sábado, 27 de abril de 2019

Dead Train in the rain CCXXIX

    O passado presta contas. A estação 229 acelera um pouco e apresenta os elementos dos últimos capítulos. Todos à bordo, o trem vai partir.

O novo casal escalado para conversar com Elias vai antes falar com Patrícia (...) Vão encantados e constrangidos, por saberem que existe uma espionagem maior do que a que deixa todas as outras oficiais no chinelo, mas precisa prestar satisfações a muita gente...
- Não precisam agradecer, faz parte do nosso trabalho. Apenas levem à sério o aviso que demos. Estamos cada vez mais perto de enterrar de vez as chances de uma terceira guerra mundial, mas nunca corremos tanto o risco de ela eclodir... Lhes contaram de Sandra?
- Sim, vimos um vídeo dela em ação.
- Pois a conversa da CIA com meu afilhado nunca acontece sem ela presente. Ricky, leve nossos amigos e esclareça qualquer dúvida pertinente que tenham.
Eles aproveitam para saber o que devem evitar e o que devem aproveitar dessas conversas. Chegam e lá está ele, sóbrio, discreto (...) E lá está ela, altiva, imponente, ameaçadora, não escondendo que é capaz de esquartejar alguém e que o fará, se precisar defender seu pai. Richard dá as últimas recomendações e volta para casa, de onde vai para a Culture Train, conferir a finalização de uma animação, a edição de seis livros, mais um pedido de Hollywood e os preparativos para os próximos dez shows da Dead Train. E pensar que tudo isso começou com a organização de um evento para equipes de corrida.
Encontra Brenda na sala de reuniões, discutindo a transcrição de uma graphic novel para a animação digital (...) A surpresa é agradável, alivia a seriedade da visita da CIA...
- Sério? A CIA fala com o Elias rotineiramente, eu entendi direito?
- Suponho que tenha idéias para isso – diz Richard.
- Mas é claro que sim! Conte tudo o que eu puder saber!
Ela fica impressionada com a importância que aquele imigrante baixinho tem para o governo, apenas sendo ele mesmo. Os agentes concordam com o “Quem tem que levar vocês a sério é seu chefe, não a imprensa. Vocês são do serviço secreto, não de um reality show”. Sandra permanece calada (...) assim que eles se vão, confidencia ao pai...
- Eles estão escondendo o jogo. São mais experientes do que deixam parecer.
- Notei. Foram muito hábeis em demonstrar inocência, hábeis demais para ser verdade... ou pensa que eu disse tudo o que tinha a dizer a respeito? Terão que acordar mais cedo para me pegar.
- Ra, ra, ra, ra, ra, ra, ra...
Vão falar com Patrícia, mas pegam outro caminho, para evitar levantar suspeitas. Entram na chocolateria, conversam com Audrey e saem pelos fundos, dali vão para a Máquina de Costura (...) Comunica Josephine e ela também ri, logo toda a organização sabe dos agentes que se fizeram de bobos e foram feitos de bobos. Quando ligam para a agência, recebem os parabéns pela contribuição que conseguiram, mas também são avisados do papel que fizeram, subestimaram a experiência do brasileiro.
É claro que Brenda adora saber disso, cai na risada e pede ajuda a Hamira e Samira para rascunhar alguns quadrinhos. A irmã delas (...) está cada dia mais séria, imersa em meditações. Nancy atende um pedido de Sanaa e vai falar com a garota...
- “Motherfucker badass”? É este o critério que as pessoas usam para escolher a quem admirar? Mesmo sendo um tirano ou um psicopata, ou ambos? O cara monta num urso, se alia à máfia, faz ameaças e desdenha o ocidente em público e passa a ser admirado? É isso? Isso é truque de desenho animado idiota para fazer o vilão parecer legal, só adolescentes bobos cairiam nessa... Mas muitos adultos caem! E são adultos formadores de opinião!
- E você acha que o mundo é habitado por adultos bem resolvidos? Não, meu amor, as pessoas só envelhecem, raramente alguém cresce de verdade. É por isso esta testa que vou desfranzir?
- Também... Alguns conhecidos de Marrakesh estão começando a simpatizar com eles, simplesmente porque parecem que estão fazendo mais do que vocês. As ditaduras estão ganhando mais do que terreno, estão ganhando adeptos dentro das democracias.
- Nós temos mesmo feito corpo mole nas últimas décadas, mas isso não vai durar para sempre, eles sabem disso. Fingem que se esquecem de que foi negociando com o ocidente, desde a idade antiga, que o oriente prosperou. Deite-se aqui.
Põe a cabeça nas pernas da matriarca e recebe alguns beliscões na testa, que antecedem a massagem propriamente dita. Conta a Patrícia assim que leva a garota de volta para casa...
- Amor da vovó está ficando parecida demais comigo, isso não é bom. Quem dera houvesse outro Greg para você!
Arthur vê aquilo com um misto paradoxal de elogio e tristeza (...) Ela conta pormenores de quando o conheceu, de como ataram namoro, o caso do maníaco e consegue fazer a neta sonhar um pouco. Parte daquela carinha de quem está delirando forma-se novamente. Experimenta contar do episódio entre Rebeca e Ronald, na Grande Turnê e ela dispara a rir. Encontrou o ponto de equilíbrio da garota, tem ferramental de sobra para manipula-lo.
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Conrad não teve filhos, mas tinha irmãs e elas os tiveram. Um sobrinho neto supera a vergonha em que o tio mergulhou todos e leva a família para conhecer Sunshadow. Crazy Horse reconhece suas feições (...) Ele paga por uma porção de pães de queijo e o garçom reconhece o sobrenome. Vê o apache por perto e faz aquela cara de “Há algo estranho aqui”. Ele se aproxima e pede uma tapioca com queijo e bacalhau, enquanto ouve o que o rapaz soube pelo cartão de crédito (...) Liga para Richard, explica a situação e se mantém atento. Até agora ele parece mão ter mais do que a aparência a ver com o tio.
