sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Wheelie, o Fusquinha mudo

Wheelie e Rota

Mais um desenho bacana que teve uma só temporada, de sete de Setembro de 1974 a trinta de Agosto de 1975, com míseros treze episódios. Chegou a ser publicado em quadrinhos, até um ano depois.

Carangos e Motocas (Wheellie & Chopper Bunch) tem como protagonista o Fusca Wheelie, que namora com certo ardor a (provável Mazda) Rota Ree. Wheellie é um show car profissional, que corre, faz acrobacias, , manobras, enfim, um artista completo. mas faz bicos em outros trabalhos honestos, de vez em quando, como bom Fusquinha.

O antagonista é o Chapa, uma motocicleta shopper que tem uma turminha composta por Risada (outra chooper, maior e mais burro), Avesso (um triciclo de rodas largas) e Confuso (um peque no ciclomotor) que mais atrapalha do que ajuda. Se o Fusca é o protagonista, o Confuso é a figura da série, que sempre enche a paciência do Chapa, quando seus planos dão (invariavelmente) errado, repetindo "Eu te disse! Eu te disse" à exaustão, no melhor estilo Chaves, que chegou a virar moda entre os chatos, recebendo de volta "Eu sei! Cale esta buzina!".

Roteiro e diálogos elaborados não são o forte, embora os encontros entre Wheelie e Chapa rendam boa diversão. O maior atrito entre os dois é a boa relação do carro com as autoridades, especialmente a viatura Capitão Tough, provavelmente veterano de guerra, e a motocicleta policial Rabo-de-Peixe. Este, coitado, freqüentemente acabava acidentado nas fugas do Chapa e sua turma. Acredito piamente que Chapa tenha uma paixão por Rota, que sua fama de mau não permite assumir.

Confuso, Avesso, Chapa e Risada
Diziam que eu gostava do desenho porque gosto de carros, o que não é verdade. O facto de os personagens serem automóveis foi um chamariz, tem muita porcaria por aí com carros usados como chamarizes. As estorinhas são meio ingênuas, mas não demais, afinal Wheellie e Rota se beijam nos pára-choques abertamente, de dar estralo.

O que chama atenção, porém, é a característica inclusiva do desenho. Muito antes de o politicamente patético fazer amigos terem medo de conversarem em público, pois um grupo que se denomina defensor sei-lá-do-quê pode se ofender com o que um dos dois não se ofendeu, o desenho tinha um protagonista mudo. Sim, taleitores deste mundão esquisito, Wheellie é mudo. Ele se comunica por buzinas, gestos e mensagens escritas no o pára brisas, às vezes traduzidos por efeitos vocais, afinal era em inglês.

Com a falta de uma voz, o carrinho acaba se tornando expressivo e claro, de modo que ninguém precisa perguntar o que ele está dizendo, como acontece nos filmes mudos, onde o talento do artista precisa ser redobrado. Também se valia do porta-malas cheio de truques, como mãos mecânicas, instrumentos musicais, super buzinas e por aí vai.

Wheellie, ao contrário do que se tenta fazer hoje em dia, não se fazia de coitado, comprava sua gasolina com a combustão de seu trabalho, sempre sendo gentil, solícito e carismático. Com gestos e o display no pára brisas, ele se comunicava com os outros veículos facilmente, sem precisar soletrar "'D' de demente, 'F' de fiasco, 'I' de ignóbil, 'M' de mentecapto, 'P' de panaca e 'S' de sacana". Suas mensagens eram claras e enxutas, quando era para Rota, o coração vermelho no vidro dizia tudo. Veloz como um carro de corrida e resistente como um Fusca, cortava as ruas da Califórnia, ocupado o dia inteiro.

Era difícil fazê-lo perder as estribeiras, mas quando acontecia, ninguém ficava por perto, a turma do chapa inteira batia em retirada sem olhar para trás... ou quase, se valiam dos retrovisores para descobrirem que a fuga era inútil, afinal aquele Fusquinha era muito mexido, e se davam mal, tendo que ouvir "Eu te disse, eu te disse! Mas eu te disse, eu te disse!" "Eu sei! Cale esta buziiina!!!".

Há uma dublagem nova, em que chamam o Chapa de "Motocão", e é tão ruim quanto o nome novo é ridículo. Fiquem com a original.


0 comentários: