sábado, 25 de maio de 2019

Dead Train in the rain CCLVI

    Seu nome é Crazy Horse! A estação 256 se apresenta com a rápida ação do apache e termina com uma despedida. Embarquem, o trem vai partir.


Crazy Horse presta depoimento por seus actos. Um grupo de doze jovens engajados, politizados, revoltados e bem intencionados chegou em um ônibus escolar, sacou seus tablets e começou a transmitir ao vivo o protesto contra o sistema conspiracionista (...) Ocuparam a praça do trem morto, tentaram expulsar as pessoas, mas os próprios cidadão os expulsaram de lá. Então começaram a quebrar as coisas ao redor, Chuck mandou alguns garotos irem acalmar os ânimos, um deles (...) baixou o calção e começou a esfregar a bandeira americana no traseiro; foi a gota d’água. O apache a tomou e enfiou o cabo, deixando a bandeira tremulando de fora. Agora está recebendo a bronca, tranqüilo e destemido (...) Lá fora há onze detidos, o atrevido está hospitalizado, caiu nas mãos de Sandra, que sabendo da história não se furtou o direito de uma sonora gargalhada.

De fora da chefatura, uma fila enorme de cidadãos e turistas espera sua vez, para testemunhar a favor de Crazy Horse. Ele conclui seu depoimento com...

- Compreenda, Chuck, eu não tive nenhum prazer em fazer aquilo, mas é como quando um branco viola e desonra um cemitério sagrado. Este país é sagrado pra mim, você foi à guerra, deve compreender.

- Eu sei, seu cara de pau, eu sei. No seu lugar eu teria enfiado aquele cabo inteiro! Você vai ficar uma semana em casa, pra esfriar a cabeça, ok?

O guerreiro sai para casa de cabeça erguida, sem olhar para aqueles jovens adultos que se comportaram como pré-adolescentes mimados. Vê Deborah encarando firme e furiosamente uma deles (...) não solta uma nota vocal, sequer pisca (...) Tem certeza de que é a líder do grupo. Ela vê um vulto alto e bronzeado pelo canto do olho, se vira, vê o marido e se desmancha nos braços dele. Teve medo que estivesse ferido...

- Ah, porra...

- Tenha dó!

- Ele, machucado? Debby, você bebeu?

Ela não dá a mínima, enche seu amado de afagos e o leva para cumprir sua punição em casa, na suíte de casal. Os repórteres oficiais da cidade se apressam em colher os vídeos e publicar algo decente, antes que a imprensa comece a distorcer os factos, o que acontece rapidamente (...) no que os ghost drivers se empenham em disseminar os vídeos das câmeras de segurança, mas os interessados em inocentar os manifestantes fazem questão de bloquear e ordenar que seus seguidores não os vejam (...) nada de novo no mundo da manipulação de massas.

Sandra finalmente libera o indivíduo e termina seu turno. Volta para casa com seus guarda-costas (...) No fim da tarde, como esperava, precisa ir à Máquina de Costura, para relatoriar sua participação no incidente de hoje. Ela é sucinta, o rapaz é repleto de referências, mas não sabe raciocinar sobre elas, apenas repete bordões, frases prontas e acredita que a América toma o petróleo do oriente médio à força, sem pagar. Os outros se olham, começam a achar o Homer Simpson do desenho um gênio (...) Suspiram fundo e meditam, não pensavam que o cidadão americano pudesse se deteriorar tanto, a ponto de tomar uma ditadura misógina como modelo de sociedade (..) Patrícia dá a reunião por encerrada e põe todo mundo para falar bobagem, para não ficarem malucos como o resto do mundo tem se tornado.

Liga para a tia, para saber como está John, mas quem atende é Eddie. Ela avisa que Deborah está esgotando sexualmente o marido (...) Era o que precisava para reverter o clima tenso e estabelecer uma pequena farra, com direito a piadas de duplo e triplo sentidos. Pelo menos os danos foram mínimos, e os detratores de Sunshadow, bem, estes vão acreditar em qualquer asneira que contarem sobre a cidade, simplesmente não aceitam que quem more aqui possa ser boa pessoa.

