sábado, 13 de abril de 2019

Dead train in the rain CCXV

    Incidente no festival. A estação 215 traz alguns dos dissabores de quem lida com os bastidores das relações internacionais. Embarquem, o trem vai partir.


Aos novatos sempre repetem a história e sempre encantam, foi em um momento de crise (...) que Patrícia idealizou o Sunshadow Dead Train Fan Week, para camuflar seu casamento até ser tarde demais (...) A cidade começa a encher de novo alguns dias antes, as vizinhas lucram com o quase um milhão de visitantes esperados todos os anos, Sunshadow não tem hotéis suficientes para tanta gente; Nem o centro de convenções com seus seis pavimentos, a cidade inteira torna-se local do evento. Luppy leva Belize para ver os preparativos, enquanto os meninos brincam com carrinhos de pedal. A menina gosta de ver as coisas serem feitas, às vezes mais do que das prontas. Ela gosta de ver os detalhes e depois imaginá-los detrás da obra pronta, como aqueles monitores de telas de toque que estão montando no salão de recepção.

Durante os testes, ela presta atenção aos multímetros gráficos e às telas em teste, fica excitada ao ver que cada mudança no monitor corresponde a outra no aparelho (...) ela corre para Colleen e Natasha tagarelando mais do que o homem da cobra! Luppy volta feliz ao trabalho, deixando as três conversarem e soltarem risadas frenéticas...

- Meia hora de folga e temos esse resultado!

- Ela ficou feliz demais! Um rapaz chegou até a pegar ela no colo pra ela ver de perto o que ele fazia! Acho que ela podia brincar com o Robby, ele é bom em montar coisas!

- Ela vai ter essa chance, ele vem hoje à tarde com meu pai.

Ele vem e ouve a menina entusiasmada a relatar sua manhã, então mostra-lhe o pequeno carrossel que fez com o velho Gardner. Na frente dos adultos o abre e explica à amiga como tudo aquilo funciona, remonta, fecha e lhe dá de presente, derretendo os adultos. Enya conta a Elias, que pensa um pouco e não titubeia...

- Ele fez certo. É assim que um cavalheiro age, está aprendendo direitinho.

Alguns dias depois o pequeno cavalheiro está com a enorme família em frente ao centro de convenções (...) Aqueles sexagenários em plena forma, arrebatando corações e dando aulas de carisma e simpatia, recebem seus convidados vindos de todas as partes do mundo. As marroquinas pulam exitadas ao reconhecerem um casal amigo de Marrakesh. Eles trazem novidades boas e más, mas relatam o quanto os conhecidos estão orgulhosos das onze...

- Nós e mais alguns nos convencemos da linha que vocês seguem, mas não podemos falar isso em público, vocês sabem...

- Eu ouvi direito? Vocês estão adoptando a linha dos doze anos?

Patrícia (...) quer saber detalhes dessa nova postura. Sanaa apresenta os amigos, explica, Patrícia chama os comparsas e eles são contractados para trabalhar no resort...

- Heim?

- Vocês têm estes cinco dias de folga, chegando a Marrakesh Abu vai mostrar o seu trabalho. Aproveitem, depois tem uma montanha de trabalho a ser feito. Amores da mamãe, valeu mesmo pela indicação.

- Um problema a menos – diz Renata.

- Agora só faltam os outros 3.437.844.512 – diz Rebeca.

Lá vão as sexagenárias, serelepes e altivas, segurando o rojão que pegaram há mais de meio século. O serviço de som e bluetooth informa das dezenas de cursos, centenas de oportunidades, shows livres (...) Alguns espiões aproveitam o serviço em local propício para aprenderem finalmente a tocar seus instrumentos favoritos. Enzo corrige a posição dos dedos de um palestino que sabe que está sendo vigiado pela organização, seu desempenho melhora absurdamente.

Ronald dá aulas de cavalheirismo para os homens que decidem romper com a agressividade fútil vigente, é uma grata surpresa ver quase seiscentos marmanjos no auditório (...) Distribui o manual ilustrado e explica o básico de civilidade e trato para com o próximo...

