sexta-feira, 31 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLXII

    O pior tipo de gente. A estação 262 mostra que para um insofismável canalha conseguir ser tolerado, basta ser útil a um regime. Todos a bordo, o trem vai partir.


Sanaa aponta a arma sem medo, com cara de quem não vai hesitar em atirar, isso basta para o sujeito se afastar e ir embora, mas não sem ser registrado por câmeras, inclusive a oculta no camafeu da marroquina. Ela pega Natasha nos braços e leva de volta à Máquina de Costura, onde narra em detalhes o que aconteceu. Imagina o ódio que ele deve estar sentindo, tendo sido impedido de levar a menina por uma muçulmana...

- Juro por Allah, eu iria atirar para matar!

- Se tivesse tocado nela, você poderia tê-lo feito sem pestanejar – diz Patrícia com a neta nos braços. Eu deixei tudo bem claro, mas sempre aparece um estafermo para testar Sunshadow.

Prudence entra furiosa, só se acalma quando vê a filha intacta. Nancy vem logo em seguida, pedindo nomes. Os pastores (...) Mesmo vendo navios e aeronaves descendo e sumindo no horizonte, pregam que a Terra é plana e que uma mulher nasce para expiar os pecados de Eva, o que inclui pedofilia e incesto (...) Natasha, apesar da vida dura e saudável que leva, tem a compleição muito delicada, precisa usar mangas longas a maior parte do tempo, quando sai ao sol.

Amina desabafa com os que ficaram em Marrakesh, fala do radicalismo de dogmas que, infelizmente, não ficou nas fronteiras do oriente médio. Ela reitera encarecidamente que eles se mantenham longe dos radicais, ou acabarão se rendendo aos apelos de soluções fáceis e ficarão como os inimigos de sua mãe...

- Eles não querem merecer o céu, só querem a esbórnia eterna e farão tudo o que puderem para conseguir! Leiam a história de minha mãe e aprendam o que acontece quando as pessoas radicalizam, e usam o mal contra o que acham que é um mal. Males não se anulam, se somam, se livram de um para ficar com outro, mas cedo ou tarde eles se voltam contra seu portador e o enlouquecem, é isso que acontece com extremistas.

- Ele chegou a machucar a menina?

- Não, Sanaa “tiro certo” o dissuadiu e salvou nossa sobrinha! Mas ela está assustada, não é a primeira vez.

Interrompe a correspondência quando ouve um choro de criança, é Colleen correndo para a prima, com medo que a levem embora (...) Patrícia faz aquela cara novamente (...) medita por alguns minutos, pesando prós e contras, então se vê sem alternativa...

- Nath e Leen, amanhã cedo quero vocês duas aqui, vão começar a treinar conosco. Vocês duas durmam mais cedo para trazê-las. A única forma de acabar com essa palhaçada é iniciar essas meninas na vida dupla, vamos mesmo precisar de astrofísicos dentro de alguns anos.

Vai falar com Star (...) Ela compreende, voa no mesmo dia para Sunshadow com Zigfrida. Acertam tudo com os pais das meninas, ainda avisam que elas vão ser fortes o suficiente para inspirar medo em seus perseguidores, o que servirá de incentivo para os treinos.

De manhã bem cedo lá estão as quatro, com caras de sono, mas logo despertadas pelo estresse do treinamento, para voltarem para casa e despencarem em suas camas novamente (...) É o assunto do início dos trabalhos, Rebeca explica os motivos precisos para a decisão tomada...

- Lembrem-se de que Robby também está sendo preparado.

- Quer dizer, como jedi, que começa a treinar desde bebê – indaga Jerry?

- É por aí... Nunca tinha atinado nisso, mas é por aí – responde Patrícia.

- Phee, as suas...

- Sim, pequeno padawan, minhas meninas treinando estão, de modo natural o fazem como se brincando estivessem.

À tarde, apenas como nota para constar, Patrícia informa à organização a observação do afilhado, fazendo os colaboradores pelo mundo se entreolharem e pensarem no caso (...) Josephine se convida para uma noite na Máquina de Costura, aproveitando para acolher as afilhadas. Lembra-se de quando Ricky precisou ser incorporado à organização (...) depois veio a era dos bebês agentes, como aquelas que tem agora agarradas a si. A vida ficou muito complicada, mesmo para os padrões de uma agente veterana. Pergunta-lhes o que fizeram ontem de interessante, e as duas disparam a falar das observações em seus telescópios, as pesquisas em livros e sites. Fica feliz de os pais as estimularem, avisará aos cientistas da organização para falarem com elas (...) Olha para os avós das petizes, sorri e leva as duas para um passeio até a casa da bisavó, quer que todos vejam as duas como suas protegidas.

