terça-feira, 16 de abril de 2019

Dead train in the rain CCXVIII

    A tensão no fim do caminho. A estação 218 mostra como uma estrada lisa e plana pode esconder armadilhas, quando estamos acomodados à sua facilidade. Fiquem atentos e embarquem, o trem vai partir.


Patrícia carrega Suha pela sala (...) Arthur corre logo atrás e a carrega de volta. Yasmin alisa a barriga da mãe, sabe que ainda é muito cedo, mas sempre se lembrou de gestantes com barrigas grandes. Nancy e Richard chegam antes de ela voltar a colocar os pés no chão e a carregam de novo pela sala. No dia seguinte Carolina e William fazem o mesmo...

- Gente, quando eu vou andar com minhas pernas de novo?

- Não antes de meu bisneto nascer – responde a brasileira.

- Ah, ah, ah, ah, ah, ah...

Patrícia dispara a rir, passou por isso. Sanaa e Amina chegam com as primeiras roupinhas do enxoval, logo aquilo vira um formigueiro humano (...) Os pais de Itzhak não vêem a hora e começam a tagarelar com os outros avós e os bisavós (...) O casal volta para casa com overdose de afeto, quer um pouco de dureza para balancear. Começa a tirar a coisas do lugar só para ver que nada precisa ser limpo, depois coloca tudo de volta, alguma coisa para evitar que ambos vomitem arco-íris até morrerem de cromorragia.

Nas outras casas, o esforço para não deixar a irmã sozinha nessa brincadeira é grande, chegam a esgotar seus maridos. Jerry Sabe o que é isso (...) tem treinado trocar fraldas, às vezes em bebês de amigos, às vezes na esposa...

- Hey, estou tentando me vestir!

- Só um minutinho, espera eu fechar este alfinete... Pronto! Trocada!

Ela vai tirar a fralda e é carregada até a cama, deitada e então ele mesmo tira, passa talco e lhe veste na lingerie...

- Bebê cheirosa!

Ele e o irmão fazem palhaçadas, como de costume, mas agora o fazem de nervosos pela ansiedade. Ann conhece aqueles dois, não a enganam, trocou-lhes as fraldas como agora trocaram as das esposas...

- Vocês fizeram isso de novo? Eu vou marcar uma consulta com uma boa psicóloga, e vocês vão!

Marcia se disponibiliza. São parceiros de Phoebe, o que lhes acontecer pode afetar o desempenho da banda...

- Eu já tinha conhecimento desse surto de palhaçadas, mas depois do que sua mãe me contou... Vocês dois são muito jovens e sem juízo, sempre levaram a vida na piada e agora têm uma responsabilidade iminente, a qual não podem delegar.

Ela conhece aqueles dois, sabe com que peças está lidando, eles não vão enganá-la (...) Ao fim da sessão, ela tranqüiliza a mãe dos malucos. Às esposas, diz para chamarem Sandra, se eles saírem do controle de novo. As duas os levam directo à casa da fera...

- Então a Marcia me deu carta branca... Vou ficar de olho em vocês!

Giovanni conversa com as tias a respeito, as duas já apareceram de fraldas nas casas dos pais (...) O problema agora é onde eles esvairão a ansiedade. Patrícia manda cantarem para os bebês, Sandra e Phoebe se unem para garantir que eles o farão...

- O que é isso?

- Eu acho que é uma guitarra. Dãããã!

Sandra arranca risos das gestantes, enquanto ela e Phoebe afinam seus instrumentos e mandam que eles as acompanhem cantando (...) Conseguem, nos dias seguintes os casais cantam e tocam, e o padrão das travessuras volta ao nível suportável de antes.

A neve passa a cair com força e as saídas ficam mais esporádicas. Phoebe escapa de vez em quando (...) as avós sempre a descobrem e vão buscá-la com um agasalho pesado. Depois a levam para a casa de uma delas, para um café quente e afagos.

&

Desta vez as luzes de natal são em um país não só predominantemente cristão, mas responsável pela criação, implementação e disseminação do conceito natalino que vigora (...) As solteiras olham de forma diferente para aquela árvore de natal que ajudaram a enfeitar. Lá perto, na área dos instrumentos, os doze conversam sobre negócios em um tom mais ameno. A nova formação presta satisfações das empresas que assumiu (...) seis empresas grandes, fortes, respeitadas pelo mercado e pelos clientes, uma delas começou a reciclar baterias de lítio. Os seis fazem a festa com a aprovação, trabalharam muito, chutaram muitos traseiros (...) fizeram sua fama com resultados.

Dean, quando vão pegar os instrumentos para festejar, se lembra de um bordão brasileiro...

- “Play Raul”! Por que só Raul Seixas?

- Porque brasileiro gosta de pegar no pé – diz Renata.

- Por que a gente não toca Renato Russo?

