Incidente no festival. A estação 215 traz alguns dos dissabores de quem lida com os bastidores das relações internacionais. Embarquem, o trem vai partir.
Aos novatos sempre repetem a história e
sempre encantam, foi em um momento de crise (...) que Patrícia idealizou o Sunshadow Dead Train Fan Week, para camuflar seu
casamento até ser tarde demais (...) A cidade começa a encher de novo
alguns dias antes, as vizinhas lucram com o quase um milhão de visitantes
esperados todos os anos, Sunshadow não tem hotéis suficientes para tanta gente;
Nem o centro de convenções com seus seis pavimentos, a cidade inteira torna-se
local do evento. Luppy leva Belize para ver os preparativos, enquanto os
meninos brincam com carrinhos de pedal. A menina gosta de ver as coisas serem
feitas, às vezes mais do que das prontas. Ela gosta de ver os detalhes e depois
imaginá-los detrás da obra pronta, como aqueles monitores de telas de toque que
estão montando no salão de recepção.
Durante os testes, ela presta atenção aos
multímetros gráficos e às telas em teste, fica excitada ao ver que cada mudança
no monitor corresponde a outra no aparelho (...) ela corre para Colleen e Natasha tagarelando mais do que
o homem da cobra! Luppy volta feliz ao trabalho, deixando as três conversarem e
soltarem risadas frenéticas...
- Meia hora de folga e temos esse resultado!
- Ela ficou feliz demais! Um rapaz chegou até
a pegar ela no colo pra ela ver de perto o que ele fazia! Acho que ela podia
brincar com o Robby, ele é bom em montar coisas!
- Ela vai ter essa chance, ele vem hoje à
tarde com meu pai.
Ele vem e ouve a menina entusiasmada a
relatar sua manhã, então mostra-lhe o pequeno carrossel que fez com o velho
Gardner. Na frente dos adultos o abre e explica à amiga como tudo aquilo
funciona, remonta, fecha e lhe dá de presente, derretendo os adultos. Enya conta
a Elias, que pensa um pouco e não titubeia...
- Ele fez certo. É assim que um cavalheiro
age, está aprendendo direitinho.
Alguns dias depois o pequeno cavalheiro está
com a enorme família em frente ao centro de convenções (...) Aqueles
sexagenários em plena forma, arrebatando corações e dando aulas de carisma e
simpatia, recebem seus convidados vindos de todas as partes do mundo. As
marroquinas pulam exitadas ao reconhecerem um casal amigo de Marrakesh. Eles
trazem novidades boas e más, mas relatam o quanto os conhecidos estão
orgulhosos das onze...
- Nós e mais alguns nos convencemos da linha
que vocês seguem, mas não podemos falar isso em público, vocês sabem...
- Eu ouvi direito? Vocês estão adoptando a
linha dos doze anos?
Patrícia (...) quer saber detalhes dessa nova postura. Sanaa
apresenta os amigos, explica, Patrícia chama os comparsas e eles são
contractados para trabalhar no resort...
- Heim?
- Vocês têm estes cinco dias de folga, chegando
a Marrakesh Abu vai mostrar o seu trabalho. Aproveitem, depois tem uma montanha
de trabalho a ser feito. Amores da mamãe, valeu mesmo pela indicação.
- Um problema a menos – diz Renata.
- Agora só faltam os outros 3.437.844.512 –
diz Rebeca.
Lá vão as sexagenárias, serelepes e altivas,
segurando o rojão que pegaram há mais de meio século. O serviço de som e
bluetooth informa das dezenas de cursos, centenas de oportunidades, shows livres (...) Alguns espiões aproveitam o serviço em local propício para aprenderem
finalmente a tocar seus instrumentos favoritos. Enzo corrige a posição dos
dedos de um palestino que sabe que está sendo vigiado pela organização, seu
desempenho melhora absurdamente.
Ronald dá aulas de cavalheirismo para os
homens que decidem romper com a agressividade fútil vigente, é uma grata
surpresa ver quase seiscentos marmanjos no auditório (...) Distribui o manual ilustrado e explica o básico de civilidade e trato para com
o próximo...
