domingo, 31 de agosto de 2008

Somos também aquilo que perdemos

Ou o que esperava da sala de aula.

Ruína: tudo que um dia esteve, não está mais, porém, permanece. Uma lembrança, certo? Coisa que todos temos. Pergunte-se então, quais são suas ruínas pessoais, e qual a função delas no fundo da gaveta ou no alto da estante, além de acumular poeira.
Ana Teixeira, artista plástica que reside e trabalha em São Paulo, partiu desses resíduos para conceber [in]cômodo. Algumas dezenas de objetos foram doados por [in]cômodo :: Ana Teixeiraamigos à artista, e possuem, para seus ex-donos, um valor simbólico e pessoal: mecha de cabelo, maço de cigarros, um pente de bolso. Todos foram sepultados por Ana, um a um, em blocos de resina transparente, e dispostos numa mesa branca, antiga.
Ali, expostos à manipulação, os pequenos blocos-esquifes são testemunhas materiais da imaterialidade da memória: você consegue tocar o bloco de resina, mas não os objetos em si. Nos é permitida uma experiência tátil, concreta, com um objeto que, pela sua condição encapsulada, não está mais presente ou disponível para nós. Objeto morto, lembrança viva. É paradoxal? Bem, se não fosse, não estaria escrevendo sobre este trabalho...
Quando afirmo que ruínas são as lembranças de algo que morreu, arrisco colocar tudo que tenho hoje à prova da utilidade. Não guardo entradas de cinema, anotações ou fotos, mas lembranças. Restos de algo que não existe mais. Por que vivemos, se não para guardar tais ruínas? Na vontade de ter de volta, repetir - às vezes justamente não repetir - algo que o tempo levou embora.
Sua vez: faça um pouco de arqueologia pessoal. O seu primeiro dente de leite, ou o par de abotoaduras do seu querido e falecido avô. Ressignifique-o, modifique-o, ou mesmo jogue-o fora. A lembrança (como a arte contemporânea) faz parte de você, e o caracteriza como indivíduo. E você pensava que com arte era diferente?

(Esse pequeno texto-proposta fez parte do meu TCC, nos idos de 2003 e reencontrado pela Mai. Relendo-o, percebo que os motivos que me levaram ao Magistério em 2004 e os que me tiraram dele, em 2008, são exatamente os mesmos)

8 comentários:

Edu disse...

Memórias são os tijolos que nos constróem, constróem nossa psique.

Fazem de nós o que somos.

Perdê-las é se perder.

LINDO texto, Fabim...

Frankulino disse...

Caralho, Elmo, que artista gênio! adorei, só uma mente beeeeeeem doentia pra criar uma coisa legal dessas...


Belo texto também!


Minha ruína, meus boletins da 8ª série, quando eu ainda era gente, boletinescamente falando

Rafaela disse...

Me fez lembrar que eu tinha obsessão em guardar entradas de cinema. De uns tempos pra cá eu parei com isso, agora eu perco tudo =X

Fabiana disse...

Legal, Elmo. Quanto ao magistério é profissão mais frustante que existe, meeeeesmo. A gente nunca sabe se realmente atingiu algum resultado.

Luna disse...

Isso me lembra Dra. Ruína!

fabio_ disse...

Hoje eu gosto de pensar que esse texto hoje também é uma ruína...

Anônimo disse...

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