sexta-feira, 19 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXI

    Os velhos amigos. A estação 221 inicia a nova fase de nossa viagem, com emoções e tensões crescentes. Respirem fundo e embarquem, o trem vai partir.


Sobre envelhecer (...) os seis concedem uma coletiva a respeito. Também querem tocar nos sete partos e na adoção, mas isso deixarão para momento oportuno. Por agora querem saber o que os seis ídolos de bilhões pensam a respeito. Patrícia começa com “Estamos envelhecendo muito bem, obrigada, mas envelhecer não é necessariamente bom... Quase nunca é”. Ela foi franca logo de cara, o que significa que o assunto é sério (...) São lembrados do clipe “Our Last Afternoom”, em que aparecem como figuras decrépitas, muito diferentes das que apresentam hoje.

Sobre a decisão de namorar Arthur tão jovem e jamais ter tido outro homem, quando a época era de liberação sexual...

- Há pessoas que escolherão liberdades diferentes das suas. Me casar sem ter conhecido outro homem faz parte das minhas.

Sobre brigas e desentendimentos, todos apontam para ela, a líder e mediadora da turma. Falam de coisas que pouca gente soube na época, como a inciação de Rebeca no caratê, o envolvimento rápido e fulminante de Robert e Mikomi...

- E como essa conversa de “Subaru” evoluiu para um relacionamento mais íntimo?

- Não tão íntimo! Não no começo.

- Não nos cinco primeiros minutos, depois rolou que foi uma beleza – retifica Rebeca o irmão!

Robert enrubesce. O auditório leva alguns segundos para esvair as gargalhadas. A entrevista evolui mais leve do que esperavam, inclusive com Patrícia e Rebeca dando dicas de exercícios (...) Renata estava muito quietinha, então alguém pergunta sobre como se sente sendo um sex simbol até hoje, mesmo bisavó...

- Eh... Eu sou?

- Sim, você é.

- Pra quem, além do Matt? Gente, eu tenho 68 anos!

- Oh, grandma – exclama o auditório quase em uníssono!

Dura cerca de quinze minutos além do previsto, mas os bisbilhoteiros concluem que os seis envelheceram com maestria. Eles saem e deixam sua assessoria de imprensa cuidar do resto, com Matthew na batuta. Ele encara o rapaz que fez a pergunta indiscreta à sua esposa, para isso Klauss se presta como moderador.

Os seis vão ver a agenda de shows do ano. Audrey e Melinda esperam para conversar a respeito, porque tem gente querendo ser incluída no roteiro (...) O primeiro caso é mesmo da Espanha (...) mas tem Portugal, que nunca recebeu a visita a banda (...) Os chanceleres se envolvem na negociação, sob o rígido olhar de Princess a dizer quem realmente manda; se ela for, vai dar ordens e eles não vão gostar, mas terão que obedecer. Acertam os dois shows na Espanha, um em Lisboa e um no Porto.

Viram-se para a nova formação. Estão repletos de bebês que não podem simplesmente ser deixados com suas avós. Valerá a experiência da turnê no Brasil, mas agora têm algo mais urgente a comunicar aos três forasteiros dos seis. Os seis se olham, se viram para eles, pensativos, então Renata quebra o silêncio...

- Carly, Jerry e Dean... Vocês ainda precisam saber de uma última coisa sobre suas funções na banda... A gente não pegou vocês só para ajudar com os músicos de apoio, tanto que participam de negócios que eles não. Vocês são nossos substitutos. Quando nós faltarmos, e certamente iremos todos no mesmo dia, vocês assumem. É por isso que somos tão rigorosos com vocês, estarão prontos para assumir quando formos embora.

Há um silêncio lúgubre na sala. Aos poucos Carly começa a soluçar e chora (...) Esperavam por isso, mas deixam Phoebe, Sandra e Giovanni cuidarem de consolar a parceira. Eles precisam se acostumar a se amparar mutuamente (...) Continuam a explicar as motivações, a necessidade de a banda ter continuidade pelo menos pelos próximos cinqüenta anos (...) Os seis já estão enturmados, conhecem bem o trabalho e já trabalham sincronizados, que é o básico para darem conta do recado.

Vêem que é desnecessário delongar (...) então são breves nas instruções aos três. Deixam claro que não se arrependem de nada, mesmo com as represálias sofridas, e que eles devem manter esse mesmo espírito para acimentar sua união (...) Dedicam o resto da tarde aos laços com os novos garotos (...) As solteiras voltam praticamente todas ao mesmo tempo, notam o leve teor de madeira do oriente que paira no ambiente, não é comum quando os doze estão juntos.

A nova formação volta para casa no fim da tarde, quase anoitecendo, com aquelas caras de que a reunião poderia ter sido mais animada. Phoebe entra na Caixinha de Música recepcionada por Spark (...) Marcia desce para receber a filha e a vê bem menos contente do que o normal para um fim de trabalho...

- Vovó contou pro pessoal da nossa verdadeira função na banda... A Carly chorou.

- É, estava na hora mesmo... Agora vai ser com você, baby.

- Comigo não tem problema. Os três é que vão precisar de um período de adaptação, eles ainda se verão como membros de apoio por algum tempo. As meninas?

- Deixei seu pai e seu marido vestindo elas lá em cima, não demoram. Pra mim também é estranho, mamãe ainda é forte e bonita... Faz parte da vida.

Os dois descem ouvindo os sussurros ecoando pela sala de estar. Genius e Rebel reconhecem aquela expressão em Angel. Ela explica, mas em um tom mais leve para não preocupar as filhas.

