante a opinião pública, que vai soltar que as decisões da Casa Branca não
encontram eco no seio do povo americano. Pode falar o que pretende, sou toda
ouvidos... Pra cima de mim, Vladmir? Conta outra! Sim... Sim, ambos concordamos
que o ocidente está cuspindo no prato em que comeu, abandonando seu alicerce,
contraiu um medo imbecil de se assumir ocidental... Também sei desse partido
pró pedofilia, estou com a mão no gatilho e a mira na cabeça de cada um
deles... Certo, você encontrou nossos pontos de convergência, agora desembucha.
Você ainda era um garoto, quando eu entrei nesta vida dupla... Ok, me
convenceu. Vou falar com os outros e ver o que posso fazer, mas haverá um show em
Tbilisi, mais tarde outro em Kiev, entendeu? E você conhece as regras, não
conhece? Óptimo. Conversaremos novamente ainda hoje, no fuso horário de Boston.
É mole?
- Você falando russo e ele inglês, foi
hilário!
- Não brinca, Mascote... O cara conseguiu me
chantagear legal! Vamos falar com os outros.
Nem quer tocar no ponto em que disse que
estão investigando prováveis raízes russas da casa de Alander. Coloca a Culture
Train na linha e explica a situação. Terão que fazer em escala menor, mas com
muito mais intensidade, o serviço diplomático da Grande Turnê. Ainda liga pra
Margvelashvili, combina um encontro ultra secreto com Putin, então liga de
volta para o Kremlin e acerta tudo. Mandará os agentes russos estudarem as
condições e começarão a planejar os shows...
- Meus queridos, eu só tenho uma coisa a dizer
agora... Vamos comer e dormir, amanhã teremos um dia cheio. Sem mais. Você
dorme aqui, hoje. Amanhã vocês três podem ir embora, depois de terem se
alimentado, é claro. Vamos comer.
Enquanto dois chefes de Estado comemoram, sua
alteza tenta retomar o resto de normalidade que sobrou deste dia. Apesar de
tudo, o show da noite seguinte é o padrão Dead Train de qualidade (...) A imprensa ainda não sabe e não saberá
até o último momento dos shows combinados ontem à noite, pelo menos até lá
terão um mínimo de sossego, na sagrada dureza cotidiana.
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