Estava eu voltando para casa, de ônibus, após um dia cansativo de trabalho. Sentei na janela e deixei o pensamento vagar. Inexplicavelmente, me veio à cabeça a frase: “Pau que nasce torto, nunca se endireita”. Não sei se foi porque eu vi uma árvore meio torta, ou se é porque não tenho nada melhor para pensar. Só sei que, quando dei por mim, estava relembrando – e tentando interpretar – a letra do primeiro sucesso do É o Tchan. Não é tarefa fácil, a letra é muito profunda. Coisa de filósofo.
Pau que nasce torto, nunca se endireita
Uma adaptação do ditado “pau que nasce torto, morre torto”, usado para explicar que uma criança precisa ser educada desde bem pequena. Se os pais forem relapsos, a criança fica mal educada para sempre, já que, depois de certa idade, não adianta mais tentar ensinar. O que isso tem a ver com a música? Não falei que era coisa de filósofo?
Menina que requebra, mãe, pega na cabeça
Ih, onde já se viu falar uma coisa pornográfica dessas e meter a mãe no meio? Que pouca vergonha! Esse “mãe”, entre vírgulas, dá a entender que a pessoa está explicando à digníssima senhora que toda menina que requebra costuma pegar na cabeça. Primeiro, que é de extremo mau gosto compartilhar experiências sexuais com a própria mãe. Segundo, se a mulher já é mãe, ela sabe como funciona. Mistério: por que alguém estaria tão interessada num pau que nasceu torto e que nunca vai se endireitar? Falta de coisa melhor?
Domingo ela não vai (vai, vai!) Domingo ela não vai não (vai, vai, vai!)
O verso(?) mais enigmático da música. Domingo ela não vai aonde? E o que significa o povo dos parênteses dizendo que sim, ela vai? Decidam-se! Acho que o verso quer dizer que domingo é dia santo, não é dia de fuleiragem, por isso ela não vai. Mas o povo insiste que a moça vai. Deve ser porque eles sabem que ela não é flor que se cheire, e que com ela não tem esse troço de dia santo. É fuleiragem sempre! E quem será essa misteriosa “ela”?
Segure o tchan, amarre o tchan, segure o tchan, tchan, tchan, tchan, tchan
Passo!
Tudo o que é perfeito, a gente pega pelo braço/ Joga lá no meio/ Mete em cima, mete embaixo
Complicou! Quem escreveu isso deve pensar que ainda vivemos no tempo das cavernas. É mais ou menos assim: viu uma mulher bonita, é só pegar pelo braço, jogar no meio (Da cama? De um monte de feno?), e sair transando em várias posições. Facinho, facinho! Se alguém viesse me pegando pelo braço, no mínimo levava uma bolsada na cabeça. Ainda mais se fosse gente do naipe do Cumpádi Uóxinton! Cruzes! Se bem que, com certas mulheres, deve ser assim mesmo. Ô beleza!
Depois de nove meses, você vê o resultado
A conclusão da esbórnia: a moça que não perdoa nem os domingos, que aceita ser jogada no meio e puxada pelo braço, fica grávida. Lindo! Só faltou dizer que o resultado aparece bem antes dos nove meses... Teste de farmácia, sabe? Eu também poderia dizer que essa parte da música é uma apologia ao sexo sem proteção, mas ficaria óbvio demais. Prefiro ver pelo lado bom: agora, a moça “cresceu e virou mulher”, vai ter um filho, muitas responsabilidades e um lar (mesmo que seja com o Cumpádi Uóxinton). Não vai ter mais tempo para correr atrás de qualquer pau que nasceu torto. Adoro finais felizes (mesmo que envolvam o Cumpádi Uóxinton)!
Este texto foi escrito como complemento deste aqui. E eu sei que o trocadilho do título é infame.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Todo mundo interpretando o tchan!
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14 comentários:
Rema, ordinária!
Acho que "ela" é a menina que requebra, mãe, pega na cabeça...
Coisas que só o Cumps (intimidade) pode explicar!
É como o MC do Bonde do Tigrào declarou, certa vez: "É... Admito que minhas músicas têm um duplo sentido". Fico pensando onde estaria o "outro" sentido. Porque pra mim, só tem um mesmo.
Experimente philosophar com um "rock" dos anos 1980, como Ultrage à Rigor.
É que nem todo mundo compreende a filosofia dessas letras. Tá, foi péssima, essa.
Luna, simplesmente sensacional! Quem diria, que por trás (literalmente) de bundas requebrando haveria tanta filosofia? A saudosa Dercy, perguntada uma vez sobre o que achava dessas dancinhas da moda, respondeu na lata: "No meu tempo, isso só se dançava na ZONA". Bjs!
Só a Sacerdotisa consegue encontrar os significados da vida em qualquer coisa.
Abençoada seja a sua sabedoria, Ó Sacerdotisa.
Pau que nasce torto nuca se indireita XD
é...minha avó dizia muito isso e eu acho que é assim mesmo... pau que nasce torto morre torto
Hahaha
muito boa!
Você escreve muito bem! Parabéns!
Bjs!!!!
Vixe Maria
Interpretar o Tchãn é algo que nem o mais foda dos filosofos conseguiria um dia.
Aquilo não se interpreta.
Alias, aquilo não se ouve, não se assiste, não se define e é melhor nem se lembrar!!!!!
rsrs
Beijosss
Melhor interpretação de uma música que já lí na vida. rs!
Adoro o blog.
Abraços
Tirando a heresia anti-coumpádi adorei o texto, viu?
Bjos!
Obrigada pelos elogios!
Frank, o texto é antigo, quando eu escrevi, ainda não tinha compreendido a magnitude e a opulência do Cumpádi.
Cresci agora, estou lendo o seu texto agora, em pleno 2016.
Confesso, entendi a pouco o que as letras das músicas deles significavam, rsrs. Morri de rir de mim mesma.
Obs: Parabéns pelo texto!
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