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O Verbo é composto de uma única sílaba, então não se faz necessário derramar palavras em profusão, para se tocar a alma de um homem. Há os que teimam em serem insensíveis, crendo que isso os torna mais fortes, como se a cegueira copleta fosse um bônus, por não arderem os olhos à luz mais forte.
Como um anjo em sua forma mais delicada, o Verbo se faz menina para conseguir entrar na fortaleza dos homens, sem que lhes pareça representar ameaça. Singela, frágil em seu vestido azul, em meio à névoa seca de gás carbônico pelo chão.
Cai a areia na ampulheta e o Espírito que a anima se alinha, permite-se o dom da fragilidade, que comove e aproxima os mais fortes. Não se aproximariam tanto de uma figura augusta e mais robusta. A fragilidade torna-se uma bênção.
É uma criança, pensam eles, não oferece risco, nem ofensa, nem qualquer ameaça ao nosso grupo. Porque é pequena, porque é delicada, porque é frágil, eles a toleram, a acolhem. Sentem-se fortes acolhendo o anjo que pensam ser uma figura indefesa.
A pequena Patrícia se posiciona à platéia, talvez inconsciente de que é um avatar para um anjo gigantesco se manifestar sem causar horror, por expor com sua luz as mazelas que a sombra humana protege.
Não é preciso haver muitas palavras para os propósitos do Verbo, é uma sílaba só. O olhar assustado faz parecer que desafina, mas não. O Verbo é uma sílaba só, e é só de uma que ela necessita para derrubar os muros fúteis que construímos ao noso redor, para nos proteger do que está dentro de nós.
Por ela o Verbo se faz.
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