Seu nome é Crazy Horse! A estação 256 se apresenta com a rápida ação do apache e termina com uma despedida. Embarquem, o trem vai partir.
Crazy Horse presta depoimento por seus actos.
Um grupo de doze jovens engajados, politizados, revoltados e bem intencionados
chegou em um ônibus escolar, sacou seus tablets e começou a transmitir ao vivo
o protesto contra o sistema conspiracionista (...) Ocuparam a praça do trem morto, tentaram expulsar as pessoas,
mas os próprios cidadão os expulsaram de lá. Então começaram a quebrar as
coisas ao redor, Chuck mandou alguns garotos irem acalmar os ânimos, um deles (...) baixou o calção
e começou a esfregar a bandeira americana no traseiro; foi a gota d’água. O
apache a tomou e enfiou o cabo, deixando a bandeira tremulando de fora. Agora
está recebendo a bronca, tranqüilo e destemido (...) Lá fora há onze detidos, o atrevido está
hospitalizado, caiu nas mãos de Sandra, que sabendo da história não se furtou o
direito de uma sonora gargalhada.
De fora da chefatura, uma fila enorme de
cidadãos e turistas espera sua vez, para testemunhar a favor de Crazy Horse.
Ele conclui seu depoimento com...
- Compreenda, Chuck, eu não tive nenhum
prazer em fazer aquilo, mas é como quando um branco viola e desonra um
cemitério sagrado. Este país é sagrado pra mim, você foi à guerra, deve
compreender.
- Eu sei, seu cara de pau, eu sei. No seu
lugar eu teria enfiado aquele cabo inteiro! Você vai ficar uma semana em casa,
pra esfriar a cabeça, ok?
O guerreiro sai para casa de cabeça erguida,
sem olhar para aqueles jovens adultos que se comportaram como pré-adolescentes
mimados. Vê Deborah encarando firme e furiosamente uma deles (...) não solta uma nota vocal, sequer pisca (...) Tem certeza de que é a líder do grupo. Ela vê um
vulto alto e bronzeado pelo canto do olho, se vira, vê o marido e se desmancha
nos braços dele. Teve medo que estivesse ferido...
- Ah, porra...
- Tenha dó!
- Ele, machucado? Debby, você bebeu?
Ela não dá a mínima, enche seu amado de
afagos e o leva para cumprir sua punição em casa, na suíte de casal. Os
repórteres oficiais da cidade se apressam em colher os vídeos e publicar algo
decente, antes que a imprensa comece a distorcer os factos, o que acontece
rapidamente (...) no que os ghost drivers se empenham em disseminar os vídeos das
câmeras de segurança, mas os interessados em inocentar os manifestantes fazem
questão de bloquear e ordenar que seus seguidores não os vejam (...) nada de novo no mundo da
manipulação de massas.
Sandra finalmente libera o indivíduo e
termina seu turno. Volta para casa com seus guarda-costas (...) No fim da tarde, como esperava, precisa ir à Máquina
de Costura, para relatoriar sua participação no incidente de hoje. Ela é
sucinta, o rapaz é repleto de referências, mas não sabe raciocinar sobre elas,
apenas repete bordões, frases prontas e acredita que a América toma o petróleo
do oriente médio à força, sem pagar. Os outros se olham, começam a achar o
Homer Simpson do desenho um gênio (...) Suspiram fundo e meditam, não pensavam que o cidadão americano pudesse se
deteriorar tanto, a ponto de tomar uma ditadura misógina como modelo de
sociedade (..) Patrícia
dá a reunião por encerrada e põe todo mundo para falar bobagem, para não
ficarem malucos como o resto do mundo tem se tornado.
Liga para a tia, para saber como está John,
mas quem atende é Eddie. Ela avisa que Deborah está esgotando sexualmente o
marido (...) Era o
que precisava para reverter o clima tenso e estabelecer uma pequena farra, com
direito a piadas de duplo e triplo sentidos. Pelo menos os danos foram mínimos,
e os detratores de Sunshadow, bem, estes vão acreditar em qualquer asneira que
contarem sobre a cidade, simplesmente não aceitam que quem more aqui possa ser
boa pessoa.
