sexta-feira, 20 de abril de 2012

In memorian; Jessé

A história toda começou em Niterói, em 25 de Abril de 1952, em um mundo ainda sob o forte efeito entorpecente do fim da guerra. Mas foi criado na ainda despovoada Brasília, onde começou a trabalhar em boates e, logo depois, cantar em bailes pelo país. Integrou os grupos Corrente de Força e Placa Luminosa.

Nos anos setenta, Jessé Florentino Santos (cala a boca, Tiririca!) estava em São Paulo, seguindo sua carreira solo como 'Tony Stevens', quando conseguiu êxito com 'Flying' e 'If I Could Remember'. Na época, era muito comum, e até recomendável para os iniciantes, adoptar um pseudônimo americanizado e cantar em inglês, até conseguir seu público. Fábio Júnior, por exemplo, era 'Mark Davis'.

O impacto de suas qualidades profissional e vocal foi tão grande, no início da carreira, que durante QUINZE DIAS (não uma semana, mas quinze dias) ele lotou o TUCA, Teatro da Universidade Católica, dando assim um tapa na crítica que até então o ignorava solenemente, à exceção de Zuza Homem de Mello, do Estado de São Paulo e da Jovem Pan. Ele convidou dezenas de colegas, mas ninguém sequer ligou para dar uma desculpa esfarrapada para não aparecer. Se arrependimento matasse, heim!

Sua glória veio em 1980, no Festival MPB Shell, quando cantou e encantou com 'Porto Solidão', a música que o marcaria pelo resto da vida, e se tornaria um hino metafísico para muita gente.

Em 1983, ganhou o XII Festival da Canção Organização (Tevê Ibero Americana) como melhor intérprete, canção e arranjo, para 'Estrelas de Papel'.

Dependendo do espaço e da acústica local, o microphone era uma mera formalidade, por conta de sua voz tão potente e elástica quanto afinada. Com audição calibradíssima, ele se corrigia e acompanhava de improviso com extrema facilidade. Uma oitava acima, para ele era tarefa de criança

Morreu como amava viver, trabalhando. Foi em um acidente que lhe traumatizou o crânio, no quilômetro 486 da Rapozo Tavares, indo com a esposa a um show. Ela sobreviveu, mas perdeu a criança que gestava. Os doze dias de coma, com seu público rezando como nunca, findaram em 29 de Março de 1993, quando ele partiu.

Infelizmente, foi praticamente tudo o que encontrei de relevante. Nada sobre o bom camarada e gente fina bem quista no meio artístico, que subia o tom de voz para cantar, não para atacar os outros. O que mais dói aos fãs não é tanto a perda, mas muito mais a ingratidão do público, que praticamente esqueceu uma das melhores vozes que o Brasil já teve, um dos poucos cantores que podiam competir com os dinossauros do rock. A simplicidade era uma de suas marcas, não tinha muitas cerimônias e não se endeusava. As emissoras têm um vasto acervo sobre ele e simplesmente não o veiculam.

Vejam só, leitoras e leitores, os americanos eternizaram o Porsche Spider 550 (um carro alemão!) em que James Dean morreu, e o brasileiro nem dá mais valor ao Escort XR3 conversível, o carro nacional que Jessé dirigia, quando perdeu o controle e sofreu a tragédia. Felizmente, é fácil encontrar letras cifras e vídeos.

Sua filha Rebeca, peixinha que não esconde a herança, canta principalmente o seu repertório, e canta bem:




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