segunda-feira, 1 de abril de 2019

Dead train in the rain CCIII

    O ramadã, as gestações e as loucuras de Phoebe. A estação 203 prepara solo para mais uma semeadura, com colheita para não muito tarde. Embarquem, o trem vai partir


Iniciam os procedimentos. Evelyn dormiu na casa de Lidia e Kurt, em uma rede cercada de pequenas fontes artificiais. Leonard dormiu na casa de solteira de Renata. As três gerações de médiuns mais a pequena notável esperam serenas, enquanto o Bugatti Royale traz a noiva. A imprensa tece comentários que variam do sórdido ao cômico (...) Chega o clássico. Ronald acompanha a caçula lentamente até o altar, ao som da orquestra que ela costuma reger. Enquanto uma bolsa de apostas especula quanto tempo o casamento durará (...) a noiva é entregue no altar. A família do noivo olha tudo aquilo com um misto de encanto e incredulidade, cercada de artistas de elite por todos os lados. A celebração é outra estranheza. Ao fim a diva dos trópicos diz “Celebrai” e Leonard entra para a casa do pato preto, enchendo os pais de orgulho e os desfetos de inveja.

Rebeca e Ronald chegam em casa, à noite, sentindo a falta de uma garota branca de lábios carnudos com partituras nas mãos, vocalizando em baixo volume o que lia e tinha que ensaiar. Mas são saudades boas (...) Sabem que vão ser chamados a ajudar enquanto estiverem vivos, mas a missão de criar e encaminhar está completada...

- A gente fez um belo trabalho, fala sério!

- Estamos quites com essa fase da vida! Agora podemos viver um pouco só para nós.

- Vamos transar!

Ele não recusa e ela não espera (...) No sábado estão em estado de graça. Em uma reunião da cúpula é nítida a maior calma e serenidade de Barbarian...

- Todos de acordo, certo. Fechando a pauta da organização... Rebeca, que cara de adolescente é essa?

- Cara de quem fez coisas de casal a noite toda, no tapete da sala de estar.

Na biblioteca e na CIA é uma algazarra só (...) E a carinha fofa se repete quando o casal volta da lua de mel com a notícia esperada, Evelyn está grávida. Josephine liga para todos os smartphones dos afilhados e avisa que é a madrinha da criança. A dureza cotidiana cuida de acalmar todo mundo, até chegar o dia que as marroquinas esperavam. Após o treinamento de rotina, e um belo banho, elas se fartam de pães, frutas, sucos e pescados, antes de o sol serelepe mostrar sua face e dizer que não podem comer mais nada até a noite cair (...) os demais terão o cuidado de não deixar tentações à vista, para não aumentar sua ansiedade.

Patrícia conta à mãe sobre essa primeira manhã de ramadã. Nancy se põe a pensar, enquanto observa alguns garotos que aproveitam o intervalo entre aulas. Jejum voluntário e devidamente orientado, de vez em quando, só faz bem, mas neste caso é um mês inteiro. Em Marrakesh elas levavam uma vida bem mansa, mas aqui elas trabalham pesado. Liga para várias pessoas e dá seu recado...

- Elas precisam descansar bem entre cada actividade, deixem cadeiras e almofadas por perto e música suave, para não gastarem nem glicose sem necessidade.

É terminativa em suas orientações. Quer que as onze sejam monitoradas até o por do sol. Agora se volta para a primogênita. Faz algum tempo que não têm uma conversa de mãe e filha (...) Olha para ela e pergunta o que a incomoda...

- Fora que Ásia e leste europeu estão insuflando rompantes nacionalistas, que podem acabar com a união europeia? Só o de sempre. Nada fora da rotina.

- Vocês já esperavam por isso?