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Artes marciais combinadas ao conhecimento profundo de medicina, o relacionamento íntimo e sólido com o próprio corpo, e o gênio que seu pai ajudou a construir. Sandra percebe com antecedência que Abigail está prestes a começar seu turno (...) Dirt Job se adianta e busca a Escalade, Grenade liga para Elias e depois para Patrícia, enquanto o rapaz ampara a esposa. Apesar da tranqüilidade demonstrada, a encrenqueira está muito excitada (...). E o mérito de seu preparo tem frutos, ela auxilia o parto, não que isso torne tudo fácil, mas Abigail sai da melhor forma possível, para a felicidade do avô e da madrinha aflita.

Inga é posta bem próxima à irmã, para se acostumar logo, recebendo afagos enquanto ela é amamentada. Em poucos dias consegue voltar ao trabalho normalmente, mas sempre com a caçula sob vigília, pelo tabletrain. Dirt Job e Grenade voltam às suas funções normais com um aprendizado valioso (...) Beatrix os parabeniza, fizeram um serviço de primeira, evitando que Sandra precisasse esquartejar alguns abusados. Um deles se aproxima, ciente de que ela não precisa mais proteger um feto, confiando que Giovanni vai lhe dar uns tapas para evitar que ela o faça, se cometer alguma gafe...

- Está sendo muito genérico. Muita coisa absurda acontece em um país de 8.500.000km².

- Você soube da ameaça de golpe de Estado no Brasil?

- Do processo de destituição, sim, estou a par. Meu pai já lhes disse que todos os dados bons não passam de propaganda estatal, não disse? Então por que a surpresa? Naquele meio, ninguém presta, não precisa ter pena de ninguém. Nixon passou pelo mesmo por muito menos, sem ter arruinado a economia americana.

- Como assim? O Brasil não pagou a dívida externa?

- Não, tolinho, ele só adiantou uma parcela e transferiu o resto para bancos brasileios, que cobram taxas muito mais altas. Tecnicamente o Brasil se tornou credor, na prática a dívida continua no patamar impagável, só que agora pagando os juros dos bancos brasileiros, que são quase o quíntuplo. Chegamos, a gente vai ter que conversar depois.

Entram na Máquina de Costura, onde a política também é tratada, mas a americana. Os agentes no ambiente alertam que estão confiando demais em estatísticas (...) Patrícia faz todos se lembrarem de que já tiveram um trapalhão por oito anos na Casa Branca, e ninguém soube explicar como ele foi parar lá, ao menos ninguém que não tenha levado em conta a famosa negligência eleitoral do americano...

- E o americano está cansado dos políticos profissionais – completa. Se Orange Trump se mantiver no páreo, Clinton vai ter muito mais trabalho do que imagina. Viram quem é o vice dele? Todo mundo deveria saber quem é o vice de seu candidato!

- Eu vi. Viram a quantidade de boatos contra ela? Vamos ter choro e ranger de dentes aqui também, e muitos artistas vão se queimar de graça, como no Brasil, por causa disso – diz Sandra. Lembremos ainda que o sistema aqui é representativo. Sugiro que a gente fique fora disso.

- Ficaremos, amor da madrinha. Vamos comparecer em peso na votação, mas não vamos fazer o jogo deles. E se é o que estão pensando, sim, há ditaduras espalhando esses boatos, mas não são ataques cibernéticos, então não podemos fazer muita coisa. Vamos trabalhar?

Retomam o trabalho sensato (...) De vez em quando Sandra e Giovanni vêem como está sua pequena, enquanto a irmã dela arca com as responsabilidades de menina crescida, na escola. Todos ao redor se amontoam para babar também.

As empresas mandaram os relatórios sobre concorrentes desleais, com nomes e origens, inclusive na pirataria. O público cativo da corporação faz a diferença, mas não significa que o cenário não poderia ser muito melhor (...) É hora de fazer uma campanha não óbvia pelo consumo consciente, de preferência com o valor agregado de operários felizes (...) Vão reforçar os laços com seus colaboradores e fazer deles os maiores divulgadores dessa campanha. Passam para, novamente, a zona do mercosul, que virou uma zona. São as bombas de sempre, para as quais usarão as soluções de sempre até haver segurança para providências heterodoxas.

