sexta-feira, 10 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCXLII

    Prantos. A estação 242 mostra que mesmo o trabalho mais dedicado e bem intencionado pode falhar e até fazer mal. Embarquem, o trem vai partir.


Charleston dá más notícias. Um rapaz branco, que já tinha participado de outros cultos, abriu fogo e matou muitos fiéis de uma igreja que o acolheu  (...) Ronald chora. Com a classe, a altivez e a discrição de um nobre, mas por isso mesmo Rebeca sabe que dói mais. Diana e David chegam, sabiam que o filho estaria naquela situação, acompanharam o trabalho dele para pacificar e unir as pessoas (...) Lucille chega em seguida, perguntando pelo irmão. Se choca, porque nunca o tinha visto chorar. Ele faz questão de trabalhar mesmo assim, mas os parceiros deixam para outro dia os assuntos que podem esperar.

Jean Pierre e Marie se encarregaram de cuidar da tecelagem, que nem de longe é mais só uma tecelagem. Fabrícia observa de longe o trabalho dos seis (...) As risadas esporádicas ajudam a atenuar o ambiente, mas esquecer-se de sua tragédia é outra conversa. Phoebe se despede de Homer e Marggie por algumas horas, precisa encontrar-se com os outros na Máquina de Costura (...) Na Caixinha de Música, os avós californianos ficam perdidos com o desenvolvomento das meninas, enquanto Marcia cuida da caçula e os monitora. A rotina do trabalho no cinema restringe as visitas, por isso tenta deixa-los o mais à vontade possível com as duas.

Sente um cansaço súbito, se senta, reclina a poltrona e só acorda nos braços da filha. Sandra recolhe sangue para exames e ordena que fique de folga pelo resto da semana, ordem reiterada por Renata...

- Baby? Momy? O que aconteceu?

- Esgotamento, minha filha. Você abusou do trabalho. A fundação arranjou mais seis psicólogos para fazer o seu trabalho.

- Só pra garantir, a Eddie deve chegar a qualquer momento, pra minhas recomendações não ficarem só no âmbito biológico. Valeu pela ajuda, Homer!

- Estamos aí! A gente se assustou com a Aretha quase rolando pra fora da poltrona!

- Minha neta o quê???

E ela chega com Richard, ele desesperado. Ele se culpa por não estar presente e evitar que sua amada exacerbe no exercício de suas muitas atribuições (...) Eddie pede para ter uma conversa a sós com o casal. Não é fácil dar bronca em uma psicóloga que mesmo mais jovem, tem mais experiência e experiências que ela ainda não teve, não é só pela proximidade pessoal. Não dura muito, Marcia reconhece que exagerou e não vai se atrever a contrariar as ordens da mãe. Só por precaução, Nancy proíbe sua entrada na fundação por hoje.

Ela desce da suíte para o sofá, cercada pelas netas, pela filha e pela televisão. Sandra vai com Renata à Máquina de Costura dar o relatório. Não é só o trabalho de psicologia (...) A moça se tornou uma orientadora espiritual extremamente competente e os desencarnados sempre lhe dão preferência. Fabrícia ouve aquilo com particular interesse (...) A viagem tem lhe feito bem, o contacto com dramas de outras pessoas também, o problema é se ela vai conseguir manter esse progresso quando voltar a São Paulo. Sandra lhe explica o histórico da psicóloga, de quando começou a ajudar até quando tornou-se indispensável...

- Cara! Tipo, esse negócio de ser insubstituível é perigoso pacas!

- Foi o que aconteceu. Por que acha que eu receitei descanso e chamei mais gente pra fundação? Ela foi salva pelo mal estar e pelo desmaio, porque um AVC não estava descartado. Ela precisa das férias que nunca tirou e precisa para agora!

- Certo, vou avisar... Ricky, é mamãe. Vocês têm vinte e quatro horas para me apresentarem um plano de férias, mesmo que não saiam da cidade.

Renata agradece pela ajuda, vai à casa religiosa ver se a consegue dos outros também (...) Márcia se tornou uma trabalhadora de excelência, sua eficiência mediúnica é comparável à na psicologia. Precisariam mesmo de vários bons médiuns para tomar seu lugar...

- Você foi extremamente bem sucedida na formação de sua filha.

- Eu ficaria feliz em condições normais, mas esta não é. Não quero que Naomi passe por isso.

Vai ver sua pequena. Ela está entretida com suas letras, fazendo textos de reserva para emergências. Um deles versa justo sobre o excesso de trabalho e suas conseqüências, mesmo que cercado das melhores intenções. A mãe pede que este texto seja publicado hoje, ela o faz e é carregada para fora, há no quintal um cãozinho debochado esperando alguém com quem possa brincar.

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Aceitam um show que não está na agenda (...) Vão para Helena, fazia mesmo tempo que não tocavam em Montana. A cidade se prepara para receber os cem mil fãs que já compraram os ingressos, mais do que o triplo da população da capital. Enquanto o comercio local reforça seus estoques e áreas já alugadas são cercadas para a chegada de trailers, a banda ensaia e neste ensaio o estresse já começa a se esvair. Voam para voltar na mesma noite (...) Sobrevoam uma cidade feliz com o fluxo anormal de recursos gerado pelos ghost drivers, pelas recomendações de seus ídolos eles não se deixam seduzir por preços baixos, ao menos não só por estes. Os artigos mais bem feitos e com maior margem de lucro saem mais. Os pequenos comerciantes agradecem e se convertem em ghost drivers.

