Urbano está amargurado. Jamais tinha entrado em uma delegacia, imagine figurar como réu em um tribunal. Seu único crime foi ter dito "É só deste pretinho eu gosto", no pátio da faculdade, mostrando o Phebo Patchouli que comprou e usa desde criança.
Urbano sempre foi liberal, de um bom senso raro e personalidade refinada. Cresceu se acostumando a relevar pilhéias e levá-las como tal, não como ofensa. Mãe alemã e pai irlandês, aprendeu desde a mais tenra idade a valorizar o trabalho honesto e ter alergia da palavra "aposentadoria". A mãe sempre lhe podou a vaidade, para que sua beleza não lhe subisse à cabeça e se tornasse fútil, o pai sempre dizia "Faça por merecer" quando lhe pedia um brinquedo.
Alto, forte, louro-mel, olhos azuis brilhantes, queixo talhado a machado, peitoral avantajado e uma inteligência muito desenvolvida, além da voz de Elvis Presley que deixa colegas de faculdade e funcionárias delirando. Apelido: Capitão América, mas também o chamam de "iô-iô", "Rei Leão", "Fedido", "Feioso", e mais uma dúzia de apelidos que ele leva na esportiva.
Foi educado desde que aprendeu a andar para que se colocasse no mesmo nível dos demais, apesar de a bondade divina o ter superdotado de beleza tanto quando de porte físico e inteligência. Seus pais foram bem sucedidos, talvez muito mais do que uma sociedade que preza o "coitadismo" é capaz de tolerar.
Medita enquanto o advogado de acusação tenta convencer o juiz de que ele ofendeu propositalmente todos os negos do país. Ele sabe que vai dar em nada, a argumentação é ridícula, baseada simplesmente da inveja de uns e na paranóia de outros. Mas o constrangimento pelo qual está passando é prato cheio para muita gente.
Alegam que ele jamais participou dos movimentos estudantís, omitindo o facto de estar sempre trabalhando nas empresas da família, que em suas férias sempre prefere ir para a Região Sul do país, que viaja para a Europa e nunca esticou para a África, e outros do mesmo teor. Desconsiderando que Urbano é casado, o acusam de preterir as moças negras (ou cidadãs afrodescendentes, como preferem) nos flertes. Chegam ao cúmulo de afirmar que ter se casado com uma loura é uma tentativa para "purificar sua raça".
"Raça"... Aprendeu desde moleque que todos os humanos têm quarenta e seis cromossomos. Ficou furo da vida quando o governo instituiu "Quotas de raciais", foi a institucionalização do racismo.
Os mesmos grupos de "direitos humanos" que agora tentam tomar-lhe os cobres e desmoralizá-lo, viraram as costas quando um de seus motoristas, que era negro, foi assassinado em serviço, mas não tardaram a defender o assassino como "vítima da sociedade capitalista". Aquele rapaz tinha sido tirado de uma favela, teve menos chances na vida do que o seu algoz, mas preferiu prestar. A família está sendo amparada pelo seguro da empresa, porque o Estado coitadista não tem pressa nenhuma em pagar-lhe indenizações por ter falhado naquilo que é bem pago para fazer.
Urbano olha para a advogada, para a esposa, pensa nos pais e erege sua postura. Quando o juiz lhe dirige a palavra, ele é taxativo: Gasto mil reais para que não me roubem um centavo. Nunca fui sectarista e nunca pedi ajuda do governo para conseguir nada, assim como minha família, meus amigos e meus funcionários. Me acusam de racismo por fazer o mesmo que eles dizem fazer, cultivar minhas raízes e me comportar conforme meus pais me ensinaram. Ter me referido a um sabonete como "pretinho" não deveria ser motivo nem para ofensa, quanto mais para um processo. Sou sim, contra quotas, tenho amigos (então) muito pobres que fizeram por merecer o ingresso à faculdade, mas por não serem considerados "discriminados" nunca tiveram ajuda de espécie alguma. Se ofender deliberadamente fosse motivo para acusação, eu já teria processado todos os que me acionaram, mas meus pais me ensinaram a não agir como criança depois dos doze anos, porque aos doze eu já estava me tornando um homem e é assim que me comporto. Veja o meritíssimo o que causou tudo, chamei de pretinho um sabonete preto, não me referi a ninguém, me referi a uma coisa que esfrego no corpo para me lavar. Já processaram um pobre blogueiro por causa disso, não basta? Se fosse vermelho um ruivo poderia me processar?
Não delonga. Chega a vez da defesa, que mostra vídeos internos da faculdade, históricos do rapaz, depoimentos de quem realmente o conhece. É absolvido, como já esperava, mas não pode dizer que a vida acadêmica será como antes. Doravante, para evitar problemas, não cumprimentará mais certas pessoas para que não lhe distorçam as palavras, levará os amigos para outros lugares para que possam conversar sem medo. Nunca imaginou que não gostar de algo pudesse causar problemas. É pressionado para assumir uma homossexualidade que não tem, para assumir um machismo que não tem, olhado torto por suas roupas "de branco conservador", por sua família "perfeitinha", enfim, por não ser de nenhuma "minoria secularmente oprimida".
Volta para casa, onde a mãe já é tranqüilizada pela nora via telemóvel. Mas se pensam que vai mudar uma vírgula de sua vida para agradar aos "coitadinhos" neuróticos, estão esperando ovo de galo. Já basta ter que financiar com seus impostos os que o denigrem.
2 comentários:
Coitadinhismo é o novo nome da censura.
E eu li o texto do blogueiro processado. Vão mudar o nome também do Diamante Negro????
Eu, hein?
Diamante Negro não: Alotropia Afrodescendente do Carbono. Estou vendo que logo vão encrencar comigo também.
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