sábado, 7 de julho de 2012

Príncipe Adam virou plebeu


Quem tem trinta ou mais anos, se lembra bem da série (mal) animada He-Man, com histórias simples, cheias de trocas de farpas e ironias finas entre mocinhos e bandidos, sempre com um fundo moral que era explicado ao fim de cada episódio. Também se lembra que Adam acabava agüentando a fama de boiola, para forçar a voz a permanecer mais pueril, tangenciando o afeminado, além da camisa cor-de-rosa-calcinha decotadíssima, que só não mostrava até o umbigo por causa da outra camisa que havia por baixo. Tudo justíssimo, praticamente segundas-peles com uma opacidade que só a tecnologia de Etérnia para produzir. Fora aquela tanguinha de peles que, ui!

Na verdade a mistura de idade média com sexies 80's, e um toque de barbarismo-fashion, era a vestimenta típica daquele planeta. Até os militares causavam palpitações, como Teela, a capitã da guarda real em seu maiô de farda,  filha de Duncan, o mentor das forças armadas reais, que acumulava isto à autoridade de pai adoptivo. Teela era a paixão platônica e tutora de Adam, por quem ele não podia demonstrar muito mais do que carinho fraterno, sem correr o risco de a voz engrossar de repente e ele se transformar em He-Man sem querer, tudo para manter um segredo que poderia colocar em risco toda a família real e seus parentes. Vou te contar, viu! Quem disse que vida de herói é fácil? Peter Parker que o diga!

Bem, o desenho apresentava todas as limitações que a tecnologia da época impunha a episódios diários, sempre feitos para vender brinquedos. Muitas cenas e paisagens pareciam ser e eram reaproveitadas de outros episódios, todo mundo se parecia muito, todo mundo era muito sarado, todas as mulheres eram maravilhosas e nisto que quero que eles perseverem, o desenho era muito mais curto do que o mínimo razoável para a trama se desenvolver, entre outras encrencas. Houve, porém, um episódio em que ficou patente a enorme potencialidade do desenho, quando He-Man, ou Adam, ou He-Madan, o coitado já deve estar com crise de identidade, caiu na armadilha do Esqueleto. Durante um salvamento, um agente disfarçado por magia do bone-in-blue fingiu ter sido morto por esmagamento, quando uma construção que He-Man atingiu caiu. Acontece que o cidadão que se fingiu de vítima, é de uma raça que não tem o órgão coração, e aparentemente respira por fermentação, com isso ele apresentou todas as características de um homem morto. Esqueleto, também disfarçado, para não levar mais porrada, chegou choramingando "MEU IRMÃO! VOCÊ MATOU MEU IRMÃO!".

Desolado e decepcionado consigo mesmo, Adam adbicou de ser He-Man e jogou a espada em um precipício sem fim. Foi uma novela até descobrirem a verdade e ele, como Adam, pegar um veículo voador e ir ao precipício, na esperança de que sua espada indestrutível tivesse se fincado em algo. Bingo! ficou presa na teia poderosíssima de uma aranha gigantesca, que pela saúde, parecia comer suicidas todos os dias. Sim, ele ficou preso na teia, tentando alcançar a espada, enquanto a aranha se aproximava. Até que ele conseguiu alcançá-la, gritou "PELOS PODERES DE GRAYSKULL! EU TENHO A FORÇA!" E põe força nessa bagaça!! Deu um cacete na aranha, foi resgatado pelo amigo voador Stratus, depois deu um cacete no Esqueleto, e todos viveram felizes até as trolhas do próximo desenho.

Ainda houve um filme sobre ele, "The Masters of the Universe", em que o Esqueleto invade a Terra, He-Man não é tão forte assim, enfim, um filme que mereceu ser esquecido pela Sessão da Tarde.