- Sim, já. Quem teve poderes de vida e morte na época da cortina de ferro, não iria largar o prazer desse poder assim, tão facilmente, ainda mais com argumentações de escolinha primária que o ocidente teima em usar com quem não se importa. Mas tem boas notícias também. Teremos alguns saltos científicos e tecnológicos para breve, e meu museu ficará pronto uma semana antes do previsto, já mandei convites para o Veteran Car Club e o Classic Car Club, os presidentes virão para a inauguração. Quem mais no mundo tem dois Phantons Corsairs para apreciação e até umas voltas?

- Fora aqueles seis Mercedes-Benz Gullwing, um deles de corrida...

- Eu estou  muito nojenta! Meu Rolls Royce é banhado a ouro, tá pensando o quê?

Fala do site que Phoebe preparou para o museu, com todos os veículos, toda a memorabilia, jóias e obras de arte catalogados, tudo para visitação pública agendada (...) tudo vai ao ar na noite anterior à inauguração. Os seis estão empenhados nesse museu, tanto quanto no resort e centro cultural em Marrakesh. Os jornalistas da família e o aspirante se encarregam, juntos, de fazer uma matéria completa e digna (...) Billy trata de agradar à pretensa sogra, caprichando no resumo dos detalhes técnicos dos clássicos selecionados pela equipe. Tarefa difícil escolher uma dúzia entre milhares de carros que são raros em qualquer parte do mundo, e de alguns Patrícia agora tem vários.

Um apresentador em New York manda um recado pelas redes sociais, afirma ter descoberto o verdadeiro segredo do Dead Train, e que os fãs vão gostar dele (...) O documentário, auxiliado e comentado por vários profissionais respeitados de várias áreas, mostra os seis desde o início da carreira (...) Sob a liderança de Patrícia Petty, afirmam, o sexteto se renova constantemente (...) sempre tem um sonho a realizar e se prepara para realiza-lo. O segredo maior de tamanha energia, de plásticas tão bem cuidadas em idades já maduras, de saúde perfeita até entre os músicos originais de apoio...

- Não pode ser outro, Jim. Eles não esperam cair do céu um motivo para viver, eles mesmo providenciam! O sexteto Dead Train sempre tem uma novidade engatilhada e essa novidade sempre tem relevância, como o museu de carros antigos que estão construindo! Eles constroem motivos para estarem vivos e bem, é por isso que sempre estão. Ter motivos para viver e, especialmente, criar condições para esses motivos aparecerem, é a verdadeira fonte da juventude! Eu sou capaz de apostar um milhão de dólares, que eles têm um monte de projectos só aguardando o tempo e a oportunidade para colocarem em prática, dentro ou fora do show business.

Julia manda uma mensagem para o programa, diz que quem tiver apostado o contrário, lhe deve um milhão de dólares (...) desta vez não houve a armadilha de falar bem para depois descer a lenha no sexteto, principalmente em sua líder. Melinda manda um recado para a produção, se eles estavam cavando um pretexto para uma entrevista, a conseguiram. Agendam para o outono, uma época particularmente rica em festejos na cidade.

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Sandra e Carly chegam volumosas e pesadas. O estúdio faz festa, as duas são carregadas com cuidado pelo ambiente. Lola e Nina estão cuidando igualmente bem dos seus (...) Enzo as ampara com o cuidado que dispensou à filha...

- Tio, a gente tá grávida, mas é só. Dá pra trabalhar.

- Vai, vamos ficar bem, esparramadas neste sofá...

Ele vai ao ensaio assim que tem a certeza de que elas não vão se esforçar demais, com laptops no colo e cercadas de acepipes, em um sofá fofo e anatômico (...) e o ensaio pode começar, mas não sem chacota. Jack comenta que elas é que parecem estar no útero (...) Após o ensaio, conversam sobre a encomenda a Des Taylor da arte publicitária para o próximo ano. Pensam em incluir algo em quadrinhos no almanaque ainda neste fim de ano. Planos, muitos planos!

Kurt espera pela irmã na saída do ensaio. Fez um abrigo longo, preto e branco inspirado na dualidade e no equilíbrio, por dentro é rico em alças e bolsos. Está trabalhando na coleção outono/inverno e se inspirou justo na gestação da irmã, mas o fez antes de saber que são gêmeos...

