quarta-feira, 8 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCXL

    As divas. A estação 240 traz um problema não tão problemático, e uma lição do que é ser uma celebridade. Todos à bordo, o trem vai partir.


A chance de bilhões pelo mundo reverem Jose De Lane. O documentário em seis partes começa com o tema de “Iron Flowers”, o primeiro filme da diva. Photos inéditas dela ainda bebê, em Champagne, ilustram a narrativa de uma das maiores amigas que conseguiu no cinema. Alguns detalhes da imigração vêm a público (...) como os pais terem trabalhado no navio para pagar a passagem da família, e ela ter aparecido de surpresa como garçonete, para ajudar. Nem todos sabem que ela exerceu o ofício até Grant conseguir levá-la para os estúdios (...) Claro que o atentado não poderia ficar de fora, mas oficialmente e para o documentário, foi um acidente causado por um ébrio.

Não demoram a chegar aos anos 1960 e, claro, ao primeiro encontro de Josephine com Patrícia. De então em diante sua história e a dos seis tornaram-se quase uma só (...) As polêmicas ficam mais numerosas, como ela previu, à medida que o documentário avança no tempo. O jet set praticamente para, enquanto anotações são feitas, imagens colhidas, trechos pirateados, enfim (...) O documentário termina com uma pergunta sobre seu afastamento das telas...

- Não acredito que no cinema de hoje, com a tônica que hoje tem, haja espaço para alguém como eu. Não descarto voltar a actuar, mas por agora eu simplesmente não me vejo mais diante das câmeras.

A declaração é sucedida de “The End” e um vasto letreiro de créditos, ao som do final de “Miss Pilot”, enquanto a tela escurece lentamente em close no rosto da estrela. Imediatamente os sites especializados iniciam uma corrida para ver quem será o primeiro a publicar uma matéria que mereça ser chamada de matéria (...) E o vencedor é...

- O Matthew de novo... Porra...

Sim, Matthew Tamasauskas, que teve sangue frio para não babar pela diva durante o documentário, e ainda citou seu primeiro contacto com ela em um texto que estava praticamente pronto (...) Não se preocupou em ser bombástico, parecer descolado, buscar referências em outras fontes, simplesmente se valeu de seu cabedal (...) Agora, regozijando de sua vitória infantil, porque admite que foi só isso mesmo, ele baba enquanto comenta com a esposa sobre o documentário.

Em seu palacete, com seu feliz consorte, ela manda a Bart uma mensagem de aprovação. Gostou do resultado e reitera o que disse na última cena (...) Dá uma olhada em câmeras de segurança de pontos importantes, recebe algumas mensagens secretas, alguns figurões imploram por ajuda... (...) Julia assume alguns deles, Bart outros, Patrícia pega os piores e lhes dá esporros homéricos, assim fica só com o que realmente é de sua competência. Termina e vai gerir seus negócios, nunca é inoportuno ver por si o que está acontecendo. Lá fora uma massa de fofoqueiros profissionais espera por uma aparição e sonha com uma declaração, que no fundo eles sabem que não virá.

Zigfrida na linha, ela avisa que está chegando para uma conversa de comadres (...) começa com “Estamos ficando velhas para sermos velhas, mas foda-se” da sueca. Comparam-se a locomotivas a vapor; antigas, obsoletas, desprezadas por muitos, mas a cada dia encantam mais e deixam as modernas tímidas quando passam. E é uma aerodinâmica Baldwin 4-6-4 Class I-5 dourada e vermelha com sete vagões de primeira classe e dois de carga, de 1937, que chega a Sunshadow, comprada da Chesapeak & Ohio, quando trens a vapor estavam fadados ao esquecimento e às siderúrgicas (...) É presente de um fã enciumado e indignado com Hassam (...) Ela não tem como recusar, porque os herdeiros foram com seus filhos pequenos fazer a vontade do pai.

E os paparazzi perderiam mais essa? Lá estão eles, registrando o constrangimento da líder do Dead Train, agora com seu próprio trem. Ele veio fumegando veloz de Columbus, esbanjando classe, força e vigor, como sua nova dona. Claro que o trem chamou atenção pelo caminho, mas ninguém imaginava que...

- Este é um dos sete que meu pai restaurou com muito amor e respeito pela senhora – diz a primogênita. Os outros estão só aguardando seu aceite para virem também.

Agora ela sente o estômago cair. Xinga Hassam de todos os nomes e idiomas que conhece, em pensamento, porque foi ele quem começou essa encrenca (...) O atenuante é que as filhas de Johnny O’Sullivan não fazem parte do espólio. O requinte dos carros é quase uma desforra, com todo o glamour e extremo luxo da época. A receita federal fica novamente muito feliz.

Há uma ferrovia para a fazenda, esta é a boa notícia (...) Ela chama o filho para um canto, pretextando mostrar os cilindros daquela gigante e pede “Pense em algo, por favor, rápido”...

- Podemos usar de vez em quando para filmagens, cenas de filmes de época... Vou chamar os engenheiros e providenciar um estacionamento emergencial, com coberturas, no trecho da ferrovia para a Culture Train.

- Faça isso, eu não estou com cabeça para pensar a respeito.

Os outros já autorizados estão saindo agora para Michigan. Chegam em menos de um dia, bem antes de qualquer coisa ficar pronta, mas ganham cobertura temporária (...) Patrícia suspira, enquanto os turistas se deleitam com a paisagem. Josephine chega para ver aquilo, já imaginando que só ela está preocupada com a situação. Nancy confirma, porque para todos os outros é uma festa...

- Vieram com crianças porque sabiam que assim ela não recusaria.

- Eu vou pedir uma investigação para encontrar mais prováveis repetidores. Do avião eu vi a fila de trens, eles são lindos! É um tremendo exagero, mas um exagero lindo!

