Canções dos sonhos. A estação 230 traz uma pitada de épico fantástico para aliviar a tensão de um mundo em desmoronamento. Embarquem, o trem vai partir.
- Como assim “Dragão”?
- Dragão! De asas, pescoço longo, crina de
pele bem longa, escamas, chifres, do tamanho do shopping... Só vi o vulto, a
Nah fez a descrição... Agora está morando no nosso quintal...
Patrícia olha para os outros, que olham estranho
de volta e começam a rir de perplexidade. Eles (...) já
viram coisas demais para serem simplesmente céticos, mas aquilo lhes soa muito
fantástico, quase absurdo. Vão à casa dela. Renata consegue ver aquele monte
aparentemente adormecido em seu quintal, todo recolhido, como se a casa tivesse
mais que os três andares abaixo (...) Mas a proximidade dos seis o põe em alerta e ele
se ergue e abre suas imensas asas, fazendo a brasileira ter uma reação de
espanto totalmente coerente. Os convence de que há algo gigantesco em seu
quintal.
Entram, são cercados por Palhaço até a dona o
pegar nos braços. Fora ela, ninguém percebe coisa alguma, além de algumas
idéias surgirem e canções se formarem com muita facilidade (...) Renata avisa, é Amhrán na Farraige que os está
inspirando (...) Vão
imediatamente transcrever e cifrar. São canções de estilo épico suficientes
para dois álbuns (...) encaixam
fácil no estilo da banda. Chamam a nova formação e os músicos de apoio, têm o
álbum duplo para 2016 e querem ensaiar já, para estarem afiados. Mesmo com o
recente “Morbid Planet” ainda causando furor pelas críticas às Nações Unidas e
à inércia do americano (...) Não que o álbum em gestação não tenha críticas, as tem, mas é tudo
muito poético e pedagógico, em forma de parábolas cantadas.
Gravam o que podem agora, mandam para Melinda
e ela registra o enredo de “Songs of Dreams”. Agora vão à orquestra, querem aproveitar
o furor das canções ainda frescas para fazer os melhores arranjos possíveis,
sabem de antemão o que Happy Moon lhes diz...
- Cabe fazer arranjos celtas em todas,
algumas em trechos, outras do começo ao fim, mesmo com elementos de pop rock na
estrutura... Foi aquele dragão na casa da Renata, não foi?
- Você viu?
- Mas é claro que eu vi! Sea Bear viu, Quick
Hawk viu, não há segredos, Renata. Está tudo acontecendo de acordo com o
cronograma. Evelyn está descansando na varanda, mas vou adiantar alguma coisa,
venham.
Os longos cabelos brancos em um
rabo-de-cavalo balançam no percurso até o estúdio #1. Começam escolhendo a
percussão, especialidade em que Rebeca e Sandra se esbaldam (...) É uma festa! Assim que a primeira
maestrina chega do descanso, vê todo mundo pronto para iniciar seu trabalho. São
vinte e sete músicas que renderão um álbum duplo e toda promoção que um
producto do tipo pode proporcionar (...) Passam três dias entretidos no que mais amam fazer, estão
com todas as canções na ponta da língua.
Josephine chega para saber das novidades,
quer detalhes dessa movimentação toda. Renata lhe conta do dragão e a diva puxa
pela memória a literatura espírita que tem...
- Mas já?
- Já e no meu quintal!
- Então Sunshadow está pelo menos cem anos
adiantada!
- E justo na minha casinha de 1923!
- Boa questão... De quem foi aquela casa,
Patty?
- Do pastor Robinson... No, I can’t believe!
Será que virou bruxo depois de morto?
Nasce mais uma canção. Terão que espremê-la
no disco 2 do álbum. Josephine liga para Tobby, que manda Julia em caráter
emergencial entrevistar os seis, o programa é hoje. Não quer ficar um segundo
atrás da concorrência, que varia de medíocre a razoável, mas é numerosa. Ela (...) Espalha câmeras em lugares
estratégicos da sala e espera a contagem do cinegrafista profissional, que
controla todas elas...
- 3... 2... 1... Gravando!