&

Aisha é admitida para a guarda imperial. Tem a honra e responsabilidade de acompanhar de perto, in loco, a vida de Patrícia (...) Julia tem o prazer de nomear e dar a primeira função à agente Chocolate. A cúpula da organização, Ursula e Barney estão lá, mas Sanaa fica de fora da biblioteca. Infelizmente o que a filha vai saber não pode sair daquele círculo (...) saberá mais coisas do que é seguro para um civil. Os inimigos de sua avó no oriente médio são uma delas. Todos eles; nomes, localizações, motivações do ódio e problemas de saúde de cada um. Após as explicações, lhe é mostrado em seus próprios gadgets train os recursos que só quem entra para a guarda imperial conhece...

- Wow...

- Este é o seu botão de pânico. Ele só reconhece você e só você viva pode acioná-lo. Ele vai chamar todos os agentes em um raio de cem quilômetros, seja da guarda imperial, da liga ou da organização.

Instruções dadas, Patrícia vai afagar a neta e as portas da biblioteca são abertas. Sanaa se apressa, dentro de suas possibilidades, em ir ter com a garota (...) Só descobre que a filha agora sabe mais do que pode contar, pode mais do que deve mostrar e jamais estará sozinha (...) Por agora farão a confraternização, mas a marroquina agora está permanentemente de prontidão, até morrer. Billy entende pouca coisa além de “Agora ela salva o mundo”, nunca teve contacto com serviços secretos, ou pelo menos acreditava jamais ter tido, sua sogra o faz se lembrar que tem ligações e influência com o poder.

Agentes mais próximos à organização tomam conhecimento e ficam cientes do respeito que devem manter (...) Aisha retoma à tarde sua rotina, encarada por Sabaya, que a olha como se tivesse algum segredo...

- Eu tenho. Mas são segredos, não posso contar... Vamos voltar ao trabalho, curiosa?

Lá perto, Ellizabeth e Prudence fazem um laboratório, fundem alumínio; latinhas de cerveja e refrigerante. Derramam o metal líquido no molde de argila, que endurece e racha rapidamente, deixando algumas marcas da rachadura e uma pequena assimetria no brasão que as duas inventaram. A partir daquilo vão desenvolver a trama do quarto livro da novela (...) por agora querem escrever logo a história que levou a personagem a falsificar um brasão (...) Depois de vinte e sete páginas que se tornarão trinta ou mais, depois da revisão, vão falar com a mãe. Usaram alumínio, mas o metal usado pela personagem seria certamente chumbo, então precisam de detalhes...

- Vocês sabem que a fundição de chumbo pode ser neurotóxica? Se sua personagem usou chumbo naquela época, é bom que tenha sido em poucas vezes.

Ursula observa Patrícia esclarecer as filhas, enquanto medita a respeito (...) ela volta à conversa sobre a Rússia de hoje e o oriente médio. Ursula sempre se perguntou sobre a repentina falta de transparência russa e o apoio que a imprensa interna passou a dar a um governo que ela mesma denunciava. “Democracias são exceções no mundo, no oriente são praticamente um exotismo” foi a introdução dada pela anfitriã...

- Eu sabia que a situação por lá era diferente, mas não a esse ponto. Por aqui se romantiza demais o hemisfério oriental.

- Muito mais do que seria salutar. As pessoas ainda procuram por uma civilização sábia e perfeita, que sabem não ser esta, por isso se afeiçoam facilmente às que parecem ser seus contrapontos.

- Ainda estamos buscando o Eldorado, é isso?

- Em vez de construí-lo aqui. Sim, é isso.

- Phillip costuma dizer que salvar as pessoas delas mesmas, é o salvamento mais difícil. Com vocês isso se estende a uma dimensão assustadora.

- Ter que salvar o mundo de si mesmo é parte da rotina. A parte irritante, diga-se de passagem.

Algumas garotas marroquinas ainda digerem declarações inesperadas de São Valentim, quando Ursula e Barney voltam para Los Angeles. Elas ainda não se acostumaram às “facilidades” de relacionamento do ocidente (...) Aisha (...) está focada na carreira e nas novas responsabilidades. Acha difícil encontrar alguém que aceite sua vida dupla e, especialmente, não saber o que faz em metade dela.

O problema que Patrícia e seus comparsas têm agora é outro, precisam levar alguns petizes para os shows na Península Ibérica. Não é um problema ruim, ela até gosta dele. Vai muita gente, muita gente da corporação já está lá, então não chega a ser um problema grande (...) Quer saber? Vão se esbaldar, vão tirar de letra! Os seis acertam os pontos finais e entregam a Marcia, para que a Culture Train conclua sua parte. Os quatro shows estão confirmados (...) os patrocinadores estão fazendo fila no escritório central, para alguns deles Melinda faz aquela cara de desforra que todos odeiam ver, mas precisam encarar...

- Ora, ora, ora... Bem-vindo...

Ele treme nas bases. Aubrey pede licença e vai desatar de rir no lavabo. Alguns patrocinadores (...) só precisaram ligar, negociar e assinar a nova parceria em momento oportuno. Já os larápios, estes são tratados com todo o rigor da lei da oferta e da procura de uma banda que não precisa ser patrocinada. Quando as duas voltam a Sunshadow, além da recepção histérica com abraço císmico de Audrey, ela tem a sensação plena do dever cumprido, e da desforra efetivada. Toda a organização para os shows está pronta (...) e ela está exausta. Quer alguns dias de vadiagem para descansar. Vai com a irmã e a filha para a saída e dá de cara com um homenzarrão barbudo, com os cabeços já volumosos...

- Lindinho?

- Ele tá ou não virando um Deus do Trovão?

- Misericórdia, ele é meu sobrinho!

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