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Richard chama os doze para a Culture Train, o planejamento para o mega show em Dallas está pronto. Yuri fez uma maquete para compreenderem melhor, porque o que os texanos pretendem é que seja uma cidade provisória (...) serão quase 100km² de infraestrutura, que só aguardam pelo sinal verde da banda para construírem. A idéia é tão maluca, que já atraiu mais de cem pretensos patrocinadores grandes, além dos tradicionais. Patrícia liga para Melinda, pede sua presença...

- Eu sabia que ele estava trabalhando numa coisa grande, não imaginei que fosse isso! Vão aceitar, não vão?

- Depois de dois shows na Rússia, não temos escolha. O que me preocupa é a segurança, é gente demais para colocar num só lugar! É uma metrópole!

- Irmã, tá na hora da gente colocar dos nossos pra fazer esses serviços.

- Incluindo Aisha... Sim, está na hora. Todo mundo de acordo com essa loucura? Ok, Mel, pode divulgar.

O texano, que já é famoso por falar cantando, começa a dançar sozinho ao som da própria voz. O último show do ano será na “Dead Train Polis” (...) A oportunidade de renda com turismo atiça a sanha de Abbott, fora a perspectiva de um recorde dessa monta, que poderá ser facilmente utilizado na próxima campanha eleitoral. Enquanto isso, Yuri recebe a notícia dos parentes russos (...) só esperam pelo sinal verde. Liga para Elias e dá o link para ele ver por si o que arranjaram. É algo muito grande, muito bem organizado, bom demais para ter saído tão rápido. É como se estivesse todo o básico pronto, só esperando pela sua aprovação...

- Yuri, traga sua família para ser treinada... E me deixe falar com a madrinha, por gentileza...

Ele pergunta o que é aquilo e ela responde que já esperava por isso, o Estado russo está sim facilitando muito as coisas, mas o tranqüiliza e pede que prossiga com o trabalho sem medo (...) Em Moscou os sete embarcarão com um arquiteto e um engenheiro (...) Albert se aproxima do brasileiro, estava à espreita, discreto, pergunta o que realmente o preocupa...

- Meus pais e os biológicos de Sandra virão para o festival da saudade com os garotos... Eles tomam muito tempo e eu preciso monitorar o treinamento desses russos.

- Sandra não pode fazer isso?

- Até certo ponto. Ela tem seus próprios negócios e a carreira na música...

Uma carinha juvenil à porta chama a atenção, ela acena e o renegado lhe apresenta a solução: Aisha. Patrícia faz a festa quando Albert liga (...) ela pede para o afilhado ir vê-la assim que concluir as instruções. Sandra, com Inga orbitando e Abigail mamando, se sente aliviada. A caçula termina, arrota e não demora a pegar no sono, então a menina se aproxima para apreciar a irmã e receber mais afagos. Giovanni entra com uma sacola de artigos de armarinho que a esposa pediu (...) aproveitam para estreitar laços e ensinar a menina a fazer seus próprios brinquedos, como a mãe fazia quando era pobre. Bonecas de barbante e bolinha de borracha ela já aprendeu, agora vão sofisticar a brincadeira.

Chegam a avó e o pequeno tio das duas, ele com um pequeno carrossel de lata que Richard o ajudou a fazer para a irmã. Os dias seguintes se dão desta toada mansa, até os russos chegarem. O arquiteto sabe de tudo (...) é gente do governo, sabe inclusive que Elias já desconfiou e tratou de se informar a respeito, ou seja, nem adianta disfarçar. Patrícia o recheou de informações sobre Boris Yushchenko, partidário e colaborador de Putin. O pró é que se trata de um excelente profissional, saberá compreender de pronto tudo o que lhe for mostrado. O rosto severo do brasileiro lhe inspira respeito, mas o olhar frio da marroquina inspira medo, foi bem treinado o suficiente para saber que tamanho e idade não significam absolutamente nada, no quesito periculosidade. Yuri abraça festivamente sua família, apresenta esposa, filha e o pretendente, este com ressalvas. Vão todos se acomodar no amplo sobrado (...) Três adultos e quatro crianças, além dos profissionais. Os agentes residentes estão atentos (...) O arquiteto foi bem treinado, mas não é profissional e nunca tinha ido a campo.

