domingo, 13 de novembro de 2011

Programa para criança!


Antes de se tornar uma estatal, a TV Cultura era pública e primava pela qualidade de seus programas, fazia o engraçado sem ser ofensiva.

A pérola negra foi o Rá-Tim-Bum, que teve apenas cento e oitenta episódios, feitos de 1989 a 1992, reprisados à exaustão por anos além. Mas mesmo este programa não escapou de ser alvo de dogmopatas, que tiram do nada ou do "ouvi alguém falar" (como aqui) conexões demoníacas, ao contrário de cristãos (como este) que raciocinam e questionam o que não tem fonte confiável. Sem grilo? Eu sou céltico, se "Rá-Tim-Bum" fosse um encantamento celta, eu saberia. Se querem referências válidas sobre o programa, cliquem aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Fruto do suor e talento de Flávio de Souza, Cláudia Dalla Verde e Dionisio Jacob. Contavam também com artistas talentosos como Marcelo Tas e Carlos Moreno... Sim, aquele da Bombril. Quem nunca o viu actuando, especialmente para crianças, não sabe o que perdeu. A direção geral ficava sobre os ombros de Fernando Meirelles.

O mote do programa era educar seus espectadores falando a sua linguagem, não vender brinquedos para eles. Os personagens eram caricatos, coloridos e cheios de reações exageradas, algo bastante circense. Em todos os quadros, fixos ou não, a equipe conseguia encaixar o ensino da tolerância e da civilidade sem parecer chato, politicamente patético, politizado e outros ranhos da culturopatia moderna.

Enquanto apresentadoras de outras emissoras se preocupavam em arrancar suspiros os pais das crianças, e os apresentadores ficavam na lenga-lenga de "menino contra menina" ou "em qual buraco vai entrar", o Rá-Tim-Bum se esmerava em colocar falas como "Que linda bola vermelha!", com o personagem apontando para o brinquedo, ajudando as crianças a terem noções de cores e formas da maneira mais natural do mundo. Uma geração inteira das regiões sul e sudeste cresceu sob a tutela da TV Cultura, que Deus a tenha. Uma geração que hoje lamenta muito pelo mau comportamento das seguintes. E eu lamento muito que a TV pública de São Paulo não tenha desembarcado por aqui antes.

Um dos momentos mais esperados eram os quadros que incentivavam à higiene, tocando musiquinhas alegres e grudentas. Às vezes com actores de roupão e máscara de porquinho fazendo trapalhadas em um banheiro, às vezes mostrando crianças se despindo, tomando banho, se secando e se vestindo, tudo de um modo isento de perversão.


Outro momento apoteótico era a aula do Professor Tibúrcio, vivido pelo Marcelo Tas, com trejeitos e indumentária meio surreais.


Outra pérola, o "Senta que lá vem história", apresentava dramatizações educativas E divertidas, que mostravam temas específicos demais para a programação fixa. Não esquecendo da Nina, vivida por Iara Jamra, que travava longos diálogos com a Careca, uma boneca simples de plástico soprado em que até o cabelo era moldado e fixo.


E que tal contar estorinha com coisas e cousas encontradas pela casa mesmo, sendo usadas como personagens? Pois também havia disso, sem nenhum recurso tecnológico, proseando e contando a trama como uma mãe conta aos filhos.


O calcanhar de aquiles era justamente a sua maior virtude, a ausência de comercialização nos quadros do programa o tornava pouco atraente, os patrocinadores eram quase que só entidades como SESC, SENAI e outros parceiros tradicionais da moribunda Cultura. Os anunciantes que empurravam quinquilharias baseadas em desenhos animados não tinham o que fazer com uma programação responsável. Hoje os assinantes podem usufruir à vontade dessas pérolas, quem não tem tevê paga precisa recorrer à interlerd.


Por que acabou? Bem, os programas brasileiros são quase todos de vida curtíssima, então é natural que o Ra Tim Bum, pelo menos naquele formato, também acabasse um dia, como aconteceu co m o Bambalalão. O problema é não ter aparecido nada à altura e, o que é pior, o público não ter exigido nada à altura. Não tenho nada contra as empresas tentarem vender, é disso que elas vivem, me irrita é a venda tomar o lugar de protagonismo em um programa infantil. É pela cessão excessiva ao patrocinador, que os programas dirigidos para o público infantil passam a transformar seus apresentadores em ídolos, seja das crianças, seja dos marmanjos, sempre medindo palavras para não quebrar contractos ou contrariar anunciantes.

O que eu escrevi é só uma palhinha do que o Rá-Tim-Bum oferecia às crianças, que em resumo era o direito de serem crianças enquanto pudessem ser crianças. Escrever um resumo de tudo o que foi, seria criar um blog temático exclusivo a respeito. Porque a TV Cultura joalheira ficou no passado.

2 comentários:

LizAmorim disse...

Ô, saudade!!!!!! Excelente programa para criançada - e para os adultos tb, por que não? ADORO! E saudade tb do Castelo Ra-tim bium! SHOWWWWWW!

Nanael Soubaim disse...

Eu lamento profundamente não ter esses dois programas quando estavam em produção, e só poder ver o Bambalalão por vídeos. A Cultura demorou muito para chegar aqui.