Conversam, escolhem Ronald e Robert para cantar “Entre a Cruz e a Espada”. As marroquinas se juntam para ouvir (...) Os dois se lembram do dia em que se conheceram, dos momentos que adubaram a amizade, de quando Rebeca e Ronald apareceram de mãos dadas, de quando todos se uniram para eles poderem comprar a casa para os pais; tudo conspira a favor da interpretação.

Lá fora alguns paparazzi com menos juízo do que o normal aguardam (...) Do meio para o fim da tarde eles saem em seus agasalhos bem cortados, coloridos e espessos, exceto, claro, Phoebe (...) É clicada até entrar na Caixinha de Música, observada pelas avós, que como os xeretas vêem de longe aquela moça enorme. Renata entra em casa assim que a porta se fecha, Patrícia (...) acena antes de entrarem, para mostrar que sabe que eles estão lá.

Sandra busca o pai e ruma para o aeroporto. Não esperava terminarem a reunião tão cedo, mas vai gostar de rever a amiga. O avião está sobrevoando Michigan, trazendo um passageiro atônito (...) Ver repentinamente aquele tapete branco ofuscante cobrindo quase toda a paisagem, assustou o meteorologista. O piloto anuncia os procedimentos para aterrissagem em...

- “Sunshadow”? Seus amigos moram em Sunshadow?!!

- Meu, tipo, é isso! Põe o cinto.

Um paparazzo se aproxima de pai e filha, pergunta se estão esperando por alguém, Sandra responde “O espírito do natal ateu”. O 737 aterrissa (...) O rapaz até treme em pensar quem podem ser esses amigos. Treme mais quando vê Sandra correr para o abraço e Fabrícia corresponder (...) a mundialmente famosa e temida Sandra Pancada...

- Cara! Tipo, cara! A Sandra Pancada!

- Quando você disse que sabe guardar segredo, não estava brincando!

- Ela precisou guardar segredo, na época da faculdade, para me proteger de radicais.

- Elias Monteiro Castro... Cara, eu tô sonhando!

Tratam de levá-los logo ao carro, o rapaz está se tornando muito apetitoso para a imprensa especializada. Passam pela cidade nova, viram na Open Street e vêem Patrícia com Renata à porta da Máquina de Costura. Elas acenam e ele tem sintomas de overdose (...) Chegam e lá estão Kurt com Lidia e Stanley, alegrando Norma e Enya. Demora um pouco até Jomar se convecer de que o avião não caiu e aquilo não é o céu.

Pão de queijo e café quentes o ajudam a sentir-se um pouco na terra (...) A apache os estuda com cuidado e discrição (...) A moça é tagarela, com um sotaque inconfundível, quase caricato do Bixiga. Ele é um mineiro típico em tudo, exceto pela rebeldia, que lhe causou desconfortos ao descobrir em si uma face careta, quando decidiu assumir namoro firme e monogâmico; a mãe dele riu três dias sem parar. Além da tatuagem e do rastafári volumoso, que passou a lavar regularmente por causa da namorada, tem um piercing abaixo do lábio que já o barrou várias vezes em portas giratórias de bancos. Fabrícia conta isso sem pudores, fala do modo como ele evoluiu de um rebelde matador de sistemas para um rebelde domador de sistemas (...) Happy Moon percebe isso e deixa Vulcana analisar à vontade, até que o rapaz se vira para si, com os olhos brilhando...

- Eu amo música cássica e folk! Ninguém pode falar que conhece música instrumental sem conhecer você! Desculpe a empolgação, mas...

- Está tudo bem, sua recepção é bem-vinda. Você falou sério, quando disse que guardava segredos. Sua mãe sabe de nós?

- Meu, tipo, eu amo a minha velha, mas a língua dela é eléctrica!

Kurt também analisa o casal, mas com mais serenidade do que frieza. Passam de facto pela Máquina de Costura e a apache relata suas impressões...

- Ela disse que  Elias passara a ser um “ídolo” entre eles. Pois ela honrou essa admiração.

- E o rapaz?

- Está aos poucos se convencendo de que não morreu em um desastre da avião. Demorou a se dar conta de que estamos com temperaturas abaixo de zero.

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra...

- Ele tem uma aparência desleixada, mas seus gostos são muito refinados, Fabrícia contou sobre sua evolução nestes anos de namoro.

Ela passa para os talentos de meteorologia do rapaz, ele gosta de pensar fora da caixinha, consegue até mesmo concluir que “Devemos parar de discutir se há ou não aquecimento global, esse papo não vai ter fim! Vamos nos concentrar em controlar a poluição e reaproveitar os subproductos das nossas actividades”...

- Impressionante! Claro que nem todo mundo gostou de ouvir isso.

- A antipatia de grupos politizados não poderia mesmo ser só pelo estilo africanesco. Ele tentou resolver o problema, em vez de disputar quem tem razão. Podemos investir nele.

- Podemos, mas eu quero ver até que ponto podemos. Terei com ele quando for oportuno, teremos tempo. Assim que Sandra terminar lá, conversaremos a respeito.