- Boa Noite Mundo! Eu sou Julia Foster e esta
é a sala de estar da mítica Máquina de Costura! O Dead Train teve a proeza de
compor, arranjar e gravar vinte e sete músicas completamente novas em um só
dia! E hoje surgiu mais uma para o próximo álbum...
O que vai ao ar à noite leva os fãs ao
delírio, alguns ao orgasmo. O interior da casa nunca tinha sido mostrado na
televisão (...) A visão
que têm é, independente do furor de fãs, maravilhante. Os programas de fofoca
enfrentam o risco de processo e retransmitem a matéria ao vivo, como atração em
seus palcos, para seus fofoqueiros poderem comentar e destilar peçonhas em
tempo real. O estilo retrô de Patrícia novamente polariza as más línguas;
embora o jeito motoqueira de ser de Rebeca não seja bem visto entre eles, ela
bate mais forte.
A rara condição de ainda hoje ter todos os
seus álbuns à venda normalmente, não esfria a expectativa para o “Songs of
Dreams”. As demonstrações feitas durante a entrevista adoçaram os ouvidos e algumas
lojas já recebem reservas informais (...) Os desafetos
voltam à tona com a ladainha de que a banda dá mostras de cansaço e muda para
tentar se manter, como seis ou sete outras vezes (...) Junto com essa
inspiração draconiana súbita, vem um avanço tecnológico inesperado e Phoebe se
reporta imediatamente à avó...
- Eu estava estudando o comportamento de
partículas polarizadas, na prototipadora quântica, para meu pós doutorado em
engenharia topológica, submetendo elas às mais variadas ondas possíveis, quando
percebi que mesmo a base de polietileno estava se comportando como as amostras
de nióbio... Cada átomo parece ter sido envolvido em uma aura... Como direi...
Parece ter perdido a inércia e a interação gravitacional... Completamente...
- Você neutralizou a inércia de um polímero?
Estava na balança? O que ela egistrava?
- Zero grama.
- Feche as portas... Star, é Princess!
Precisamos decidir se contamos uma coisa ao governo.
Chamam a cúpula da organização e Jeremy
Nelson. Genius e Brain tentam compreender como ela conseguiu isso, os
cientistas da organização prevêem mais uns bons anos sem entender coisa nenhuma
até começarem a perceber como tudo funciona (...) não é assunto para leigos conversarem à mesa do bar. Lá fora
Luppy e Consuelo especulam o que seria desta vez, enquanto a família começa a
encher a casa.
Decidem que vão contar, mas não tudo, ao
governo. Nelson se encarrega de abrir canal com o Pentágono...
- Senhores, estamos diante de uma revolução
sem precedentes, que está agora se descortinando diante de nós, com especial
aplicação nas viagens espaciais. A agente Angel conseguiu trazer à vida real o
anulador de inércia das ficções científicas. Foi uma amostra pequena de nióbio,
mas peso e inércia foram completamente anulados por alguns minutos, durante as
medições...
Ele não diz que alguns minutos foram a
duração total das medições (...) Ligam para a CIA e a Casa Branca, dão a
notícia e passam a discutir como colocar essa tecnologia em prática sem chamar
a atenção de nações hostís. O programa espacial é o mais óbvio, mas as
aplicações potenciais são inúmeras, talvez até limitar o comprimento de um
facho de laser. Assim que fecham os canais (...) eles decidem o que realmente farão com aquilo.
Knockout sugere que os próximos gadgets da banda incorporem o que se puder
colocar neles, dessa tecnologia. Sem a ação da gravidade, a precisão das
medições e a uniformidade do funcionamento serão absurdamente altas. Todos a
favor, Angel transfere os arquivos para os cientistas e Star encerra a pauta da
organização.
Agora é festa, com os laboratórios da
organização revendo todos os seus procedimentos e metas (...) Ela ainda quer refinar o controle, para ajudar a aplicação
veicular, mas o estrago no atraso mundial foi feito. Lá está Marcia, firme em
sua posição, querendo saber o que aconteceu. “Nossa filha antecipou pelo menos
cem anos de desenvolvimento científico” é o suficiente para a preocupação dar
lugar aos mimos. Avisam que os próximos aparelhos terão uma faísca do sol que
ela trouxe ao mundo (...) Para
eles basta, a festa começa assim mesmo.
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