Logo cedo (...) Patrícia vai ver a irmã antes que ela desembeste para a casa da mãe e de lá despache com a filha. É uma histeria, os russos berram a todo pulmão como se não fosse haver ar amanhã. Estiveram no show em Moscou, se acabaram nele, mas estar à presença de sua alteza a princesa da Rússia e da Slovocrácia, é experimentar um momento do céu (...) Ela acompanha irmã e sobrinha à casa da mãe, enquanto Yuri leva os compatriotas à loja, onde o olhar frio e científico de Aisha os espera. Ela notou que os dois ficaram com medo, não vai abrir mão dessa vantagem. Mary Ann está com ela (...) também vai usar sua experiência para ajudar a sobrinha a descobrir que tipo de gente são aqueles dois.

Enquanto isso, Robert novamente é autor de uma polêmica apenas por dizer o que pensa. Aos que não pretendem votar, mas fazem campanha contra um dos candidatos, ele escreveu “Se você não for votar e o seu candidato perder, não vou nem ouvir suas reclamações”. Centenas de indivíduos problematizam a declaração com textos imensos, que evocam história, sociologia, economia, direitos individuais, mas sequer mencionam um motivo para questionar. Novamente emerge a teoria conspiratória de que Sunshadow é um reduto ultra conservador, que quer levar a humanidade de volta à idade média. Citam a proliferação de príncipes e seu reconhecimento internacional, para embasar a tese de um golpe de Estado em andamento. A imprensa é claro que se aproveita disso, sabe que é tudo bobagem, mas é uma bobagem lucrativa e chama gente besta com pompa e popularidade para debater o assunto.

O autor está com os seus, ensaiando para o próximo show em Minneapolis, enquanto todos aguardam os progressos da estrutura para o de Dallas. Mary Ann aproveita um intervalo para falar sobre o arquiteto...

- Que tipo de pessoa se envolveria com um homem daquele?

- Um governo – responde Patrícia.

Ronald e Robert se olham e soltam risinhos de descrença, sabem o que é isso. Os vinte e quatro cercam-na e pedem detalhes do modo como Aisha foi tratada, o mesmo que Elias pergunta aos funcionários (...) Vai ter com sua, praticamente, vice-presidente e saber o que se passou, “O engenheiro é legal, mas aquele arquiteto, é difícil encontrar gente pior. Tenhamos cuidado com ele” é o que ela diz assim que o vê. Passam para os negócios em si, a família de Yuri abrirá mesmo duas lojas, em Moscou e São Petersburgo. Pensar que isso será ter negócios também com Melinda (...) é o que o acalenta.

Os dias passam, os russos conhecem a excursão anual dos veteranos de guerra, recebidos por Krumb e Richard devidamente uniformizados. Isso também é passado para o Kremlin (...) As figuras dos Richards amedrontam, lhe parecem capazes que quebrar uma coluna vertebral com um murro. São todos tratados como família, com intimidade pela população fixa e a flutuante, alguns paparazzi aproveitam para fazer uma jornalismo de verdade, que mereça ser assim chamado.

Os russos ainda ficam para o Festival da Saudade (...) com isso sabendo o que Elias realmente espera deles, no uso de sua marca. Os ataques histéricos ao verem Jose De Lane já eram esperados. Quando eles voltam à Russia, fazendo o grandalhção Yuri chorar no aeroporto, a diva vai ter com o rapaz...

- Ele tentou enrolar Aisha mais de uma vez, tentou saber coisas de minha intimidade de modo muito sutil, perguntou várias vezes aos funcionários se eram felizes trabalhando para um chefe tão duro... Precisei sim coloca-lo no seu devido lugar.

- Você precisa saber que aquele indivíduo é um escalador social. Ninguém gosta realmente dele, o governo russo não o matou ainda porque tem sido mais útil do que perigoso... ainda. Pedirei à CIA que fique mais atenta, porque você sem querer demonstrou ser interessante para eles, por isso vão voltar.

- Eles pensam que sou um de vocês, é isso?

- Muita gente acredita piamente que sim, mas não podemos desmentir e nem confirmar. Nós vamos ficar mais próximos de você, pelo menos acreditarão que é de alta hierarquia e pensarão duas vezes antes de tentarem qualquer besteira.

Chama Sandra e os outros agentes com ligação directa com o goiano, inclusive Albert e Aisha. Dá instruções sobre como protegê-lo e tranqüiliza a cataclísmica Sandra (...) Abrem as portas da biblioteca, Patrícia afagando os afilhados e falando trivialidades, para que pensem em coisas amenas. Mas ela sabe o quanto Elias tornou-se involuntariamente valioso e perigoso.

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