sexta-feira, 24 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLV

    Luto e luta. A estação 255 avisa que o tempo está passando, e ee não perdoa ninguém. Embarquem, o trem vai partir.


Sandra já caminha com dificuldade, Abigail está, digamos, apenas passando pelo controle de qualidade para ser liberada ao mundo. Ainda que pesada, ela mantém o ritmo de trabalho. Dirt Job e Grenade também, às vezes precisam deter um atrevido para evitar que ele saia machucado. Inga fez da barriga uma tela para sua cartela de hidrocor, fazendo cartões temporários de boas vindas à irmã (...) Uma ida à Máquina de Costura, à esta altura da gestação, tem que ser de carro. Vão os dois na frente e a família no banco de trás do Lincoln MKZ vermelho. A casa está anormalmente cercada pela imprensa, as cortinas estão fechadas e Lobsang está com Spark, mantendo aqueles bisbilhoteiros fora dos limites do caprichado jardim (...) uma reunião íntima, com uma das maiores cantoras da velha guarda americana. Lucille está lá dentro, fará com ela um dueto de blues, com o apoio da orquestra. Sandra chega com a família e a festa começa.

É uma pausa bem-vinda neste momento de alto estresse corporativo. Algumas lembranças de eventos dos anos 1960 e 1970 vêm à conversa, prendendo a atenção da nova formação. Vão ao estúdio para a amiga gravar seu primeiro álbum depois de vinte anos (...) Sai tudo como planejado, as duas vozes em interpretações viscerais fazem o estúdio tremer, enquanto as canções são gravadas. Vão ouvir os resultados e há um início de festejos, mas os noventa e seis anos, vinte dos quais abusando da saúde com substâncias e boemia, cobram seu tributo, e 2016 faz mais uma vítima. Ela falece nos braços de Giovanni, com Sandra tentando de tudo o que pode para reanima-la. O Airtrain tem a missão lúgubre de levar a diva para Saint Louis (...) O retorno é silencioso, principalmente para Sandra (...) perder um paciente sempre é traumático. Se esse paciente for um amigo de longa data, a situação é bem mais grave.

A imprensa se aproveita disso, é um tipo de morte que não tem todos os dias para ajudar a vender anúncios (...) Daquela multidão que os seis conheceram no início da carreira, restam poucos. Renata, diante dos olhares a si convergidos, avisa que ainda terão décadas para lamentar lutos, então que estejam preparados. O que agravou a perda foi ela ter acontecido bem ao seu lado, diante de seus olhos e verem tudo o que poderiam ter feito falhar. Entretanto, a própria Renata cuida de inocular o antidoto...

- Ei, ela foi embora feliz, e nós fomos agentes dessa felicidade. Nós quebramos o boicote das gravadoras, cuidamos da produção, ajudamos a compor músicas novas e demos a gravação pra ela! A última impressã que ela teve da vida foi a felicidade. Vamos tirar essas caras de choro?

Não é tão simples, mas eles concordam. Vão cantar um pouco para esvair logo o luto e retomar suas vidas (...) terminam o dia com mais quatro faixas para o próximo álbum.

Os dias, o trabalho, os shows e a família cuidam de cicatrizar as feridas. Eles têm muitas responsabilidades, as crianças que assistem não vão esperar o fim de um luto para terem fome. Elas querem comer agora! Inclusive as domésticas indomesticáveis que têm em casa, se empanturrando com o que encontram pela frente (...) Zsa-Zsa termina de aniquilar uma banana e volta para o cantinho escolar da casa (...) Adormece lá e acorda na cama, no dia seguinte, achando tudo aquilo muito normal. Ouve uma voz familiar, pula e corre para a sala, é a madrinha. Zigfrida veio fazer a revisão de seus malucos preferidos, claro que não poderia deixar de ir ver sua maluquinha com excesso crônico de fofura. Marie mostra photos dela no balé da prima...

- E esse monte de câmeras lá fora?

- Paparazzi. Evelyn ficou perigosa demais para eles, então...

- E eles pensam que Zsa-Zsa não vai ser? Deixe comigo e aguarde! Menininha fofa, o que você tem feito?

Ela delira, é claro (...) derivado do trabalho que fez naquela folha de papel, que Zigfrida faz questão de ver. Ela nota um padrão bastante evidente, a menina faz muitas curvas para dentro, para logo em seguida fazer uma explosão de riscos coloridos para todos os lados. Gosta disso. Marie lhe mostra algumas que ainda tem guardadas e ela confirma, enquanto carrega e acaricia a afilhada. Volta feliz para a Máquina de Costura, com mil e uma idéias de como auxiliar a pequena em seu desenvolvimento.

