sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A lição de Shiro Kotobuki

Não é de verdade, e daí? As das revistas também não!
Conheço muita gente que simplesmente se recusa a trabalhar. Se embrenha no meio de famílias que precisam e merecem o auxílio de programas governamentais para viver às custas do contribuinte. Gente que foge dos cursos de capacitação e faz filho a três por quatro confiando na "Cesta do Marconi". Eu conheço gente assim.

Para este tipinho não adianta, tem medo, mas não tem vergonha. Mas para os habituais leitores, e aqueles que usam esses programas para complementar seus esforços legítimos, até poderem dispensá-los, o Talicoisa apresenta uma lição de vida. Com vocês, Shiro Kotobuki.

Há muita dificuldade em encontrar material sobre este ilustrador, ainda mais se levar em conta seu imenso talento. Shiro desenha mulheres, preferencialmente pin-ups em estilo mangá. Não aquele mangá estereotipado, ao qual vendo nos perguntamos "Como é que olhos quadrados conseguem girar??!!". São desenhos suaves, graciosos, com um charme juvenil irresistível.

Tudo começou quando Shiro insistiu, há uns vinte anos, em desenhar moças. Um amigo lhe emprestou uma Playboy, que na época ainda era a boa e fiável Playboy, para ele se inspirar e treinar.
Com o uso de uma "caneta" Stilus e um tablet Wacon, ele aperfeiçoou sua técnica até chegar ao nível de excelência que vocês vêem logo acima. Seu bom gosto e olho clínico para luz e sombras lhe permitiu construir uma carreira sólida sem precisar ser conhecido pelo grande público do ocidente. Pior para nós, ao menos eu gostaria de um calendário com os trabalhos dele.



A técnica é simples, ir rabiscando e apagando até dar certo. Parece fácil? Tente para ver. Pode sair qualquer cousa que eu aceito. Agora tente fazer algo como a ilustração deste artigo. Pronto? Agora experimente fazer isto com a boca. Sim, com a boca. Shiro, há vinte anos, ficou tetraplégico em um acidente de motocicleta. O amigo que citei era seu fisioterapeuta.

Como mostra o vídeo, que vale à pena rever quantas vezes os brios mandarem, ele se vale de uma extensão improvisada para fazer seu trabalho, já que desenhar com a cara em cima da tela não dá mesmo! Isto só aumenta o grau de dificuldade.

Há quem vai dizer que "com computador é fácil". Sempre há o despeitado que perde a chance de ficar calado. Desenhar no tablet é tão ou mais difícil do que no papel. A vantagem é que agiliza muito o trabalho, e no caso o torna possível. Shiro poderia desenhar no papel, mas seria uma tarefa ingrata, pois o impediria de fazer o processo que desenvolveu, precisaria de várias ferramentas, quando aqui pode se valer de um só extensor para a caneta.

Para quem não sabe, e tem tendências bairristas, o gênio do cartum brasileiro Laerte (aqui, aqui e aqui) rabisca muito e joga muita coisa fora. A borracha é sua grande companheira do cotidiano, porque é errando que ele se aperfeiçoa. Se ele tivesse que desenhar com a boca, não tenham dúvidas, faria algo semelhante.
Apesar de ser uma técnica simples, ela é tremendamente complexa, não demanda só treino e vontade de melhorar, demanda muito talento, pois um excelente traço pode ser apagado sem que se tenha dado conta dele. Uma linha que daria baliza para um rosto inesquecível é facilmente ignorada por quem não tem o olhar clínico e o senso de feminilidade que este rapaz tem. Fe-mi-ni-li-da-de. Isto as japonesas ainda preservam muito. A delicadeza dos traços e das proporções contrasta com a emasculação compulsiva que tomou conta das personagens ocidentais... Talvez por isso mesmo seja tão desconhecido por aqui quanto é famoso no extremo oriente. Bom gosto é página virada na cultura pop americana.

Shiro se aperfeiçoa sempre, ele não aceita estagnar assim como não aceitou as limitações que a tetraplegia lhe impôs. No dia em que apresentarem um programa no qual se pode desenhar directamente em 3D, tenham certeza de que ele será um dos primeiros a fazer o curso e comprar o software. Arte e Cultura não estagnam, ou apodreceriam e se tornariam dogmas.
Decerto que o que ele faz é para os poucos com talento imenso e intenso, ambos ao mesmo tempo. Mas chegar ao nível técnico dele e fazer bons retratos depende menos de nascer do que de desenvolver. Para quem não tiver preguiça, Kotobuki é uma inspiração viva.

Dêem uma olhadela no que ele faz. Ele não é egoísta, dá para baixar seus desenhos sem medo, mas é favor que seja para uso próprio: O blog de Henrique Minatogawa, que fala bem sobre o assunto (aqui e aqui) e o site de Shiro (aqui).

P.S: Os últimos artigos são exclusivos do Talicoisa, para o Palavra de Nanael (link ao lado) os textos são outros.

3 comentários:

Adriane Schroeder disse...

Lindos traços, adorei conhecer!

Nanael Soubaim disse...

Esse não tem talento, tem tarrápido.

The Fool disse...

Exemplo pra todo mundo que OUSA pensar em ser desenhista!