sábado, 23 de fevereiro de 2013

Carta resposta a uma certa revista



Querida dona Maior Revista de Informação do País,


Recentemente recebi uma simpática cartinha da Senhora, me convidando a ter uma assinatura sua. A Senhora foi tão bacana que até se dirigiu a mim usando meu nome!
Nunca desconfiaria que isso é o que se chama de "mala direta", uma carta previamente digitada onde apenas meu nome precisou ser preenchido, e lógico que acreditei que a assinatura, em um azul caneta-esferográfica foi feito a mão, com todo carinho, por seu diretor. Claro que não era apenas uma imagem impressa repetida aos milhares, imagine.
Mas vamos ao conteúdo da adorável cartinha. A Senhora tocou meu coração, sabia? Fiquei muito tocada com a sua autodescrição como uma revista "investigativa e esclarecedora, com reportagens que antecipam e explicam as grandes questões do Brasil e do mundo". Também descobri que a Senhora tem "as entrevistas mais reveladoras" e até prometeu que eu teria "contato com os colunistas que não deixam ninguém indiferente".
A Senhora sabe como sou desinformada, não? Então, gentilmente se ofereceu para preencher esse imenso vazio que existe em meu intelecto com suas reportagens essenciais, com capas que acompanham os grandes debates nacionais, como por exemplo, o destino de personagem em novelas.
Como poderia viver sem a opinião da Senhora sobre isso? Ainda mais que não existem revistas especializadas em entretenimento e novelas, muito menos programas de TV a este respeito, então, é absolutamente necessário que uma revista como a Senhora nos esclareça sobre o que se pensa de determinado personagem e porque ele faz tanto sucesso.
E a Senhora toca num ponto ainda mais frágil: opinião. Como a Senhora é muito minha amiga e me conhece até pelo nome, sabe que eu não tenho uma e que preciso da Senhora para ter alguma. Pobre de mim! 
Eu preciso da Senhora para ter opinião, para pensar. É uma vergonha eu ainda não ser sua assinante.
Pena que eu não posso chamar a Senhora pelo nome, porque, ao contrário de mim, a Senhora está protegida, e pode dizer que não quis me chamar de inculta e desprovida de opinião ou de informação, mas se eu ousar citar seu nome certamente serei processada. Mas claro, é tudo em nome da liberdade de imprensa, a Senhora está apenas tentando proteger meu direito de ter uma opinião- desde que ela seja igual à sua, que, é claro, é a melhor, é a única que se pode ter.
Muito obrigada, dona maior Revista de Informação do País!

2 comentários:

Marcos disse...

Muito interessante seu comentário Adriane,saiba que essa senhora também entrou em contato comigo via e-mail e por carta timbrada e tudo mais. Me senti uma pessoa importante, fiquei até tentado a fazer uma assinatura,ainda bem que foi só um devaneio.

Nanael Soubaim disse...

Veja só! Isto É uma praga de nossa Época! Mandaram uma Carta à Capital para teu Exame, afirmando que não há outra revista relevante do tipo, no país inteiro.