Prantos. A estação 242 mostra que mesmo o trabalho mais dedicado e bem intencionado pode falhar e até fazer mal. Embarquem, o trem vai partir.
Charleston dá más notícias. Um rapaz branco,
que já tinha participado de outros cultos, abriu fogo e matou muitos fiéis de
uma igreja que o acolheu (...) Ronald chora. Com a classe, a altivez e a
discrição de um nobre, mas por isso mesmo Rebeca sabe que dói mais. Diana e
David chegam, sabiam que o filho estaria naquela situação, acompanharam o
trabalho dele para pacificar e unir as pessoas (...) Lucille chega em seguida, perguntando pelo irmão. Se
choca, porque nunca o tinha visto chorar. Ele faz questão de trabalhar mesmo
assim, mas os parceiros deixam para outro dia os assuntos que podem esperar.
Jean Pierre e Marie se encarregaram de cuidar
da tecelagem, que nem de longe é mais só uma tecelagem. Fabrícia observa de
longe o trabalho dos seis (...) As risadas esporádicas ajudam a atenuar o ambiente, mas esquecer-se
de sua tragédia é outra conversa. Phoebe se despede de Homer e Marggie por algumas
horas, precisa encontrar-se com os outros na Máquina de Costura (...) Na Caixinha de Música, os avós
californianos ficam perdidos com o desenvolvomento das meninas, enquanto Marcia
cuida da caçula e os monitora. A rotina do trabalho no cinema restringe as
visitas, por isso tenta deixa-los o mais à vontade possível com as duas.
Sente um cansaço súbito, se senta, reclina a
poltrona e só acorda nos braços da filha. Sandra recolhe sangue para exames e ordena
que fique de folga pelo resto da semana, ordem reiterada por Renata...
- Baby? Momy? O que aconteceu?
- Esgotamento, minha filha. Você abusou do
trabalho. A fundação arranjou mais seis psicólogos para fazer o seu trabalho.
- Só pra garantir, a Eddie deve chegar a
qualquer momento, pra minhas recomendações não ficarem só no âmbito biológico.
Valeu pela ajuda, Homer!
- Estamos aí! A gente se assustou com a
Aretha quase rolando pra fora da poltrona!
- Minha neta o quê???
E ela chega com Richard, ele desesperado. Ele
se culpa por não estar presente e evitar que sua amada exacerbe no exercício de
suas muitas atribuições (...) Eddie pede para ter uma conversa a sós com o casal.
Não é fácil dar bronca em uma psicóloga que mesmo mais jovem, tem mais
experiência e experiências que ela ainda não teve, não é só pela proximidade
pessoal. Não dura muito, Marcia reconhece que exagerou e não vai se atrever a
contrariar as ordens da mãe. Só por precaução, Nancy proíbe sua entrada na
fundação por hoje.
Ela desce da suíte para o sofá, cercada pelas
netas, pela filha e pela televisão. Sandra vai com Renata à Máquina de Costura
dar o relatório. Não é só o trabalho de psicologia (...) A moça se tornou uma orientadora espiritual extremamente
competente e os desencarnados sempre lhe dão preferência. Fabrícia ouve aquilo
com particular interesse (...) A viagem tem lhe feito bem, o contacto com dramas de outras
pessoas também, o problema é se ela vai conseguir manter esse progresso quando
voltar a São Paulo. Sandra lhe explica o histórico da psicóloga, de quando
começou a ajudar até quando tornou-se indispensável...
- Cara! Tipo, esse negócio de ser
insubstituível é perigoso pacas!
- Foi o que aconteceu. Por que acha que eu
receitei descanso e chamei mais gente pra fundação? Ela foi salva pelo mal
estar e pelo desmaio, porque um AVC não estava descartado. Ela precisa das
férias que nunca tirou e precisa para agora!
- Certo, vou avisar... Ricky, é mamãe. Vocês
têm vinte e quatro horas para me apresentarem um plano de férias, mesmo que não
saiam da cidade.
