Querida dona Maior Revista de Informação do País,
Recentemente recebi uma simpática cartinha da Senhora, me
convidando a ter uma assinatura sua. A Senhora foi tão bacana que até se
dirigiu a mim usando meu nome!
Nunca desconfiaria que isso é o que se chama de "mala
direta", uma carta previamente digitada onde apenas meu nome precisou ser
preenchido, e lógico que acreditei que a assinatura, em um azul
caneta-esferográfica foi feito a mão, com todo carinho, por seu diretor. Claro
que não era apenas uma imagem impressa repetida aos milhares, imagine.
Mas vamos ao conteúdo da adorável cartinha. A Senhora tocou meu
coração, sabia? Fiquei muito tocada com a sua autodescrição como uma revista "investigativa e esclarecedora, com reportagens que
antecipam e explicam as grandes questões do Brasil e do mundo". Também
descobri que a Senhora tem "as entrevistas mais reveladoras" e até
prometeu que eu teria "contato com os colunistas que não deixam ninguém
indiferente".
A Senhora sabe como sou
desinformada, não? Então, gentilmente se ofereceu para preencher esse imenso
vazio que existe em meu intelecto com suas reportagens essenciais, com capas
que acompanham os grandes debates nacionais, como por exemplo, o destino de
personagem em novelas.
Como poderia viver sem a
opinião da Senhora sobre isso? Ainda mais que não existem revistas
especializadas em entretenimento e novelas, muito menos programas de TV a este
respeito, então, é absolutamente necessário que uma revista como a Senhora nos
esclareça sobre o que se pensa de determinado personagem e porque ele faz tanto
sucesso.
E a Senhora toca num ponto
ainda mais frágil: opinião. Como a Senhora é muito minha amiga e me conhece até
pelo nome, sabe que eu não tenho uma e que preciso da Senhora para ter alguma.
Pobre de mim!
Eu preciso da Senhora para
ter opinião, para pensar. É uma vergonha eu ainda não ser sua assinante.
Pena que eu não posso
chamar a Senhora pelo nome, porque, ao contrário de mim, a Senhora está
protegida, e pode dizer que não quis me chamar de inculta e desprovida de
opinião ou de informação, mas se eu ousar citar seu nome certamente serei
processada. Mas claro, é tudo em nome da liberdade de imprensa, a Senhora está
apenas tentando proteger meu direito de ter uma opinião- desde que ela seja
igual à sua, que, é claro, é a melhor, é a única que se pode ter.
Muito obrigada, dona maior Revista de Informação
do País!
2 comentários:
Muito interessante seu comentário Adriane,saiba que essa senhora também entrou em contato comigo via e-mail e por carta timbrada e tudo mais. Me senti uma pessoa importante, fiquei até tentado a fazer uma assinatura,ainda bem que foi só um devaneio.
Veja só! Isto É uma praga de nossa Época! Mandaram uma Carta à Capital para teu Exame, afirmando que não há outra revista relevante do tipo, no país inteiro.
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