sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Programas que falam de programas

Fonte da imagem: http://www.euamocaes.com/

Tudo começou, no formato que hoje conhecemos, pelo Vídeo Show, quando o Miguel Falabela o deixou. Bem, a função deste programa sempre foi falar de televisão, mas a troca de apresentadores deixou de lado o aspecto histórico e cultural, para se render à adulação interna, já que programa da Globo não pode falar de programas de outras emissoras; uma idiotice, me deculpem.

Nas outras emissoras, sempre houve programas que falam de programas, mas eram programas de variedades, que falavam também de programas, mas tinham outros tópicos em suas grades, que muitas vezes passavam longe dos temas televisivos.

O problema foi quando pararam de procurar assuntos, reduzindo ou até eliminando o caráter de variedades, e se focaram exclusivametne em falar de outros programas. Se falam de dieta, é sobre uma sub celebridade que perdeu peso, deixando pouco ou nenhum espaço para as informações úteis sobre a técnica.

Tudo piorou muito, quando os "reality shows" pipocaram na televisão aberta. Meses antes de começarem, e meses depois de desinfetarem, os apresentadores se esmeram em procurar detalhes, novidades, curiosidades, enfim, quase fazem colonoscopias em rede nacional, repetindo ad aeternum o que o público já cansou de ver nos próprios programas, e em reportagens sobre as polêmicas (vazias) que geraram. Fora que, vira e mexe, procuram os ex-participantes, para falarem do que já foi falado, apenas de maneira ligeiramente diferente.

Essas polêmicas, diga-se de passagem, que são esquecidas assim que outro canastrão faz a mesmíssima cousa.

Felizmente a fórmula se desgasta rapidamente. Infelizmente, a fórmula pode sempre ser piorada, garantindo audiência a quem não faz absolutamente nada de relevante pela cultura de massas. Uma técnica fácil de engolir, para quem já se habituou a comer porcaria gordurosa e cheia de aditivos tóxicos, é exagerar na emoção. Falar do drama de uma "celebridade" como se o seu fosse o pior caso do tipo, quando não fazem parecer que é a única vítima inocente da atribulação, com repetição sistemática de trechos de cenas, photographias e depoimentos, que o espectador parece não perceber que estão sendo repetidas três vezes ou mais.

Outro sintoma grave, é a dependência não só dos próprios programecos, mas também dos da Globo. Sim, caros taleitores, praticamente todas as emissoras do Brasil, vivem da Globo. Provavelmente, boa parte da audiência dos Marinho, sai de dentro da concorrência. Parece haver uma equipe em cada emissora, dedicada exclusivamente à programação global, a procurar pontos polêmicos, falhas crassas, escândalos pessoais, litígios e tudo o que puderem colocar no liquidificador esquizofrênico de suas grades, para vender tranqueiras que todo mundo já tem, só falta você, mas nunca conheci alguém que as tenha.

O interessante, é que nenhum programa que fala de programas, aborda as poucas reportagens relevantes que os telejornais divulgam. Aquele documentário sobre o jurássico, apresentado pela Globo e repetido na Cultura, por exemplo. Isso, só para citar um exemplo que seria de bom proveito, que daria ganchos fáceis para falar de preservação das espécies. Aliás, as atrocidades que o extremo oriente ainda faz contra animais, como encurralar e matar golfinhos, ou jogar cães vivos na água fervente, parecem não ser polêmicas de interesse desses programas.

Não, eles querem é falar da suposta apologia à prostituição, que a novela da Globo estaria fazendo. Ou ainda, da já surrada polêmica da Xuxa no filme "Amor, estranho amor", rodado quando ela ainda era menor. Ah, claro, briga de jogador de futebol, que mata no trânsito e foge sem dar socorro à vítima, mas eles falam como se o jogador fosse a vítima.

Nada contra programas falarem de programas. Me afasta mais da televisão, a apologia ao irrelevante, amparada por apresentações apelativas, que só fazem maquiar a completa futilidade da pauta. Eu tenho idade para afirmar que programas de variedades, realmente falavam de variedades, eram como revistas televisivas. Aliás, saudades do Dia a Dia de Olga Bongiovanni, que não durava demais, mas conseguia falar de tudo um pouco, de modo relevante.

Alguém vai falar que a televisão mostra o que o povo quer ver. Mesmo? Formar opinião não faz parte das atribuições da mídia?

2 comentários:

Adriane Schroeder disse...

O próximo passo será programas que falam de programas que falam de programas. E o auto-comentarismo, ocmo faz o chatíssimo Cacau Menezes por aqui.

Nanael Soubaim disse...

Não conheço esse Cocô Maioneses, mas uma fadinha me diz que é melhor continuar assim.