Renata agradece pela ajuda, vai à casa
religiosa ver se a consegue dos outros também (...) Márcia se tornou uma trabalhadora de excelência, sua
eficiência mediúnica é comparável à na psicologia. Precisariam mesmo de vários
bons médiuns para tomar seu lugar...
- Você foi extremamente bem sucedida na
formação de sua filha.
- Eu ficaria feliz em condições normais, mas
esta não é. Não quero que Naomi passe por isso.
Vai ver sua pequena. Ela está entretida com
suas letras, fazendo textos de reserva para emergências. Um deles versa justo
sobre o excesso de trabalho e suas conseqüências, mesmo que cercado das
melhores intenções. A mãe pede que este texto seja publicado hoje, ela o faz e
é carregada para fora, há no quintal um cãozinho debochado esperando alguém com
quem possa brincar.
&
Aceitam um show que não está na agenda (...) Vão para Helena, fazia
mesmo tempo que não tocavam em Montana. A cidade se prepara para receber os cem
mil fãs que já compraram os ingressos, mais do que o triplo da população da
capital. Enquanto o comercio local reforça seus estoques e áreas já alugadas
são cercadas para a chegada de trailers, a banda ensaia e neste ensaio o
estresse já começa a se esvair. Voam para voltar na mesma noite (...) Sobrevoam uma cidade feliz com o fluxo
anormal de recursos gerado pelos ghost drivers, pelas recomendações de seus
ídolos eles não se deixam seduzir por preços baixos, ao menos não só por estes.
Os artigos mais bem feitos e com maior margem de lucro saem mais. Os pequenos
comerciantes agradecem e se convertem em ghost drivers.
O Airtrain “helenerrissa” e o estrondo de
vozes ensurdece a cidade. Passar pelas principais ruas em uma cidade pequena, é
praticamente passar por toda a cidade. Assim eles fazem o passeio oficial,
chamando a população e lhe permitindo tomadas que as photos de coletivas não
têm. No hotel o gerente faz a saudação secreta e apresenta três membros da guarda
imperial (...) Alice ficou de visitar Marcia, para assegurar que ela não sairá de seu
regime laboral.
Vão ao estádio improvisado, mas com toda a
infraestrutura digna de um show do Dead Train (...) Afinam as vozes, os
instrumentos, acertam o tom e cantam algo para os ajustes finos, então voltam
ao hotel para a sesta. À noite aqueles vovôs fazem valer cada centavo pago pelo
ingresso. E os fãs fazem valer cada átimo de confiança que a prefeitura
depositou no show, porque ao fim do espetáculo eles deixam tudo limpo, e a
cidade fica intacta (...) Voltam para Sunshadow de almas lavadas, leves e soltos. Os
músicos de apoio ficarão com eles, amanhã cedo voltam descansados e bem
alimentados para Detroit.
&
Barbara conclui os primeiros exames completos
desde que recebeu os implantes. São animadores. A fã que aceitou ser cobaia e
teve sua vida mudada completamente, também conclui os seus. São os resultados
dela que a organização compartilhará com o governo (...) Só de
detectar infrassons já a coloca em grande vantagem, após ter aprendido a lidar
com eles. Poder se conectar a um computador e lhe transmitir tudo o que
percebe, sem poder ser hackeada, é um sonho...
- E quando vocês acreditam que poderemos
colocar isto em prática?
- Em breve – diz Angel. Mais três exames e saberemos
até onde o suplemento cibernético amplia os sentidos.
Eles já acionam os comandos para que
selecionem e treinem soldados para testes altamente secretos. Assim que
encerram a transmissão, Star encerra a agenda da organização e todos se viram
para Phoebe. Ela não disse tudo...
- Na verdade este teste bastou, mas
conseguimos uma evolução dramática e vamos implantar chips novos. Os próximos
exames serão para as duas aprenderem a lidar também com um aumento considerável
de inteligência. Trabalho de nossa médica secreta.