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Ainda que quisesse explicar, não adiantaria (...) Sandra simplesmente avança e ignora um grupo que quer satisfações sobre o que disse ao repórter que a abordou, sobre o Brasil. Leva marido e filhas ao Model S, se senta ao volante e volta com eles para Sunshadow (...) vai com a família à Máquina de Costura, ver o andamento dos carros prometidos. Chegam e Patrícia inicia a comunicação e, para surpresa geral, os protótipos estão prontos para vistoria. Grandalhões, estilosos, feitos com materiais nobres e tecnologias de ponta. Patrícia, Sandra, Phoebe e os Richards explicam aos demais o que significa aquela sopa de letrinhas (...) autorizam a apresentação formal.

Estão de posse dos novos gadgets, pouco diferentes dos antigos na aparência, mas por dentro há um universo pronto a ser descoberto. Por eles a banda trata de acalmar os fãs, pedir a eles paciência e evitar discussões políticas, que há muito excederam as raias da sanidade. Passam para as pesquisas que estão financiando, fora as da organização é claro. Começam a se lembrar das tecnologias de quando começaram a carreira. Achavam a copiadora xerográfica o máximo (...) Faziam os exercícios cedo, antes do almoço copiavam e mandavam para Nancy. Em no máximo três dias ela recebia, corrigia e ligava dando broncas e orientando. Uma semana ou menos para resolver um mês ou dois de problemas escolares (...) Desde os anos noventa que poderiam mandar tudo por e-mail e receber os resultados no mesmo dia! Hoje a resolução dos exercícios poderia ser acompanhada em tempo real pelos professores...

- Mas pra gente foi uma revolução – exclama Patrícia! Festejamos o dia inteiro por causa disso!

- Na volta compramos nossas próprias copiadoras – completa Renata. Quando o Seu Richard apareceu com aqueles comutadores, coisa que eu nunca imaginava ver na vida, a Silvia chegou a pensar que teria que dar papinha pra máquina...

Uma pausa para as gargalhadas. Não longe dali (...) Aisha aproveita o aprendizado de gestora para conhecer de perto e em detalhes os maiores pilantras do mundo corporativo, alguns deles adorados por intelectuais, apesar de os odiados por estes serem filantropos. Um deles jura que está enrolando a garota, enquanto ela gerencia por canais à parte o contra ataque pelos fundos. Entre um ex-chefe arrogante e um colaborador respeitoso, os antigos funcionários não têm dúvidas de quem ajudar (...) pronto, ele tem uma quebra momentânea das ações para se preocupar. Ela (...) Manda o relatório para Elias e ele se tranqüiliza, com um picareta a menos por um bom tempo para causar-lhe problemas.

Chocolate volta para casa quando o serviço está feito. Fecha sua sala cheia de guloseimas e almofadas, entra no Peel P50 azul claro e ruma para a Máquina de Costura (...) A atenção que dá ao trânsito facilita sua própria concentração nos perigos, mas chega em casa sã e salva, ainda com risadas emanando lá de dentro. Ela dispara a rir ao saber dos espantos tecnológicos dos anos 1960. Estão rindo mesmo com as avalanches do ano, como a saída da Inglaterra da união europeia (...) terão que estar preparados para isso. Também não estão preparados para a visita, já quase anoitecendo, de um paparazzo das antigas...

- “Aposentar”?

- É, alteza, eu vim agradecer e me despedir.

Puxam-no para dentro e pedem que explique essa conversa. Ele nem é tão velho para parar de trabalhar, e não vai (...) ganhou muito dinheiro com essa vida, mas já chegou! Conta que queria apenas um emprego seguro e confiável, quando decidiu pegar sua Leica e tentar a sorte em Sunshadow, até encontrar uma colocação (...) Hoje tem franquias da Sandra Cocada, BYOP e Brook’s Hot Chocolate em shoppings na Califórnia, Las Vegas e New York (...) seu trabalho passou a ser apenas de administração e manutenção dos negócios, que nem de longe é desagradável...

- Um minuto! Você ganhou a vida só tirando photos da gente, é isso – indaga Renata?

- De vocês e quem estava por perto. Morei cinco anos em um albergue, mais vinte em uma pensão barata de Summerfields, para gastar o mínimo possível, agora vou me mudar para um sobrado em Bel Air. Minha mãe já está lá, cuidando do jardim...

Os doze se olham, se viram para ele e o carregam pela sala, fazendo algazarra até o momento de um banho de piscina de despedida, com todo mundo pulando atrás. Tratam com mais intimidade, afinal ele é um colaborador da corporação.

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