Um tempo após o treinamento diário, ainda possível, é a ocasião perfeita (...) Ela fala de como o visitante tagarelou encantado, sem saber o que faria primeiro em Sunshadow. Pois a encarregam de arrastar Giovanni para ciceronear o casal pela cidade. Querem que ela o estude bem, todos os membros da cidade estarão atentos a ele e aos sinais que ela emitir.

E que melhor modo de começar a visita do que pela praça do trem morto? Aquela locomotiva oca, mas gigantesca, imponente e reluzente conta histórias só de ser vista. Jomar pergunta e os anfitriões confirmam todas as lendas e histórias que ele levanta...

- É tudo verdade. Não há um pingo de exagero, meu pai e tia Patty ainda usavam fraldas quando se conheceram. Foi o primeiro a receber ordens dela.

- Eles cantavam aqui dentro?

- Os dois, depois também o tio Ron, tio Bobby e tia Mascote, finalmente a tia Rê. Daqui iam à chocolateria, que era a única lanchonete da cidade, na época...

Como Patrícia previu, Giovanni o deixa bem à vontade (...) Sandra o estuda, manda mensagens ocultas aos comparsas que passam, eles repassam a Princess. A organização tem um novo colaborador inconsciente. À tarde a banda vai conhecer a líder dos amigos que ajudaram Elias e o protegeram enquanto puderam. Ela explica o que pretende (...) quer munir o rapaz de conhecimento científico além do meteorológico e recursos para ele tocar suas pesquisas.

Chegam com Elias, quando ele volta para casa para seu descanso sagrado (...) Jà à porta da casa, ouvem dele a indignação com a história das mulheres cativas (...) Fica até exaltado quando ouve sobre o ataque a Prudence, não imaginava que tivesse sido tão grave...

- Ele deveria é ter arrancado o saco de cada um com as mãos.

- Eu também acho, mas não houve tempo, Prudence precisava de socorro.

Vira-se para trás e surta, após ouvir aquela voz cristalina e maravilhosa. Desmaia. Acorda minutos depois, com os seis ouvindo impressões de Norma e Enya, acertam que Eddie terá uma conversa com ele (...) Por hora o entretém e o distraem da trolha que soube (...) No dia seguinte lá está Eddie, mundialmente famosa sócia da Culture Train e prestigiada psiquiatra...

- Veio ver se estou louco – brinca Jomar?

- Não, disso eu tenho certeza. Só quero ver que tipo de loucura você tem. Vocês estão enfrentando uma barra com radicais donos da verdade, eu soube. Estou aqui para ajudar vocês.

Pouco importa o que falem, importa mais como falarão (...) Os tons carmesins cítricos de suas falas são coerentes, ainda mais com os losangos irregulares de textura áspera, ninguém consegue fingir losangos ásperos. Um tom levemente azulado sai em forma de fita com toque de seda (...) quando passa a perguntar sobre seus trabalhos. Ela consegue conciliar facilmente seu emprego com o curso de letras, ele ganharia mais em outros, mas ama o que faz. Além do mais, ele não troca seu Fusquinha 1968 com para-choques do 1979, rodas do 1975, lanternas do 1984, bancos do Ford Ka 2003 e painel da Honda Biz 2008 por nenhum carro moderno...

- Há alguma peça que seja dele, de fábrica?

- Ah... Acho que o chassi... Se bem que o cabeçote dele já foi trocado... Por um modelo 1980.

- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...

Falar dos próprios tropeços alivia a conversa. Eddie tem boas notícias a dar, os seis gostam de ouví-las. Patrícia e Rebeca providenciam um laptop de última geração  (...) Ele fica surpreso não só com o presente, mas também com a notícia de que suas pesquisas serão financiadas e que terá uma rede mundial de cientistas sérios com quem trabalhar. É apresentado e recomendado, conhece cérebros tão rebeldes e inusitados quanto ele mesmo, alguns também meio nerds de quadrinhos.

Para o restante do período de férias é recomendado ao casal dedicar-se a si (...) enquanto um colaborador da organização precisa matar um indivíduo da mais alta conta de um governo hostil, que estava para simular pela enésima vez uma manobra americana nos computadores de seu governo, para forçar uma retaliação e começar uma guerra. Não mais do que uma centena de pessoas toma conhecimento, só metade tem acesso a detalhes, metade destas está directamente envolvida com os líderes em questão, uma delas é Princess...

- Sua neurose infantil quase custou a devastação de sua capital! Como pode ver agora, temos mísseis que estão em procedimento de mudança de coordenadas, mas de lá poderiam interceptar os seus e ainda destruir suas principais cidades. Você é um agente experiente, mas se deixou enganar placidamente por um sociopata que fingiu facilmente lealdade às suas ambições torpes!

Ela o descasca em finas fatias. Do episódio ficam as certezas de que eles não são limitados como aquele governo pensava, e que por este fim de ano nenhuma estupidez será tentada. O agente foi imediatamente retirado com sua família da região, consciente de que evitou um holocausto nuclear (...) Contam por agora com os préstimos de massagista de Knockout (...) Agora vão às suas vidas civis, senão enlouquecem.

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