sexta-feira, 22 de junho de 2012

A vida bonita de Gonzaguinha

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Em 22 de Setembro de 1945, no Rio de Janeiro, com o mundo já comemorando a queda do eixo, veio Luíz Gonzaga do Nascimento Júnior, filho de Luíz Gonzaga do Nascimento, o rei do baião, que tirou a música nordestina dos rincões do sertão... mas ele nada tem a ver com o estrago feito dos anos noventa para cá. Vei pelo ventre de Odaléia Guedes dos Santos, também cantora, ou seja, teve muito a quem puxar. Infelizmente a moça faleceu com apenas 22 anos, de tuberculose, quando o menino mal aprendera a falar, ficando ele aos cuidados de seus padrinhos, já que o pai precisava viajar pelo país inteiro para garantir seu sustento.

Trabalhou desde criança, carregando sacolas de feira morro acima. Também foi castigado cedo, perdeu 80% da visão esquerda após uma pedrada, um acidente com estilingue e uma queda na quina da cama terem furado o olho... Mas heim! Depois de tudo isso ainda lhe restar 20% de visão, não é para reclamar. Mas quem nunca levou um golpe no olho, não sabe como dói, da córnea até a nuca.

Ter pai famoso não o poupou da rudeza de uma vida pobre. Tinha dele os custos da educação, o que talvez o tenha mantido fora da criminalidade que muitos garotos trilharam, algumas visitas esporádicas para lições e chineladas quando necessário, mas era só.

Mas foi um menino bom, com as molecagens e canduras de todos os garotos que sentiam na pele a dor do outro. Gostava de ouvir o pai cantando, mas também gostava muito de Lupcínio Rodriguers, Jamelão, de boleros, por influência da madrinha Dona Dina, aquela da música, que era portuguesa, adorava as músicas da terrinha, o que o ajudava a manter os laços familiares. Era uma vida tão dura, mas foi tão feliz!

Lembranças de Primavera foi sua primeira canção, aos quatorze anos. Aos dezesseis foi morar com o pai em Cocotá, pois os padrinhos Dina e Xavier não podiam pagar os estudos avançados que ele queria ter, queria cursar economia.

Pouco mudou, além das responsabilidades maiores com os estudos. Se trancava no quarto apra estudar e tocar violão, e ninguém precisava esperar para almoçar quando saía à praia. Para quem não entendeu a conexão, música e estudos combinam muito bem, desde que o estudante seja o músico, ou pelo menos saiba apreciar a música, o que é difícil de acontecer.

Em Dezembro de 1961 sofreu o primeiro acidente de carro, quando a transmissão enguiçou, indo do Rio para Miguel Pereira. Só Gonzagão teve ferimentos sérios e ficou um mês hospitalizado.

Desentendendo-se com a madrasta, foi para o colégio interno, o que foi o divisor de águas entre o menino e o homem. Foi para a faculdade de economia, como queria, e ainda fez parte do Movimento Artístico Universitário, do qual faziam parte figurinhas como Ivan Lins, Aldir Blank, Paulo Emílio e César Costa Filho. O movimento acabou sugado pela Globo em 1971, com o "Som Livre Exportação".

Mas as intrigas já conhecidas da televisão acabaram por dissolver o grupo, ao fim de algumas semanas. Gonzaquinha sempre foi muito duro, principalmente por causa de sua história de vida. Ganhou a fama de "cantor rancor", de antipático, de agressivo, em boa parte fama criada pela própria mídia para ajudar a vender discos, em uma época de politização forte. Chegou a ter problemas com a censura, mas só ganhou uma advertência.

A música "Comportamento Geral" chegou a apavorar os jurados do programa Flávio Cavalcante, mas até hoje a letra é actual e verdadeira, sem maquiagens. Virou freguês do DOPS. Chegou a apresentar 72 canções para 24 serem liberadas, a velha tática de apresentar muito material cabeludo para poder gravar o que realmente queria. A convivência com o psiquiatra Aluízio Porto Carrero, da época do MAU, foi valiosa.

Em 1975 demitiu seu empresário. Gostava de liberdade e de contacto com o público, sem coleiras de qualquer espécie. Em um ponto a fama dele era verdadeira, era arredio por natureza. Aproveitou uma tuberculose para meditar, nos oito meses que o colocou de cama. Decisão sábia, decidiu retomar a espontaneidade do início da carreira, quando não precisava seguir roteiros rígidos, fazer tipos que nunca fez realmente, mas que é comum no meio artístico.

Em 1981 teve a primeira filha, com a frenética Sandra Pêra, que foi bvatizada Amora Pêra... Se acham estanho, um dia lhe conto dos filhos de Pepeu Gomes com Baby Consuelo. Mas passou o restante de sua vida terrena com Louise Margarete Martins, a Lelete, com quem teve Mariana. A vida em Belo Horizonte deu-lhe a tranqüilidade familiar que lhe faltava.

A fase foi de enorme sucesso, e de reaproximação com o pai. Época em que um conseguiu entender os motivos do outro de as desavenças foram deixadas na estrada, em uma turnê conjunta que durou cerca de uma ano, em 1981. Duas vozes possantes e apaixonadas pela vida em uma epopéia histórica.

Acostumado a se virar sempre sozinho, foi dirigindo para uma série de shows marcados em Santa Catarina, com o empresário Renato Manoel Duarte e Aristide Pereira da Silva. Na manhã de 29 de Abril de 1991, a 420km de Curitiba, o Monza que dirigia bateu de frente com uma F4000, cujo motorista foi ofuscado pelo sol e teria invadido a pista contrária. Foram socorrido, mas o corpo de Gonzaguinha chegou vazio à policlínica São Francisco de Paula, em Francisco Beltrão. Só Renato sobreviveu... sangrando.

Não é difícil encontrar referências a seu respeito, até porque ele deixou amigos tão arraigados, que alguns ainda hoje talvez esperam vê-lo voltar do hospital, e todos mantém sua obra trabalhando, como ele sempre fez, desde a mais tenra idade, sem parar.

Website do Gonzaguinha, clicar aqui.

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Gonzaguinha merece todas as homenagens,antes que o mundo acabe.

Zen disse...

Com respeito ao blogueiro, mas além das filhas Amora e Mariana ele tem Daniel Gonzaga e Fernanda Gonzaga, ambos músicos, fruto do seu primeiro casamento.
Vale a pena pesquisar mais antes de postar!