&
Artes marciais combinadas ao conhecimento profundo
de medicina, o relacionamento íntimo e sólido com o próprio corpo, e o gênio
que seu pai ajudou a construir. Sandra percebe com antecedência que Abigail
está prestes a começar seu turno (...) Dirt Job se adianta e busca a Escalade, Grenade liga para Elias e
depois para Patrícia, enquanto o rapaz ampara a esposa. Apesar da tranqüilidade
demonstrada, a encrenqueira está muito excitada (...). E o mérito de seu preparo tem frutos, ela auxilia o parto, não que isso
torne tudo fácil, mas Abigail sai da melhor forma possível, para a felicidade
do avô e da madrinha aflita.
Inga é posta bem próxima à irmã, para se
acostumar logo, recebendo afagos enquanto ela é amamentada. Em poucos dias
consegue voltar ao trabalho normalmente, mas sempre com a caçula sob vigília,
pelo tabletrain. Dirt Job e Grenade voltam às suas funções normais com um
aprendizado valioso (...) Beatrix os parabeniza, fizeram um serviço de primeira,
evitando que Sandra precisasse esquartejar alguns abusados. Um deles se
aproxima, ciente de que ela não precisa mais proteger um feto, confiando que
Giovanni vai lhe dar uns tapas para evitar que ela o faça, se cometer alguma
gafe...
- Está sendo muito genérico. Muita coisa
absurda acontece em um país de 8.500.000km².
- Você soube da ameaça de golpe de Estado no
Brasil?
- Do processo de destituição, sim, estou a
par. Meu pai já lhes disse que todos os dados bons não passam de propaganda
estatal, não disse? Então por que a surpresa? Naquele meio, ninguém presta, não
precisa ter pena de ninguém. Nixon passou pelo mesmo por muito menos, sem ter
arruinado a economia americana.
- Como assim? O Brasil não pagou a dívida
externa?
- Não, tolinho, ele só adiantou uma parcela e transferiu o resto para bancos brasileios, que cobram taxas muito mais altas.
Tecnicamente o Brasil se tornou credor, na prática a dívida continua no patamar
impagável, só que agora pagando os juros dos bancos brasileiros, que são quase
o quíntuplo. Chegamos, a gente vai ter que conversar depois.
Entram na Máquina de Costura, onde a política
também é tratada, mas a americana. Os agentes no ambiente alertam que estão
confiando demais em estatísticas (...) Patrícia faz todos se lembrarem de que já
tiveram um trapalhão por oito anos na Casa Branca, e ninguém soube explicar como
ele foi parar lá, ao menos ninguém que não tenha levado em conta a famosa
negligência eleitoral do americano...
- E o americano está cansado dos políticos
profissionais – completa. Se Orange Trump se mantiver no páreo, Clinton vai ter
muito mais trabalho do que imagina. Viram quem é o vice dele? Todo mundo
deveria saber quem é o vice de seu candidato!
- Eu vi. Viram a quantidade de boatos contra
ela? Vamos ter choro e ranger de dentes aqui também, e muitos artistas vão se
queimar de graça, como no Brasil, por causa disso – diz Sandra. Lembremos ainda
que o sistema aqui é representativo. Sugiro que a gente fique fora disso.
- Ficaremos, amor da madrinha. Vamos
comparecer em peso na votação, mas não vamos fazer o jogo deles. E se é o que
estão pensando, sim, há ditaduras espalhando esses boatos, mas não são ataques
cibernéticos, então não podemos fazer muita coisa. Vamos trabalhar?
Retomam o trabalho sensato (...) De vez em quando
Sandra e Giovanni vêem como está sua pequena, enquanto a irmã dela arca com as
responsabilidades de menina crescida, na escola. Todos ao redor se amontoam
para babar também.
As empresas mandaram os relatórios sobre
concorrentes desleais, com nomes e origens, inclusive na pirataria. O público
cativo da corporação faz a diferença, mas não significa que o cenário não poderia
ser muito melhor (...) É hora de fazer uma campanha não óbvia pelo consumo consciente, de preferência
com o valor agregado de operários felizes (...) Vão reforçar os laços com seus colaboradores e fazer deles os
maiores divulgadores dessa campanha. Passam para, novamente, a zona do mercosul,
que virou uma zona. São as bombas de sempre, para as quais usarão as soluções
de sempre até haver segurança para providências heterodoxas.