A boa notícia é que a DC Comics, cansada de levar pau dos fãs dos heróis clássicos, decidiu variar e levar pau também dos fãs de He-Man. Mas a idéia parece ser boa... Sim, descer o pau neles é uma boa idéia, sempre, mas falo d'outra cousa, bella. A boa idéia aqui, é a mini série que estão lançando em gibi. Esqueleto descobre uma forma de levar Etérnia para uma realidade alternativa, onde ele, e não Randor, é o soberano do planeta. Adam passa a ser um lenhador honesto, trabalhador, e livre da obrigação de fazer papel de biba. Como Nada tem perfeição, a realidade artificial não poderia ser perfeita. Ninguém lembra de verdade de suas vidas sob o sábio e justo reinado de Randor, mas ninguém pode impedir que o subconsciente trabalhe. Adam tem sonhos com uma espada poderosa, batalhas épicas, um poder e uma força física impossíveis para uma criatura normal. Também há a Feiticeira, mãe secreta de Teela, a criatura mais plena de magia e desprendimento de toda a Etérnia, que aparece e começa a trabalhar para devolver a He-Man a sua consciência heróica, enviando-o a uma jornada épica. Ele é atraído até Gray Skull e tudo lhe é revelado, quando ele passa a enfrentar todos os perigos do mundo para despertar os Defensores do Universo.



Aliás, a tática de apagar registros não lembra a de políticos carismáticos? Pode não ser coincidência, já que a indústria do entretenimento americana sempre foi muito engajada, especialmente em tempos de crise, como agora.

O risco é eles viajarem na maionese e tirarem as boas qualidades de caráter, senso de honra e amor ao próximo, que a educação rígida de Adam lhe deu. Bem como fazer de He-Man apenas um marombeiro fortão com altas doses de coragem, em vez de o homem mais forte do universo, que mesmo assim resolvia as questões mais com o cérebro do que com os músculos. Tal qual fizeram com os heróis clássicos. A intenção é fazer de esqueleto um vilão realmente aterrador e cruel, digno de sua aparência, mas no vilão eles sempre capricham.

Pode ser também que tenham aprendido a lição, depois de fazerem de Lanterna-Verde homossexual, transferindo para os palmenrenses a fama que era dos sãopaulinos, e decidam fazer um recomeço, algo que dê maturidade às qualidades tolhidas pelo formato semanal/diário dos desenhos dos anos oitenta. Aliás, os gibis de US$2,99 vêm justo para comemorar os trinta anos de He-Man. Adequado, não? Estava mesmo na hora de Adam se livrar daquela infância forçada. O certo é que aqueles roteiros meio bobinhos, até ingênuos, ficaram para trás. Agora não bastará He-Man levantar Esqueleto e jogá-lo para longe, terá descer o cacete de verdade. Ferimentos, gemidos de dor, tudo o que se tornou comum nos quadrinhos de heróis de hoje, estará lá.

Na realidade, He-Man original foi feito para ser brinquedo, quando era um bárbaro de uma tribo de um planeta primitivo, até que Esqueleto aproveita uma fenda dimensional para invadir Etérnia, de um planeta onde todo mundo tem cara de caveira. He-Man se alia ao Castelo de Gray Skull, ganha força capaz de trocar socos com o Super Homem, e passa a combater o invasor. O Adam como príncipe, precisando esconder uma identidade secreta, veio com a animação. Há uma versão, por falar nisso, que não foi comprada pela emissoras nacionais, só passa pela tevê paga, que parece ter amadurecido um pouquinho só, mas mudou algumas cousas que talvez tenham minado um pouco do carisma da série.

No gibi, o roteiro é de James robinson, desenho de Phillip Tan e arte-final de Ruy Jose. Restará agora, explicarem como a princesa Adora, a She-Ra, foi seqüestrada de Etérnia e ninguém jamais fez absolutamente nada para resgatá-la. Mas isto é para outra mini série.


Website da DC Comics/He-Man, clique aqui.

1 comentários:

Anônimo disse...

http://dargonflinks.blogspot.com.br/2012/05/glass-project-realidade-aumentada.html

Nanis.