- O garçom não é um producto do restaurante, ele é um servidor e está lá para servir, não para receber coices. Um homem deve saber a diferença entre pagar e comprar.

Todos os participantes (...) estão lá para aprender a evitar se tornarem cavalos coiceiros. Robert está dando sua palestra livre de diplomacia cotidiana, sob os olhares apaixonados de Mikomi e Sakura. Seu foco é a necessidade actual de a pessoa não ser odiada e ameaçada simplesmente por emitir uma opinião...

- Se sua opinião não for necessária, não emita, não em público. Isso é para o seu próprio bem. O mundo não tolera mais afirmativas conflitantes. É triste, eu sei, mas é este o admirável mundo novo com mentalidade bárbara em que estamos.

Liberdade de expressão existe, mas é uma roleta russa. Renata é solicitada a dar explicações sobre o Brasil, acaba se tornando um seminário informal. A polêmica acerca da invenção do avião é a primeira, e uma saia justa. Ela se lembra da conversa técnica que teve com Patrícia e solta...

- Os irmãos Wrigth fizeram um vôo controlado em um aparelho de boa aerodinâmica. Dumont construiu um aparelho tão desajeitado, que os franceses apelidaram o 14 Bis de “Pato”, mas decolou e pousou por conta própria, após centenas de metros de vôo em público e filmado. Imagino se os três tivessem se encontrado, teriam sobrevoado o país inteiro! E talvez Dumont não tivesse se matado.

- O Fly se parecia mais com avião do que o 14 Bis!

- Muito mais, e serviu de inspiração para o Demoiselle.

- Existe prova material de que Dumont fez esse vôo?

Ela acessa imediatamente um canal de vídeos e mostra o desajeitado aparelho decolar por si, voar e pousar com suavidade (...) os três deveriam ter se encontrado e cooperado. Passam para tópicos constrangedores, a violência no Brasil, digna de países em guerra civil é um deles.

Os veteranos que estiveram no casamento tornam-se celebridades. São perguntados dos detalhes, aromas, clima, sentimento diante de um acontecimento tão importante e repleto de gente poderosa. Eles explicam enquanto exibem os convites preservados (...) É uma festa à parte, paparazzi e repórteres de verdade cercam essas lendas vivas dos ghost drivers, alguns deles membros da guarda imperial.

Há uma reunião secreta entre a organização e espiões gentilmente convidados a explicarem suas presenças. Eles (...) não podem dizer que são só turistas, suas íris foram analisadas...

- Eles eu não sei! Eu estou aqui para coletar dados, me mandaram coletar o máximo possível.

- Isso explica você ter feito dezessete cursos até agora – exclama Barbarian!

- Disseram que eu poderia ficar à vontade, então aproveitei!

Há um minuto de descontração, exceto por conta de um coreano. Ele não estaria tão tenso se tivesse vindo de Seul. Princess (...) se aproxima e cuida de acalmá-lo...

- Tem umas coisas que você pode levar para aquele leitão sem-vergonha. Não é por isso que será punido.

Providencia um pen drive com provas de o quanto a América é realmente poderosa, do quanto eles estão longe de ver a sombra desse poder e por que os inimigos do país ainda não realizaram seus sonhos genocidas. Terroristas não são Estados, ou já teriam sido dizimados logo após o 11 de Setembro, mas os presentes representam Estados...

- Isto vai safar a sua pele e dar recomendações de boa educação àquele moleque mimado.

O liberam. A organização e os espiões se entreolham (...) eles são orientados para repassar aos seus governos o que fazer, quando o feudo do norte da Coréia ruir. Muita gente lá simplesmente não está apta a viver em liberdade (...) poderá ser um desastre maior do que o cativeiro.

Voltam aos festejos, para aliviar as tensões desta hora e meia de conversa. Os espiões agora ficam de olho no rapaz, já avisaram suas inteligências a respeito do acontecido. Pyong-Yang recebe as informações que seu enviado recebeu e decide que ele e sua família merecem continuar vivos (...) Em Sunshadow ele se esbalda, come o quanto pode porque sabe que passará fome de novo por muito tempo.

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