&
Ainda que quisesse explicar, não adiantaria (...) Sandra simplesmente avança e ignora um grupo que quer satisfações sobre o
que disse ao repórter que a abordou, sobre o Brasil. Leva marido e filhas ao
Model S, se senta ao volante e volta com eles para Sunshadow (...) vai com a família à Máquina de Costura, ver o andamento dos carros
prometidos. Chegam e Patrícia inicia a comunicação e, para surpresa geral, os
protótipos estão prontos para vistoria. Grandalhões, estilosos, feitos com
materiais nobres e tecnologias de ponta. Patrícia, Sandra, Phoebe e os Richards
explicam aos demais o que significa aquela sopa de letrinhas (...) autorizam a apresentação formal.
Estão de posse dos novos gadgets, pouco diferentes
dos antigos na aparência, mas por dentro há um universo pronto a ser
descoberto. Por eles a banda trata de acalmar os fãs, pedir a eles paciência e
evitar discussões políticas, que há muito excederam as raias da sanidade. Passam
para as pesquisas que estão financiando, fora as da organização é claro.
Começam a se lembrar das tecnologias de quando começaram a carreira. Achavam a
copiadora xerográfica o máximo (...) Faziam os exercícios cedo, antes do
almoço copiavam e mandavam para Nancy. Em no máximo três dias ela recebia,
corrigia e ligava dando broncas e orientando. Uma semana ou menos para resolver
um mês ou dois de problemas escolares (...) Desde os anos noventa que poderiam mandar tudo por
e-mail e receber os resultados no mesmo dia! Hoje a resolução dos exercícios
poderia ser acompanhada em tempo real pelos professores...
- Mas pra gente foi uma revolução – exclama
Patrícia! Festejamos o dia inteiro por causa disso!
- Na volta compramos nossas próprias
copiadoras – completa Renata. Quando o Seu Richard apareceu com aqueles
comutadores, coisa que eu nunca imaginava ver na vida, a Silvia chegou a pensar
que teria que dar papinha pra máquina...
Uma pausa para as gargalhadas. Não longe
dali (...) Aisha aproveita o aprendizado de
gestora para conhecer de perto e em detalhes os maiores pilantras do mundo
corporativo, alguns deles adorados por intelectuais, apesar de os odiados por
estes serem filantropos. Um deles jura que está enrolando a garota, enquanto
ela gerencia por canais à parte o contra ataque pelos fundos. Entre um ex-chefe
arrogante e um colaborador respeitoso, os antigos funcionários não têm dúvidas
de quem ajudar (...) pronto, ele tem uma quebra momentânea das ações para se preocupar.
Ela (...) Manda o relatório
para Elias e ele se tranqüiliza, com um picareta a menos por um bom tempo para
causar-lhe problemas.
Chocolate volta para casa quando o serviço
está feito. Fecha sua sala cheia de guloseimas e almofadas, entra no Peel P50
azul claro e ruma para a Máquina de Costura (...) A
atenção que dá ao trânsito facilita sua própria concentração nos perigos, mas
chega em casa sã e salva, ainda com risadas emanando lá de dentro. Ela dispara
a rir ao saber dos espantos tecnológicos dos anos 1960. Estão rindo mesmo com
as avalanches do ano, como a saída da Inglaterra da união europeia (...) terão que estar preparados
para isso. Também não estão preparados para a visita, já quase anoitecendo, de
um paparazzo das antigas...
- “Aposentar”?
- É, alteza, eu vim agradecer e me despedir.
Puxam-no para dentro e pedem que explique
essa conversa. Ele nem é tão velho para parar de trabalhar, e não vai (...) ganhou muito dinheiro com essa vida,
mas já chegou! Conta que queria apenas um emprego seguro e confiável, quando
decidiu pegar sua Leica e tentar a sorte em Sunshadow, até encontrar uma
colocação (...) Hoje tem franquias da Sandra Cocada,
BYOP e Brook’s Hot Chocolate em shoppings na Califórnia, Las Vegas e New York (...) seu trabalho passou a ser apenas de
administração e manutenção dos negócios, que nem de longe é desagradável...
- Um minuto! Você ganhou a vida só tirando
photos da gente, é isso – indaga Renata?
- De vocês e quem estava por perto. Morei
cinco anos em um albergue, mais vinte em uma pensão barata de Summerfields,
para gastar o mínimo possível, agora vou me mudar para um sobrado em Bel Air.
Minha mãe já está lá, cuidando do jardim...
Os doze se olham, se viram para ele e o
carregam pela sala, fazendo algazarra até o momento de um banho de piscina de
despedida, com todo mundo pulando atrás. Tratam com mais intimidade, afinal ele
é um colaborador da corporação.
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