- O garçom não é um producto do restaurante,
ele é um servidor e está lá para servir, não para receber coices. Um homem deve
saber a diferença entre pagar e comprar.
Todos os participantes (...) estão lá para aprender a evitar se tornarem cavalos
coiceiros. Robert está dando sua palestra livre de diplomacia cotidiana, sob os
olhares apaixonados de Mikomi e Sakura. Seu foco é a necessidade actual de a
pessoa não ser odiada e ameaçada simplesmente por emitir uma opinião...
- Se sua opinião não for necessária, não
emita, não em público. Isso é para o seu próprio bem. O mundo não tolera mais
afirmativas conflitantes. É triste, eu sei, mas é este o admirável mundo novo
com mentalidade bárbara em que estamos.
Liberdade de expressão existe, mas é uma
roleta russa. Renata é solicitada a dar explicações sobre o Brasil, acaba se
tornando um seminário informal. A polêmica acerca da invenção do avião é a
primeira, e uma saia justa. Ela se lembra da conversa técnica que teve com
Patrícia e solta...
- Os irmãos Wrigth fizeram um vôo controlado
em um aparelho de boa aerodinâmica. Dumont construiu um aparelho tão
desajeitado, que os franceses apelidaram o 14 Bis de “Pato”, mas decolou e
pousou por conta própria, após centenas de metros de vôo em público e filmado.
Imagino se os três tivessem se encontrado, teriam sobrevoado o país inteiro! E
talvez Dumont não tivesse se matado.
- O Fly se parecia mais com avião do que o 14
Bis!
- Muito mais, e serviu de inspiração para o
Demoiselle.
- Existe prova material de que Dumont fez
esse vôo?
Ela acessa imediatamente um canal de vídeos e
mostra o desajeitado aparelho decolar por si, voar e pousar com suavidade (...) os três deveriam
ter se encontrado e cooperado. Passam para tópicos constrangedores, a violência
no Brasil, digna de países em guerra civil é um deles.
Os veteranos que estiveram no casamento
tornam-se celebridades. São perguntados dos detalhes, aromas, clima, sentimento
diante de um acontecimento tão importante e repleto de gente poderosa. Eles
explicam enquanto exibem os convites preservados (...) É uma festa à parte, paparazzi e repórteres de
verdade cercam essas lendas vivas dos ghost drivers, alguns deles membros da
guarda imperial.
Há uma reunião secreta entre a organização e
espiões gentilmente convidados a explicarem suas presenças. Eles (...) não podem dizer que são só turistas, suas íris foram
analisadas...
- Eles eu não sei! Eu estou aqui para coletar
dados, me mandaram coletar o máximo possível.
- Isso explica você ter feito dezessete cursos
até agora – exclama Barbarian!
- Disseram que eu poderia ficar à vontade,
então aproveitei!
Há um minuto de descontração, exceto por
conta de um coreano. Ele não estaria tão tenso se tivesse vindo de Seul.
Princess (...) se aproxima e cuida de acalmá-lo...
- Tem umas coisas que você pode levar para
aquele leitão sem-vergonha. Não é por isso que será punido.
Providencia um pen drive com provas de o
quanto a América é realmente poderosa, do quanto eles estão longe de ver a sombra
desse poder e por que os inimigos do país ainda não realizaram seus sonhos
genocidas. Terroristas não são Estados, ou já teriam sido dizimados logo após o
11 de Setembro, mas os presentes representam Estados...
- Isto vai safar a sua pele e dar recomendações
de boa educação àquele moleque mimado.
O liberam. A organização e os espiões se
entreolham (...) eles são
orientados para repassar aos seus governos o que fazer, quando o feudo do norte
da Coréia ruir. Muita gente lá simplesmente não está apta a viver em liberdade (...) poderá ser um desastre maior do que o
cativeiro.
Voltam aos festejos, para aliviar as tensões
desta hora e meia de conversa. Os espiões agora ficam de olho no rapaz, já
avisaram suas inteligências a respeito do acontecido. Pyong-Yang recebe as
informações que seu enviado recebeu e decide que ele e sua família merecem
continuar vivos (...) Em Sunshadow ele
se esbalda, come o quanto pode porque sabe que passará fome de novo por muito
tempo.
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