sábado, 25 de fevereiro de 2012

Ô, Cridê! Ainda temos o Moacyr!


Poucos meses mais novo do que o Fusca, Moacyr de Oliveira Franco despencou neste orbe em cinco de Outubro de 1936, por Ituiutaba, morreu em... Como? Ah, desculpe, ele ainda está vivo. O gajo ainda está vivo, fiquem tranqüilos. Compensa a escassez estética com seu talento múltiplo retumbante. Só sua mãe o achava bonito, mas era era uma santa e enxergava muito mal.

Conheceu o sucesso bem no início dos anos sessenta, como o mendigo da Praça da Alegria, precursora do "A Praça é Nossa", que ele não deixa de jeito nenhum, e onde faz um personagem realmente engraçado, o Jeca Gay. O mendigo era um personagem sem afetações, sem estereótipos e sem o comportamento que estamos acostumados a ver em mendigos. Culto, de mente lúcida e inteligente, como seu intérprete, rendeu muitas alegrias ao lado de Manoel da Nóbrega, o âncora do programa. O sucesso da marchinha "Me dá um dinheiro aí" consolidou sua fama. Fez muitas versões de canções estrangeiras, com um esmero difícil de se encontrar, conseguindo respeitar a mensagem do texto e ainda deixar sua marca na obra.

Mas o público brasileiro é ingrato com quem faz bem feito, um acidente de carro nos anos setenta não só o deixou não só de cara com a morte, mas também ceifou parte da popularidade que tinha até metade da década, quando parecia onipresente. Fã e amigo de Chico Anísio, considera-o o maior injustiçado na história da cultura brasileira... Não deixo de concordar.

Um de seus maiores sucessos é a homenagem a Mané Garrincha, "Balada Número Sete", ainda hoje uma das preferidas de seu público fiél. Bastante melancólico, disse recentemente que vive dos direitos autorais mandados por Paula Fernandes, pois não costuma discutir valor de suas obras, quando executadas por terceiros; e tem muita gente boa por aí vivendo do que ele fez. Não é uma pessoa apegada, infelizmente isto não se traduz no reconhecimento merecido.

De 1972 a 1977 conheceu o auge, quando comandava seu próprio programa de televisão "Moacyr Franco Show" (mais aqui) que compensava a falta de criatividade do nome com a qualidade. Foi um apresentador inteligente, que não apelava para o bordões comportamentais para trabalhar, nunca tentou ser 'descolado' para ganhar audiência. O injusto é, também, ter sido esquecido pela história. Não imaginam o trabalho para escrever este curto artigo, há pouco sobre ele na rede, apesar de sempre lotar as casas onde faz shows, nem a Wikipédia conseguiu dar muitos detalhes... Entrevistas dele, recentes, aqui, e aqui. O cara é um gênio.

Mas não deixou de trabalhar por causa deste percalço. É actor, cantor, compositor, apresentador, humorista e bom contador de causos. A única mácula em sua carreira foi filiar-se a um partido político... ninguém é perfeito. Foi eleito Deputado Federal em 1982, quando as mamatas de hoje eram apenas delírios de politipatas, cumpriu o mandato na íntegra e disse adeus ao pardieiro. Uma de suas ideias é o vestibular para políticos, o que é claro que jamais seria aprovado, o congresso ficaria praticamente vazio.

Quem não o conhece e sabe se seus lamentos e lutos, não o reconheceria na rua. Ele detesta conversas do tipo "a vida é triste", "a vida é cruél", "o mundo não vale à pena", "a humanidade é inviável (então more, diabo!)" e afins. Apesar de tudo, o mineiro é feliz, alegrão e pinta o cabelo com um esmero raro, difícil encontrar um cabelo branco pintado de preto que não fique ridículo... Será que ele também é um bom cabeleireiro e não sabe? Recentemente foi convidado ao cinema por Selton Melo. Quem sabe isto o catapulta de volta ao lugar merecido. Caramba, o sujeito tem conteúdo para sete encarnações seguidas, não dá para fingir-me de contentinho com ele fora da televisão, enquanto ela é tomada por horripilâncias apelativas.

Retomou um pouco da popularidade nos anos noventa, após uma longa hibernação, como cantor e compositor, tendo as duplas de maior sucesso da época como intérpretes. Ainda que só em uma nota, tem uma página no conceituado website artístico IMDb, ver aqui. Injusto, muito injusto, é raro haver um romântico-brega que valha à pena, e quando encontramos há pouco a seu respeito. Ele não canta da boca para fora, canta a partir do coração.

A vida pessoal  não chega a ser a novela mexicana de muitos figurões, mas tem seus dramas: seis filhos de três casamentos; um do primeiro, dois do segundo e três do último... Moacyr, pare por aí mesmo.

Com a palavra, em canto, Moacyr Franco...



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2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Vi Moacir franco pessoalmente de dia e de perto e achei-o muito bonito e conservado.Beleza física é um conceito relativo,quanto a beleza de sua voz é incontestável.

Nanael Soubaim disse...

Realmente, a figura cavalheiresca dele impressiona, especialmente a pessoas com a sensibilidade bem afinada, como tu.