Depois dessa "licença-trabalho" imprevista da vida online, cá retomo minhas atividades textuais. E os poupo de explicações de como tem sido minha nova rotina. Imagino que não seja interessante saber sobre planilhas do Excel, presídio feminino e decoração de Natal (ou como tudo isso pode caber num único emprego - e cabe, acredite).
O fato é que o trabalho anda me tomando um tempo precioso. Não o das oito horas efetivas, mas todo o resto: Me assombra o modo como as preocupações furtam da nossa vida todo aquele preciosismo das pequenas coisas. Sutilezas que eu gosto tanto. Reparar na minha sombra comprida de manhã, descendo a rua. Sentir o vento geladinho. Conversar com os cachorros dos vizinhos. Procurar desenhos nas rachaduras do asfalto. Esperar o ônibus daquele cobrador simpático, que sempre dá bom-dia. Andar por aquelas marcas para cegos no chão do metrô, porque faz cócegas no pé. Mandar mensagens idiotas pra acordar os amigos. Contar quantas pessoas estão de boné no metrô. Ou dormindo. Ou lendo. Ou ouvindo música. Esperar todo mundo subir a escada. Sentir o cheiro de óleo do trem e imaginar que estou indo passear em Paranapiacaba. Ler as pichações nos muros da linha e procurar as mais antigas (ainda acho uma de 94!). Comprar chiclete no trem. E adesivo do menino surdo. Escrever post-its bestas para mim mesmo. Fazer origami enquanto falo com fornecedor ao telefone. Voltar pra casa observando a lua. E mandas mensagens pros amigos observarem também. Parar no portão da vizinha pra conversar com a gata dela. Subir a rua pela guia. Pisar na tampa de bueiro solta que faz um barulho engraçado. Pisar nas folhas secas. Sentir o calorzinho de dentro de casa. Desenhar deitado na cama. Pensar que o tempo é mesmo relativo e não se importar com isso. Pelo menos, não tanto.
6 comentários:
Você andou fazendo decoração em presídio feminino? Conta aê!
Eu tinha uma mania de contar quantas pessoas estavam usando All Star X quantas pessoas estavam usando Nike/Similares...
Eu sempre arrumo tempo para essas pequenas coisas. São elas que fazem o dia valer a pena (pelo menos, na falta de coisa melhor).
E sempre compro os adesivos dos surdos! Nem sei mais o que fazer com tanto sticker!
No ônibus, gosto de sentar na janela e ver quem está mal vestido.
Experimente observar um formigueiro, a uma distância segura, é claro. Relaxa que é uma beleza.
Experimente sentar num formigueiro!
Experimente se preocupar com a própria vida, fazer contas pra ver se o dinheiro vai dar, ou simplesmente, ficar prestando atenção à musica que vc estiver ouvindo.
É, Fiote querido. Que a vida seja simplesmente prestar atenção...
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