O Airtrain “helenerrissa” e o estrondo de vozes ensurdece a cidade. Passar pelas principais ruas em uma cidade pequena, é praticamente passar por toda a cidade. Assim eles fazem o passeio oficial, chamando a população e lhe permitindo tomadas que as photos de coletivas não têm. No hotel o gerente faz a saudação secreta e apresenta três membros da guarda imperial (...) Alice ficou de visitar Marcia, para assegurar que ela não sairá de seu regime laboral.

Vão ao estádio improvisado, mas com toda a infraestrutura digna de um show do Dead Train (...) Afinam as vozes, os instrumentos, acertam o tom e cantam algo para os ajustes finos, então voltam ao hotel para a sesta. À noite aqueles vovôs fazem valer cada centavo pago pelo ingresso. E os fãs fazem valer cada átimo de confiança que a prefeitura depositou no show, porque ao fim do espetáculo eles deixam tudo limpo, e a cidade fica intacta (...) Voltam para Sunshadow de almas lavadas, leves e soltos. Os músicos de apoio ficarão com eles, amanhã cedo voltam descansados e bem alimentados para Detroit.

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Barbara conclui os primeiros exames completos desde que recebeu os implantes. São animadores. A fã que aceitou ser cobaia e teve sua vida mudada completamente, também conclui os seus. São os resultados dela que a organização compartilhará com o governo (...) Só de detectar infrassons já a coloca em grande vantagem, após ter aprendido a lidar com eles. Poder se conectar a um computador e lhe transmitir tudo o que percebe, sem poder ser hackeada, é um sonho...

- E quando vocês acreditam que poderemos colocar isto em prática?

- Em breve – diz Angel. Mais três exames e saberemos até onde o suplemento cibernético amplia os sentidos.

Eles já acionam os comandos para que selecionem e treinem soldados para testes altamente secretos. Assim que encerram a transmissão, Star encerra a agenda da organização e todos se viram para Phoebe. Ela não disse tudo...

- Na verdade este teste bastou, mas conseguimos uma evolução dramática e vamos implantar chips novos. Os próximos exames serão para as duas aprenderem a lidar também com um aumento considerável de inteligência. Trabalho de nossa médica secreta.

Sandra une e balança os punhos em sinal de triunfo (...) Vão para fora, aproveitar a dureza simples e fácil da vida civil. Patrícia recebe boas notícias, os fãs atenderam ao seu apelo e deixaram em vida bens e somas vultuosas para a caridade (...) Ela vai imediatamente ao seu blog agradecer pela atitude. Compartilha nas redes sociais e volta aos seus assuntos particulares, enquanto os doadores recebem aquilo como um beijo. É impressionante como os seis conseguem manter plásticas e formas físicas tão boas a tão poucos anos dos setenta.

Vai ver como está Fabrícia. Ela está espantada com a sinestesia de sua psiquiatra. Eddie, experiente e capacitada, se vale dessa curiosidade para tirá-la mais depressa e solidamente de seu estado de luto. A paulistada do Bixiga fica impressionada com a associação que a americana faz...

- Quinta-feira é o quê?

- Tijolo verde escuro. Sabor, cheiro, sons e formas dependem do clima, da luminosidade, mas é sempre textura de tijolo cru e verde escuro.

- Cara, que louco! Como é que você processa isso?

- Eu nasci assim, querida, não conheço outra forma de sentir o mundo.

Patrícia se retira no mesmo silêncio com que se aproximou, contente. Vai contar aos afilhados dos progressos  (...) Nesse interim vem a notícia de que os assassinos foram presos. Do lado de fora da delegacia há uma manifestação agressiva de membros de uma ong de activismo, exigindo que os jovens desassistidos de minorias historicamente oprimidas pelo imperialismo segregatório judaico-cristão eurocentrista patriarcal sejam soltos, negando e dando de ombros para o que eles fizeram, alguns afirmando que a vítima é que os atacou e eles simplesmente se defenderam, a despeito dos vídeos que fizeram questão de bloquear.

Sandra até gosta da notícia, mas sabe que as chances de eles saírem rapidamente da cadeia são de quase cem por cento, e ainda serem considerados mártires por seus grupos. Elias apenas olha de lado (...) quer agora ver com eles um modo de contar isso à amiga (...) Decidem contar a Eddie. A psiquiatra vê por bem contar agora, enquanto está na casa. Fabrícia realmente surta. Grita, chora, bate na mesa de leitura da biblioteca e desaba. Só se acalma quando Sandra a acolhe, então derrama o aguaceiro até se acalmar e dormir...

- Eu não pensei que ela fosse extravasar isso tão cedo, mas é bom. Ela pode acordar bem deprimida, mas com acompanhamento ela vai se recuperar.

- De depressão eu entendo, pode ficar tranqüila que sei como agir – diz Patrícia.

Ela acorda à noite, a tempo para um banho, uma refeição e voltar a dormir. De manhã (...) é puxada para uma rotina de desintoxicação. Ela cai na piscina como todo mundo e volta para a cama, acorda um pouco tarde, melhor disposta, ainda que um pouco deprimida. Consuelo lhe serve o cardápio que a patroa recomendou, próprio para atenuar a depressão. Ela estranha ver aquela moça delicada e ostensivamente ariana ser a empregada da casa, ainda mais ser subalterna de uma negra (que já foi mais) cheinha...

- Tô me sentindo inútil. Preciso fazer alguma coisa.

- O que, por exemplo?

No decorrer da conversa, Consuelo liga para Nancy, discretamente e a matriarca ouve a conversa. Não se furta de pegar seu VW “Coffin Joe” 1600 verde ano 1969 e ir buscá-la. Já que está grávida, será útil aprender a cuidar de bebês. Surte efeito, a moça aos poucos se distrai de seu drama e presta atenção aos cuidados com aquelas crianças (...) Isso chega aos ouvidos de Eddie e ela agradece.

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