- Wow. Então você quase adivinhou, quando escolheu duas cores!

- Na verdade escolhi uma luz e uma sombra. Estou agora esperando que venha um casal.

- Eu acho que vai ser... Ei, me fala daquele wingsuit pra Phee!

- É uma coisa que eu nunca pensei em fazer, uma roupa com turbinas!

- “Turbinas”? Que papo é esse?

- Vai ter duas turbinas, é esse o papo. Ela me entregou uma estrutura e quis que o traje fosse feito ao redor dela. Já está quase pronto.

Sandra fica de cabelos em pé. Vai à madrinha perguntar a respeito e deixa as duas avós de cabelos em pé. Olham para Phoebe e ela só diz “Vocês prometeram”. É claro que Marcia não sabia, não sabia e se agarra à filha como carrapicho, não tinha lhe prometido nada...

- Você quer me matar do coração? Me convença a te soltar e te deixar entrar naquela coisa!

- É seguro. Juro! Já fiz dezenas de testes, fiquei craque nisso!

- Onde? Quando? Como? Eu não soube! Amado, venha aqui agora! Quero explicações!

Não larga o rebento um segundo sequer, até ele chegar. Ele explica, fala dos treinos, da utilidade que isso terá para os negócios da família e para os salvamentos mundiais, mas no fundo sabe que ela não quer saber da engenheira mecânica e da agente secreta, quer saber de sua filha. É a própria, fazendo beicinho e carinha de choro, que a convence, mas ela quer estar presente e quer vistoriar tudo (...) O que não espera é que ela vá saltar de um avião. Quando chega o dia, ela estranha a filha não estar presente, até Richard apontar para cima e ela começar a passar mal (...) Um ponto dourado surge após a passagem do avião e Marcia grita, se agarra ao marido como se isso enfiasse a filha de volta à cabine. Lá em cima, com uma câmera embutida no capacete, ela transmite sua aventura à base na praia. Alguns militares estão lá, para verem o que ela tem desta vez para a segurança nacional. Quando chega a mil pés, ela aciona as turbinas e ganha velocidade, consegue subir quinhentos pés sem esforço (...) Ela desliga as turbinas, plana por alguns minutos, aciona o para-quedas, desce suavemente e Marcia corre, não a deixa tocar o chão. Carrega a filha nos ombros até o carro...

- Agora chega! Você não sai do chão enquanto eu não deixar, entendeu? Quem quiser falar com ela, que vá para a nossa casa.

Mas o espetáculo aéreo vai para a internet (...) Quando chegam, encontram Phoebe trocada, limpinha e com as filhas, todas sentadinhas no sofá. Marcia está com as rédeas. Os rapazes do Pentágono elogiam a mãe da moça (...) se confessam mais impressionados do que esperavam, e ela lhes entrega o dispositivo com o arquivo...

- Tudo por prototipação rápida?

- Do apoio cervical às pás das turbinas. Tudo como já tinha ensinado a vocês.

- Capitão, com todo respeito ao senhor, sua esposa e ao Cabo, sua filha é maravilhosa!

- Eu sei, Sargento. Agradecemos e o Cabo Witchwort saberá levar como elogio.

- Mas não muito – se anuncia Albert. Valeu pelas palavras agradáveis, companheiros.

Senta-se ao lado da esposa e gruda nela, arrancando os risos mais frouxos possíveis. Na Máquina de Costura, Patrícia se recupera do susto, cercada pelas netas marroquinas. Já segurou Phoebe e evitou uma queda de meio metro, hoje a viu saltar de dois mil. O vídeo que ela fez, os que o público fez e os relatos correm loucamente pela internet (...) alguns chefes de Estado se apavoram porque sabem do que se trata, ela chegou muito antes e fez muito melhor do que eles encomendaram aos seus serviços de inteligência.

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