Sandra une e balança os punhos em sinal de
triunfo (...) Vão para fora, aproveitar a
dureza simples e fácil da vida civil. Patrícia recebe boas notícias, os fãs
atenderam ao seu apelo e deixaram em vida bens e somas vultuosas para a
caridade (...) Ela vai imediatamente ao seu
blog agradecer pela atitude. Compartilha nas redes sociais e volta aos seus
assuntos particulares, enquanto os doadores recebem aquilo como um beijo. É
impressionante como os seis conseguem manter plásticas e formas físicas tão
boas a tão poucos anos dos setenta.
Vai ver como está Fabrícia. Ela está
espantada com a sinestesia de sua psiquiatra. Eddie, experiente e capacitada,
se vale dessa curiosidade para tirá-la mais depressa e solidamente de seu
estado de luto. A paulistada do Bixiga fica impressionada com a associação que
a americana faz...
- Quinta-feira é o quê?
- Tijolo verde escuro. Sabor, cheiro, sons e
formas dependem do clima, da luminosidade, mas é sempre textura de tijolo cru e
verde escuro.
- Cara, que louco! Como é que você processa
isso?
- Eu nasci assim, querida, não conheço outra
forma de sentir o mundo.
Patrícia se retira no mesmo silêncio com que
se aproximou, contente. Vai contar aos afilhados dos progressos (...) Nesse
interim vem a notícia de que os assassinos foram presos. Do lado de fora da
delegacia há uma manifestação agressiva de membros de uma ong de activismo,
exigindo que os jovens desassistidos de minorias historicamente oprimidas pelo
imperialismo segregatório judaico-cristão eurocentrista patriarcal sejam
soltos, negando e dando de ombros para o que eles fizeram, alguns afirmando que
a vítima é que os atacou e eles simplesmente se defenderam, a despeito dos
vídeos que fizeram questão de bloquear.
Sandra até gosta da notícia, mas sabe que as
chances de eles saírem rapidamente da cadeia são de quase cem por cento, e
ainda serem considerados mártires por seus grupos. Elias apenas olha de lado (...) quer agora ver com
eles um modo de contar isso à amiga (...) Decidem contar a Eddie. A psiquiatra vê por bem contar agora,
enquanto está na casa. Fabrícia realmente surta. Grita, chora, bate na mesa de
leitura da biblioteca e desaba. Só se acalma quando Sandra a acolhe, então
derrama o aguaceiro até se acalmar e dormir...
- Eu não pensei que ela fosse extravasar isso
tão cedo, mas é bom. Ela pode acordar bem deprimida, mas com acompanhamento ela
vai se recuperar.
- De depressão eu entendo, pode ficar
tranqüila que sei como agir – diz Patrícia.
Ela acorda à noite, a tempo para um banho,
uma refeição e voltar a dormir. De manhã (...) é puxada para uma rotina de desintoxicação.
Ela cai na piscina como todo mundo e volta para a cama, acorda um pouco tarde, melhor
disposta, ainda que um pouco deprimida. Consuelo lhe serve o cardápio que a
patroa recomendou, próprio para atenuar a depressão. Ela estranha ver aquela
moça delicada e ostensivamente ariana ser a empregada da casa, ainda mais ser
subalterna de uma negra (que já foi mais) cheinha...
- Tô me sentindo inútil. Preciso fazer alguma
coisa.
- O que, por exemplo?
No decorrer da conversa, Consuelo liga para
Nancy, discretamente e a matriarca ouve a conversa. Não se furta de pegar seu
VW “Coffin Joe” 1600 verde ano 1969 e ir buscá-la. Já que está grávida, será
útil aprender a cuidar de bebês. Surte efeito, a moça aos poucos se distrai de
seu drama e presta atenção aos cuidados com aquelas crianças (...) Isso chega
aos ouvidos de Eddie e ela agradece.
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