Um garoto vê o prato do velho índio, chama o garçom, pergunta do que se trata (...) e pede um, mas de frango. Arthur chega logo em seguida e os adolescentes o tietam, antes de o pai os impedir. Eles ainda guardam o canhoto da animação “Sally, a Ameba” que ele produziu. Perguntam se não haverá mesmo uma continuação...
- Nancy fez uma história perfeitamente fechada e muito simples. Eu pensei em duas seqüências, mas seria muita encheção de lingüiça, melhor ficar só em um filme mesmo.
Crazy Horse fica atento, nota o constrangimento do homem, olha para Arthur, se levanta e trata de acalmá-lo. Sabem que ele é e dão as boas vindas. O homem desabafa, fala do tabu que está quebrando (...) da vergonha que ainda sentem quando precisam dar seus nomes em público...
- Não se preocupe com isso, por aqui. Eu superei esse trauma.
Olham para trás e vêem o céu descer à terra nas figuras de seis serafins do coro celestial mais elevado (...) O Dead Train entra na lanchonete e os paparazzi brotam do chão ao redor do sexteto. A manchete nos mais diversos meios de comunicação é “Patrícia Petty faz as pazes com a família do maníaco” (...) é uma boa chance para tirar do baú matérias que já foram pagas e que ainda podem render bem. Vão para o show em Charleston no dia seguinte, já sabendo o que vai predominar na coletiva. Ela é sucinta nas respostas...
- Não posso culpar você pelas besteiras que seu avô tiver feito.
Naomi observa dos bastidores, vê (...) jornalistas que já tinham entrevistado a banda noutras décadas e ainda não se deram conta de que morreram. Conta à mãe o que viu. Ela e Phoebe precisaram ficar atentas à coletiva, mas também viram vultos sussurrando perguntas aos ouvidos dos repórteres. Diga-se de passagem, as melhores perguntas que fizeram foram as sugeridas...
- Phee e Marcia, vamos as quatro fazer uma leitura do evangélio nesta noite, pra tentar encaminhar eles. Vocês, se quiserem, podem vir.
- Rê! Oh, Rê! Seu exorcismo é nosso exorcismo! Se precisar de um exú, pode contar comigo!
As médiuns disparam a rir. Mais ainda porque a baixinha sabe do que está falando e, basicamente, seu trabalho na organização se assemelha ao dos exus. Está toda a equipe da banda no auditório do hotel, na hora marcada (...) Alguém avisa aos desencarnados que haverá uma coletiva da banda naquele local, eles vão selecionando as perguntas que já fizeram dez, vinte, até quarenta anos antes (...) Passam pelas portas, mas (...) entram onde deveriam estar desde que morreram. Missão cumprida.
Na manhã seguinte estão ensaiando, demonstrando força e vigor que muita gente não tem aos quarenta anos. Os operários cochicham entre si que eles recebem energia do além, com santeria e coisas do tipo. Um deles (...) vê Naomi, ela lhes entrega livretos sobre espiritismo e mediunidade, simplificados (...) Volta para a discrição dos bastidores, onde algumas tarefas de escola a esperam. Marcia acolhe a irmã e volta a ajudar (...) Evelyn tem notícias de Leonard, que precisou desta vez deixar Lyonel com David e Diana para poder ir ao show em Orlando. Rebeca e Ronald cercam o rebento, para terem detalhes.
Marie leva o sobrinho para casa, enquanto manda mensagem para a irmã. Os paparazzi surgem como zumbis (...) Para seu público o resultado do casamento de um gay assumido com uma hétero é um alien...
- Vocês não têm mais o que fazer?
- Na verdade não, é disso que a gente vive.
- Aff!
Chega aliviada em casa. Jackes e Zsa-Zsa cercam o pequeno, que ri desatadamente da jovem tia pândega. Mandam um vídeo para os pais do petiz e eles se desmancham. Cada gargalhada do menino é uma lágrima que cada um solta (...) Leonard parece estar chorando pelo saxophone, enquanto Evelyn põe a alma na regência, a ponto de a deixarem fazer um número só com a orquestra.
Leonard correu para pegar um vôo mais cedo e recepcionar a esposa com o filho nos braços (...) Quando eles chegam, lá estão os dois, esperando pela mamãe, que corre para abraçar, sacudir e cheirar sua pequena família. Por hoje todos podem se dedicar aos seus assuntos domésticos, que no caso de Renata e Matthew significa dar mais atenção à caçula (...) Chegando em casa, lá estão Glenda, Elvira, Morgana e Juan; ele apenas como motorista e carregador de sacolas. Ela dá as boas vindas e procura acalmar os pais da petiz (...) se oferece para ajudar a monitorar o desenvolvimento de Naomi, mas é só, não vai limitar o passo de seu desenvolvimento.
O casal se entreolha, olha para a caçula sorridente, olha para a bruxa e consente. Ela designa um dragão branco para aconselhar e cuidar da menina...
- Amhrán na Farraige, apresente-se à sua protegida.
Matthew não vê absolutamente nada, Renata vê um vulto branco brilhante gigantesco (...) Naomi vê com nitidez aquele dragão absolutamente lindo, com cheiro de brisa do mar e vibração tão evoluída que limpa sozinho a cidade inteira. No peito largo uma esmeralda brilha como se fosse um sol verde. Ele simplesmente passa por sobre a casa e se instala no quintal, e ai de quem tentar entrar sem permissão!

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