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Noêmia queria que ele fosse médico. O incentivou aos estudos o quanto pôde, mas ele preferiu se render aos dotes líricos de Raul. Não se pode dizer que foi um desgosto, afinal ele tornou-se um marco da música mundial. Raul era compositor amador e funcionário da Biblioteca Nacional, ou seja, pelo menos estudar muito foi uma vontade muito bem feira à Noêmia.
Heitor Villa-Lobos, filho de Noêmia Monteiro Villa-Lobos e Raul Villa-Lobos, despencou por aqui em cinco de Março de 1887, voltou lá para cima em dezessete de Novembro de 1959.
De 1905 a 1912, conheceu Norte e Nordeste do país. Quem leu "Triste Fim de Policarpo Quaresma", sabe da paúra que os brasileiros tinham de conhecer o interior do país, ainda mais em uma época em que viajar, significava ficar muito tempo fora. Não é como hoje, hoje podemos ir e voltar de um extremo ao outro em um dia, de avião. Com tanto tempo disponível, quisesse ele ou não, descobriu um mundo completamente novo, uma avalanche de pedras perciosas, onde o vulgo alienado só vê cascalho. Era um gênio, conseguiu ver o óbvio.
Foi em 1915 seu primeiro concerto, mas a crítica considerou suas obras modernas demais, em vez de reconhecer o próprio provincianismo. Sua insistência tenaz o impeliu a continuar tentando, no já existente eixo Rio-São Paulo, até vencer pelo cansaço o ranço reinanrte. Chegou a se apresentar em Buenos Aires, em 1919, que na época era um laboratório para o refinado público europeu.
Não sei o que vocês vêem no colégio, hoje, mas no segundo grau ele foi matéria de prova. Villa-Lobos revolucionou por romper o cordão umbilical que os músicos tinham, até então, com a Europa. Enxertou aquelas canções populares, indígenas, os aspectos folclóricos e muito patriotismo em suas composições. Não por acaso, foi o músico-símbolo da Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Serestas, choros, estudos para violão, ciranda de piano... Os anos vinte lhe deram sua explosão de criatividade, sempre enfatizando o Brasil.
Em uma ocasião, ele foi reger com um pé de sapato e o outro de chinelo. A crítica teceu longos comentários especulativos, achando aquilo ultra hiper, escafalobeticamente moderno... Mas era só o dedão machucado mesmo.
Entretanto, ele não foi um rebelde radical, só quis que seu país tivesse seu próprio cabedal, de modo relevante, e conseguiu com louvor. Foi em 1914, início da Primeira Guerra Mundial, que descobriu seu estilo próprio, passando a rejeitar a ditadura euromusical vigente. A obra é "Danças características Africanas". Depois se firmou com "Amazônia" e "Uirapuru", em 1917, chegando aos anos loucos dono de seu estilo. Mas "Bachianas Brasileiras", um neobarroco, é que o tornou um maestro entre os maestros.
Foi à Europa em 1923, porque ainda era o centro do mundo, voltando em 1924, depois de novo em 1927, com a esposa Lucilia, desta vez com o patrocínio o magnata Carlos Guinle, em uma turnê. O apoio da soprano Vera Janacópulus e do pianista Arthur Rubisntein, facilitou sua apresentação ao meio artístico, e a reduzir a desconfiança da crítica.Voltou em 1930, com a crise das bolsas no auge. Nesta década, termina seu primeiro casamento.
Um feito épico foi a "Exortação Cívica", que teve um coral com doze mil vozes... Se vocês nunca tentaram reger um coral, por pequeno que seja, não podem imaginar o tamanho desta obra hercúlea. Em 1932, já dirigia a Superintendência de Educação Musical e Artística. Getúlio Vargas, que podia ter todos os defeitos do mundo, mas queria ver o país no primeiro mundo, tornou obrigatório o ensino de música nas escolas. Villa-Lobos passou então, a focar o ensino musical em suas obras.
Vargas gostava dele. Seu amor à pátria calçava bem com as pretensões do Estado Novo (de mentalidade velha) de Getúlio. Pelo menos para a cultura, Vargas foi um dos maores brasileiros de todos os tempos, porque foi quando o folclore nacional conseguiu sair do armário, capitaneado pela batuta de Villa-Lobos. Seu "Canto Orfeônico" resultou no "Gua Prático", que trata de temas populares harmonizados, prontos para uso de músicos profissionais.
Veio mais uma guerra e os americanos viam a simpatia sulista pelo regime nazista. Tratou de cortar o mal pela raíz e mandar o mundo artístico fazer uma propaganda melhor do que a hitleriana. Funcionou, como sabemos. Roosevelt mandou Leopold Stokowski e a The American Youth Orchestra para fazer as honras da casa. Stokowski pediu a Villa-Lobos uma seleção dos melhores músicos e sambistas, para gravar a coleção "Brazilian Native Music".
O time escalado foi de primeira: Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola e companhia limitada. Foi este o samba que os americanos conheceram, muitíssimo diferente do que expelimos hoje.
De 1944 a 1945, com a guerra já no papo, regeu e foi homenageado em Boston e Nova Iorque. Notaram aqui o fio da meada? Os americanos, e o resto do mundo, tiveram o que havia de melhor em música brasileira. Foi esta gente, ainda que sob os filtros da mídia ianque, que fez nossa cultura ser admirada lá fora, foram décadas de trabalho árduo, de pressão bélica e tudo mais. De volta, ele fundou a Academia Brasileira de Música.
Operou de um câncer em 1948, se casando logo em seguida com uma ex-aluna, Arminda. Um consórcio de onze anos. Compôs ainda "Floresta da Amazônia" par a Metro Goldwin Mayer. Ele praticamente morava nos Estados Unidos, nos dois últimos anos de vida.
Fumante inveterado, não foi perdoado pela idade, sua saúde decaiu rapidamente até o desenlace.
Villa-Lobos foi parte de um Brasil que tentou dar certo, que fez de tudo para dar ao cidadão comum, as ferramentas para sair sozinho das trevas em que se encontrava. Hoje, nas escolas públicas e quase todas as particulares, não se aprende caligraphia, nem philosophia, nem música, nem a ser gente. Quem, hoje, se lembra quem foi Heitor Villa-Lobos?
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