- Ela repetiu em voz baixa até chegar em casa “Tenho quase setenta anos, por que isso agora?”

- Quase setenta anos e linda de morrer, ela sabe disso.

- Sabe, mas não leva à sério.

- Hey, vocês duas! Eu estou ocupada, mas estou ouvindo.

A resposta vem com risos. Ela (...) vai ter com as duas. A conversa rende uma idéia, ela não pode impedir que as pessoas lhe dediquem homenagens (...) mas pode pedir que façam isso de forma proveitosa. Manda avisar que estará ao vivo da Naomi Petty Green Children Foudation, directo para o seu canal, fazendo um comunicado aos que desejam realmente demonstrar seu carinho e deixar-lhe mais bens. Quer que todas as crianças estejam lá, agindo normalmente, mesmo prevendo algumas interrupções.

Enquanto as redes sociais pegam fogo, milhares de novos seguidores se inscrevem para não perderem o início da transmissão e o jet set começa a faturar com o assunto, ela vai se produzir. Quer deixar claro que está muitíssimo bem de vida, que poderia viver mil anos na esbórnia (...) Vai manter a discrição até lá, chama seu cabeleireiro e a maquiadora (...) Os paparazzi os viram entrar, disseminam e a fofoca corre solta.

Quer ir só, mas as ordens são outras, Nancy e Josephine entram com ela no Corvair e as três saem com a capota fechada. Na fundação encontram os outros cinco à espera (...) Ela ajeita a faixa rosa creme nos cabelos, o mesmo tom da saia média e da orquídea pintada à direita do peito, na camisa pregueada de seda de mangas longas com leves bufantes e gola redonda, fechada por um camafeu de sua avó. Posiciona o tabletrain, abre seu canal, temporiza e vai sentar-se com os outros. 3... 2... 1...

- Saudações, meus queridos. Eu venho em primeiro lugar agradecer os protestos de carinho com que sempre nos recebem, e as dedicatórias efusivas que eu já recebi. Em segundo lugar, eu gostaria de deixar clara a minha posição sobre os tributos que me dedicam. Eu sou uma pessoa bem sucedida também financeiramente, meu patrimônio me garantiria uma vida suntuosa se eu decidisse parar de trabalhar hoje; claro que isso nem se passa pela minha cabeça. Justo por ser tão bem sucedida, me incomoda que pessoas estejam dedicando suas vidas para de deixarem presentes que considerem à minha altura. Seria injusto de minha parte pedir que parem de me homenagear, cada um sabe o que sente e eu não tenho o direito de arbitrar a respeito, contudo não é coerente dedicarem o fruto de uma vida de trabalho a quem já tem uma fortuna. Se querem prestar tributo ao Dead Train, peço que direcionem seus esforços para ajudar no trabalho humanitário que fazemos. Todos os integrantes da banda são muito ricos, não é a gente rica que suas homenagens materiais devem ser dirigidas. Nós, eu em especial, ficaríamos muito felizes em ver mais gente amparando os necessitados, principalmente as crianças e os idosos. Temos muita gente vivendo sob tetos improvisados neste país, por isso peço que nos ajudem em uma senda para a qual todo recurso é pouco... Oi, meu amor, o que foi?

Ela conversa com a criança, que só queria um pouco de atenção e depois volta ao seu grupo. A intervenção descontraiu um pouco o clima. Continua...

- Aquela criança é filha de concidadãos meus, ela estuda com crianças que não têm família. Esses órfãos estão bem amparados aqui, à espera da adoção que nem sempre vem, mas há instituições pelo país que terminam o mês sem saber se conseguirão manter as portas abertas até o fim do próximo. Eu peço de coração que ajudem. Não podemos estar em todos os lugares e ajudar todas as pessoas, embora às vezes lhes pareça, isso é trabalho para uma nação unida. Se eu souber de ghost drivers ajudando a manter um asilo, uma escola pública, uma creche, a praça do bairro que seja, eu ficarei muito feliz e muito agradecida. Tudo o que nós fazemos só é possível porque vocês nos ajudaram a fazê-lo durante muito tempo, hoje temos uma independência financeira que nos permite só tocar onde e quando queremos, por isso peço que continuem a nos ajudar de outra maneira, estendendo o nosso trabalho para as comunidades em que vocês vivem. No caso dos que têm somas mais robustas para deixar, escolham instituições sem fins lucrativos, há muitas pela América, em nosso site temos links para vocês escolherem as que melhor representam seus anseios. Não é ingratidão de nossa parte, compreendam, é uma questão de dar esperanças a quem já se vê privado dela. Assevero por testemunho a diferença no rosto de um idoso asilado, quando vai para seu banho de sol e encontra um jardim bem cuidado, uma pintura refeita na área de convivênvia, um ingrediente novo na refeição... Para quem está nessa situação, qualquer coisa, qualquer coisa mesmo faz muita diferença. Não é o caso de julgar erros e escolhas, isso deve ficar restrito ao ambiente profissional e ainda assim com muito critério. Nós somos um povo solidário, ao contrário do que a mídia tenta fazer parecer. Provem isso a si mesmos, me encham de alegria, doem recursos e tempo para quem não tem nada. Doar recursos à assistência social é o mesmo que doar para mim, só que de forma indirecta. O que vocês fizerem aos necessitados, estarão fazendo a mim também. Obrigada.

Nancy encerra a transmissão e as redes sociais explodem (...) Os oito voltam à Máquina de Costura esperando que o pedido surta os resultados desejados. Atravessam um mar de repórteres, paparazzi, blogueiros e outras criaturas do filo. Querem fechar esta semana pesada com uma reunião recreativa, sem pensar em mais nada além de coisa nenhuma.

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