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Um clipe em Faraway Hills. Uma praça arborizada serve de cenário para a gravação (...) Pessoas vestidas de ratos e animais pintados como pop art circulam pela filmagem. A certa altura da canção, começa a chover e a maioria dos figurantes foge para buracos, os que ficam vêem suas fantasias de papel se desmancharem e começam a dançar sob a chuva. Enquanto isso, Matthew, Fester e Mikomi publicam uma matéria sobre Rita, Madeleine e Gloria, com a chamada “São elas que há mais de cinqüenta anos dão início ao espetáculo”. A banda vê assim que termina com sua parte, enquanto a Culture Train começa a trabalhar as imagens. As vidas das três, antes de depois de serem aceitas como músicas de apoio, é glamurizada como há muito Hollywood não sabe mais fazer. De longe os paparazzi começam a vender o que coletaram.

Voltam para Sunshadow, de onde os músicos de apoio voltarão para Detroit; exceto Dom, que agora mora lá. Vai com a esposa para seu sobrado com cerquinha branca de madeira e jardim colorido. Alguns paparazzi ficaram (...) Passam algumas horas se apresentando e photographando o que podem (...) os doze titulares descansam da diversão extenuante que foi a gravação do clipe. Estão prontos para enfrentar o mundo estressante dos adultos neuróticos. Vêem pela internet os burburinhos sobre o clipe que, todos sabem, só será lançado a partir de Outubro, para promover o próximo álbum. Um ícone piscando lá em cima chama a atenção de Patrícia, que pede licença aos comparsas para ver o que é. Um colaborador de base avisa sobre a indignação perigosa de muitos acadêmicos, por conta do manual pedagógico que Nancy elaborou (...) como material permanente de divulgação.

Pedagogos de vieses ideológicos ofendem explicitamente a matriarca, por estar “disseminando métodos fascistas de alienação e opressão escolar”. Há um vídeo com dezenas de exemplares sendo queimados ao som de palavras de ordem. Nancy vê, estima aproximadamente quantos foram queimados e manda rodar mil vezes mais (...) Ela invoca, manda traduzir e distribui na América Latina também, com a ajuda do International Mother Bud Fan Club. Depois volta à internet para ver seus desafetos esperneando, xingando e berrando bordões memorizados (...) Vê o espetáculo de despeitos, enquanto passa goiabada cremosa no pão de queijo. Patrícia, Audrey e Melinda aparecem na porta, para ver como está a mãe com toda essa celeuma, mas vêem que ela se virou muito bem sozinha, com a verba gorda que a fundação recebe...

- Sabem, eu poderia ter sido professora dessas pistoleiras... Não estariam tão precariamente educadas seu o tivesse sido... Me autoriza a começar um projecto?

- Com se eu precisasse autorizar... Manda a conta que eu pago!

- Vou selecionar professores do país inteiro, para serem treinados na nossa pedagogia. Gostem essas paspalhas ou não, eu vou disseminar nosso modo de educação pelo mundo inteiro!

Usa as facilidades da internet para fazer seus detratores roerem os cotovelos, convidando professores do país inteiro, Canadá e México (...) Ela está excitada, a provocação que pretendia intimidá-la foi um tiro pela culatra, e de tiro ela entende! Chama todos os seis, quer que a banda ajude a disseminar também, chama a equipe da fundação e pede que dêem idéias, fala com quem consegue e chega exausta à noite em casa, mas muito feliz. Amanhã terá mais.

Patrícia conta a Arthur do brilho que viu nos olhos da mãe. Conversam na intimidade de casal até adormecerem, ele embrulhado nos braços dela. Os estúdios se mordem de inveja por ele ser o único a conhecer isso. Acordam com a suavidade de quem o faz àquela mesma hora todos os dias desde que se casaram. Patrícia conduz os treinamentos, com especial cuidado para com Sandra (...) A organização é o primeiro compromisso, que não planejou. Lhe entregam uma lista com mais de quinhentos políticos, juízes e jornalistas brasileiros marcados para morrer, por estarem no caminho da ganância de chefões dos partidos. Ela pede até a tarde para digerir aquilo, chamando Star, Tiamat, Doom, Chopp, Firehair, Bird, Genius, Brain, Barbarian, Knockout, Window, Angel, Vulcana e Fly para ajuda-la (...) Já cansou-se de avisar ao governo brasileiro e vê-lo usar o material enviado como papel higiênico.

Antes da hora do almoço decidem primeiro avisar à CIA (...) então mandam um calhamaço virtual para o Brasil, com recomendações de investigarem com afinco e não mostrarem nem à presidente. Agora se entreolham, como se perguntassem o que vai ser daquele país. Star responde encerrando a pauta e mandando todo mundo tocar a vida.

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